19.12.12

Reflexões da azinheira



Mais um ano de azinheiragate, mais um ano de aprendizagem e de partilha de conhecimento. O ano está quase a terminar e, assim sendo, chega-se novamente aquela fase em que importa reflectir sobre o que aconteceu durante os últimos 12 meses.
Estou satisfeito por mais este ano de azinheiragate, pois os objectivos que tracei há quase 5 anos atrás, continuam um caminho consistente e com uma tendência em crescendo. Aprendi mais coisas, partilhei mais património e, não menos importante, conheci mais pessoas que têm igual vontade de levar esta região a trilhar caminhos que tardam em ser factualmente seguidos.
Obviamente que tive falhas, as mesmas que enunciei no ano passado. Resumidamente, não tenho tido o tempo suficiente para me poder dedicar mais ao sector Norte da região de Sicó. Falei por algumas vezes, mas naturalmente que foram poucas. Isto deve-se a um facto muito simples, o de ainda estar a dedicar a quase totalidade do meu tempo a um projecto bastante exigente, que me restringe aquele tempinho que gostava de ter para dedicar mais tempo a Sicó. Mas daqui a uns tempos, terei novamente tempo para ir para o campo, onde me sinto bem.  Geógrafo a sério é mesmo assim, gosta de estar no meio do monte e não fechado no gabinete!
Pessoalmente, foi um ano excelente, já que o reconhecimento da minha luta em prol do património desta região chegou à televisão, através do programa Biosfera, que passa na RTP2. Foi algo que, para mim, teve um significado muito grande, como qualquer um de vós poderá imaginar. Esta conquista foi mais uma enorme pedra no sapato dos interesses corruptos que pensam que querem, podem e mandam...
Outra grande, e recente, conquista, foi o projecto dos Geobiscoitos de Sicó, o qual está a ter um reconhecimento que não esperava tão rápido.
Criatividade não falta por esta região, o que falta é mudar as mentalidades que muitas vezes impedem os jovens de levar em diante ideias inovadoras baseadas nas mais valias regionais. Há que dizer que, não fosse a acção castradora de políticos da treta e de outros tipos de gente reles, esta região já podia estar muitos anos à frente do que está. Os jovens, se apoiados, podem fazer muito pela sua terra! Felizmente que eu o consigo fazer, e logo sem apoio dos políticos, daí o meu sentimento de dever cumprido (embora não terminado!). O apoio que tenho tido é das pessoas simples e humildes que fazem desta região um lugar realmente especial.
Este ano voltou-se a falar de uma outra questão importante para a região de Sicó, ou seja a criação de um parque natural. Embora tenha sido mera conversa não consequente, foi bom ver alguma discussão sobre o tema. Pessoalmente não defendo um parque natural para Sicó, defendo sim um modelo de geoparque regional e que peguem a sério na Rede Natura 2000, pois ela desde que foi criada pouco mais foi do que uma quase área protegida. 
A discussão deste e outros temas é importante para todos nós. Espero que estas discussões surjam e que seja pela mão de gente que não esteja ligada à política, pois a política em Portugal faz muito mal ao país, como é fácil de constatar. Naturalmente que irão surgir debates em 2013, isso é certo, embora não vos possa dizer como e quando.
Facto de grande importância em 2012 em Sicó, foi o surgimento de uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA). O Grupo Protecção Sicó, embora já com um grande historial, assumirá concerteza, enquanto ONGA, um papel preponderante nas políticas regionais, a bem da região e do seu vasto património.
O associativismo continuou em força em toda a região, algo que mostra que este é um dos pilares sobre os quais deveremos construir o nosso futuro. Eu tenho apostado nisso mesmo nos últimos anos, já que também faço parte deste associativismo em três frentes.
Outro ponto importante, é o nascimento de projectos um pouco por toda a região, não sendo meu intuito especificar nenhum em particular. Falo daqueles que surgiram este ano e de outros que sei que estão a ser cozinhados no curto prazo.
Facto muito negativo é ver pessoal jovem a ir embora para outras paragens (emigrar). Embora compreenda alguns casos, outros há que não compreendo, já que estes últimos acontecem apenas por comodismo, ou seja não há vontade para arriscar. Eu pensei abrir uma empresa há 3 anos, não tendo conseguido (havia quem não queria que eu o fizesse e me tivesse dificultado a coisa...), daí saber que às vezes o melhor é mesmo sair para não chatear mais. Pessoalmente não pretendo emigrar, mas confesso que por vezes penso nisso. Penso a maior parte das vezes em ficar, em lutar contra esta corja que nos desgoverna. Penso (sei!) que ainda temos um país fantástico, penso (sei!) que ainda temos um povo fantástico e uma cultura que urge em preservar. É por isso que luto, nada mais.
O próximo ano vai ser bem duro, esperando eu que as pessoas deixem a passividade que lhes é característica, e que mandem um murro forte na mesa, para mostrar que quem manda somos nós e não palermas que se vestem de gravata e vão cuidar da sua vida para o... parlamento. Outros há que fazem o mesmo, mas nas autarquias, alguns nas autarquias de Sicó. Muitos não estão lá pelo território que não conseguem gerir, ou pelas pessoas, estão sim pelo seu interesse. Esta corja joga com a vossa passividade, lembrem-se disso!
No próximo ano vão haver eleições autárquicas, o que será concerteza interessante em termos de debate nos vários municípios. Vão haver novidades, umas porque tem mesmo de ser, outras porque poderão mesmo acontecer. 
Freguesias, aqui está um dos assuntos quentes para 2013. Muito do bairrismo que nos caracteriza, sairá às ruas, umas vezes no sentido positivo, noutras nem por isso. Espero para ver o que dali vai sair...
Outras coisas há a referir, mas o espaço é limitado e o cansaço não me deixa prolongar por muitas mais linhas este comentário. Contudo, e a seu tempo, irei falar de tudo isto e muito mais!


14.12.12

E porque não um documentário sobre a região de Sicó?!


A ideia surgiu-me logo depois de ver o brilhante documentário de Daniel Pinheiro, sobre o Mondego, no entanto apenas agora lanço a ideia publicamente. Penso que só voltei a pensar nisto depois de recentemente ter (re)visto um outro fantástico documentário, o "Pare, escute, olhe", o qual me fez recordar esta ideia que agora passo a apresentar.
Os destinatários deste meu comentário, onde pretendo lançar o desafio, são precisamente os estudantes que, no âmbito de um trabalho académico, pretendam efectuar um documentário televisivo sobre uma determinada região e sobre o seu património natural ou cultural. Não esqueço também aqueles que, mesmo não tendo ainda decidido, possam ter aqui um motivo para, futuramente, escolherem Sicó para um documentário.
Sicó tem tudo para que possa surgir um belo documentário que sirva o intuito da divulgação desta bela região, a qual, genericamente falando, abrange parte dos concelhos de Ansião, Alvaiázere, Pombal, Soure, Condeixa e Penela (embora tenha continuidade para Sul...). 
Pontos de interesse (extraordinários!) não faltam, pessoal que ajude também não. Da minha parte, e caso surja algum interessado, estarei disponível para ajudar, seja no trabalho de campo, seja através da partilha de conhecimento, ou mesmo através do estabelecimento de contactos que podem ser uma boa ajuda nesta árdua tarefa que é fazer um bom documentário sobre Sicó. Nunca se sabe se um eventual documentário não sirva também para o lançamento de mais um jovem nesta arte que é a dos documentários.
Sei que a possibilidade de acontecer um documentário sobre Sicó é muito reduzida, mas se eu não acreditasse que isso era possível, não estaria a perder tempo a escrever umas palavras. Eu acredito, portanto quem estiver de acordo, que passe a palavra sff e a faça chegar a quem se possa interessar. O desafio está lançado, resta-me agora esperar que 2013 me traga a boa nova...

