27.6.20

Lamento, mas não vou pactuar com a mediocridade!


É raro publicar apenas 6 dias depois do último comentário, mas isso aconteceu mesmo ontem, já que era suposto ter publicado mais um comentário. Isso aconteceu por um motivo muito simples, o de que decorreu em Pombal, no auditório da biblioteca municipal, uma sessão pública de apresentação do projecto de classificação de Sicó como paisagem protegida. 
Indo então ao comentário, desloquei-me propositadamente a Pombal para assistir a este importante evento, organizado pela Terras de Sicó. Sendo uma questão tão importante para quem, como eu, se dedica de alma, coração e ciência à protecção, valorização e divulgação da bela região de Sicó, não poderia ser de outra forma. Desde já o meu agradecimento à Terras de Sicó por terem aceite a minha inscrição já depois das 13 horas do dia 25. Uma das coisas que notei logo que entrei no auditório foi o facto de o ambiente estar um bocado tenso, havendo claramente muito nervosismo nos palestrantes. Isso confirmou-se no decorrer das apresentações. Em nenhuma das apresentações se ouviu palmas no final, facto que, quanto a mim, diz muito sobre este processo...
Um lamento, a fraca adesão dos cidadãos a este importante evento. Excluindo técnicos das autarquias e políticos, não terão sido mais do que uma dúzia de cidadãos a participar neste evento e menos de meia dúzia a colocar questões ou a apontar erros e omissões. Isto deverá fazer reflectir muita gente!
Considero profundamente lamentável a postura do autarca de Penela, que ouvindo um amigo meu, que é, tal como eu, um dos "guardiões" de Sicó, a apontar factos concretos, mandou-o calar. Lamento profundamente este comportamento de um autarca, o qual tem especial dever de respeito pelos cidadãos. E lembro o sr  Luis Matias que Sicó não é uma coutada dele, é sim um território onde todos nós vivemos e que é de todos. Haja respeito!
Lamento igualmente a postura da empresa que elaborou uma sistematização de uma sistematização, por 15700 euros, mas já lá vamos...
Feitas as apresentações, foi dada a palavra a várias pessoas, de entre as quais eu. Todas elas apontaram falhas nos documentos que sustentam a possível classificação de Sicó como paisagem protegida.
No que me toca, fiquei ainda mais preocupado com o que aí vem, já que soube mais factos e em vez de ver entidades e empresa a reconhecer as insustentáveis fragilidades dos documentos apresentados, vi entidades e empresa a hostilizar quem, de forma objectiva, apontou falhas graves nos documentos.
Eu sublinhei algo de básico para quem sabe o que faz, ou seja que este processo terá de ser bottom-up e não o contrário. É fundamental reverter este processo e envolver a população e entidades públicas e privadas, bem como o associativismo, no processo. Isto não foi feito e é grave que assim seja, pois vai contra as boas práticas neste domínio. É uma falha grave que fere de morte o processo. 
Todos são a favor da classificação de Sicó como paisagem protegida, mas isso tem de ser feito de acordo com as boas práticas e não por quem, de facto, demonstrou que não tem as competências adequadas para o efeito. O ideal seria, no meu entender, elaborar um plano de paisagem, o qual seria então a base que sustentaria não só a classificação de Sicó como paisagem protegida, bem como possibilitaria toda uma panóplia de ferramentas e medidas de gestão para a região, e com um alcance muito além da paisagem em si. Em duas palavras, desenvolvimento territorial. 
Não é compreensível que se tenha decidido que haveria um período de discussão pública para cada município. Não faz sentido!
Fiquei também perplexo quando uma técnica da empresa que elaborou esta sistematização de uma sistematização me disse que eu tinha denegrido a imagem da empresa, numa clara alusão a um comentário que recentemente fiz aqui. É falso que eu tenha denegrido a imagem da empresa, eu apenas apontei factos concretos que mostram as fragilidades de um documento. A verdade é que esta técnica além de indiciar não se dar bem com o escrutínio de um especialista na matéria e um profundo conhecedor de Sicó, mostrou que não conhece minimamente Sicó e que não soube refutar o que eu apontei nas críticas que fiz aos documentos. 
Os relatórios não têm de ser feitos a pensar nos leigos na matéria, mas sim feitos de acordo com os factos e, no final, serem divulgados. Esta técnica afirmou que o documento era uma espécie de Resumo Não Técnico, mas esqueceu-se de um pormenor fundamental, o de que os resumos não técnicos são uma simplificação dos documentos base e aqui não há documentos base, mas sim uma mera sistematização redutora, com graves omissões em termos de dados fundamentais para a classificação de Sicó como paisagem protegida. Já houve pelo menos duas versões desta sistematização e em nenhuma delas consta a equipa técnica.
E houve algo que me chocou profundamente. Quando questionei a técnica da empresa sobre o porquê de não constarem na bibliografia autores com teses e artigos relevantes para este projecto, não justificou o porquê e justificou apenas a ausência da referência à minha tese de mestrado. Afirmou que até tinha lido e utilizado alguns elementos, mas que não tinha citado este documento em sítio algum. Grave! Uma omissão que diz muito sobre o real conhecimento de Sicó, do seu património e de quem investiga Sicó há muitos anos. Confesso que me tive de conter quando esta técnica falou em rafting em Sicó como potencialidade turística. Fiquei também algo perplexo como é que alguém que não conhece Sicó vem para um auditório afirmar, na base de um achismo, que a classificação de Sicó como paisagem protegida vai trazer pessoas para a região. A mesma conversa que se ouviu aquando da Rede Natura 2000. Como técnica, deveria ter percebido bem a questão da pirâmide etária e da sua evolução nas últimas décadas em Sicó, bem como a perda de residentes que se vai agudizando e os problemas estruturais envolvidos. Acha mesmo que vem alguém do Porto para Sicó só porque é fixe ou porque é bonita? É muito neo ruralismo para meu gosto. Para estar em Sicó ou para vir para cá é preciso um emprego, não é com contos de fadas que se traz residentes à região. Foi um conto de fadas que esta técnica fez passar na sua apresentação quando se referiu a Sicó. Não é um conto de fadas nem um escape ao apartamento na cidade, lamento desiludir. Sicó é um território extraordinário e, ao mesmo tempo, um território difícil para nos estabelecermos. Difícil até para nos mantermos em Sicó, já que o poder político é, genericamente falando, um entrave ao verdadeiro desenvolvimento do território, com as suas várias capelinhas, grupos de interesses e outras coisas mais.
