27.6.13

Elas andam aí!!


São as primeiras favas que, à parte do processo natural, se devem apenas à minha acção de produtor, ou seja, são as minhas primeiras favas. Colocadas na terra em Dezembro, apanhei-as há uns dias. Confesso que é uma sensação duplamente boa, em primeiro lugar porque aprecio bastante favas, depois porque das muitas coisas que já tinha "mandado" à terra, as favas ainda não faziam parte do clube.
Obviamente que fico igualmente feliz por não ter de pagar direitos indevidos a empresas mercenárias, corruptas por natureza, as quais criminalmente pensam que podem patentear tudo e mais qualquer coisa. Há que lutar contra os interesses de empresas que pretendem patentear todas as sementes possíveis, como tem sido o caso da conhecidas Monsanto e Syngenta, entre outras. Há que mandá-las à fava, literalmente, e voltar a pegar em força nas variedades tradicionais. Não temos de pagar para poder produzir livremente. Não temos de ficar reféns de empresas que têm como intuito apenas o lucro, em desfavor da biodiversidade.
Temos de nos voltar a reunir e trocar sementes. Querem desenvolvimento? Simples, voltem a pegar nos milhares de variedades tradicionais, todas elas com valor comercial muito elevado! Não precisam também de gastar dinheiro com químicos, curiosamente vendidos por empresas como a Monsanto. A Natureza tem tudo lá, resta-nos aprender a utilizá-la sabiamente. Produtos hortículas com sabor e saudáveis, sem manipulação!
E imaginem agora que, ao fazerem isso, estão a ajudar a preservar aquela paisagem que tanto gostam e que tanto gabam aos amigos de fora. Pensem nisto sff.
Para o final deste ano já guardei parte destas favas, as quais vão da continuidade a um ciclo fundamental que nem a poderosa Monsanto vai impedir, pois afinal esta e outras têm pés de barro. Resta-nos juntar água! 
Plantem, plantem e plantem, pois, tal como li outro dia, plantar produtos hortículas é imprimir o nosso dinheiro...



23.6.13

E o comércio tradicional?



Comércio tradicional, é isso mesmo. Penso que devem ser duas palavras muito caras, já que cada vez menos pessoas as utilizam, quiçá por estarem sujeitas a um imposto qualquer...
Indo então ao assunto que vos trago, desta vez venho abordar uma questão crucial para a região de Sicó, ou seja o comércio tradicional, o qual não existe apenas na época natalícia. Para isso focalizo o tema em algo que vale mesmo a pena, uma loja que é, no meu entender o melhor exemplo, no bom sentido, do que pode representar o comércio tradicional. É, para mim, uma referência, pois afinal esta loja é mais um dos elementos que faz parte das minhas memórias mais antigas e que se perpectua até hoje, felizmente. 
E sim, esta loja situa-se mesmo em Ansião, a escassos metros da igreja matriz. Para os que não conhecem este notável estabelecimento comercial, sugiro uma visita, pois, garanto-vos, que vale mesmo a pena. Quando lá entrarem e sentirem o ambiente vão perceber do que falo. Fico muito agradecido pelo facto de logo na primeira conversa me ter sido dada a necessária autorização para tirar estas fotografias no interior da loja, as quais servem para mostrar a todos que o comércio verdadeiramente tradicional ainda está vivo e recomenda-se. Uma pessoa entra ali, compra algo e ainda dá dois dedos de conversa, algo de fantástico, mas que se tem vindo a perder...
Esta é apenas a primeira ronda por um dos estabelecimentos comerciais notáveis do comércio tradicional desta não menos notável região.
Andava com esta ideia já há uns meses, mas apenas agora lá tive tempo e oportunidade para fazer o registo fotográfico. A minha intenção é alertar para algo de grave, ou seja o desaparecimento de muitos dos estabelecimentos notáveis do comércio tradicional, onde o antigo ainda resiste, onde o ambiente é único e onde cada estabelecimento comercial tem a sua alma. Não gosto de estabelecimentos comerciais clonados, iguais a um qualquer. Quando viajo, detesto ver lojas exactamente iguais, seja em Portugal ou fora deste. Gosto sim de lojas únicas, as quais têm vindo a desaparecer a uma velocidade assustadora. 
Ansião é um desses casos, onde já poucas lojas notáveis subsistem. No centro da Vila de Ansião, o comércio tradicional está completamente descaracterizado. O cenário há 15 (+-) anos era completamente diferente, pois havia vários estabelecimentos notáveis. Agora existem ali apenas dois ou três estabelecimentos comerciais que se enquadram no comércio tradicional, pois os outros, esses, apesar de importantes, são de um comércio de proximidade e não tradicional. Não gosto do que agora ali vejo, pois não se tentou preservar a alma que ali existia, não se fez um esforço por manter a identidade daquele local e do comércio tradicional.
A maioria de nós até tem pena, no entanto quantos são aqueles que pugnam pelo comércio tradicional e pelos produtos feitos em Portugal? Muitos dos que lamentam o fecho de lojas nesta região, têm um discurso nada consequente, pois logo que apareceram as lojas chinesas e outras mais, de grandes marcas estrangeiras, preferiram ir pelo lado mais fácil, comprando fora do comércio tradicional e roupa que não made in portugal. Depois admiram-se haver desemprego e do pessoal amigo não ter emprego. Não precisam ser fundamentalistas e não comprar nada de fora, mas pelo menos podem fazer como eu, comprar maioritariamente produtos produzidos em Portugal e a preços competitivos.
Obviamente que não posso desmentir que há problemas a debater no comércio tradicional, um deles tem a ver com o valor dos produtos quando sai da fábrica e quando chega à loja. Nesse curto processo há alguns intermediários que ficaram com boa parte do lucro, encarecendo assim o produto e dificultando a tarefa às lojas onde o produto chega. Mas isso são outras conversas, as quais podem e devem ser debatidas noutro âmbito. Para já, foco a atenção apenas nas lojas notáveis do nosso comércio tradicional.
Lojas como esta fazem parte da nossa identidade, porque não fazemos um esforço para a preservar, tal como fazemos com outros aspectos da nossa identidade? Esta perda de identidade leva a um gravíssimo desenraizamento das pessoas para com a sua terra. Perdem-se elementos patrimoniais relevantes, os quais deixam de poder ser passados às gerações que vêm a seguir. 
Se todos fizermos um pequeno esforço em prol desta causa, o resultado poderá ser de uma enorme importância e a vários níveis. Eu irei continuar a tentar dar contributos válidos para que as pessoas se sintam obrigadas a pensar em algo realmente importante, o nosso comércio tradicional. Eu não me conformo com o rumo das coisas, daí ter decidido dar destaque a um estabelecimento comercial de referência a nível regional.