Nota: para os mais curiosos, a imagem inicial deste comentário é mesmo de um operador de câmera italiano, aquando de uma visita minha a um local de interesse paleontológico (30000 pegadas de dinossaurio...), em Itália.

30.11.12

Cabras de Sicó


Esta fotografia tem uns meses, foi tirada bem perto de Condeixa. Rebanhos de cabras não são novidade para mim, no entanto não é todo o dia em que temos todo o tempo do mundo para tirar a bela da foto de grupo aquelas beldades que nos fornecem a bela da matéria prima com que se faz o belo do queijo.
Os rebanhos de cabras, ou ovelhas, populavam Sicó há umas décadas atrás, hoje em dia nem por isso. Vêm-se alguns, sabe-se de alguns projectos (para ou a nascer) ligados a este ramo, mas o potencial está aí por explorar. Desde que bem gerido, é possível, e desejável, termos muitos mais rebanhos a percorrer a região de Sicó em busca do belo pasto. Consegue-se gerir a coisa em termos de vegetação, o que é imprescindível numa área de Rede Natura 2000 (votada ao abandono...), e consegue-se também gerir a questão dos incêndios florestais em áreas esquecidas pelas gerações mais novas. Isso faz-se, por exemplo, na Serra de Aire e Candeeiros, onde ainda "recentemente" foi destacado na comunicação social um destes projectos.
Na década de 40 do século passado, eram, muitas vezes, as crianças a levar os rebanhos para a serra, mas entretanto veio o plano dos centenários, onde se construiram aquelas belas escolas primárias que agora estão ou ao abandono, ou em utilização associativa. Depois disso começou então a decadência e os rebanhos foram desaparecendo das serras. A paisagem hoje em dia seria algo diferente. Perderam-se coisas boas, mas também se ganharam "coisas" fundamentais, como o é a educação. 
Os tempos são outros, mas as oportunidades estão aí. Rebanhos precisam-se e pastores também!
Estar a escrever estas linhas deu-me apetite, pena é não ter aqui o belo do queijo fresco. E quando digo queijo fresco, não é queijo fresco feito com matéria-prima estranha a Sicó, é sim com leite de cá, pois é Sicó que lhe dá o particular sabor!

Mas não é só do queijo fresco que devo falar, é sim também daquele queijo, daquele verdadeiramente artesanal. Não me esqueço de há muitos anos comer deste queijo a sério, o qual era preservado em azeite (ainda há, mas já não é como dantes...). Uma migalha deste queijo sabia mais a queijo do que um daqueles queijos inteiros que muitas vezes vemos no supermercado. Há coisas que o dinheiro não compra, esta é uma delas, restando esperar que voltem as coisas boas que nos alegram a vista e o paladar!

25.11.12

Classificação de geossítios de âmbito municipal


É um tema tão óbvio, mas mesmo tão óbvio, para mim que até o fui deixando passar, até agora... Utilizo duas imagens, uma de um local "muito" conhecido, e a outra de um "desconhecido". Pretendo acima de tudo mostrar que esta questão pode ser vista a escalas muito diferenciadas, daí as pertinentes fotografias.
O primeiro lugar, posso dizer, é o "conhecido" vale das buracas, ou buracas do Casmilo, em Condeixa. Penso que posso afirmar que é mais conhecido por pessoas de fora de Sicó do que pelas pessoas que vivem na região de Sicó, genericamente falando.
Já o segundo lugar, esse não posso dizer mais nada além de que se situa em Alvaiázere, já que além de ser num terreno privado, não tenho a respectiva autorização para divulgar a sua localização. Mesmo que tivesse autorização, dificilmente iria divulgar, já que podia colocar em perigo a integridade do local. Em certos casos é mesmo preferível manter as coisas no segredo dos deuses...
Esta breve introdução serviu para contextualizar o tema que agora pretendo abordar, ou seja a classificação de geossítios de âmbito municipal. Não vou agora abordar a classificação a nível regional, embora pudesse, já que irei tratar separadamente as questões, esta última daqui a mais umas semanas.
Começo pela classificação de geossítios de âmbito municipal, por um motivo muito simples, o de que é a forma de mais rapidamente se iniciar este processo, o qual ainda não teve o seu início em nenhum dos municípios da região de Sicó. Isto mesmo apesar de ser um processo simples em termos de burocracias. Aqui não há pareceres de outras entidades públicas que não as respectivas autarquias, o que facilita de sobremaneira o processo. A Lei, para que se saiba, é a nº107/2001, de 8 de Setembro.
Mas para que precisa Sicó de classificar os seus geossítios, perguntam alguns? Simples, para muita coisa, começando pela sua protecção com vista à valorização.
Geoturismo, já ouviram falar? Tendo os imensos geossítios classificados, pode dar-se então início a uma estratégia que visa, no final, o desenvolvimento territorial.
Há anos atrás, quando lidava com a questão dos locais de interesse geomorfológico, ainda tentei classificar um geossítio, o qual está, parcialmente, à vista de todos, na última foto. Esta e outras pegadas foram avaliadas por uma especialista (paleontóloga), a qual chegou a elaborar um relatório que seria a base para a classificação destas pegadas de dinossaurio a nível municipal. Infelizmente o processo foi metido na gaveta. Porquê? Perguntem a Paulo Tito Morgado, ele lá saberá...
Ainda pensei propor um outro, a fórnia da Ucha, em Ansião, no entanto, mais tarde, foi ali aberta uma aberração de estrada, pseudoflorestal, a qual estragou quaisquer hipótese de classificação desta fórnia.
Quanto à primeira fotografia, a das buracas do Casmilo, essa já representa um geossítio de âmbito regional, para o qual a classificação já será mais burocrática, embora obviamente necessária. Burocrático ou não, é algo que eu considero imperativo, pois temos estas e muitas outras riquezas, e nada é feito para criar uma base a partir da qual se forme uma matriz que sirva, por exemplo, para o geoturismo.
Há que referenciar que alguns destes geossítios estão já estudados, através de algumas universidades, portanto há já todo o trabalho científico feito, faltando agora o trabalho político, restando-nos agora exigir aos políticos que façam o seu trabalho e classifiquem todas estas belezas de Sicó, pois além de tudo o mais elas representam uma mais valia territorial, e, naturalmente, financeira, tudo isto sem que seja necessário destruir ou degradar o que temos. 
Sicó não precisa de elefantes brancos, precisa sim que o seu património geológico, geomorfológico, paleontológico, etc, seja devidamente reconhecido e valorizado. 
Um dos projectos que poderia dar força a esta questão, seria o Centro de Interpretação e Museu da Serra de Sicó, a situar bem pertinho do extraordinário vale dos Poios. No entanto, e para variar, é mais um projecto parado e à espera de melhores dias... 


20.11.12

Abrigos de Sicó


Os abrigos serranos são, infelizmente, cada vez mais uma imagem do passado na região de Sicó, no entando, ainda há alguns "um pouco por toda a Sicó". As duas primeiras fotografias ilustram dois exemplos similares, um ainda em condições, outro já incompleto. O terceiro, já diferenciado, é ao lado de um moinho de vento. O mais provável, ao se depararem com um destes últimos abrigos, é este estar cheio de lixo, deixado por gente ignorante e irresponsável...
Não são aqueles que passam de jipe e/ou moto na serra, que costumam ver estas beldades pela serra, são sim aqueles que andam a pé ou de bicicleta na serra que têm a oportunidade de contemplar estes pequenos abrigos serranos. Há ainda outros abrigos, estes circulares, mas são ainda mais difíceis de ver, já que na maior parte das vezes resta apenas o amontoado de pedra. 
Estes abrigos representam muito mais do que muitos imaginam, e dão, inclusivamente, para contar histórias bem catitas, as quais podem e devem ser utilizadas também em termos educativos. Pretendo com isto destacar que estes abrigos são a memória de um tempo do qual importa preservar a memória. São também uma das muitas variáveis que pode entrar na equação que é o desenvolvimento territorial.
Fica o desafio para que vão ao encontro da serra e, logo que estejam frente a frente com uma destas beldades, entrem na mesma, fiquem em silêncio, e sintam algo que é inimitável. Quando lá estiverem dentro irão perceber...