Fiquei também desiludido com as afirmações do autarca de Penela, quando este afirmou que não podíamos esperar mais pela classificação de Sicó como área protegida. Falso! Esta questão já era defendida por outros muito antes dele ser autarca, só que parece que só há poucos meses se descobriu a pólvora...  Caro Luis Matias, o processo foi mal equacionado e vai contra as boas práticas, ponto. Houve propostas para que isto se pudesse vir a concretizar, numa base sólida, e a Terras de Sicó não considerou pelo menos uma proposta que lhes foi enviada já há mais de 1 ano. Se a proposta em causa tivesse sido considerada, já poderia estar quase finalizada e muito bem sustentada. Eu não quero resuminhos para classificar Sicó como paisagem protegida, eu quero sim um trabalho científico sólido, que envolva as pessoas, as entidades e as associações no processo de classificação. 
Foi afirmado por uma autarca que este projecto estava planeado há vários anos. Mas se assim foi, isto é o melhor que conseguiram?!
Destaco também a intervenção do João Pimpão, que no final se dirigiu a mim para dizer que era o João Pimpão. Não percebi o porquê de ele ter sentido a necessidade de se apresentar a mim, ainda mais sabendo ele que eu sei quem ele é e se eu precisasse de falar com ele me teria dirigido a ele, quando não foi esse o caso. Mas acabou por ser um facto positivo e que agradeço, pois revela respeito pela minha pessoa. Na intervenção dele falou em aspectos que me fizeram alguma confusão. Primeiro, ele não tem de dizer aos investigadores o que fazer, nem dizer sequer que não devem criticar. Os investigadores não são políticos, são técnicos e devem ser independentes do poder político. A crítica que eu e outros fazemos é uma crítica ao que está mal, querendo nós com isso resolver os problemas. Criticar não é ofender nem sequer denegrir, mas sim apontar o que está mal de forma sustentada, ou seja numa base factual. Esta crítica visa a resolução dos problemas, ponto. Afirmou também que nos documentos que sustentam esta futura classificação,  está o melhor de todos os técnicos da região. Não está, ponto! É um documento que não cumpre com a sua função. Está enviezado na origem, tem falhas graves, omissões e não representa um estudo científico de base que possa sustentar a classificação de Sicó como paisagem protegida. Caro João Pimpão, sobre ninguém ler os relatórios, a questão é muito simples, os relatórios são para os especialistas, portanto tudo o que ouvi vale pouco mais que zero. Os relatórios têm de ter qualidade e cumprir objectivos fundamentais e os documentos em causa não cumprem os objectivos nem têm a qualidade desejável. Os relatórios não têm sequer de ter em conta a preocupação número de páginas, mas sim os factos. Se os factos são muitos, tal como acontece em Sicó, tem de haver muitas páginas para ver, é tão simples como isto. E não é uma mera opinião, é a opinião crítica de um investigador conhecedor de Sicó.
Resumindo, estou profundamente preocupado com este processo, o qual todos desejamos. O João Pimpão afirmou que nós, técnicos, contestámos o processo, quando é isso que é suposto acontecer quando o processo é mal estruturado e resulta em documentos em que a qualidade deixa a desejar e os objectivos não são cumpridos. É essa a minha função, analisar e criticar quando necessário. Não gostam? Temos pena. Eu não tenho de andar a bater palmadinhas nas costas de ninguém nem mesmo de andar a bajular terceiros, isso fica para os políticos e para quem orbita em seu redor. Achei curioso ele ter dito que tinha gostado de ler os documentos e de afirmar que tecnicamente eram bons. Tecnicamente? Com que base é que, sem competências técnicas na matéria, ele pode afirmar que um documento é bom do ponto de vista técnico? Uma opinião é uma mera opinião, ao contrário de uma opinião crítica, que é uma opinião fundamentada. Ambas são legítimas, mas apenas uma é válida factualmente.
Na minha opinião o processo deve voltar à estaca zero. Voltando à estaca zero, deve ser contratada uma equipa conhecedora de Sicó e com competências reconhecidas neste domínio. Deverá ser desenvolvido um plano de paisagem para Sicó (não com os limites absurdos que querem propor!) e a partir daí é que se terá uma base sólida para a classificação de Sicó como paisagem protegida. Um plano de paisagem possibilitará também toda uma série de ferramentas e medidas que visem não só a paisagem, bem como outras questões que decorrem da paisagem cultural de Sicó, caso das aldeias de calcário e dos muros de pedra. E turismo e outros mais sectores económicos também. Um plano de paisagem seria uma ferramenta transversal para o desenvolvimento da região de Sicó. 
O secretismo até há poucas semanas em redor desta questão e a pressa na classificação indicia algo que preocupante, ou seja uma busca algo desesperada de fundos comunitários e nacionais. Não é assim que é suposto as coisas surgirem...
Só para terminar, também a temática dos geossítios no documento principal é de uma pobreza assinalável e bem ilustrativa do quanto superficial e redutor é um documento que serve de suporte a uma classificação de uma paisagem regional. Seria importante que cada um de vós aponte os erros e omissões, sem que façam a papa à empresa que elaborou os documentos em análise. O conhecimento que eu e outros temos resulta de anos de investimento, dedicação e carolice. Se querem ajuda dedicada, paguem. A participação pública não é para fazer a papa a ninguém, apenas para apresentar ideias base e apontar falhas, erros, omissões e afins.
Se querem fazer as coisas como deve ser, contem comigo, contudo não contem comigo para pactuar com a mediocridade. Sicó merece melhor!



