27.6.18

Arquitectura e paisagem na região de Sicó


Arquitectura e paisagem são dois temas que muito me interessam, seja de forma dissociada, seja de forma associada. Em 2014 participei na consulta pública do Plano Nacional de Arquitectura e Paisagem (PNAP) e julgo que até sugeri alguns pontos relativos aos que agora destaco. Em Março último, estive também num evento que decorreu do PNAP, sobre Arquitectura e Paisagem, na CCDR-Norte, que teve casa cheia. Fui porque fiz parte da equipa que elaborou o primeiro Plano Municipal de Paisagem em Portugal, daí ser, para mim, muito importante estar presente naquele evento. E valeu a pena, vos garanto.
A foto que utilizo como "alibi" para este comentário é o exemplo perfeito do problema que pretendo abordar, ou seja os monos na paisagem, que afectam e degradam a paisagem cultural de Sicó. Esta imagem é da colina de Trás de Figueiró, em Ansião. Uma das primeiras coisas que chama à atenção é aquela habitação em construção. Não tem enquadramento paisagístico e isso deve-se à falta de legislação. É possível construir respeitando o território e a paisagem, em harmonia. Basta olharem com atenção e verão que do lado esquerdo daquele mono na paisagem existem mais habitações, contudo estão minimamente enquadradas.
Podem dizer que é só um mono na paisagem, mas não se esqueçam que existem centenas destes exemplos e que são exemplos como este que degradam cada vez mais a paisagem cultural de Sicó. Em vez de valorizarmos as nossas características e mais-valias, estamos apenas a contribuir para que estas sejam cada vez mais prejudicadas. E depois não há volta a dar...
É preciso debate e consciencialização, daí lançar aqui um repto, o de organizarmos um congresso sobre arquitectura e paisagem da região de Sicó, onde se englobe isto e outros aspectos mais. Sicó fica a ganhar e a auto-estima de cada um de nós também. Se alguma entidade pública ou privada estiver interessada, já sabem onde me encontrar...


22.6.18

Pára e pensa onde podes estacionar a tua bicicleta...


Volto a falar de uma questão que abordei já há uns tempos. Nesta altura do ano, muito propícia para andar de bicicleta, surgem cenários que mostram algo de importante. Falo, claro, da imensa falta de locais de estacionamento próprios para as nossas amigas bicicletas. Não é aceitável termos de deixar as nossas bicicletas presas com um cadeado a um poste, sinal ou outro qualquer objecto passível para prender as nossas amigas de duas rodas.
Desafio-vos a descobrir quantos locais de estacionamento para bicicletas existem na vossa vila ou cidade. Este, na imagem, fica em Pombal, cidade muito favorável para andar de bicicleta, mas pouco amiga dos modos suaves. O pópó é quem mais ordena...
Há poucos meses sugeri a uma autarquia a criação de mais locais de estacionamento para bicicletas, nas sedes de freguesia e nas escolas, a ver se as mentalidades continuam a mudar e se os modos suaves começam a recuperar o que também é seu. Modos suaves ao poder! A vossa saúde agradece e a qualidade de vida que tanto almejamos estará mais perto...

18.6.18

Nabão, uma questão de marketing territorial...


