27.7.18

Educar para o património: o ponto de vista dos miúdos


"Educar" e "património" são duas palavras chave que teimo em dar visibilidade há uma série de anos. Não será preciso pensar muito no porquê, contudo, e mesmo sabendo que é fácil perceber o porquê, é algo difícil de implementar em termos de estratégia direccionada para um público mais jovem.
Esta foto ilustra uma visita de estudo de duas turmas vindas de Lisboa, há cerca de 7 meses, quando se deslocaram à região de Sicó para um contacto próximo com o património desta bela região. Porquê, perguntarão vocês. Uma das professoras já tinha dado aulas nesta região e decidiu trazer cá os seus alunos para um contacto com o património desta região. Uma feliz ideia e sinal que ficou uma boa memória de Sicó! Infelizmente o sistema de ensino privilegia cada vez menos actividades deste género com os alunos, facto que me preocupa bastante...
Depois de um pedido de informação, através de uma autarquia, disponibilizei-me para guia, de forma gratuita, já que já é algo que tenho gosto em fazer, dado o potencial que uma actividade deste tipo tem no que concerne ao educar para o património. Palestras em escolas ou em eventos ambientais são também um hábito, sempre que solicitado, sempre Pro bono. Foi assim que fui aprendendo com miúdos e graúdos, percebendo os seus pontos de vista. Eles partilham os seus pontos de vista e eu partilho os meus pontos de vista e o meu conhecimento sobre o património. No final ficam todos a ganhar e eu fico mais rico e com um maior conhecimento sobre a melhor forma de fazer passar a mensagem mais importante, a preservação do património, só possível através da palavra mágica "educar".
Foi um dia curioso, confesso. Lidar com jovens é complicado, mais ainda quando são jovens de outras paragens. No final fiquei feliz, porque percebi que o que eles viram, o que eles subiram e o que eles mexeram vai ficar na memória. Com um bocado de sorte, e com outras "migalhas" como esta, poderão ser cidadãos mais conscientes sobre o património, seja ele de que tipo for. A imagem que acompanha este comentário é do Castelo de Santiago, mas estes jovens foram também ao Vale das Buracas, facto que os marcou e que me permitiu perceber o que alguns deles tinham absorvido das aulas teóricas. As saídas de campo são a melhor forma de materializar a teoria dada nas aulas entre 4 paredes.

23.7.18

As boas vindas à Comissão de Populares para a Defesa da Floresta e do Mundo Rural!


Foi com surpresa que vi surgir algo de novo e inovador na região de Sicó, ou seja a Comissão de Populares para a Defesa da Floresta e do Mundo Rural dos Concelhos de Pombal e Pinhal Interior Norte do Distrito de Leiria, apresentada há poucos dias em Pombal. Foi, para mim, uma das melhores surpresas dos últimos anos. Porquê? Porque esta iniciativa da sociedade civil tem um enorme potencial disruptor sobre uma realidade trágica a todos os níveis e que importa reverter, pegando no que de bom temos e mandando fora aquilo que nos tem tramado. 
Os meus parabéns aos mentores desta Comissão! Não estranho o facto de a mesma ter surgido a partir de Pombal, já que ali é um epicentro de cidadania activa, onde cada vez mais pessoas se têm mobilizado em prol de causas importantes. Parece-me que esta Comissão será a matriz que falta no que toca a reunir cidadãos com potencial transformador para toda esta região. Nos outros concelhos de intervenção desta Comissão também há muito pessoal que pugna pela cidadania activa, mas infelizmente ainda não tem o peso necessário em termos de influência na sociedade civil enquanto um todo.
A classe política, enquanto um todo, já mostrou que não é competente para fazer o que é preciso ser feito. Políticos de caixa de cereais, ponham-se a pau... Políticos a sério, julgo que terão nesta Comissão uma boa conselheira, portanto fica a dica!
Do brainstorming que surgirá desta Comissão e da interacção da mesma com o mundo real sairá concerteza algo de transformador para esta região. Importa portanto divulgar este movimento de cidadania activa em prol do território e de nós, que vivemos nele mas não temos sabido gerir da melhor forma a nossa convivência com ele. E algo de fundamental, é preciso participar, debater, dar ideias e não pensar que é não fazendo nada que os problemas se resolvem!
Em traços gerais, esta Comissão pretende pugnar por uma série de medidas fundamentais para a defesa da floresta e do mundo rural, passando por medidas afectas à floresta, cadastro rústico, meios humanos (onde se incluem por exemplo os cruciais Guardas Florestais), produção agrícola e produtos locais, baldios, biodiversidade (irei pugnar pela entrada da geodiversidade nesta equação), entre muitos outros. Basicamente temas abordados também no azinheiragate, algo que me agrada de sobremaneira. Espero também dar o meu contributo, já que é partilhando ideias e conhecimento que um futuro mais risonho irá ser construído para esta região. 
Fica então este humilde contributo do azinheiragate para a divulgação da Comissão de Populares para a Defesa da Floresta e do Mundo Rural. Agora mãos à obra!