21.6.20

"Cantas bem, mas não me alegras"

 Fonte: Via Maria João

Tem sido uma questão bem interessante de acompanhar. O projecto de "reabilitação" do Jardim da Várzea, em Pombal. Por um lado a reacção da população ao projecto de transformação de um jardim com história e identidade numa praça, por outro lado a resposta da Câmara Municipal de Pombal a esta reacção da população. Feita a apresentação do projecto à população, descobrimos que há alterações ao projecto, de forma a supostamente acomodar as sugestões enviadas pelos cidadãos à Câmara Municipal de Pombal. Qual o resultado? Na minha opinião é a mesmíssima coisa, pois o cerne da questão é mesmo a identidade e história do jardim, as quais, mesmo com as alterações propostas ferem, degradam e poluem a identidade e a história de um jardim que, com poucos milhares de euros ficaria com a sua identidade mantida.
Seria simples de fazer. Bastaria contratar um botânico e um arquitecto paisagista e facilmente se chegaria a um resultado que respeitasse a identidade do jardim e com um orçamento muito inferior. É ridículo além de se estar a comprometer a identidade do Jardim da Várzea, gastar uma pipa de massa. É a (i)lógica do mostrar trabalho, a qual tanto património tem degradado e tanta identidade tem obliterado na ânsia de mostrar que existem e fazem coisas.
É caso para dizer, cantas bem, mas não me alegras. Resta aguardar pelos próximos episódios, já que a população, aquela que vota, não está, de todo, satisfeita com estas alterações entretanto propostas...

Fonte: CM-Pombal

Fonte: CM-Pombal

13.6.20

Verbo mobilizar, em prol de uma verdadeira requalificação do Jardim da Várzea!


Já ano nisto há anos suficientes para saber como as coisas "funcionam", daí, e mais, uma vez, fazer questão em pugnar pela preservação do património, neste caso um jardim histórico, que, tristemente, indiciam querer transformar numa praça, destruindo assim a identidade do local. O motivo desta obra? Dou dois, a necessidade imperiosa de apresentar "obra" para mostrar aos eleitores, e uma evidente falta de noção sobre a temática dos espaços verdes, nomeadamente jardins. 
Para contrabalançar esta notória falta de competência para lidar com esta questão, é agora importante mobilizar a população para a correcção deste erro que se avizinha, o qual além de ser um ridículo sorvedouro de dinheiro, degrada e destrói a identidade local e contribui decisivamente para uma má qualidade de vida na cidade de Pombal. É um reduto de qualidade de vida e bem-estar que urge proteger! Como podem participar? Aparecendo, manifestando o vosso desagrado de forma ordeira e respeitando as regras em vigor, devido à pandemia. O desafio está lançado e preparem-se para uma surpresa...