18.6.13

Crónica de um equívoco geográfico: Alvaiázere litoral?


Cada vez mais me convenço que o meu amigo Tito Morgado seria um bom presidente de câmara ali pelos lados do Allgarve. Em termos de ordenamento do território boa parte do mal já está feito por aqueles lados, portanto a gestão deste autarca não seria tão desastrosa por ali, tal como tem sido até agora a gestão de boa parte dos autarcas do Algarve.
Em Alvaiázere o ordenamento do território é, na minha opinião, uma mera palavra vã. Há sim desordenamento do território, consubstanciado, por exemplo, em claras e públicas, violações do PDM.
Mas não é de ordenamento do território que venho aqui falar. Desta vez vou mostrar algo que vale a pena ser público, já que só é conhecido por algumas pessoas em Alvaiázere e pouco mais. Sei que na comunidade geográfica portuguesa, e quiçá, brasileira, o conhecimento deste peculiar caso vai representar motivo de boas gargalhadas, dada a sua peculiaridade. 
Indo então directo ao assunto, o qual já estava na calha há uns tempos, este é mais um caso que irá concerteza ficar nos anais da história autárquica, pois não é todos os dias que vemos algo do género. Portugal é um mar de surpresas, um pouco por todos os concelhos deste belo país, pois em cada canto encontramos preciosidades a realçar.
Este exemplo que agora destaco é, na minha opinião, uma situação que demonstra um tique francamente narcisista de Paulo Morgado. É certo que o mar já andou por estes lados, mas isso foi há uns milhões de anos atrás. Equívoco geográfico meu caro?
É certo que há concelhos onde faz todo o sentido haver vias de comunicação baptizadas como "via litoral", mas Alvaiázere claramente não é um desses, pois está longe do mar. Mas a pedra de toque é mesmo o km zero, símbolo máximo da prepotência de um autarca mais do que polémico.
Ironia das ironias é que esta "Alvaiázere litoral" nunca irá passar de uma mera intenção que não passará à prática, pois as ideias peregrinas valem o que valem. É apenas mais um bluff deste autarca que em ano de eleições vai ter de prestar contas ao eleitorado.


10.6.13

Sicó à sombra da oliveira...