19.7.18

Será que a limpeza vai resultar?



Claro que não vai resultar, porquê? Simples, porque a lei que levou a que tanta limpeza fosse feita, foi elaborada em cima do joelho e pensando fundamentalmente na imagem política, fortemente afectada pelo elevadíssimo número de vítimas mortais nos incêndios de 2017. Em termos práticos terá um efeito quase nulo. É certo que houve quem limpasse da forma correcta, mas houve também muito arboricídio, parte derivada da iliteracia ambiental crónica e parte por aproveitamento de quem viu ali uma oportunidade para cortar árvores protegidas a coberto de uma lei vinda no pacote dos cereais. E, claro, muito hectar ardido à conta de borralheiras feitas com o intuito de limpar o que se cortou. Ou seja está tudo na mesma! E quanto ir ao cerne da questão, está quieto... Por exemplo, diminuir a área de eucaliptal não pode ser, já que mexe com interesses poderosos...
Já agora, as duas imagens acima são de um mesmo terreno, parte limpo, parte por limpar, em Ansião.
O Verão está a ser pacífico até agora e, aparentemente, será relativamente calmo. Depois, no final, e apenas com umas dezenas de milhar de hectares ardidos, aposto que o poder político virá com o discurso que as medidas que tomou foram um sucesso, quando afinal o sucesso se deveu apenas ao S. Pedro... O zé povinho, esse ficará impávido e sereno, como é costume.
As medidas que poderiam reverter este cenário tardam em chegar. Confesso que fui um bocado ingénuo ao pensar que depois de 2017 e da dupla tragédia, algumas coisas poderiam mudar. Infelizmente não foi o caso. Sabemos as causas, mas teimamos em não aprender a lição mais importante de todas...

14.7.18

PDM serve para quê, fazer tábua rasa dos valores naturais?!


Foi há poucas semanas que fiquei a conhecer esta situação e agora, que já houve mais desenvolvimentos, venho então abordar a questão no azinheiragate.
Mas vamos aos factos. A Câmara Municipal de Alvaiázere achou por bem elaborar um projecto de alargamento de uma zona industrial (na foto inicial...) e candidatar o mesmo a fundos comunitários. Consta que foi aprovado. Até aqui tudo normal e desejável, só que há um pequeno pormenor que faz toda a diferença e que me indigna enquanto cidadão e geógrafo. Tudo isto foi feito à revelia de, pelo menos, um proprietário de um terreno que agora a Câmara Municipal de Alvaiázere quer expropriar. Resumindo, fez tudo à revelia do dono do terreno em causa e já depois do projecto aprovado é que lhe enviou uma carta registada a manifestar o interesse em comprar o seu terreno. Caso recusasse, seria expropriado. Já nos últimos dias, mais uma carta registada, onde alegadamente é manifestado o interesse numa expropriação urgente, de forma a começar a obra. Ou seja, tudo isto no espaço de um mês...
Como foi possível entidades públicas várias autorizarem tudo isto? Será isto ético e correcto?