9.6.20

Atulhar um habitat da Rede Natura 2000? Mau Maria...


O alerta surgiu de uma pessoa que tem consciência ambiental e me contactou. Era uma situação que eu desconhecia, mas que entretanto fui começando a conhecer melhor, já que indaguei. Falei com algumas pessoas e fui recolhendo dados sobre a situação. Para já ainda não tomei medidas legais, já que ainda estou a recolher informações, mas caso a situação não seja reposta farei questão de fazer aquilo que sei melhor e pelo qual sou conhecido. E acreditem, sou capaz de ser bem chato e incisivo na defesa do património.
Esta é uma situação que me entristece duplamente, seja pela ocorrência em si, seja pelo facto desta ocorrência resultar de uma evidente falta de literacia ambiental por parte de quem deu a ordem para atulhar parcialmente esta charca, a qual, imagine-se, é um habitat protegido da Rede Natura 2000. Só não tenho a certeza do habitat, mas será o 3140 ou o 3150 (informação corrigida após consulta a especialista). E o que ali foi feito? O costume, curiosamente, ou não, está identificado como ameaça a este habitat na ficha respectiva como "deposição de resíduos". Esta situação ocorreu na freguesia de Chão de Couce, no lugar do Alqueidão, Ansião. 
Pelo que me foi dito, este entulhamento terá ocorrido porque a estrada que ladeia a charca estaria alegadamente instável. Esse facto, a ser verdade, não é motivo para cometer uma ilegalidade. Havendo um problema desse tipo há apenas uma coisa a fazer, falar com quem sabe, de forma a fazer as coisas dentro da legalidade e salvaguardando o património natural, mantendo a charca e a estrada. Ora isso não aconteceu. O que aconteceu foi o costume neste tipo de situações, o entulhar parcialmente, que mais tarde inevitavelmente o resto surge atulhado, com umas carradas de terra que lá vão sendo colocadas. Ora isso não vai acontecer, gostem ou não meus senhores. Já chega de destruírem total ou parcialmente as nossas riquezas naturais!
Resumindo, caso nas próximas semanas a situação não seja reposta, já depois da situação apresentada a quem sabe destas matérias, tomarei medidas para que os responsáveis sejam devidamente identificados e responsabilizados tal como previsto pela lei. Já sei quem alegadamente terá sido, só para que conste. Nas próximas semanas irei ao local, já que quero esclarecer algumas dúvidas, de entre as quais se se trata de uma dolina ou não. 
Pondo isto de uma forma mais objectiva, a situação terá de ter em conta uma recuperação ambiental do local, seja pela retirada dos resíduos, seja pela reconstrução do muro caído e manutenção do muro que, como se vê, não é intervencionado há anos, daí estar no estado em que está. É a vossa obrigação, não uma opção. E no final, a estrada continuará e ficará transitável depois de uma intervenção planeada e legal. E aquele muro de blocos nem devia ali estar...


4.6.20

Vamos mostrar aos amadores como afinal se cria uma Paisagem Protegida de Sicó?



Eis que se inicia o período de consulta pública sobre o muito polémico projecto de classificação da Paisagem Protegida de Sicó. Poucos sabem, já que, para não variar, as coisas foram feitas em cima do joelho e com um amadorismo assinalável. Este é um projecto feito nas costas das populações e que agora, estranhamente, tem pouca divulgação. Porque será?! Onde pára a transparência?!
Fui consultar o "local" da internet da Associação Terras de Sicó e nada de informação. Fui ver os respectivos "locais" da internet de cada um dos municípios da região que a Paisagem Protegida de Sicó abarca, de forma a ver se existia alguma informação sobre a abertura do período de consulta pública deste projecto e isto foi o que encontrei nas partes relativas a avisos, editais, discussão pública e notícias:
- Alvaiázere: sem informação;
- Ansião: sem informação;
- Pombal: sem informação;
- Soure: sem informação;
- Penela: sem informação;
- Condeixa-a-Nova: com informação.

Para quem quiser consultar a informação, deixo-vos o "local" de onde podem sacar a informação, zipada, de forma a, de forma ponderada, ler o que ali consta. 
Numa análise inicial, efectuada antes desta informação ser disponibilizada, fiz breves considerações, as quais agora vão ser lubrificadas...
Da vossa parte, ou seja da parte de quem gosta e conhece Sicó, espero uma coisa só, que participem. Têm quase 1 mês para o poder fazer, portanto não há desculpas!