15.11.12

Quintinhas de Sicó


Nem sempre a dimensão é relevante no que se refere à importância do edificado da região de Sicó, daí ter decidido iniciar uma variante às "Quintas de Sicó". Com as "Quintinhas de Sicó", pretendo mostrar que nem sempre a dimensão é o mais importante no que refere à mais valia patrimonial do edificado da região de Sicó. Naturalmente continuarei a não divulgar a localização deste património, de modo a evitar que este chegue ao conhecimento de alguns gatunos que por aí andam.
Começo as "Quintinhas de Sicó" com uma casinha que me fascina sempre que por ali passo. Naturalmente que há muitas mais, algumas conheço, outras nem por isso, mas mesmo assim irei em busca de ambas, já que há muitas que valem a pena ser divulgadas. Obviamente não conseguirei dizer muito sobre as linhas arquitectónicas destas quintinhas, mas afinal o que pretendo é, acima de tudo, mostrar as mais valias da região. O/As arquitecto/as são quem nos pode ajudar a aprofundar o conhecimento sobre esta temática. Há alguns que se dedicam à arte da difusão do conhecimento, outros nem por isso, mas afinal isso acontece em todas as profissões. Que tal surgir um blogue dedicado especificamente à região de Sicó no domínio da arquitectura tradicional? Fica o desafio ao pessoal da arquitectura!
Espero também que este comentário seja mais uma pequena ajuda para vos ajudar a reflectir sobre a importância de se recuperarem as quintas e quintinhas de Sicó, pois embora ainda haja algumas em condições, outras há que se vão perdendo. Há que reabilitar o património!

11.11.12

O papel da imprensa local e regional perante o património da região de Sicó

As últimas semanas foram pródigas em factos relacionados directamente com o âmbito do azinheiragate, algo que não é propriamente uma novidade. Então o que me leva a destacar estes factos? Simples, o enquadramento dos mesmos, daí a sua pertinência.
Com este comentário pretendo abordar o papel da imprensa local e regional perante o património da região de Sicó, papel este que pode ser muito diferenciado tendo em conta o/a jornalista que decide abordar a temática do património.
Nos últimos 5 anos tive o privilégio de conhecer alguns dos bons jornalistas que fazem da região de Sicó uma fonte de notícias. Infelizmente há também ovelhas negras, se bem que poucas. Irei falar de ambos neste comentário.
Outro dia, num evento em que participei, fiquei bastante incomodado com a atitude de alguém que eu considero um pseudo-jornalista, o qual deixa muitas vezes de lado a ética, um dos pilares da acção de um jornalista. A atitude foi simples, a falta de educação, já que nem sequer me disse boa noite. Este ressabiamento deve-se a algo muito simples, o facto de essa pessoa não tolerar a crítica, mesmo que devidamente fundamentada. Facto lamentável, digo eu.
Felizmente que nesse mesmo evento falei com um verdadeiro jornalista, o qual faz da ética jornalística um farol que vai guiando, e bem, o jornal do qual é director. Falamos daquilo que é realmente importante e de coisas que, mesmo conhecendo os meandros do jornalismo e da porca da política, me continuam a surpreender.
Mas vamos aos factos. Poucos dias após a reportagem do Biosfera, que passa na RTP2, fui interpelado por um jornal local, facto que muito me surpreendeu. Esta surpresa deveu-se ao facto do jornal local ter sido "O Alvaiazarense". Explicando a coisa de um outro prisma, fiquei surpreso porque sendo este o único jornal da terra, e sendo eu alguém mal amado por interesses obscuros que orbitam por aqueles lados, seria pouco provável que eu fosse convidado para uma entrevista que concerteza chateou algumas pouco ilustres pessoas que fazem de Alvaiázere um matadouro do património. É um facto que, sendo eu quem sou, pode tornar-se problemático para o único jornal de Alvaiázere, convidar-me para uma entrevista, e logo com questões bem pensadas e estruturadas. 
Apesar de surpreendido, acedi com naturalidade à entrevista, já que esta me permitiu esclarecer perante o/as alvaiazarenses, alguns pontos bem importantes no domínio ambiental e patrimonial. Para mim é um excelente sinal esta abertura do Jornal "O Alvaiazarense", facto que, espero, que signifique a tal imparcialidade salientada pelo actual director (que não conheço), aquando a sua "tomada de posse" há largos meses atrás. Na altura fiquei com algumas dúvidas, já que Alvaiázere é um território complicado, mas penso que agora estas minhas dúvidas ficaram mais esclarecidas, no bom sentido. Que esta "ousadia" continue, pois Alvaiázere, as suas gentes e o seu património precisam de um jornal sério e imparcial. E se há quem possa pensar que o que estou a dizer é mera "graxa", desengane-se, pois eu critico seriamente quando se impõe e aplaudo seriamente quando se justifica. Ainda há semanas atrás fiz uma crítica a algo que não considerei uma notícia, a qual saiu precisamente numa edição do Jornal "O Alvaiazarense".
Numa altura de crise, um dos garantes da continuidade da imprensa local e regional é precisamente a seriedade e ética. Quando a mesma falta, corre-se o risco de um jornal pura e simplesmente desaparecer, algo que aconteceu recentemente pelos lados de Sicó.
Mas não é só da imprensa local que Sicó vive, é também da imprensa regional. Esta última pode e deve ser um importante instrumento no que concerne à divulgação do que de bom aqui existe. Naturalmente que os maus exemplos devem também merecer destaque, já que isso pode ajudar a que os maus exemplos não se repitam. 
Sicó precisa da imprensa local e regional e vice-versa. Sicó precisa, e tem, bons jornalistas. Sicó é mostrada por bons jornalistas, sejam de cá ou de fora.
É fundamental que os bons jornalistas, sejam eles quem for, façam de Sicó notícia, pois além da "matéria-prima" não faltar por estes lados, esta é uma importante porta para o país e, mesmo, para o mundo, já que as edições online o permitem. Há muitos que menosprezam o papel da imprensa local e regional, mas o tempo acaba sempre por mostrar a importância desta.
Para terminar, um apelo, uma das formas que todos temos de dar continuidade a muito deste bom trabalho é comprar jornais (e não pasquins partidários...). E que a crise não seja uma má desculpa, pois não é por um euro que ficamos mais pobres. Investindo um euro num jornal, local ou regional, estamos sim a ficar mais ricos! Não há nada como um belo de um jornal em papel, nada o substitui!

6.11.12

De regresso às leituras


Regressando novamente às sugestões de leitura, deixo-vos com três livros "recentemente" editados. Os dois primeiros podem ser encontrados, por exemplo, na Biblioteca Municipal de Ansião. Lembrem-se que ler é algo de muito importante, seja para miúdos ou graúdos. Usufruam das bibliotecas e boas leituras!




28.10.12

Nasceram os "Geobiscoitos de Sicó"!