É isso mesmo, o título é um trocadilho, o qual ajustei à medida de Sicó e daquilo que agora pretendo abordar, mesmo que de uma forma muito resumida. 
Apesar de não faltar património por estes lados, falta a capacidade de o valorizar e potenciar. Obviamente a isto não é estranho o facto do muito (pouco) que se faz ser guiado por interesses económicos predatórios e egocêntricos, e não pela lógica do património. Lucro acima de tudo, o resto vê-se depois, pensam alguns iluminados. O bem destes está acima de tudo, o bem público é secundário, para eles. Não esqueço também que tem havido muita gente que prefere viver à sombra da "bananeira", facto que é então aproveitado por quem nos desgoverna. 
Indo então ao tema deste comentário, venho falar, muito sucintamente, da bela oliveira, essa árvore que hoje em dia é mais menosprezada do que valorizada. E mesmo em termos de valorização, essa é, para muitos, apenas na medida de que significa lenha boa para a lareira. Ou então uma fonte de rendimento quando a oliveira é vendida para um qualquer jardim, muito embora este tipo de transacção já tenha tido melhores dias. Goste-se ou não esta é a realidade.
Não damos o real valor ao olival de Sicó, não temos consciência da importância social, económica e cultural do mesmo. Muitos nem sequer imaginam que esta região já liderou na produção de azeite, a nível nacional. Um dia, numa exposição dedicada a um grandes mestres da geografia portuguesa, na Biblioteca Nacional de Portugal, tive a oportunidade de ver um mapa antigo, onde constava precisamente aquilo que referi atrás, a região de Sicó já liderou, a nível nacional, na produção de azeitona, há algumas décadas atrás.
Mesmo que uma breve análise possa dar a entender que o azeite já foi um filão económico para esta região, posso dizer que aquele mapa me surpreendeu. Como muitas vezes gosto de dizer, estamos sempre a aprender, desde que se nasce até ao momento em que nos finamos.
Contudo há quem teime em não querer aprender, teimando em políticas completamente desvirtuadoras de toda uma região e castradoras de muitas das mais-valias e especificidades regionais. 
Manter um olival não é meramente manter árvores em pé, é sim manter toda uma cultura, toda uma paisagem e, imagine-se, toda uma mais valia económica.
Seja como complemento, seja como actividade principal, muitos poderiam retomar os olivais esquecidos desta região. Muitos poderiam também arrancar os eucaliptos parasitas e em sua vez plantar oliveiras (e não só...), pois o inverso já aconteceu.... Vejo, com agrado, alguns retomarem os olivais e outros plantando-o novamente, mas ainda são escassos os que o fazem. A crise tem também funcionado como medicamento para a amnésia, fazendo com que alguns se voltem a lembrar do óbvio.
Eu nunca esqueci, tal como outros mais, o olival desta região, sendo que agora utilizo a visibilidade que tenho para, também eu, dar visibilidade à bela da oliveira e a tudo aquilo que ela significa. Somos alguns que tentamos dar visibilidade a esta causa, mas manifestamente que somos poucos. 
Brevemente irei voltar a esta questão, possivelmente quando conseguir finalizar um processo que tem como intuito proteger algumas oliveiras seculares que conheci há coisa de 8 anos, num local algures pela região de Sicó.
Quanto à foto que dá a roupagem a este comentário, esta, apesar de ter alguns anos e ter sido tirada numa brincadeira em trabalho de campo, acaba por ser uma sátira aquilo que abordei aqui. 

6.6.13

Sicó murada



Um ano depois, volto a abordar a temática dos muros de pedra nesta bela região. Desta vez mostro dois troços de muros que são simplesmente monumentais. Destes há poucos, vos garanto!
Apesar de monumentais, as Câmaras Municipais, as Juntas de Freguesia e muitos particulares tratam-nos mal, tal como as duas fotografias o documentam. Abandono é mesmo a palavra chave que serve para denunciar o estado destes elementos patrimoniais.
Estes muros têm uma largura impressionante, embora as fotografias não tenham elementos que sirvam na perfeição enquanto escala. Mais de 1 metro de largura de puro muro tornam o cenário impressionante, pelo menos para aqueles que, como eu, os apreciam, e tentam de alguma forma proteger e valorizar.
Fazendo um breve exercício, será que algum de vós consegue discernir alguma actividade promovida pelas entidades públicas, desta região, que vise a preservação destes muros? Pois é...
Uma das muitas formas de o fazer seria através uma ideia que propus há alguns anos atrás num evento relacionado com o património. Lembro que qualquer iniciativa deverá abranger aqueles que tomam decisões de âmbito territorial, ou seja os autarcas. Daí ser necessário algo como que uma espécie de manual de boas práticas em meio cársico, manual este onde poderiam ser vertidos muitos aconselhamentos que visassem precisamente a preservação de marcos identitários como o são os muros de pedra.