O terreno em causa faz parte de uma quinta, a qual me surpreendeu pela beleza e pelo património natural e construído ali presente. Há um projecto (entrado nos serviços da Câmara há 10 anos, portanto nem sequer pode ser alegado desconhecimento do mesmo), no qual já foi investido algum dinheiro, que fica em risco agora. Mas não só, caso a obra avance, dezenas de árvores de grande porte vão ter de ser abatidas, de entre as quais sobreiros centenários (árvore nacional....), carvalhos centenários e azinheiras (protegidas). 
Como é isto possível?! Elabora-se um projecto em terreno alheio e sem conhecimento do proprietário? O ordenamento do território é feito para e com as pessoas, não sem as pessoas e para as empresas virtuais. Um PDM serve para gerir todo um território e não é uma mera formalidade. Um PDM serve para definir onde se deve ou não construir, de forma a salvaguardar valores..
O terreno em causa consta no actual PDM (1997) como espaço industrial proposto e, esperava eu, que com a revisão do PDM (em curso há 10 anos...) situações incongruentes como esta desaparecessem, contudo, e como descobri agora, não foi o caso. Tanto se criticava o PDM e agora, que está em revisão, aproveita-se para abrir uma porta para... construir onde não se devia, pegando não no novo PDM, em revisão há mais de uma década, mas sim num PDM da década de 90. As perspectivas sociais, económicas e ambientais são diferentes de 1997, contudo isso parece que não interessa agora... Até agora as únicas duas alterações de pormenor ao PDM foram para legalizar uma construção ilegal (1 piso feito a mais num prédio) e para legalizar uma pedreira que explorava pedra em desconformidade com o PDM...


As alternativas existem, não existe é vontade política. Não vi qualquer estudo onde as alternativas fossem estudadas/avaliadas e não será por acaso. Já na altura em que trabalhei naquela autarquia, a conversa era a mesma. Nessa altura o que alguns diziam era que as alternativas eram uma coisa chata, já que implicava movimento de terras numa das outras localizações, mesmo que sem impactos relevantes em termos ambientais ou patrimoniais...
O que seria de esperar, tendo em conta a revisão do PDM, era de que se fizessem estudos vários, nomeadamente sobre localização e eventual alargamento de zonas industriais, contudo aqui não se fez isso, porquê? Não se salvaguarda o património por um lado e por outro afirma-se à imprensa que o património é um motor de desenvolvimento. Esta é uma prova cabal da consideração que o património efectivamente tem em Alvaiázere, um velho hábito por estes lados. Ouvi falar também em medidas de compensação, mas como é sequer possível compensar o abate de árvores protegidas, seculares?! Os sobreiros, carvalhos e azinheiras não são muros, que dão para destruir e depois construir imediatamente noutro local!
Este projecto nada tem a ver com convergência e equilíbrio entre as várias necessidades diagnosticadas, nem é sequer do interesse para a sustentabilidade, muito pelo contrário. É do interesse para a construção, nada mais. Destrói-se património natural insubstituível, destrói-se serviços ambientais importantes e por aí adiante. Se fosse feito um estudo afecto às alternativas, aí sim, seria pugnar por uma convergência e equilíbrio entre as várias necessidades diagnosticadas. Todas elas têm algo em comum, o território e os seus valores, tudo parte do território e quando se manda às favas o território, tudo o que está a jusante vai ter problemas, mais tarde ou mais cedo.
O proprietário desta quinta tem todo o meu apoio na defesa deste património. É um orgulho ver um cidadão lutar pelo património, coisa que em Portugal, e apesar dos avanços, ainda tem muito que avançar. Há alternativas, portanto é por aí o caminho a trilhar em prol do desenvolvimento de Alvaiázere, que todos desejam.
E aproveito para dar conhecimento a todo/as de algo importante. Em 2017 participei numa formação de empreendorismo na incubadora de negócios de Alvaiázere, onde está a ser feito um trabalho muito interessante. A ideia era localizar uma empresa que pretendo abrir nos próximos meses (por motivos pessoais tenho adiado o início da actividade) em Alvaiázere, dado o bom trabalho ali feito, a localização e infraestrutura que já existe e outra que deverá estar em funcionamento em breve. Com muita pena minha comunico hoje formalmente que não pretendo mais localizar ali a empresa que irei criar, ligada à temática ambiental. E é realmente uma pena, já que Ansião não tem o espaço que eu gostava que tivesse para albergar empresas como aquela que tenho idealizada.
Este episódio mostra que não há garantias no que concerne à preservação do património que tanto prezo e pretendo potenciar em termos ambientais, sociais e económicos. Para quê investir em algo que não temos garantia que continue a existir no curto prazo?
Portugal tem muito que evoluir e Alvaiázere não é excepção.