Aproveitando o último festival de gastronomia de Ansião, que aconteceu entre os dias 19 a 21 de Outubro, foi lançada uma inovadora linha de biscoitos, os "Geobiscoitos de Sicó". Posso dizer que é um acontecimento que não esquecerei, já que é algo de novo pelos lados de Sicó e, penso, que mesmo a nível nacional, no que concerne ao carso português.
Pelas mãos da Pastelaria Nabão (Ansião), surge então algo que merece todo o destaque e toda a nossa atenção. Não é todos os dias que surge, no domínio da gastronomia, algo que junta o melhor de dois mundos. Gastronomia, geodiversidade e biodiversidade estão representados nos "Geobiscoitos de Sicó", não esquecendo uma forte e declarada componente educacional, a qual pretende mostrar a todos aquilo que poucos efectivamente sabem o que é. O primeiro geobiscoito de Sicó é então um lapiás, um dos embaixadores do carso.
Este projecto é decorrente de algo que muitas vezes digo, da necessidade de construir pontes entre gerações e pontes entre a ciência e as comunidades, algo que faz muita falta também pelos lados de Sicó. Os "Geobiscoitos de Sicó" são o feliz (e saboroso!) resultado desta "construção de pontes". 
Com tudo isto tem-se um belo "objecto" que também pode ajudar ao tão necessário marketing territorial, ainda por potenciar na região de Sicó. Mais "objectos" se seguirão!
Podia estar aqui a dizer muito mais, mas não, prefiro "apenas" agradecer à D. Lurdes, que acolheu de braços dados uma ideia simples, mas revolucionária na gastronomia regional. Por boas que sejam as ideias, elas de nada valem se não houver quem lhes possa/queira dar seguimento...
Quem quiser comer um lapiás, já sabe que agora o pode fazer, literalmente!

23.10.12

Notas sobre as inauguradas obras de regeneração das margens do Rio Nabão, em Ansião

É certo que a obra ainda não está terminada no seu todo, daí este meu comentário incidir apenas sobre a parte que já está oficialmente inaugurada. Já tinha dado a minha opinião sobre o primeiro troço inaugurado, portanto, e depois deste comentário sobre o último troço, ficará a faltar a opinião sobre o troço intermédio.
Decidi que era boa altura para fazer o comentário tendo em conta dois factores, o primeiro é que este troço já está inaugurado. Já o segundo, deve-se ao facto de nas próximas semanas ser natural começar a notar-se um dos problemas que irei apontar à obra, tal como foi efectuada.
Antes de mais, importa referir que fui a favor desta obra, no entanto não exactamente nestes moldes. Já andei a avaliar a obra, seja a pé ou de bicicleta, e já constatei um belo cenário que é as pessoas efectivamente usufruírem de um espaço que agora é de todos. Miúdos e graúdos têm aproveitado esta obra. Genericamente fiquei satisfeito, no entanto há falhas graves e alguns pormenores que deveriam ser revistos.


O primeiro ponto a salientar é um pormenor que passa despercebido e que já apontei para as e-gingas que estão situadas no fundo da rua. O facto de não terem uma protecção perante o sol e a chuva, é algo que irá diminuir o tempo de vida destas e-gingas. Assim sendo considero que deve ser pensada uma mini-cobertura para as mesmas.


O segundo pormenor tem já a ver com uma questão mais abrangente. Tendo em conta que esta infra-estrutura foi ocupar terrenos com excelente aptidão agrícola, não compreendo porque não se aproveitou este facto para criar alguns talhões que servissem um fim pedagógico. Caso que tivesse criado alguns talhões neste espaço que a fotografia mostra, ter-se-ia um espaço privilegiado para os miúdos das escolas aprenderem a importância da hortazinha, algo que não é de menosprezar.


Passando dos pormenores aos erros grosseiros, vou directo à questão, será que aquela ponte de ferro não estraga a contemplação do monumento que acaba por esconder? Já tinha alertado para esta questão, no entanto, e tendo em conta que isso foi antes destas obras começarem, impõe-se novamente a questão.


É dos erros mais graves que por aqui vi, uma ciclovia termina num sector com... degraus! Como é possível isto não ter sido pensado por quem projectou a obra? E não é só pela ciclovia, é sim fundamentalmente pela acessibilidade de pessoas em cadeiras de rodas ou com outras formas de mobilidade reduzida. Obviamente não me estou a referir aos degraus que dão para o rio, mas sim os degraus que dão para a estrada.


Tendo esta ponte e os tanques a importância histórica que têm, faz algum sentido a intervenção que vemos na fotografia? Será que aquelas pedras com cimento, coladas na base do arco têm algum sentido histórico? Não me parece...


Passo então ao "último" erro. Qual será a dificuldade em perceber que todo aquele areão, desnivelado com a ciclovia, vai escorrer para cima da ciclovia, logo que venham as primeiras chuvas fortes? Não é apenas neste local que a foto ilustra, é sim em parte significativa do troço da ciclovia. Isto é elementar, mas parece que foi esquecido por alguém. É precisamente este um dos erros que será mais visível nas próximas semanas.
Finalizando sim com o erro dos erros, estarei atento quando vier a primeira cheia a sério, algo que ainda não acontece há uns valentes anos. Quando isso acontecer, muitos verão o erro que é impermeabilizar troços de rios e sentirão nos bolsos o que é ter de pagar erros elementares no decorrer de obras como esta... 

19.10.12

Florestar Portugal e florestar Sicó: toca a mexer!



O desafio é simples, plantar o país e a nossa região com flora autóctone. Por mim, juntava a isto arrancar eucaliptos, mas fica para depois. Há que mobilizar todos em prol desta causa importantíssima, não custa nada e saímos todos a ganhar com isso.
Há que organizar as coordenações locais, falar com várias entidades, caso de Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais, Associações Florestais, empresas e cidadãos em geral. Há também que passar palavra, de modo a que quem tenha terreno disponível o ceda para plantar:

Freixo
Azereiro
Azinheira
Medronheiro
Carvalho-negral
Carvalho-português
Castanheiro, Cerejeira
Carvalho-alvarinho, Amieiro,
Sobreiro, Borrazeira-preta,
Sabugueiro
Vidoeiro
Ulmeiro
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Agora toca a mexer e espalhar a sete ventos esta iniciativa, pois há que pugnar pelo nosso património florestal e lutar contra o lóbi das celuloses que nos querem encher o país de eucaliptos!

6.10.12

Agricultar na região de Sicó: uma de muitas oportunidades por potenciar...


Numa altura em que muitos passam dificuldades, nada melhor do que relembrar a todos da importância que é a agricultura de subsistência, ou seja, a nossa hortazinha. 
Não é da horta comum que quero falar, pois em Sicó são ainda muitos os que a têm e ainda mais os que sensivelmente nos últimos 2 a 3 anos voltaram a pegar na enchada. Quero sim falar dos muitos terrenos, com aptidão agrícola, que estão ao abandono e que poderiam estar a ser utilizados. Esta utilização poderia ser um excelente compromisso entre um rendimento extra de muitas famílias, e a produção de produtos agrícolas de qualidade que poderiam ajudar a abastecer cidades próximas como são o caso de Coimbra e Leiria. Ganhariam todos com isso e ganharia o país, já que estaríamos a aproveitar o que é nosso. Evitaríamos ter de recorrer a produtos vindos de, por exemplo, da "cidade de plástico" (Sul de Espanha, perto de Múrcia) uma imensa "cidade" de estufas que se prolonga por dezenas de km. Depois de por lá passar, há coisa de 2 anos, fiquei chocado com o cenário...
Voltando a Sicó, é um facto de que temos potencial que chegue e que sobre no domínio da agricultura de qualidade. Temos ainda uma certa protecção perante a agricultura massificada, facto permitido pelo minifúndio, o qual até considero que seja um mal necessário para a protecção de Sicó no que concerne a alterações de fundo a nível de paisagem, muitas vezes desvirtuadoras nato da paisagem. Isto tudo em prol de interesses que apenas se interessam pelo dinheiro. Felizmente que o minifúndio ainda protege Sicó, mesmo apesar de alguns problemas que não importa aqui destacar agora.
Será que muitos dos que tanto se queixam, e que têm afinal tanto tempo livre, não se poderiam dedicar a este importante complemento que é a agricultura, sabendo que temos condições para uma agricultura de qualidade? Isto ainda mais sabendo que poderia ser uma agricultura que não necessita de químicos e de OGM´s!
Este é um segmento que não está minimamente potenciado e que nem mesmo as entidades públicas têm tido a capacidade de potenciar. Será que ninguém compreende que estamos perante mais uma de muitas oportunidades?
Fica então mais uma adenda a um tema tão importante como é a agricultura na região de Sicó. Lembrem-se também que foi precisamente a agricultura que moldou a bela paisagem que nos dias de hoje ainda podemos desfrutar nesta bela região, Sicó. Se não promovermos as actividades que também embelezam a nossa região, estaremos a permitir que esta desapareça e a abrir caminho a interesses predatórios que nos querem espoliar das nossas riquezas, tudo para ganhar uns míseros tostões...
São estes mesmos interesses predatórios que nos fazem acreditar que a vida no campo é para gente pobre de espírito e que isso significa atraso em termos de desenvolvimento. Resta-nos ajudar a contrariar esta gentalha, a mesma que nos levou à situação actual!

