9.12.11

Crónica das duas folhas


Esta é a história de duas folhas. A primeira folha nasceu num campo, perto de uma aldeia, a sua mãe era uma caducifólia esplendorosa, a qual, todos os anos fazia surgir uma imensidão de filhotas. Ano após ano, decorrida a magia das fases fonológicas, surgiam as belas folhas, que embelezavam a paisagem populada por uma imensidão de objectos visuais. Certo dia surgiu uma folha especial, a qual adquiriu uma consciência própria.
Certo dia, após uma vida fogaz, desprendeu-se da sua mãe, caindo até à terra cheirosa. Neste curto trajecto, embalado por uma brisa de vale, a folha não se sentiu triste, pois afinal mesmo após a sua morte, ela teria utilidade. Já sem vida, a folha ganhou uma alma e, daí, ficou a contemplar o que iria acontecer ao seu corpo. 
Depois de um breve processo de decomposição, a folha viu o seu corpo fertilizar a terra, agora fértil e pronta a alimentar a sua mãe, que por ali ficou por muitos e bons anos. Depois deste outro processo mágico, a alma da folha seguiu o seu caminho, o da imortalidade.
A segunda folha, nasceu num pequeno jardim de uma cidade, a sua mãe era uma caducifólia que poucos meses antes tinha sido alvo de uma violenta poda. Apesar de violentada, esta ainda conseguia fazer surgir uma imensidão de filhotas. Ano após ano, decorrida a magia das fases fenológicas, surgiam as belas folhas, que embelezavam a triste paisagem urbana, populada por uma imensidão de objectos visuais. Certo dia surgiu uma folha especial, a qual adquiriu uma consciência própria.
Certo dia, após uma vida fogaz, desprendeu-se da sua mãe, caindo até ao alcatrão mal cheiroso e sujo. Neste curto trajecto, alterado pela movimentação de várias dezenas de carros a alta velocidade, a folha sentiu-se triste, pois afinal após a sua morte, ela não teria utilidade. Já sem vida, a folha ganhou uma alma e, daí, ficou a observar o que iria acontecer ao seu corpo.
Depois de escassas horas, a folha viu o seu corpo a ser varrido para dentro de um caixote do lixo, para posteriormente ser levada para um aterro. A sua mãe não foi assim alimentada, não tendo sobrevivido muitos anos mais. Ao invés a sua mãe foi cortada poucos meses depois, já que além das folhas incomodarem os cidadãos, a árvore mãe estorvava o estacionamento de um carro. Depois deste outro choque, a alma da folha fugiu para o campo, onde tinha ouvido que havia vida.
Decidi escrever esta breve crónica das duas folhas, já que muitas vezes vejo certas pessoas a tentar explicar o fácil de forma complicada. É um texto que mesmo sendo sucinto e escrito na hora, pretende promover uma reflexão que se torna cada vez mais urgente, para nosso bem... 

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