Há uns dias, e enquanto "deambulava" nas redes sociais, deparei-me com dois amigos que estavam a  dissertar sobre a nascente do Rio Nabão, em Ansião (sim, é mesmo em Ansião), após uma referência ao Rio Nabão numa rádio nacional. Como é algo que me é próximo, "intrometi-me" na conversa...
A nascente do Rio Nabão é, para mim, um lugar muito especial. Foi um dos meus locais de brincadeira em miúdo, tal como o antigo lagar ali próximo (arrasado para dar lugar a um pseudo centro de interpretação ambiental, ou como eu sempre disse, um alibi para ir buscar fundos comunitários para depois transformar noutra coisa que não centro de interpretação ambiental...). Familiares tinham também um terreno, o qual foi vendido aquando do início deste projecto (daí eu saber bem toda a história subjacente ao mesmo, ou seja, já sabia que depois iria ser um restaurante...).
Mas voltando ao cerne da questão, os meus dois amigos falavam da nascente do Nabão, ou simplesmente "Olhos de Água". Apontei então uma questão basilar, ou seja o facto de Ansião nunca ter "vendido" a imagem de que é em Ansião que nasce o Rio Nabão. Não são assim tantos os que sabem que é ali que nasce o Rio Nabão. Muitas pessoas não sabem sequer onde é Ansião nem imaginam que é ali que brota a água que vali alimentar o caudal inicial do Nabão. Por outro lado já sabem onde é Tomar e associam o Rio Nabão a Tomar. É aqui que entra o que eu considero uma falha imperdoável em termos de marketing territorial, ou seja, e de uma forma simples, afirmar Ansião também nesta perspectiva.
No mesmo diálogo com os meus amigos, um deles disse que o facto de o caudal ser ocasional era um problema, já que poderia prejudicar uma campanha de marketing da forma que eu idealizo. É algo de compreensível, contudo em termos de marketing territorial não é problema algum, muito pelo contrário. O que é problemático é não existir um marketing territorial que foque esta questão. O que está em défice é mesmo a divulgação e a interpretação de toda esta questão associada aos Olhos de Água, desde o que vemos à superfície até ao que lá está por baixo, sejam as grutas, sejam os aquíferos. Há toda uma interpretação que não existe, prejudicando assim a valorização daquela área e a própria imagem de Ansião. Quantos são os que passando no IC8 sabem que é ali mesmo que nasce o Rio Nabão?
"Nem quero imaginar" o quanto perplexos muitos ansianenses vão ficar quando souberem, de facto, o que ali existe por baixo... Enquanto espeleólogo já tive o privilégio de lá ir abaixo e ver aquela beldade. Lembro-me do que vizinhos meus, já de idade, me diziam há 30 anos sobre o que lá havia em baixo... Um deles dizia que cabia lá uma igreja, muito embora isso não corresponda à verdade, o certo é que iluminou a minha mente e espicaçou a curiosidade que, em parte, me fez quem sou.



13.6.18

Arboricídio a regra e esquadro...


Depois de ter tido conhecimento desta situação, no Alvorge (Ansião) a primeira coisa que me apetece propor é que quem fez esta "limpeza" seja não só responsabilizado pela asneira que fez, bem como ser obrigado a ser acompanhado por um engenheiro florestal, botânico ou afins, de modo a não fazer mais asneira.
Soube disto através das redes sociais e pedi autorização para utilizar estas fotos, as quais foram postadas por uma cidadã lesada por esta acção imbecil.
É um problema que tem ocorrido um pouco por todo o país e que se agravou com aquela tal lei, feita à pressa, e com fins meramente de propaganda política e pouco mais, de modo a evitar novas tragédias como as que ocorreram em Junho e Outubro últimos. De resto está tudo igual, pois não se foi ao cerne da questão.


Limpezas deste tipo não podem ser concessionadas à hora (pagamento à hora). Este tipo de trabalho tem de ser pago na base da competência e da qualidade do trabalho. O que se vê nas fotos é borrada e da grande. Quem fez este serviço comigo nunca mais trabalharia, pelo menos até provar que é competente para este tipo de serviços, que exige conhecimento e respeito pelos valores em causa.
Se fosse nas bermas de uma auto-estrada, fazia sentido que fosse a regra e esquadro, contudo não estamos numa auto-estrada, mas sim na floresta de Sicó.


À hora que escrevo este comentário sei que as entidades oficiais já foram ao terreno, depois de alertadas para esta situação. Tendo em conta os esclarecimentos, julgo que situações deste tipo serão mais difíceis de acontecer. Resta agora tirar ilações do que se passou e pugnar pelo cumprimento das boas práticas neste domínio. Aqui, também, se vê a falta dos Serviços Florestais...
Tem sido demasiadas as árvores abatidas ou irremediavelmente afectadas por limpezas feitas a regra e esquadro, por máquinas que cortam tudo o que aparece, sem distinções nem atenções...
Isto já para não falar da madeira roubada por alguns ou retirada por outros numa de chico espertismo...


E o derrubar de muros antigos também não é aceitável, seja de que forma for. Resta saber se os muros, ou pelo menos as pedras derrubadas vão ser repostas no seu devido lugar.


9.6.18

Pousaflores Expõe, um evento interessante...


Ainda não tinha ido a este evento, o "Pousaflores Expõe", que se realizou mais uma vez na Serra da Portela, Pousaflores (Ansião). Desta vez estava por perto e fui até lá ver com os meus próprios olhos.
Começou bem, já que ao invés daquele estradão de antigamente, ao qual eu dava o nome de aeroporto da Portela, temos actualmente uma estrada de calçada, algo que me agrada. Pena é ter demorado tantos anos a surgir.
Mas depois não continuou assim tão bem, já que a primeira coisa que ouvi quando lá cheguei foi uma música rap, algo que me parece perfeitamente dispensável enquanto música ambiente de um evento deste tipo. Pode parecer um pormenor, contudo não é.