26.9.12

A crónica da pinha



Decidi regressar para um novo episódio das minhas mini crónicas (a primeira foi a crónica das duas folhas), espaço em que de maneira simples tento explicar o difícil. Para isso baseio-me agora numa bela pinha que há semanas atrás apanhei do chão, enquanto o carro de bombeiros em que eu estava se abastecia para combater o grande incêndio de Pombal/Ourém. Sinto a necessidade de desenvolver estas crónicas, pois poucos são os que de forma pedagógica se dedicam ao explicar das coisas difíceis de uma forma fácil e intuitiva. Obviamente que também pretendo desenvolver a escrita criativa, para mais tarde começar a dedicar-me aos livros.
Tendo como base esta bela pinha, inicio então algo que espero que fique tal como espero que fique, simples e intuitiva em termos pedagógicos, o que nem sempre é fácil quando se escreve na hora.

Quase a começar o Outono, Inês foi a casa dos seus melhores amigos. Era um hábito semanal, o qual visava o convívio entre jovens que já se conheciam desde a primária.
Nesse final de tarde, a fresquidão da brisa de vale já se instalava a jusante do vale onde se situava a casa de Josefina e António. Inês chegou e já acusava esse fresquinho, o que levou a que Josefina se prontificasse a acender a lareira. Inês disse logo:
- Mas não tens aqui acendalhas, como vais acender o lume?
Josefina riu-se logo, pois achou graça ao facto de Inês não ter reparado no óbvio.
- Achas mesmo que eu ia comprar acendalhas para acender o lume?
- Sim, claro, porque não? Respondeu Inês.
- Por um motivo muito simples, o de que não faz sentido algum comprar algo, feito à base de derivados de petróleo, que vem do outro lado do mundo, quando logo aqui à porta tenho pinhas que, além de serem naturais, fazem o serviço melhor.
- Pois, faz todo o sentido, não tinha pensado nisso! Exclamou Inês.

É uma crónica curta, mas penso que explica o essencial. Se reflectirem o suficiente vão perceber a profundidade desta curta, mas incisiva crónica. Temos muitos recursos, infelizmente não os aproveitamos devidamente, apenas nos queixamos que as coisas estão mal. Já pensaram em pegar em meia dúzia de sacos e ir às pinhas? Vivem longe do pinhal? Alguns sim, mas numa volta num qualquer dia podem parar e apanhar umas quantas...
E acabe-se com a praga dos eucaliptos!



21.9.12

A intemporal Sicó...



Há lugares mágicos, onde o tempo parou há décadas atrás. Felizmente que na região de Sicó ainda há desses lugares mágicos, onde, chegados lá, paramos num tempo que não é o nosso.
Há semanas atrás, tive o privilégio de conhecer um destes lugares mágicos, o qual não irei divulgar tendo em conta a necessidade de proteger a magia do lugar. Pode parecer injusto eu guardar segredo sobre a localização do mesmo, mas como bem sei, é a melhor coisa que posso fazer de modo a o proteger de pessoas que poderiam vandalizar. Estas duas fotografias são apenas um pequeno exemplo de algo maior (muito maior!) que por ali existe.
Quem realmente gosta da região de Sicó, conseguirá mais tarde ou mais cedo descobrir este e outros lugares, autênticos museus associados à evolução humana. Isso pode acontecer por duas formas, ou num qualquer "mergulho no território" num dia qualquer, onde por mero acaso acabamos por nos deparar com algo importante, ou através de uma das muitas pessoas que, tal como eu, gosta da região de Sicó e decide partilhar parte do seu conhecimento. Eu fui bafejado pela sorte, pois houve alguém que me apresentou ao lugar onde tirei estas e outras fotografias, o meu muito obrigado por isso mesmo!
Decidi abordar esta questão por um motivo muito simples, o de que andamos a perder há demasiado tempo muito daquilo que afinal nos trouxe onde hoje estamos. Não valorizamos muito daquilo que realmente é importante, e quando digo que se deve valorizar, não é a muitas típica valorização de pendurar objectos antigos nas paredes para nos lembrarmos de algo passado. A valorização é muito mais do que isso...
Eu sei que estas palavras são curtas, mas o objectivo passa mesmo por palavras curtas, as quais têm como intuito estimular a discussão em redor daquilo que é realmente importante, o nosso património, renegado por alguns em prol de um não património, que é supérfluo e inconsequente!


17.9.12

Vamos lá ver então a história da tauromaquia enquanto património cultural imaterial...


É daqueles temas fracturantes na sociedade portuguesa, ao qual a região de Sicó não escapa. Naturalmente não poderia deixar passar muito mais tempo sem deixar aqui bem expressa a minha opinião, já que afinal o azinheiragate trata de património. Isto, muito embora os gralhos já se tenham manifestado há meses atrás.
Depois de um mês de Agosto, onde a festa taurina apareceu em locais onde não tem nem nunca teve tradição (Ansião - Santiago da Guarda - por ex.), eis que decido então abordar esta questão. Isto já muito depois do Município de Pombal ter reconhecido e declarado a tauromaquia património cultural imaterial do município.
Considero este reconhecimento sinal de populismo demagogo, já que a reconhecer e declarar a tauromaquia enquanto património cultural imaterial, isso só teria algum sentido em Abiúl. Isto será apenas uma atitude desesperada de quem quer impor uma cultura que não existe em muitos lugares e que querem impor a qualquer custo.
Indo então ao cerne da questão, não tenho problema algum em dizer que até gosto de largadas de vacas ou touros, já que isso é uma luta justa e todos se divertem. Mas fico-me por aqui, já que dizer que espetar ferros no lombo de um touro é "património cultural imaterial", isso não cabe na cabeça de mentes sãs. Não será difícil perceber que, tal como está, a tourada irá inevitavelmente acabar, já que quem gosta de espetar ferros e quem gosta de ver é gente teimosa, no mau sentido. Porque não acabar com este gesto da idade da pedra e mudar algo que não faz sentido algum? Inventem algo que não passe por espetar ferros no lombo de animais!
Será mesmo que a tauromaquia "fomenta de sobremaneira o desenvolvimento turístico do município de Pombal"? Claro que não!
Abordando agora as afirmações do Presidente da Junta de Freguesia de Abiúl, quando refere que "o touro nasceu efectivamente para ser lidado", considero estas anedóticas. Darwin acharia muita graça a isto, se bem que graça não tem nenhuma. Quando refere que "acabar com a actividade taurina é acabar com parte da economia nacional", esta é mais uma daquelas afirmações que não lembra a ninguém. Quem está a acabar com a actividade taurina são os próprios dinamizadores da mesma, já que ao teimarem em espetar ferros nos animais, só porque tem de ser e é "tradição", estão apenas a condenar-se a si próprios. As touradas estão a perder terreno a olhos vistos e caso os ferros continuem, as pessoas tendencialmente irão perder (ainda mais!) o interesse num espectáculo bárbaro e degradante. Isto já acontece, resta saber quantos anos mais a teimosia vai durar...
Já este ano, quando me desloquei a Valladolid, entrei numa antiga praça de touros, a qual foi transformada em complexo habitacional. É apenas um de muitos exemplos que mostra que as touradas já não são o que foram e nem têm a força que alguns ainda dizem que tem.
Se gostam de correr à frente de touros, tudo bem com isso, agora englobar o gesto bárbaro que é espetar ferros num animal, no património imaterial, isso é que nem pensar. E não, não faço parte de nenhum grupo defensor dos animais, sou sim defensor do que realmente é património e daquilo que realmente é racional.
Termino com um bom exemplo no que concerne à tauromaquia sã, onde todos se puderam divertir (incluindo os touros!), as festas do Mogadouro, em Ansião, no último fim-de-semana. Há 3 anos pude lá ir, correr à frente dos touros, numa luta justa e sem espetanços no lombo, isso sim é património cultural imaterial!