10.7.18

Um livro por semana nem sabes como a barraca abana!

É um título chamativo e a intenção é mesmo essa, provocar o interesse pela leitura... Volto então às sugestões de leitura, de forma a vos espicaçar para este belo passatempo que é ler livros. E que tal começarem a pegar num livro e ir para os jardins devorar letras, palavras, frases e parágrafos? Há que aproveitar o bom tempo...
Este primeiro livro, do genial Jared Diamond, descobri-o por acaso numa livraria, e logo a muito bom preço. Nem foi preciso pensar muito e é mais um para a minha biblioteca pessoal.


É o primeiro livro que tenho deste autor, João César das Neves. Dei uma olhadela, na transversal, de forma a perceber se seria interessante. Percebi que sim e foi mesmo esta a minha escolha aquando da feira do livro de Ansião, há poucas semanas.


Quem me conhece, sabe que gosto de várias temáticas, sendo que as cidades e tudo o que se relaciona com elas se inclui nos meus interesses. Quando me deparei com estes dois livros de Charles Landry, dei uma olhadela e assim já vou ler sobre outras perspectivas sobre o espaço urbano. Nada a perder, tudo a ganhar.



Esta revista foi uma bela descoberta. Há poucos dias desloquei-me à Polónia, de forma a participar num congresso sobre património geológico e geoconservação. Já no último dia por aqueles lados, visitei uma livraria e deparei-me com este número desta revista. Bastaram poucos segundos para me decidir pela compra. Novas perspectivas que só enriquecem quem ousa ler coisas novas. Na viagem li dois dos artigos e confesso que adorei... 


Que dizer? National Geographic Portugal, em bom português. Leitura mensal que recomendo vivamente. Esta revista mudou o mundo para melhor!


Leitor desde o primeiro número, continuo a recomendar a Smart Cities portuguesa. Conteúdos de qualidade, que não só informam como ajudam a mudar mentalidades e paradigmas. Em bom português, claro! Desde este ano que alguns podem dizer que sou suspeito para sugerir esta publicação, já que por duas vezes escrevi conteúdos para esta revista, contudo, e como não recebo nada por isso, não me considero suspeito.


5.7.18

Uma questão de mobilidade individual...


Quem é de Pombal ou quem conhece bem Pombal reconhecerá o que se vê nesta fotografia. É um dos poucos bons exemplos da integração arquitectónica necessária para facilitar a vida a quem tem mobilidade reduzida ou condicionada. Trata-se da escadaria do Mercado Municipal, a qual integrou de forma harmoniosa uma rampa, a qual possibilita transposição deste patamar por parte de cadeiras de rodas ou pessoas com muletas e afins. Quem não estiver com atenção nem repara no pormenor, mas é ver com atenção...
Porque abordo esta questão? Simples, porque trata-se de bom urbanismo, o qual é fundamental para que tenhamos cidades e vilas inclusivas, onde todos possamos mover-nos sem grandes dificuldades. Se acham que tudo está bem, imaginem-se numa cadeira de rodas e tentem imaginar as dificuldades que teriam para ir do ponto A ao ponto B. Falta sensibilização neste domínio, daí eu voltar a focar esta questão, com um exemplo de boas práticas, neste caso em Pombal. Agora vejam o que se passa nas vossas vilas e percebam o muito que há por fazer neste domínio. Há que pugnar não só pelo cumprimento da lei, bem como pela vulgarização das boas práticas. Todos temos a ganhar com isso. E mesmo que alguns pensem que isto não é importante, pensem como será quando tiverem 70 ou 80 anos e as pernas começarem a pesar....