Depois mais um erro de casting, que vi logo que saí do carro, uma barraca completamente desenquadrada e... abandonada. Não é propriamente um bom cartão de visita...



Já no recinto do evento, vi a placa de um projecto que tem tido muitos problemas, não sendo aqui minha intenção dissertar muito sobre o caso. Ainda não fiz o trabalho de casa, o qual me permita opinar melhor sobre o assunto. O que sei é o que vejo e algumas coisas que amigos dali me confidenciam. Vejo este projecto com muitos bons olhos, contudo houve algo que falhou nos últimos anos. Urge parar para pensar e reerguer um projecto com bom potencial. Há ali uma infra-estrutura e um moinho que merece trabalhar e espantar quem o visita.



Chegado ao stand da Junta de Freguesia de Pousaflores, gostei de ver o que os mais atentos vêm na foto abaixo, contudo não há bela sem senão... Já aqui referi o semi-abandono das pinheiras. Falta limpar para diminuir o risco de incêndio. 


Dei uma volta completa ao recinto e gostei de ver tanto expositor e bom artesanato. Dou uma sugestão, porquê tapar a bela vista com os stands do outro lado? Seria interessante pensar uma outra organização dos expositores e, quiçá, umas mesas com aquele bela vista.
Depois de corrigidos alguns erros e feitas algumas melhorias, o Pousaflores Expõe pode ter uma outra dimensão. Não está mau para começar, portanto importa melhorar para trazer mais pessoas à Serra da Portela e para que o património e o artesanato tenham mais destaque. Resumindo, um evento com muito potencial...



5.6.18

É isto que queremos para Sicó, terrorismo ambiental puro e duro?!



É algo irónico estar a escrever este comentário precisamente num dia de festa, em que deveria falar de aspectos positivos, na temática ambiental. Hoje, 5 de Junho, é o Dia Mundial do Ambiente.
Deparei-me com esta situação no domingo, em Ansião, já depois de há umas semanas, aquando do debate do Farpas Pombalinas, ter sido abordado por um senhor de Ansião, que me disse que havia algo de grave a passar-se para os lados de Santiago da Guarda, Ansião. Apenas agora pude ir ao local e acabei por ir directamente ao local, algo que não é assim tão fácil...
Chegado lá fiquei perplexo e profundamente desiludido por Portugal ser uma república das bananas, onde o eucalipto e a fome de ganhar dinheiro rápido e sem esforço, justifica que se arrase tudo o que temos de bom. Trata-se de uma extensa área, com alguns hectares, situada em Reserva Ecológica Nacional, que foi literalmente arrasada para mais uma plantação de eucaliptos. Carvalhal, medronheiros e outros mais, foi tudo arrasado. Apenas um sobreiro ali ficou, pois se calhar dava muito nas vistas cortar... As máquinas fizeram o resto e até as lajes calcárias e os lapiás lavraram. Mesmo que quem fez esta parvoíce pague uma multa, nada irá ser como dantes. O que existia não será reposto e assim a asneira compensa. É esta a triste realidade. 
A maioria das pessoas não se apercebe da gravidade da situação, ainda mais porque se tem multiplicado pela região de Sicó. Nas décadas de 80 e 90 foi a eucaliptização de uma extensa área, que ainda apanhou Ansião, mais na freguesia do Avelar. Desde então, e "pela calada", está a acontecer o mesmo a outras áreas da região. É assustador constatar o que se está a passar e a escala a que se está a passar. É assustador ver que a política florestal em Portugal resume-se a isto e pouco mais, baixar as calças em prol do lóbi do eucalipto. Vale tudo!
É por estas e por outras que não me chateio muito quando o eucaliptal arde. É por estas e por outras que não me canso muito e não arrisco nada quando arde eucaliptal. Quem os mandou plantar que se canse e que arrisque a sua vida a proteger o seu investimento. Pelos sobreiros, azinheiras, carvalhos, medronheiros e outros mais, por esses arrisco e sou capaz de mover mundos para os preservar.
O país e a região de Sicó estão a esvair-se das suas maiores riquezas, e o eucalipto agradece. Daqui a uns anos quem promove este tipo de intervenções vai dizer:
"meu deus, o que é que eu fiz?"