12.9.12

E ainda...



Era este o exemplo que pretendia destacar antes de acontecer a outra tragédia que foi o incêndio na Serra de Alvaiázere. O local que podem observar na fotografia e na imagem do google earth, situa-se a Sul da Serra de Alvaiázere, a escassas dezenas de metros da base da Serra de Alvaiázere. 
Indo então aos factos, há semanas atrás, ardeu parte desta área (na 1ª fotografia), facto que até nem me surpreendeu tendo em conta o historial desta área em especial...
Quando soube de mais este trágico incêndio, fui ao local e reparei que, no seguimento de uma estrada aberta ilegalmente (em REN e Rede Natura 2000), há coisa de 2 ou 3 anos, existe agora um outro estradão, precisamente no seguimento do primeiro. Resta saber em que condições isso aconteceu. Pessoalmente considero isto realmente muito estranho.
Reparem na fotografia seguinte, estão ali duas máquinas giratórias a rasgar a Serra. (agradeço a quem gentilmente me enviou esta fotografia, tirada na primeira quinzena de Agosto). Tendo em conta que não há incêndio na altura das fotos, parece-me exagerada a presença de 2 máquinas giratórias. Porque será que estão ali duas máquinas? Pressa para quê?


Como curiosidade, aquele círculo de pedras que vêm no meio da imagem, é um Castro (arqueologia), parte do qual está agora à vista de todos, já que o sector Sul daquela colina também ardeu.
Curiosidades curiosas, não?





7.9.12

Queimar para reinar: retaliação cobarde na Serra de Alvaiázere?



Foi o triste culminar de uma das semanas mais complicadas que tive em termos combate em incêndios florestais. Depois de ter estado 3 dias e 2 noites nos incêndios de Pombal/Ourém e Alvaiázere (Maçãs D. Maria) eis que surgiu um incêndio na Serra de Alvaiázere.
Quando me telefonaram, a pedir disponibilidade para estar de reforço no quartel, nem queria acreditar, a  bela Serra de Alvaiázere estava em chamas. Confesso que me emocionei, já que se já é difícil aceitar que algo esteja a arder, mais difícil é aceitar que algo tão belo esteja sujeito a este drama anual que são os incêndios florestais. Trabalhei muito em prol da Serra de Alvaiázere, daí a proximidade perante a mesma me afectar ainda mais. Mas desenganem-se, não irei esmorecer, já que a Natureza irá curar as suas feridas!
Estava para falar desta questão dos incêndios, já que há semanas atrás surgiu um outro incêndio muito suspeito a Sul da Serra de Alvaiázere, o qual sinceramente me parece que teve intuitos bem definidos. Não esperava agora que fosse a Serra de Alvaiázere a começar a arder, muito embora fosse algo que sempre tivesse receio, já que alguém eventualmente poderia retaliar desta forma perante a minha luta em prol desta área em particular.
Ontem foi então um dia em que muito pensei, já que há factos que importa agora trazer a público. Na quarta-feira, dia 5 de Outubro, andei praticamente o dia todo com uma equipa de filmagem, de forma a retratar várias questões polémicas associadas à Serra de Alvaiázere. A reportagem será emitida nas próximas semanas (irei anunciar aqui no azinheiragate), no programa Biosfera, da RTP2.
Durante esse dia, fomos "vigiados" por algumas "pessoas", as quais ficaram francamente incomodadas com o facto de eu estar a falar perante uma câmara. Uma delas, passou pateticamente perante nós, num carro, a uns 10 à hora, tendo voltado momentos depois, sempre a olhar para nós de forma intimidatória. Pararam a escassos metros dos nossos carros, fingindo que iam ver uma vinha que nem sequer era deles... 
Eis que no dia seguinte à reportagem, surge um incêndio, precisamente na Serra de Alvaiázere, será coincidência? Não me parece, parece-me sim que possivelmente alguém terá mandado incendiar a Serra de Alvaiázere, numa atitude típica de quem pensa que a Serra é sua coutada. É uma atitude tipo "se a serra não é para mim, então não é para ninguém", a qual confirma tudo aquilo que sempre disse sobre interesses corruptos que pairam sobre este território. Será, na minha opinião, uma atitude de retaliação, a qual mostra que há gente que é capaz de tudo, mas mesmo tudo, para conseguir o que pretende. Aposto que esta gentalha ainda irá vitimizar-se, aproveitando uma tragédia a seu favor, mesmo que seja a culpada pela mesma. É repugnante que haja gente com esta mentalidade em pleno século XXI.
Embora não fosse difícil de imaginar, e pelo que me informaram, este incêndio teve mesmo origem criminosa, portanto o puzzle não será impossível de montar. Quem meteu este incêndio infelizmente sabia o que fazia, já que o ponto de ignição foi realmente estratégico.
Espero que a Judiciária consiga apanhar o pirómano, bem como o seu eventual mandante. Não sou adepto de teorias da conspiração, mas que aqui há gato há...
Não me vou alongar muito mais, já que o cansaço de uma semana dura ainda se manifesta em mim, quero apenas terminar apelando a que todos se mexam para acabar com este drama que são os incêndios. Eu já faço o meu papel há muitos anos e de variadas formas, é duro, é arriscado, mas vale a pena arriscar a vida pela floresta, pelos nossos bens e por todos nós, cidadãos de Portugal!
Finalizo apenas com um pedido, o de que divulguem a sete ventos esta questão que agora retratei.



5.9.12

Faça-se luz sobre o património de Sicó!


Esta é uma das melhores alturas do ano para pensar no passado. O motivo é simples, o de que por esta altura muitos de nós têm a cabeça mais fresca, pronta a processar de forma mais eficiente muito daquilo que em alturas mais exigentes não consegue.
Os comentários das próximas semanas vão ser o reflexo disso mesmo, esperando eu que a cada comentário que passe a aprendizagem seja cada vez maior, não só para quem lê o azinheiragate, mas também para mim próprio, o que beneficia todos e, em última análise, o património que tanto gostamos. É a defesa e valorização desse património que tanto me interessa, tudo o resto, que os lóbis digam, é areia para os olhos dos cidadãos. O sol é demasiado grande para os lóbis o tentarem tapar com uma peneira!
Este mês será de importância simbólica, já que a defesa do património da região de Sicó irá chegar aos holofotes..., daí o título deste comentário. A ver vamos como vai ser, ficando a promessa do devido aviso a todos os que realmente se interessam pelo património da região de Sicó.

28.8.12

Fontes de Sicó


É algo que muitos já esqueceram, pois o dito desenvolvimento eclipsou muitas destas fontes, no entanto elas continuam lá, firmes ao sol, à chuva, à geada e até ao vandalismo. Ao ver esta imagem concerteza alguns se lembram de ir à fonte buscar a preciosa água. Para outros esta imagem nada diz.
Em muitas destas fontes é comum ver-se a placa "água sem vigilância", sinal da muitas vezes má gestão deste recurso.
Apesar da região de Sicó ser relativamente pequena, há uma imensidão de fontes de água, com várias tipologias. A esta, em especial, nunca tinha dado destaque, no entanto, e como me deparei recentemente com esta bela fonte, decidi que era boa altura de o fazer. Não vou dizer onde esta se situa, já que com a quantidade de roubos que se tem vindo a observar, o melhor é mesmo esconder a sua localização. 
Seria interessante alguém pegar nesta questão e escrever um livro, pois matéria prima não falta. Não faltam também as fontes de informação, nomeadamente os velhotes que tanto conhecimento têm guardado e por partilhar. Quem sabe um dia poderei fazer isto mesmo, vontade não me falta, o tempo é que anda curto...
Interessante seria também cruzar esta informação com outras regiões de Portugal e, mesmo do mundo, já que é algo com imenso interesse e potencial. Se algum leitor do azinheiragate, que viva fora de Portugal, tiver interesse em desenvolver futuramente esta questão, eu estarei disponível para ponderar futuramente esta questão.
Brevemente voltarei a esta questão, mas apresentando outra tipologia de fonte.

23.8.12

Sicó: uma região a uma só velocidade


O título deste comentário pode parecer um bocado estranho, mas pensando bem o mesmo poderá ser o título adequado para o que pretendo falar. 
Choca-me que nos dias de hoje ainda se utilize a palavra rural como sinónimo de pouco desenvolvido, daí ter decidido aclarar um bocado esta questão. 
Acho curioso que certas pessoas tão amigas da "urbe" e tão críticas do "rural", quando se fartam da "urbe" utilizem o "rural" como escape a uma vida tão stressante e, por vezes, supérflua na "urbe".
Num dos últimos fins de semana, num dos muitos passeios por Sicó, onde vou em busca da verdadeira Sicó, deparei-me com uma daquelas coisas que já não se vê todos os dias. Não estava à espera, mas lá tive tempo para sacar da máquina fotográfica e registar o momento genuíno.
Esta fotografia que agora partilho com todos vós, serve exactamente para ilustrar o título do comentário.   Este comentário serve para mostrar que andar devagar não significa retrocesso, significa sim viver a vida e tudo aquilo que ela tem de melhor. Só andando devagar se vê muito daquilo que esta região tem de melhor. Só indo do ponto A para o ponto B calmamente é que se tem tempo de pensar naquilo que realmente é importante.
Muito do afastamento que muitos de nós têm vindo a ter sobre os seus territórios decorre precisamente da velocidade com que se movem. Ao andarmos regularmente demasiado depressa perdemos precisamente muito daquilo que faz com que a região de Sicó tenha uma identidade muito peculiar e valorosa. Ao andarmos demasiado depressa vamos perdendo muitas das nossas capacidades, entre elas a capacidade de discernimento sobre o objecto patrimonial. Quantos de nós, ao cruzarmo-nos com uma carroça, não apitam para esta sair da frente, em vez de abrandar a apreciar?
Fica a sugestão para que nos próximos tempos pensem bem sobre esta questão. Num qualquer destes dias, quando estiverem a ir do local A para o local B, parem a meio destes, já que concerteza terão algumas surpresas escondidas à vossa espera!

19.8.12

A elaborada vitimização patrimonial de Paulo Tito Morgado

Pessoalmente não tenho quaisquer dúvidas que será o seguimento de uma elaborada estratégia de "vitimização patrimonial" por parte do presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, Paulo Tito Morgado. Isto tendo como base uma espécie de notícia que consta na última edição do Jornal O Alvaiazerense, que tem como título "Presidente da Câmara rejeitou acusações de "destruição de património".
Digo que é uma espécie de notícia por motivo muito simples, o de que o Jornal O Alvaiazerense não refere, como aliás deveria ter feito, a referência a quem é que acusa Paulo Tito Morgado. Logo à partida, isto torna a coisa convenientemente parcial, já que Tito Morgado não revela os "acusadores.
É também curiosa a expressão que este autarca utiliza, quando refere que o acusam de destruir todo o património, já que sendo o crítico dos críticos, nunca ouvi ninguém referir que este destruia todo o património, nem mesmo eu o disse. Ouvi dizer sim que este destruiu/degradou até agora muito património. Claramente o autarca está-se a vitimizar, inflacionando a coisa de modo a ser visto como uma vítima e não como "predador do património". 
Honestamente até gostei de saber do seu desafio, ao literalmente desafiar os autores para que estes apontem qual foi o património que tivesse destruído. Passo a enunciar apenas alguns, mais emblemáticos, de uma extensa lista:

1- Serra de Ariques 
2 - Serra de Alvaiázere
3 - Boca da Mata 
4 - Avanteira-Pelmá
5 - Ribeira de Alge
6 - Olho do Tordo
7 - Antiga escola primária do Bofinho
8 - Rua da Seiceira
etc
etc

Isto acontece nos mais variados domínios, seja património natural, cultural, construído, entre outros.
De forma a dar ainda mais visibilidade à sua estratégia de vitimização, quando tenta desesperadamente dar um exemplo de boas práticas, dá, imagine-se, o exemplo das covas de bagaço do Zambujal. Diria eu que, não menosprezando obviamente o valor patrimonial das covas de bagaço, isto são migalhas tendo em conta o valor de objectos patrimoniais que, quando comparados com as covas de bagaço, eclipsam estas últimas. As migalhas comem-se no final do bolo...
Fala também da Mata do Carrascal, esse mau exemplo. Será que construir verdadeiras estradas numa mata municipal é valorizar esta? Basta ir ao local e ver.
Quanto às obras na rua da Seiceira, essas... Casas demolidas, onde pessoas felizes viviam, uma rua completamente desvirtuada da sua identidade, e mais de 2.000.000 de euros desbaratados nesta obra faraónica.
No que se refere ao tão sublinhado gosto e poder monetário para recuperar o património, aí há muito por onde falar. Desafio este autarca a apontar uma obra, feita pelo mesmo, em que seja reconhecido o gosto pela coisa. É sabido que a população não tem gostado nada do que tem sido feito, em termos de gosto, pois o que temos em Alvaiázere é apenas uma política do betão que de patrimonial nada tem. Quanto ao poder monetário, ninguém pode dizer que uma Câmara Municipal com milhões de dívidas tem poder monetário. Se assim fosse todos os portugueses tinham poder monetário, já que boa parte deles está endividado. Endividamente não significa nem nunca significará poder monetário. É algo de elementar que um economista teima em não compreender...

9.8.12

A polémica da "denúncia sem fundamento" no Alvorge


Esta é mais uma daquelas histórias que importa destacar, dada a sua especificidade. Falo, claro, da polémica associada ao novo sistema de drenagem dos esgotos que decorrem da normal actividade do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Alvorge.
Esta era uma questão que, até há poucas semanas atrás, desconhecia. Isto porque, genericamente falando, já deixei de ler jornais de regime, os quais dão muitas vezes uma notável cobertura, parcial, a pessoas ligadas ao regime.
Assim sendo, e após me terem informado sobre esta questão, lá consegui ter algum tempo para ir ao terreno ver o que se passa. Já depois de me ter deslocado ao terreno, emprestaram-me um exemplar do Jornal Serras de Ansião (edição de 15/06/2012), onde pude ler uma notícia associada a esta polémica.
Confrontando aquilo que vi no terreno com aquilo que foi escrito sobre o mesmo, concluí que estamos perante algo que realmente vale a pena debater.
Fiquei bastante curioso sobre o facto da Provedora da Misericórdia, Maria Luisa Ferreira, referir que é falso que os esgotos se infiltrem num algar ali próximo, quando no mesmo texto refere que os tanques de decantação estão ligados a sorvedouros subterrâneos naturais... Isto parece-me, no mínimo incoerente, já que isto é basicamente dizer nim.
Importa referir que não sei quem fez a denúncia, nem sequer o conteúdo da mesma, estando desta forma a fazer um apontamento estritamente pessoal sobre esta questão, baseado no que vi e no que avaliei no terreno.
Prosseguindo, ao chegar ao local em análise, vi 4 poços fechados (tanques de decantação) e seguidamente vi o novo acrescento à rede de esgotos, a qual não vai ter a qualquer lado (porque será?!). Passando os poços, tem-se 3 ou 4 tampas de esgoto, as quais mostram o sentido da rede de esgotos (SW), a qual termina sem que se observe qualquer poço de decantação. Basicamente o problema foi empurrado para mais adiante, onde ninguém vê a coisa abertamente. Irei começar a monitorizar esta situação, já que mal os sinais de poluição, à superfície, apareçam, eu estarei por aqui para denunciar. No que se refere à poluição subterrânea, também irei tentar acompanhar, embora, por vezes, seja mais difícil de monitorizar.
Irei tentar saber, ao certo, como está instituída a nova rede de drenagem dos esgotos, já que não me parece normal esta situação. Será curioso perceber o que está por debaixo daquelas tampas de esgoto...
Passando agora à componente mais técnica, gostaria de saber quais são as competências técnico científicas da Provedora Misericórdia do Alvorge no domínio ambiental, já que taxativamente afirma que não há problemas de poluição associada à rede de esgotos. Uma coisa é acharmos algo, outra coisa é sabermos minimamente algo...
Os factos são simples, goste-se ou não, a poluição associada a esta rede de drenagem de esgotos é um facto, resta saber o grau de severidade da mesma. Esta rede de esgotos está a drenar para um belo sumidouro, a Sul. De forma muito resumida, a rede de esgotos está a drenar para este sumidouro, o que significa que a poluição está a ser disseminada por uma área ainda por determinar. Daí decorre o facto de ser importante começar a monitorizar esta situação em particular, de forma a se compreender se o grau de gravidade da poluição associada.
Acho curioso o facto da Provedora da Misericórdia se manifestar preocupada com a poluição na área envolvente aos poços de decantação, mas já não manifestar a mesma preocupação pelo problema ter sido empurrado mais umas dezenas de metros para a frente. O perigo de salubridade é exactamente o mesmo, pois tudo drena para o mesmo local, ou seja aquele sumidouro que destaquei na imagem do googlearth.
Finalizando com uma palavra utilizada pela Provedora da Misericórdia, o ressabiamento não pode existir nesta questão em especial, já que trata-se apenas e só de preocupação com um problema real e indesmentível, o qual nos afecta a todos. Só não vê quem não quer...

5.8.12

O espelho do património...


Poderia eu escrever linhas e linhas sobre esta imagem, mas desta vez digo apenas que há imagens que valem mais do que mil palavras...

27.7.12

Ansião: esta "não é" a minha Vila...


É um título forte, admito, mas afinal a intenção é precisamente mexer fortemente com as opiniões de cada um, seja ansianense ou não. Diria eu que é inevitável que, de agora em diante, certas pessoas possam descontextualizar o título que dei a este comentário, de forma a o utilizarem a meu desfavor. Por isso mesmo passo a explicar o título "Ansião: esta "não é" a minha Vila", evitando assim "chico-espertismos".
Obviamente que Ansião é e sempre será a minha Vila, já que sempre o foi, no entanto as obras de regeneração da Vila de Ansião vieram mexer com algo que me diz bastante, a minha identidade. Assim sendo, este título apenas pode ser utilizado contextualizado desta forma, já que o utilizo apenas e só para alertar que houve algo que correu muito mal, que desenraíza parte da memória de uma Vila com história.
Falo, claro, da perspectiva não só de cidadão, mas também de geógrafo.
Assim sendo, começo com uma primeira imagem, a qual é nada mais nada menos do que quase que um tapume, o qual tem o intuito de tapar o espaço de uma casa demolida, mesmo no centro da Vila de Ansião. Acho curiosa esta frase que consta no mesmo, a qual apela para a celebração da memória numa altura onde parte dela desapareceu...
Será que as obras devem ser celebradas, tal como foram efectuadas? A minha resposta é simples, não. Celebrar a memória não significa, de todo, fazer-se o que foi feito...
É certo que concordei com as obras, mas não da forma como acabaram por ser efectuadas, já que descaracterizaram gravemente a Vila de Ansião. E mesmo assim, inicialmente ainda havia a ideia peregrina de fazer um estacionamento subterrâneo, facto que felizmente não veio a concretizar-se.
Já critiquei fortemente o facto de ali terem colocado granito, o qual não faz nem nunca fez parte da memória da Vila Ansião. Como é que falando-se tanto da memória de uma área cársica se utiliza granito? Isto chama-se a perversão do objecto patrimonial. Ansião parece-se agora como uma outra qualquer Vila de Portugal, será isto aceitável? Será isto valorizar o local?
Fala-se também do facto de ter havido participação pública, tantas vezes sublinhada pela Câmara Municipal, mas afinal esta participação pública começou já quando as obras estavam prestes a começar...
É certo que se falou antecipadamente com os lojistas, mas isso nada tem a ver com participação pública pura e dura. Para que tivesse existido verdadeiramente participação pública, os projectistas deveriam ter começado a falar com os ansianenses muitos meses antes das obras, pois só assim as ideias da comunidade poderiam ter algum reflexo no projecto final. Este tipo de projectos faz-se com as pessoas e para as pessoas, é assim que se faz em todo o lado, ou pelo menos onde isso acontece mesmo. 
Participei numa das reuniões públicas, mas isso só me fez ver que o processo foi completamente enviezado, afinal o olho estava dormente. Em vez de se ter um projecto guiado pelos ansianenses, tem-se um projecto no qual as ideias dos projectistas tornaram a Vila de Ansião igual a muitas outras. Isto resultou basicamente num processo que desvirtuou a Vila de Ansião, num perigoso processo de homogeneização cultural.
O que prevaleceu foi a ideia de um arquitecto e engenheiro, mesmo que fosse, como se vê, uma ideia estereotipada sobre o que deve ser o centro histórico de uma Vila com especificidades próprias e intransmissíveis. Poderia ter-se feito tudo de uma outra forma e não é o facto de ter um pequeno rectângulo de calçada portuguesa no meio daquela obra, que há legitimidade na coisa. 
Sinceramente até estou surpreendido pelo facto de, em conversas várias, me ter apercebido que parte significativa das pessoas não ter gostado muito do desvirtuar da Vila. Concordam que está mais bonito, mas afinal as obras poderiam ter sido feitas de uma outra forma e mesmo assim ficarem bonitas e com a memória respeitada. 
Um dos pouco factos que me agrada, mas que poderia ser feito à mesma caso as obras tivessem tido outro rumo, é agora as pessoas com menor mobilidade (ex. cadeiras de rodas) terem muito mais facilidade para se deslocarem na Vila de Ansião. Mobilidade que, noutro prisma, está afectada a nível de manobras de carros de maior dimensão, caso de veículos de bombeiros.
Falando agora naquilo que as próximas imagens mostram, o desaparecimento de muito do verde que por ali existia, as imagens falam por si. Preocupa-me seriamente que os projectistas tenham decidido colocar aquelas árvores que têm apenas uma função visual e pouco mais. 
Quanto a uma outra questão, que não se vê, mas que decorre do desaparecimento do verde e da ainda maior impermeabilização do solo. No verão a temperatura ali será maior, o que obviamente tem os seus impactos em termos de conforto humano. A obra não teve em conta aspectos básicos neste domínio, mas futuramente irei destacar esta questão, em termos de climatologia urbana.
Pessoalmente não achei graça alguma aqueles pequenos jactos de água, implantados no chão, pois além de não fazerem parte da memória do centro da Vila, são apenas um desperdício recursos valiosos...
Deixo-vos agora com algumas imagens do antes e do depois das obras, as quais servem para reflectirmos um bocado sobre aquilo que pretendemos para o nosso território: