20.12.15

Uma foto para reflectir...


Tenho esta fotografia guardada há mais de 1 ano, sendo que esperava pela ocasião certa para a utilizar, muito provavelmente num outro contexto, num outro comentário. O tempo foi passando e a fotografia foi ganhando raízes na pasta onde fazia a espera. Farto de estar sempre a adiar, eis que faço agora questão de a partilhar convosco. É uma fotografia, de forte contraste, que fala por si. Lembrei-me desta perspectiva muito especial, onde se confrontam dois mundos diferentes, um esquecido e desprezado, outro em franca pujança. 
Podia guardar esta foto para um qualquer concurso de fotografia, mas agora que estamos a terminar mais um ano, prefiro claramente tornar a mesma pública, convidando-vos a uma reflexão sobre esta perspectiva. Este comentário vale pela fotografia, e eu aprecio bastante fotografia, nomeadamente aquela que consegue mostrar algo de novo. Conhecer bem a região de Sicó e os seus tesouros tem destas coisas...
Só para que conste, 4 dias antes da publicação deste comentário, e enquanto escrevia estas linhas, decidi partilhar esta fotografia no facebook da National Geographic Portugal, de modo a dar mais visibilidade à região de Sicó. Se cada um de nós fizer um bocadinho pela região, esse bocadinho somado a outros bocadinhos, pode transformar-se em algo de muito positivo.
Só para que conste, sou frontalmente contra a construção de parques eólicos em áreas protegidas e/ou de grande valor cénico.

16.12.15

Porque não deve o namoro parar...


Dezembro é um mês especial, não pelo natal, mera data transformada e pervertida pelos interesses económicos (compro, logo existo...), mas sim pelo facto de ser o culminar de mais um ano. É, portanto, uma época de reflexão. Pelo menos para mim.
Já estava cheio de vontade em falar sobre o tema que hoje quero aqui partilhar convosco. Não é um tema fácil, muito pelo contrário, no entanto é algo com o qual me tenho afeiçoado nos últimos anos. 
Enquanto escrevo este comentário, tenho ao meu lado duas revistas muito diferenciadas em termos de objectivos e conteúdos. A National Geographic, que "dispensa" palavras e a Smart Cities. Na National Geographic consta que no próximo mês uma das reportagens terá o título "Porque precisamos da natureza?". Promete...
Já na Smart Cities, publicação recente em Portugal, e de grande qualidade, tem um artigo que tem o título "Porque é que os nossos filhos devem aprender a programar", onde consta algo que me chamou a atenção. Logo no início é referido que "não saber programar é não saber a linguagem dos computadores, o que daqui a uns anos será o equivalente a ser analfabeto". 
Mas vamos por partes e comecemos pelo início. Hoje em dia debate-se muito a questão do futuro do planeta. Infelizmente este é um mau ponto de partida, mesmo que alguns de vós não percebam porquê. O ponto de partida deveria ser o futuro da espécie humana, a qual se distancia cada vez mais de algo do qual faz parte, a Natureza. Sim, parece incrível mas nós somos parte da Natureza, não há a Natureza e nós, nós somos parte de algo muito especial. 
O Ser humano tem um defeito que se tornou uma virtude, muito por culpa da economia predadora que vem assolando as últimas décadas, onde basicamente tem de se consumir mais e mais para podermos "evoluir". A economia consegue manipular quase tudo e quase todos. Há umas semanas, num colóquio onde apresentei algumas destas questões, tentei desmontar alguns estereótipos associados à economia. Reparem o absurdo que é este esquema, no qual "rabisquei" de forma a mostrar o quanto obtuso é:


O tal defeito que falava atrás é o facto de andarmos a perder a capacidade de entender o mundo em que vivemos e em vez de combater este facto, andarmos a tentar entender mundos em que não vivemos, realidades virtuais que não dispensam realidades concretas e objectivas. Complicado de entender? 
Pegando no que referi atrás, será que não saber programar é ser-se analfabeto? Obviamente, e contextualizando a coisa, até percebo o que o autor do artigo quer dizer, ainda mais porque está a defender "a sua dama", mas de que vale um miúdo ser alfabetizado nos computadores e ser analfabeto no tema que é mais importante, a Natureza? Contextualizem isto, pensem e depois sim, digam o que têm a dizer.
O cerne da questão é este, a Natureza! Cada vez mais temos dificuldade em interpretar a Natureza, a perceber o seu papel e tudo aquilo que ela nos proporciona. A geografia, a biologia e a geologia têm sido postas de lado nos currículos escolares, facto que é gravíssimo e, diga-se, muito vantajoso para alguns interesses económicos, que precisam de pessoas pouco informadas para poder vender produtos supérfluos.
Mas falemos de soluções. Antes de mais não há fórmulas mágicas. Antes de mais este é um problema que só conseguiremos resolver enquanto sociedade. Mas há soluções, umas mais complicadas e outras menos complicadas. Já vi propostas mirabulantes, já vi propostas que custam milhões. Mas há uma solução muito simples, a qual se adapta a todos e tem em conta as especificidades de todos.
Aqui entra a minha experiência e o meu humilde contributo para uma solução, o qual quero partilhar com todos.
A solução passa por vários gestos. Peguem nos vossos filhos e levem-nos para o monte, para o rio ou para a planície. Deixem-nos cansar-se ao subir o monte, molhar-se ao entrar no ribeiro e sujar-se ao pisar os terrenos enlameados da planície. Deixe-nos ouvir os sons, ver as cores, sentir os cheiros e contemplar tudo isto e muito mais. Deixem-nos ser curiosos e indagar pelos seus próprios meios. Deixem-nos sujar as mãos, deixem-nos subir às árvores e ver o mundo de uma outra forma. E façam-no de forma regular!
Podem pensar que isto não é importante, mas, garanto-vos, é essencial. Há quem, na altura de ter filhos se lembre de algumas destas coisas, mas rapidamente volta à rotina, perdendo-se assim um processo que só terá sucesso se feito de forma contínua e regular.
E uma outra coisa, aqueles documentários da BBC vida selvagem, são mesmo importantes. Uma das coisas que mais me transformou no que sou hoje em dia foi isto mesmo. Aprendi coisas fantásticas com pessoas extraordinárias (ex. David Attenborough; Jacques-Yves Cousteau; Jane Goodall). O contacto com o mundo natural, mais próximo à casa onde vivi a minha infância e juventude e os documentários feitos por estes génios foram parte importante da construção do meu eu. Daí, mas não só, a importância de artigos como o que referi que será publicado na National Geographic de Janeiro. E leiam livros, mas dos bons, daí eu de forma regular dar destaque a algumas das minhas leituras.
Para sermos uma sociedade com futuro, num planeta habitável como este, teremos e deveremos voltar ao início e isso passa por entender coisas simples como a importância do solo, das árvores, das aves, das rochas e de muito mais. 
Isto dava para continuar a escrever por muitos dias, mas, e para já, fico-me por este comentário. Agora vamos lá namorar a Natureza!

12.12.15

Solo - A pele da Terra


O título deste comentário é claro e conciso. Retirei-o de uma brochura do Ano Internacional do Planeta Terra (2007-2009), dedicada especificamente aos solos. Este ano, 2015, é o Ano Internacional dos Solos, possivelmente é um facto que passa ao lado da maioria de vós.
Não é um tema fácil de se falar, especialmente tendo em conta o pouco interesse que a sociedade tem demonstrado por ele, no entanto é um tema crucial para todos nós, daí a necessidade premente de dar atenção aos nossos solos. Informar e informar, deve ser essa a nossa missão. Pessoas informadas representam afinal cidadãos melhor preparados para exercer a cidadania plena. Pessoas informadas podem perceber quando são feitas boas e más leis, quando se deve ou não deve ocupar um determinado território. Já repararam que muitas vezes estamos a ocupar áreas de excelente aptidão agrícola? Especialmente na região de Sicó, onde as áreas planas são muitas vezes as melhores para a agricultura, mas ao mesmo tempo as mais apetecidas para a construção. Isto representa um grave problema, pois o solo é um recurso finito e não renovável à escala de dezenas de gerações... Este é um dos nossos problemas, como muitas vezes não entendemos os factos a uma escala maior do que 20, 30 ou 40 anos, acabamos por fazer asneira da grossa, criando problemas a nós e às próximas gerações.
Nada como nos informarmos, seja através das entidades relacionadas com este recurso, o solo, seja através de toda uma panóplia de informações disponíveis em vários canais, nomeadamente a internet. Importa também referir as bibliotecas, isso mesmo, pois é aqui que se encontram as verdadeiras bíblias do conhecimento, livros que valem mesmo a pena umas valentes horas de leitura.
Em Portugal há muito por fazer no que concerne ao estudo e à divulgação desta temática. Durante  o doutoramento tive a oportunidade de investigar esta questão, ficando a perceber o enorme desinvestimento que o país tem feito neste domínio, o que em termos de gestão territorial é desastroso a todos os níveis. Vários levantamentos não uniformes entre si, classificações impossíveis de reclassificar em termos internacionais (o que impossibilita comparações) e, no final, um cenário muito preocupante no curto e médio prazo. Todos têm a perder, economia, sociedade e cultura.
Há umas semanas recebi uma mensagem de uma pessoa que até então desconhecia o azinheiragate, algo que, por si só, não tem nada de extraordinário. No entanto houve algo que, para mim, foi extraordinário, ou seja o facto de essa pessoa, através deste blogue, ter ficado a saber da existência do Ano Internacional dos Solos, tal como esta o referiu explicitamente. Pode parecer pouco, mas são pequenos factos como este que dão ânimo a quem tenta informar e divulgar também esta temática. Não é por acaso que tenho essa referência na lateral do blogue.
E para quem pensa que o solo é um elemento supérfluo, chato e dispensável, pergunto-lhe apenas, será que consegue viver sem a sua pele?

8.12.15

Serra da Portela: incompetência até às profundezas da Serra...


Eu tento evitar, mas afinal só me dão matéria para comentar... Esta é uma situação que se enquadra bem numa problemática que é comum, especialmente na região de Sicó. Porquê? Simples, pelo facto de estarmos numa região cársica, portanto com características muito especiais, que carecem de conhecimento diferenciado por parte dos autarcas, os quais muito raramente têm algum tipo de formação no domínio do ordenamento do território. Por estas e por outras é que em 2011, num congresso sobre património, sugeri a elaboração de um manual de boas práticas para regiões cársicas, ferramenta a ser utilizada por todos os autarcas com territórios deste tipo. Seria um documento particularmente útil, na medida em que facilmente poderia impedir erros básicos de gestão territorial, e logo a vários níveis.
Com um manual de boas práticas, seria bem mais difícil ver situações como a que as fotografias mostram. Trata-se de um sumidouro situado na berma de uma estrada já na abrangência da Serra da Portela, em Pousaflores (Serra onde está situado o parque eólico). Como é costume, informei-me antes de fazer juízos de valor e constatei dois factos, um positivo, outro negativo.
Comecemos pelo positivo. A Junta de Freguesia de Pousaflores não quer tapar este sumidouro. É precisamente isto que se deve fazer, não tapar, devendo a mesma colocar uma protecção superficial, a qual possibilite a entrada de água da valeta. Algo como uma grelha deverá ser mais que suficiente. Não se perturba a dinâmica natural da coisa e assegura-se segurança para todos, inclusivamente animais ditos irracionais.
Indo agora ao negativo. A Câmara Municipal de Ansião já tentou tapar a cavidade, com brita. Escusado será dizer que não resultou e que toda a brita foi naturalmente escoada pela cavidade para o seu interior. Não percebo para que é que se tem técnicos minimamente credenciados (ex. geógrafos) neste domínio ao serviço da Câmara e depois não se solicita um breve parecer ao mesmo. Impera ainda o "acho que" por parte de não sei quem. Este caso afigura a típica incompetência, a qual lesa os contribuinte e mostra que muito há a fazer no domínio do conhecimento do território e dos seus processos, base fundamental para uma correcta gestão territorial.
Degrada-se desnecessariamente a paisagem, com pedreiras sem fim, para depois andar a meter brita em sumidouros/algares, bravo!


4.12.15

O meu tesouro num documentário internacional sobre ambiente



Lá no fundo a expectativa existia, no entanto confesso que não estava à espera que ali surgisse. O convite para uma contribuição para este documentário foi feito no Verão, via twitter, e tive muito pouco tempo para elaborar o mini-"filme" de 3 minutos sobre clima e a região de Sicó. Mais ainda, tinha apenas uma velha máquina fotográfica que por acaso tem a opção de filmar. Juntando a isto o facto de não ser um especialista em filmagens, tudo levava a crer que a minha humilde filmagem não seria escolhida entre as 800 a concurso, vindas de 45 países. Preferi apostar em algo diferente, ou seja os incêndios florestais, talvez daí a escolha dos editores.
O nome do documentário é "Our beloved treasures", portanto nada melhor do que escolher um dos meus tesouros, a região de Sicó. É incrível o impacto que a nossa acção, enquanto cidadãos interessados na salvaguarda da Natureza, pode ter. Digo isto porque este documentário é internacional e foi mostrado, entre outros, na Cimeira do Clima, em Paris. Foi 1 minuto do outro mundo, literalmente. Pode parecer pouco, pode parecer insignificante, mas diria que estou bastante satisfeito com o feito. É uma alegria daquelas grandes, isso vos garanto.
O meu (nosso) minuto surge sensivelmente aos 37:15, no entanto peço-vos que invistam 51 minutos da vossa vida a ver algo realmente importante. A transversalidade deste documentário é surpreendente!
É realmente uma sensação deveras estranha, ver, no final, "com a contribuição de (entre outros) João Paulo Forte".


27.11.15

Fui inspeccionar um aterro ilegal e ainda apanhei um empreiteiro "com as calças na mão"...


É uma triste realidade, a qual parece que me acaba por atrair na medida em que parece que adivinho o momento certo para me deparar com essa mesma triste realidade.
Há umas semanas atrás fui alertado para uma situação que está a ocorrer mesmo ao lado do miradouro da Melriça, em Santiago da Guarda, Ansião. Apenas há poucos dias consegui lá ir, para me inteirar da situação. Fiquei chocado com o que vi, mais ainda sabendo que tem a complacência da Junta de Freguesia de Santiago da Guarda. 
Mas, antes de falar na questão do aterro em si, falo daquilo com o qual me deparei quando lá cheguei, ou seja um empreiteiro a fazer a descarga de resíduos do costume, ilegal. Parece que é sina, eu chegar nos momentos certos. Ele bem olhou para mim, concerteza com receio de ser apanhado a fazer a descarga ilagal. Possivelmente não me conhece, pois se conhecesse se calhar não ficava tão calmo...
Nos próximos dias deverá receber uma cartinha em casa, com uma "prenda de natal". Não gosto de estragar surpresas, mas adianto desde já que, ao contrário das prendas de natal, ele não vai gostar desta... 


Já depois de esta personagem ter ido embora, fui então ver o aterro com olhos de ver. A perspectiva da foto abaixo diz tudo. Não me admira que a Junta de Freguesia de Santiago da Guarda também leve um puxão de orelhas daqui a uns tempos, já que o merece. Nota negativa para o Presidente da Junta de Freguesia de Santiago da Guarda!
É um aterro ilegal e vergonhoso. É um aterro que está a invadir a Rede Natura 2000. É um aterro que é inadmissível e um péssimo cartão de visita daquele miradouro e da própria freguesia. É um erro que demonstra que as mentalidades têm muito que evoluir...
E depois não se venham queixar de mim, pois quem fez a asneira não fui eu, eu apenas a denuncio e torno pública, para que não se repita!
Há 5 anos, numa reunião, propus formalmente à Câmara Municipal de Ansião e a uma grande empresa de construção civil e obras públicas a criação de um espaço que recebesse este tipo de resíduos a nível regional. Infelizmente, e até agora, nada surgiu...




22.11.15

O Orçamento municipal de Ansião e as grandes não opções do plano



Escassos dias após o meu comentário sobre a Rede Natura 2000, eis que surge o orçamento municipal de Ansião e as grandes opções do plano. Como costumo dar uma vista de olhos por este tipo de documentos (cidadania activa...), eis que me deparei com algo, ou melhor, eis que não me deparei com algo que supostamente deveria constar implícita e explicitamente neste plano.
Mas comecemos pelo início. Observando a distribuição do financiamento por funções (sociais; económicas; gerais e outras funções), e escrutinando a distribuição por objectivos (desporto, recreio e lazer; educação, acção social; ordenamento do território; cultura; resíduos sólidos; abastecimento de água; protecção do ambiente e conservação da Natureza), eis que me deparo com uma percentagem residual naquele que afinal deveria ser um dos objectivos fundamentais do plano. Ou seja, estão consignados uns escandalosos 3% à protecção do ambiente e conservação da Natureza. Isto numa região de imensa importância ambiental, onde a Natureza nos disponibilizou tesouros de enorme valia.
Observo também que, na parte do ordenamento do território e urbanismo, afinal tudo se resume ao urbanismo, ou seja o betão é quem mais ordena. Ordenamento do território é afinal uma coisa mais chata e acessória, tal como fica à vista pelos conteúdos.
Noto ali o típico discurso de retórica na parte relativa ao ambiente. Já agora, não será pleonasmo referir natureza e bodiversidade? A Natureza é constituída por duas partes, a geodiveridade e a biodiversidade, daí não concordar, de todo, com um discurso que mais não é de ocasião.
Voltando à parte da protecção do meio ambiente e conservação da Natureza (voltamos ao pleonasmo...) e aos escandalosos 3%, esta centra-se fundamentalmente na sensibilização (datas comemorativas e pouco mais...) e nas eco-escolas. E o resto? Onde está a estratégia em matéria de conservação da Natureza?
Já no ponto 5.2.11 - Agricultura, pecuária e silvicultura, este resume-se a uma escassa frase. Como é isto possível? Onde está a estratégia?
Relativamente ao ponto 5.2.15 - Turismo, descobri que está pensada uma candidatura para o Parque Ecológico Gramatinha/Ariques. Supostamente já existe há mais de uma década. Mas afinal o que andam as autarquias e a Terras de Sicó (extensão política das autarquias...) a fazer há tantos anos nesta matéria? Fica à vista que, na prática, é quase zero.
E, para terminar, como é que é possível não ver uma única referência, repito, uma única referência à Rede Natura 2000 e ao Sítio Sicó/Alvaiázere neste documento?! Será que ninguém sabe que temos a sorte de ter 41% do território (Ansião) classificado? Isto é simplesmente insustentável, embora não me surpreenda de todo, dada a falta de preparação dos autarcas no âmbito do ambiente e do ordenamento do território. E assim vai ser o desenvolvimento territorial nos próximos anos em Ansião. 
Enquanto geógrafo estou (continuo) preocupado, dada a falta de estratégia num domínio fundamental, o território, sensu lato...

18.11.15

E pela região de Sicó, como vai o Florestar Portugal?!


No próximo fim-de-semana vai ocorrer mais um evento de extraordinária importância, o "Florestar Portugal 2015". É importante não tanto pelo facto de se realizar este ano, mas sim por se realizar de forma regular, facto que lhe confere uma ainda maior importância. É uma excelente ideia e é suportada por uma verdadeira estratégia, a qual pensa no curto, médio e longo prazo. As estratégias só o são verdadeiramente desta forma.
No seguimento do meu último comentário, sobre a RN 2000, decidi que esta era uma excelente altura para abordar o "Florestar Portugal". A razão é muito simples, ou seja a falta de estratégia das autarquias da região de Sicó, senão vejamos, quantas das autarquias da região de Sicó participam no Florestar Portugal 2015? Desafio-vos a descobrir...
As autarquias têm vários problemas, um deles é a falta de estratégia, o pensar na hora e, por vezes, pensar de acordo com a conveniência. Quando surgiu o "Florestar Portugal", foram imensas as autarquias que se juntaram a esta bela iniciativa, mas passado algum tempo muitas delas começaram a esmorecer... O que diziam que era essencial é, afinal, acessório, facto que, para mim, não é surpresa.
E não me venham com a conversa do não há dinheiro, do não há tempo, pois isso é treta. E não "mandem areia para os olhos das pessoas" nem tentem "tapar o sol com uma peneira", pois isso não cola, pelo menos comigo. Não se trata meramente de plantar árvores, sejam uma dúzia e quase que apenas para a fotografia, ou sejam milhares para algum projecto de greenwash.
Trata-se sim de gerir a floresta, plantando árvores autóctones e gerindo todo o espaço florestal. Trata-se de gerir a paisagem. Trata-se de gerir a biodiversidade. Trata-se de pugnar pela qualidade de vida e da nossa saúde física e mental.
Por tudo isto e por muito mais, plantem árvores autóctones e arranquem a porcaria dos eucaliptos, bem como as invasoras (ex. mimosas). Desenvolvimento territorial é isso e muito mais!

13.11.15

Redefinir os limites do Sítio da Rede Natura 2000, Sicó/Alvaiázere e apostar neste extraordinário território!


Fonte: CCDR-Centro

O mapa é, no meu entender, apenas o reflexo da pouca atenção que as entidades públicas têm dado à questão da Rede Natura 2000, mas afinal é o que encontrei numa brochura da CCDR.
Este comentário tem dois intuitos, os quais orbitam em redor de uma questão que eu considero crucial para a região de Sicó, ou seja a Rede Natura 2000.
Mas comecemos pelos factos. Os limites actuais do Sítio da Rede Natura 2000, Sicó/Alvaiázere, pecam por escassos. Os limites deveriam ser alterados e incluir sectores que, não sei bem porquê, não foram incluídos, ou seja parte significativa do sector Norte do município de Ansião, parte significativa do sector Oeste de Penela, uma parte relativa do sector Sudeste de Soure e uma parte relativa do sector Sul de Condeixa. Estes seriam os limites mais correctos deste Sítio da Rede Natura 2000. 
Mas não só, pois de pouco vale criar um Sítio da Rede Natura 2000 se depois quase que se deixa a mesma ao abandono. O ICN falhou nesta questão e o actual ICNF acentuou a falha, ao quase que demitir-se da gestão do Sítio Sicó/Alvaiázere. Os últimos governos têm igualmente falhado, pois o prometido apoio não chegou e isso quase que colocou em causa alguns destes locais de grande importância ecológica, cultural e económica. As Câmaras Municipais também têm falhado a toda a linha, pois em vez de pugnarem pela valorização da Rede Natura 2000 e apoiarem iniciativas várias (ex. parcerias com universidades e empresas) com vista a um maior conhecimento dos valores naturais ali existentes (para uma boa gestão dos mesmos), têm feito a apologia do estorvo, dizendo implicitamente que a Rede Natura 2000 é um estorvo ao desenvolvimento territorial.
Curiosamente os que têm feito o melhor trabalho são as associações de defesa do património, das quais destaco aqui a Al-Baiaz. Quem menos tem é quem mais tem feito, quem diria...
Também, e em recentes revisões de PDM, reparei que pelo menos num caso as Orientações de Gestão preconizadas para a Rede Natura 2000 foram pura e simplesmente ignoradas (ex. Ansião). Outras que ainda não finalizaram, referem que vão ter em conta as Orientações de Gestão (ex. Alvaiázere).
Tem faltado também algo que é estrutural, ou seja a informação sobre a Rede Natura 2000. Consultando os respectivos sites das câmaras municipais da região de Sicó, facilmente nos deparamos com um cenário de uma pobreza informativa assinalável, onde a única coisa que aparece é mesmo um mapa rudimentar do Sítio Sicó/Alvaiázere nos geoportais respectivos. Informação sobre o essencial, ou seja os habitats e espécies, nicles...  
E mesmo nos portais turísticos (ex. Descubra Ansião) nem uma única referência sobre a Rede Natura 2000. Como é isto possível?!
Resumindo, a estratégia para a Rede Natura 2000, baseada no seu conhecimento, na sua protecção e na sua utilização enquanto recurso tem falhado a toda a linha.
Mas há mais, já algum de vós ouviu as Câmaras Municipais afirmar/comunicar que há subsídios relativos à Rede Natura 2000, os quais pretendem apoiar todos aqueles que têm a sorte de ter terrenos dentro desta área protegida? E apoios à conservação do solo, das culturas permanentes tradicionais e manutenção de sistemas agrosilvopastoris? (Portaria nº 58/2015; Portaria 50/2015; Portaria 56/2015; Portaria 24/2015; Portaria 25/2015). Surpreendidos? Ainda bem que ajudei a desmistificar... 

9.11.15

Porque é que o património não marca?


É uma questão muito complexa e transversal, portanto dá pano para mangas quando queremos falar sobre esta mesma questão. Porque é que o património não marca é a questão que todos querem ver respondida. No particular ninguém tem a resposta, mas no geral todos temos a resposta. Complicado? Não, até acaba por ser simples. A resposta é uma equação baseada numa série de variáveis, as quais surgem de uma série de factores, alguns concretos, outros objectivos e outros nem uma coisa nem outra. Quando se faz uma leitura de conjunto, a coisa até se percebe no essencial.
O problema é que nas últimas décadas a abordagem tem sido a mesma e elaborada pelas mesmíssimas pessoas e interesses económicos. Tudo aquilo que estas mesmas pessoas não gostam ou não entendem, não entra na equação principal, daí não serem, por vezes, percepcionadas por quem de direito.
Todos temos culpa, desde o cidadão até à entidade pública ou privada. Há 2 semanas, nas extraordinárias VII Jornadas Temáticas da Al-Baiaz, onde pude dissertar sobre esta temática, consegui mostrar algo de novo a muitas pessoas. Para mim foi mais uma aprendizagem, pois a cada apresentação que faço, tento melhorar as minhas capacidades de comunicar com todos aqueles que se interessam sobre património, seja ele natural ou cultural. Uma das coisas que aprendi nesta última década é que as pessoas foram formatadas a pensar de uma forma redutora e claramente limitada. Somos educados numa lógica de pensamento limitado, ou pensamento de massas e, quando confrontados com novos horizontes, a primeira coisa que fazemos é basicamente dizer que aqueles horizontes são irreais e que o caminho certo é aquele que "as massas" nos ensinaram.
No final das VII Jornadas Temáticas da Al-Baiaz, recebi algum feedback sobre a minha apresentação. Fiquei satisfeito, pois conseguir chegar onde queria, numa espécie de acupunctura que estimula a forma de pensar, abrindo assim caminho a novos horizontes e no pensamento crítico. Na minha opinião, a maior luta a ser confrontada nas próximas décadas é mesmo a informação, o transmitir e partilhar conhecimento, o que, diga-se, não é fácil porque infelizmente são poucos os que o sabem fazer. Desenvolver o pensamento crítico, longe de ideologias políticas ou religiosas é a melhor forma de o fazer, pois as ideologias têm um problema fundamental, o de formatarem à priori as mentalidades, castrando assim formas diferenciadas de pensamento. Muitos dos estereótipos existentes devem-se às ideologias.
Quando queremos debater património temos ter em conta tudo isto e muito mais. O que mais me preocupa é mesmo a falta de informação desta sociedade, a qual hoje em dia sabe mais de coisas supérfluas do que factos essenciais para nós, enquanto espécie. Ainda consigo ficar surpreendido quando partilho alguns factos sobre património e as pessoas me dizem que não faziam ideia. Ainda fico surpreendido com o facto de as pessoas não saberem muito daquilo que pode possibilitar o desenvolvimento territorial. Ou melhor, até sabem mas são vítimas do endeusamento da economia pura e dura, onde esta está no centro de tudo, mesmo apesar de, no concreto, não estar e depender em primeiro lugar do ambiente, senso lato, e de tudo o que daí retira.
Este não é um comentário simples de entender, eu sei, mas não deixa de ser necessário...

4.11.15

Bicicleta, luzes... acção!


Mais do que um objecto vulgar, a bicicleta é, para mim, um objecto que está intrinsecamente ligado a uma forma de estar na vida, a um estilo de vida ainda considerado como alternativo. Infelizmente ainda existe o estigma associado ao acto de andar de bicicleta. "Lá vai o pobre diabo" é apenas uma de muitas expressões utilizadas para caracterizar aqueles que fazem questão em andar de bicicleta no seu dia-a-dia. É certo que as mentalidades evoluíram, mas não o suficiente. Continuo a sentir o mesmo que sentia há quase 30 anos, quando me olhavam, de alguma forma, de lado, num quase desprezo, quando passava com a minha bina na Vila de Ansião. Felizmente que nunca liguei a esse tipo de mentalidade e ignorei os comentários. O tempo acabou por me dar razão.
Tal como na década de 80 e início da década de 90, nos últimos anos a bicicleta voltou a estar na moda. E ainda bem!
O intuito deste meu comentário não é dissertar sobre este objecto de culto, mas sim alertar para alguns dos problemas associados ao importante acto que é andar de bicicleta. Faz bem à saúde, à carteira e, diga-se, consegue ser bastante emocionante. A única excepção, diga-se muito rara, é quando um mosquito entra onde não deve e incomoda.
Enquanto utilizador diário de bicicleta, seja para desporto seja para deslocação, tenho uma percepção que me faz ser crítico perante alguns comportamentos que devem ser evitados a todo o custo, a bem de todos. E quando falo em comportamentos desajustados, não estou a falar dos miúdos traquinas que populam a urbe, mas sim dos adultos que deviam ter alguma consciência cívica. É certo que falta sensibilização rodoviária, tal como se fazia antigamente, mas nada, sublinho, nada pode desculpar a não utilização de luzes à noite nas nossas bicicletas. Acima de tudo é uma segurança para nós, utilizadores de bicicleta. E não há desculpa, pois há várias formas de nos fazermos ver à noite. Eu tenho 3 bicicletas e faço-me ver de forma diferente, conforme a bicicleta em causa. Infelizmente já fui atropelado de bicicleta (de dia e sem culpa), portanto sei o que custa e o que dói...
Vamos todos colocar luzes e reflectores nas nossas bicicletas, pois é importantíssimo, especialmente no Outono e Inverno, onde as noites são mais longas. E não quero desculpas!
Agora uma sugestão, Outono e Inverno não são sinónimo de bicicleta na garagem. Não está sempre a chover, portanto aproveitem e façam da bicicleta o vosso transporte diário. Frio? Utilizem roupa adequada, é simples. Precisam de levar papelada e não é prático? Comprem acessórios que o possibilitem, pois há-os para todos os gostos e carteiras, impermeáveis ou não. É caro? Já pensaram quanto é que gastam em gasolina e manutenção do carro? Qual fica mais caro?! Muitos de vós trabalham a pequenas distâncias do trabalho, portanto distância não é desculpa...
À parte das luzes e reflectores, há a opção do capacete, o qual deve ser sempre uma opção e nunca uma obrigação. E já agora, nunca, mas nunca, utilizem a passadeira quando forem de bicicleta, pois apenas os peões têm prioridade, não quem vai na bicicleta e passa na passadeira. Evitem os passeios, pois na região de Sicó não há, regra geral, essa necessidade.
O desafio está lançado, esperando eu cruzar-me com alguns de vós um destes dias, de bicicleta, num qualquer lugar na região de Sicó.

28.10.15

Mostram-me os vossos fósseis?


Fósseis há muitos, mas não os devem apanhar! Muitos acham graça quando os encontram e levam para casa, mas anos depois deixam de ter graça e são mandados fora sem apelo nem agrado. A única situação em que os fósseis se podem apanhar, é quando estão em risco de se perder ou degradar. 
Vamos então ao que interessa. Há umas semanas, em conversa com umas pessoas já de idade, soube de algumas histórias, verídicas, aqui na região de Sicó, onde várias pessoas (indeterminadas), e já há algumas décadas, apanharam fósseis com possível interesse científico nos seus terrenos. Não falo das comuns amonites (na fotografia), mas sim de outros fósseis menos conhecidos (indeterminados). Possivelmente alguns destes fósseis estarão perdidos/esquecidos algures num barracão ou loja de uma qualquer casa antiga. Possivelmente alguns dos familiares destas pessoas, algumas eventualmente já falecidas, poderão ver este comentário. Assim sendo, apelo que entrem em contacto comigo, caso tenham ou saibam de um fóssil menos comum. A intenção é uma e só uma, a de que caso seja um fóssil raro, este facto chegue ao conhecimento de especialistas e enriqueça mais um bocado o conhecimento científico neste domínio e, assim, a região fique ainda mais valorizada. Não se perde nada em tentar a sorte...

23.10.15

É estranho, muito estranho...


Fui surpreendido há umas semanas atrás, aquando de mais uma passagem pela Serra da Ameixieira, em Ansião. A razão é simples, um geossítio que eu já tinha inventariado e referenciado em 2007,  foi destruído sem apelo nem agrado. Confesso que não sei quem foi, mas espero vir a saber.
Sim, antes de mais convém referir o que é um geossítio:
"ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade (aflorantes quer em resultado da acção de processos naturais quer devido à intervenção humana), bem delimitado geograficamente e que apresente valor singular do ponto de vista científico, pedagógico, cultural, turístico ou outro;" Brilha, 2005
Este era um geossítio resultante da intervenção humana, colocado à vista derivado da acção uma antiga exploração de lajes calcárias, para pedra de calçada (estou para ver se foi reactivada...). Tinha interesse científico, pedagógico (facilmente visitável pelas escolas mais próximas) e também algum interesse turístico. Interesse? Paleontológico!
Este era um local/geossítio conhecido pelas entidades públicas, daí eu não compreender esta destruição. Pergunto eu agora, para que serve oferecermos o resultado da nossa investigação a entidades públicas se estas muitas vezes não ligam a mesma investigação? Para que serve apresentarmos propostas que visam o desenvolvimento territorial se não levam a sério as nossas propostas? Será que vale mais ser filiado num qualquer partido político do que ser um especialista na matéria? A ver vamos se mais algum geossítio vai à vida, a começar pelo sumidouro situado ali na área da zona industrial do Camporês...


19.10.15

E a minha proposta é esta...


Este foi o cenário com o qual me deparei da última vez que fui ao cinema, em Ansião, em meados de Junho. O filme era "O hobbit: a batalha dos 5 exércitos". Éramos apenas 3 pessoas, sendo assim um luxo, ter uma sala de 200 lugares para apenas 3 pessoas. Tantos anos depois e continua a ser uma sala muito agradável
Desde então tem sido minha intenção abordar também esta questão no azinheiragate, até porque se trata da componente cultural, tão importante para qualquer sociedade. Há poucas semanas li uma notícia sobre esta questão, a qual foi tratada em sede de Assembleia Municipal. Li o que todas as partes afirmaram sobre esta questão, nomeadamente o autarca Rui Rocha e o deputado Marcelo Afonso. Fiquei esclarecido sobre alguns pontos e compreendi, no concreto, o porquê do cinema estar às moscas. Gostei também do que foi dito pelo cronista Leonel Antunes, sobre a dinamização da componente cultural.
No entanto não compreendi o porquê do desinvestimento e, diga-se, alguma apatia da autarquia face à componente cultural, nomeadamente dinamização deste sector, tal como é suposto esta o promover. É óbvio que temos alguma dinamização, já que o associativismo tem peso, no entanto, e por parte da Câmara Municipal de Ansião, exige-se mais.
A semana passada fiquei perplexo, pois soube de alguém que queria fazer uma exposição na sala adjacente à sala de cinema, mas que encontrou "inesperadas" dificuldades para conseguir o espaço. É alguém que costuma ter visibilidade nacional no seu meio, facto que me surpreende ainda mais.
Mas vamos ao que me faz escrever estas linhas. Pretendo com este comentário dar a minha sugestão para a dinamização de todo aquele espaço.
Há uns meses que ando a matutar a ideia (entre outras) de criar um "estaleiro cultural", de forma a que, sem qualquer intuito financeiro, se dinamize tudo aquilo que de bom se faz em termos culturais em Ansião. Ou seja, seria reunir algumas pessoas chave que tivessem um mesmo intuito, criar, estimular, organizar o ambiente propício para que a cultura tivesse um espaço onde se potenciasse a cultura local. Criar uma verdadeira agenda cultural e programar vários eventos/actividades, aberto/as a todo/as. Isto sem a interferência directa da Câmara Municipal. Obviamente que o processo deveria também ser complementado com a ajuda da Câmara Municipal, já que a infra-estrutura é da sua responsabilidade.
O centro cultural, do qual o cinema faz parte, poderia ser o espaço físico para isso. Poder-se-ia ter o cinema à mesma, mostrando filmes e documentários temáticos vários, nomeadamente antigos (1 ou 2 vezes por mês, dependendo dos meses). Mais teatro, artes, música, tertúlias, etc. A inovação não tem limites... É notório que falta uma matriz cultural e esta ideia poderia ir no sentido de colmatar essa falha.
Mas para isto é preciso que várias pessoas se cheguem à frente, de forma a ter uma estrutura de pessoas responsáveis pelo tal "estaleiro cultural". E não se queixem que não têm tempo, tempo há sempre, portanto só é preciso assumir e gerir a coisa. 
Depois é também preciso que todos aqueles que são actores na componente cultural se mostrem disponíveis e abertos para novas ideias e formas de potenciar a cultura, não de uma forma circense, mas sim de uma forma natural e espontânea. Quem é que quer fazer um brainstorming comigo?!
Esta é uma ideia concreta e objectiva, portanto quem a quiser debater comigo, que me aborde na rua, que me envie um mail, que me telefone ou então que mande recado.
E para terminar, confesso que me irrita constatar que a única "actividade cultural" nocturna em Ansião se resuma ao simples gesto de frequentar os bares do costume...

14.10.15

A Máfia do eucalipto...


Estas são imagens de um local que ardeu no início de Setembro. Não importa dizer onde foi exactamente, importa apenas saber que foi na região de Sicó, em plena Rede Natura 2000 e que daqui a 1 ano irei voltar ao local para fazer novo registo fotográfico. Aposto que daqui a 12 meses este local estará povoado por... eucaliptos. Ali ao lado já estão massificados, aposto que de forma ilegal (brevemente irei indagar...).
Há incêndios e há incêndios, este foi daqueles especiais e muito curiosos. Se eu fosse bruxo diria que quem manipulou o fósforo teve uma intenção concreta e objectiva, a de fazer arder aquela área, de forma a não só limpar o mato, bem como queimar uma floresta valiosa, de modo a abrir caminho ao eucalipto. Foi um incêndio estratégico e, diga-se, resultou em pleno. Não foi só mato que ardeu, pois oliveiras, pinheiros e medronheiros foram todos à vida. 
E os belos medronheiros, que tanto medronho e dinheirinho poderiam dar? Claro, dá trabalho apanhar. É preferível deixar arder para depois surgir o eucalipto, pois esse não dá trabalho nenhum.
Nos últimos anos houve quem de forma brilhante promovesse um ambiente muito propício para a plantação de eucaliptos. Isto não sem que ardam milhares de hectares de floresta. A monocultura do eucalipto ganha terreno mesmo nos locais mais improváveis, ou seja em áreas protegidas. Não será estranho que certos antigos quadros de empresas privadas, ligadas à exploração florestal (essencialmente ligadas às monoculturas) estejam hoje em dia nos quadros de entidades públicas que, supostamente, defendem a floresta portuguesa. Não será também estranho que a educação ambiental tenha, no concreto, retrocedido muitos anos nessa mesma entidade pública, onde, curiosamente, se gastam resmas de papel premium, mesmo em época de vacas magras.
E a fiscalização é uma palavra vã, o que importa é plantar eucaliptos, mesmo que de forma ilegal, pois o progresso é assim mesmo, pelo menos aos olhos de gente sem escrúpulos. A estes, apetece-me mandar para um certo local, mas felizmente que aqui não é local para utilizar linguagem menos própria.
E é assim a realidade. O dinheiro cega quase tudo e quase todos. Já quase que se acha normal ver arder tanto hectar para depois surgir eucaliptal. Seguimos na onda da passividade e há quem ganhe milhões com isso, já que afinal os incêndios são um verdadeiro negócio. Até o que há uns anos não se aproveitava hoje em dia se aproveita. Compra-se queimado e ganha-se à mesma dinheiro...
Se souberem de plantações de eucalipto ilegais, denunciem! Se perceberem que há ali jogadas duvidosas denunciem!



10.10.15

Geovândalos TT: além de vândalos, são porcos!

Já depois de ter detectado mais uma asneira, feita pelos vândalos do TT, mais uma vez na Cumeeira, Penela, reparei noutra asneira, também relacionada, mas que me parece que é muito boa para ilustrar, na prática, um dos principais problemas associados à actividade do TT, positiva e até desejável quando com regras, mas nociva quando feita sem regras.
Estas primeiras duas imagens são de um mesmo local, onde alguém com uma moto achou que era fixe subir o talude, mas que se esqueceu que este gesto tem graves consequências. Na primeira imagem observa-se uma recente passagem da moto. Na segunda imagem observa-se o resultado, na prática, de algumas passagens, provavelmente feitas pela mesma moto, já que distam menos de 10 metros uma da outra (havia ali vários destes exemplos...).
Na segunda imagem é por demais evidente a erosão que ocorreu posteriormente à brincadeira parva de alguém que não pensa nas consequências das suas brincadeiras parvas. As pedras que ali colocadas são para que a erosão não piore ainda mais (embora isso vá acontecer...). Muito possivelmente quem as colocou não foi quem fez a asneira mas sim a pessoa afectada pela brincadeira de cachopos.
Fixem bem estas imagens e as consequências de actos irreflectidos e irresponsáveis. Estes actos degradam a nossa região, degradam e destroem valores paisagísticos essenciais (tendo inclusivamente impactos económicos negativos). É isto que está em causa!



Indo agora ao que me fez elaborar este comentário, no concreto, pretendo denunciar mais um caso de geovandalismo, perpetrado por adeptos irresponsáveis do todo-o-terreno. Isto, e mais uma vez, na Cumeeira, Penela. A novidade desta vez é que além de vândalos, são porcos, pois nem se dão ao trabalho de recolher as fitas de uma prova realizada há uns tempos (não sei quando foi...). Como é um local ermo, ninguém reparou na coisa, mas, e para seu azar, passei por lá nos últimos dias.
Para esta gente não há regras, não há respeito pela paisagem da região de Sicó e não há qualquer respeito por uma área que além de bela, tem um importante valor geológico. Esta área deveria ter um estatuto de protecção especial, fosse pela sua inclusão na RN2000 e/ou classificação a nível municipal (geosítio). Com tanto trilho espectacular e esta gente vai para onde não deve, faz o que não deve e literalmente manda à fava tudo aquilo que é importante.
Não tenho palavras para descrever o quanto furioso estou com esta gente, com pessoal que não sabe estar e não se importa com valores fundamentais, uns do seu conhecimento, outros desconhecidos. Reina a iliteracia cultural, urge trabalhar a vertente da educação cívica e ambiental, coisa que esta gente manifestamente não sabe o que é.
Cambada de irresponsáveis...




Para que consta, muito brevemente procederei à limpeza das fitas, pois a região merece!

6.10.15

Marquem na vossa agenda e apareçam sff, o património agradece!


Mais um ano e mais um notável evento em vista, organizado por uma associação de grande mérito, a Al-Baiaz - Associação de Defesa do Património. A qualidade é ponto de honra neste evento. O local, a Casa Municipal da Cultura de Alvaiázere é um belo edifício com um belo auditório. O leque de convidados, de grande qualidade. Não falo de mim, que sou suspeito, mas falo dos outros convidados, aí já não sou suspeito. Os convidados da manhã conheço, os da tarde infelizmente não, no entanto os nomes falam por si mesmo e os temas apenas são uma extensão disso mesmo. 
Está em vista um colóquio de grande qualidade, onde aquilo que é realmente importante será abordado. Mas para ter sucesso, precisa de muita gente no auditório. A entrada é livre! Há quase 200 lugares! Estão todos convidados, só precisam de se inscrever e marcar na vossa agenda. Apareçam e tenham um dia diferente num local diferente. E já agora, ajudem à divulgação deste evento de grande qualidade, com a assinatura da Al-Baiaz!

28.9.15

E o CIMU Sicó lá vai surgindo...


Por esta altura as obras do Centro de interpretação e Museu da Serra de Sicó (CIMU Sicó), situado nos Poios, já estão mais avançadas face ao que a fotografia acima mostra. Já lá vão quase 2 meses desde que esta fotografia foi tirada. É uma das obras sobre a qual tenho especial interesse, escusado será dizer porquê. Depois de um início muito atribulado, onde o processo voltou à estaca 0, eis que, anos volvidos, finalmente a obra começa a impor-se na paisagem.
Se é certo que a obra começa a estar à vista, certo é que, até agora, ainda não vi outro aspecto que, na minha opinião, já deveria ser de alguma forma conhecido, ou seja o plano de interpretação respectivo. Parece-me que há um pormenor que começa a estar à vista, ou seja o risco do pouco investimento na componente interpretativa. Esta é aliás uma questão comum em muitos países, onde se investe quase tudo na infra-estrutura e facilita-se no mais importante, ou seja a componente humana e técnica. Se há erro estratégico a evitar é, tendo um bom centro de interpretação (infra-estrutura), ter um plano de interpretação muito mal sustentado. Neste plano entra a componente humana, que representa afinal o cerne da questão. De que vale ter um belo edifício se, chegados lá, não há quem esteja bem preparado para ser o nosso intérprete? Estou particularmente curioso para ver como vai funcionar o CIMU Sicó, concretamente a nível dos meios humanos e formação/preparação destes. Ou seja, estou curioso para ver se os futuros funcionários do CIMU vão ser técnicos devidamente credenciados para esta função. 
Há uns meses visitei 2 espaços deste género em Espanha, ambos com uma boa infra-estrutura. Uma das visitas foi claramente positiva, outra nem por isso. Porquê? Enquanto que no primeiro a nossa intérprete sabia responder às questões, a outra pensava que sabia responder... Escusado será dizer que neste último caso, a imagem do espaço ficou em causa e ninguém recomendará aquele espaço. E quando não há visitantes não há receitas e não havendo receitas...
Espero obviamente que o CIMU Sicó venha a seguir as pisadas certas no domínio da interpretação, a qual passa não pela disponibilização pura e dura de informação, mas sim do saber contar "histórias", ou telling stories. Quem percebe da coisa saberá do que estou a falar...
Espero que no próximo comentário sobre o CIMU Sicó já possa dissertar sobre tudo isto e muito mais, mas para já fica a reflexão.


23.9.15

Quintas de Sicó: verbo recuperar...


Cerca de 6 meses depois da última crónica das Quintas de Sicó, volto à carga com esta importante questão. Da última vez fiquei algo perplexo, pois não sendo um tema muito popular, a crónica de então entrou para o ranking dos comentários mais vistos de sempre no azinheiragate. Actualmente está em 4º lugar, com 418 visualizações.
Mais uma vez não irei referir onde é a quinta em causa, de modo a precaver possíveis actos de vandalismo ou mesmo de roubo. Quem conhece sabe onde é e isso chega.
Este é mais um dos extraordinários edifícios com valor patrimonial que, contudo, está no estado em que a foto mostra. Por dentro não faço ideia como estará, mas é de imaginar.
Temos o mau hábito de dizer que somos uma região "coitadinha", que só os pobrezinhos cá vem (dito por um autarca...) e ainda somos campeões a queixarmo-nos do mal em que a região e o país está. Os outros é que são melhores. Viajar faz falta para abrir os horizontes...
Contudo somos uma região que encerra em si mesma património natural (bio e geodiversidade), património cultural e património construído de grande valor. Temos um enorme potencial enquanto região, no entanto continuamos a insistir numa receita que já deu provas de não resultar. 
Em vez de apostar numa estratégia baseada nos recursos regionais, de entre os quais todo este património, continua a apostar-se na conversa das zonas industriais como base fundamental para estratégias de desenvolvimento territorial. Chapa 5 e projectos chave na mão é o que mais há. E quem não concorda, cuidado, é do contra. Enquanto isso acontece, edifícios como este vão-se degradando cada vez mais. Por vezes é culpa de privados, por vezes é culpa de entidades públicas, por vezes é culpa de ambos, já que cada caso é um caso e há situações em que a resolução para o problema é quase que impossível.
Daqui a uns meses trarei mais novidades sobre esta temática...

19.9.15

Os comilões andam aí...



Não é novidade para mim, já que os comilões são meus velhos conhecidos. Os primeiros vi-os há mais de uma década ( não sei exactamente quando) por estes lados, ou seja por Ansião, a escassas dezenas de metros da Vila. Já tive vários relatos de avistamentos e, muito recentemente, deparei-me com um quando ia de bicicleta, já a alguns km de Ansião. Ambos parámos, eu e ele. Ambos fixámos o olhar um no outro. Seguidamente um subiu a árvore e outro subiu estrada acima de bicicleta. 
Há meses atrás uma pessoa bem informada disse-me como começaram a surgir os comilões, sendo que a sua expansão tem sido bem notada. 
Há duas semanas, quando andava às pinhas, deparei-me com centenas, sim, centenas de pinhas neste estado. Os comilões andam com força, pelo menos na área onde andei às pinhas. Talvez daí a presença recorrente de uma ave de rapina, que faz o controle de natalidade.
Não sei se há algum estudo sobre os comilões na região de Sicó, mas será interessante estudar a evolução dos mesmos. Daí eu vos lançar agora um desafio, o de me informarem sobre avistamentos de comilões, concretamente local e data aproximada. Vou ver se elaboro uma tabela onde esta informação seja inserida. Caso consiga recolher um volume significativo de informação, encaminharei a mesma para quem estuda os comilões.
Ah, é verdade, estou a falar dos esquilos. Surpreendidos?!

15.9.15

Arte na encosta do Castelo de Pombal


Foi por mero acaso que dei com esta bela exposição de uma artista que, diga-se, fez uma bela exposição, com algo que vale mesmo a pena ver. Não sei há quanto tempo esta exposição ao ar livre está pela encosta do castelo de Pombal, nem mesmo se ainda está, já que estas fotos têm umas 2 semanas, no entanto fica a sugestão de uma voltinha pela encosta do castelo.


A fusão de elementos está muito bem conseguida e o espaço é o ideal. Sei que este comentário terá poucas visualizações, no entanto a minha única preocupação é mesmo dar destaque à Natureza, ao Património e à Cultura da região de Sicó. Agora toca a visitar esta bela exposição e desfrutar do espaço.
E se tiverem filhotes, ainda melhor, pois têm uma bela oportunidade para dar mais uma ajuda à criatividade dos miúdos, algo que lhes será fundamental num futuro próximo!


10.9.15

Geovandalismo, puro e duro!


No início, este ícone situado na bela Serra de Alvaiázere era assim, belo, extraordinário, único. Era um local de interesse geomorfológico de uma rara beleza, não conhecendo eu nenhum semelhante na região de Sicó. Descobri este lindíssimo LIGeom lá para 2006, em pleno trabalho de campo da tese de mestrado. Nunca divulguei a localização exacta deste ícone, pois tinha receio daquilo que acabou por vir a acontecer. 


Sendo um local muito particular, apresentava uma vulnerabilidade muito elevada, já que qualquer pascácio se podia empoleirar em cima e fazer com que a pedra resvalasse, destruindo assim algo de muito belo de se ver. Quando assim é, mais vale não divulgar o local e a respectiva localização. Contudo, mais tarde ou mais cedo este é descoberto, ainda mais quando existe uma cache por perto.


Há semanas atrás, quando lá fui com alguns amigos ligados ao património geológico, deparei-me com algo difícil de ser ver. Estranhei, no início, não encontrar o local, pois já tinham passado 2 anos desde a última visita, mas depois de palmilhar uns megalapiás, lá dei com o LIGeom. Não podia acreditar, ele já não existia...


Conhecendo eu bem o local, e já depois de uma pequena perícia, cheguei a uma conclusão, a de que a queda do bloco não tinha sido acaso, mas sim causada por um qualquer paspalho que de forma consciente ou inconsciente, fez o bloco desabar. Infelizmente é algo típico quando se trata deste tipo de ocorrências. Desaparece assim um ícone. Triste, muito triste...


5.9.15

SOS Rio Nabão


Desde criança que tenho uma relação muito especial com o Rio Nabão. A nascente deste, o antigo lagar e, especialmente, o troço inicial, foram um local de brincadeira e uma verdadeira escola sobre os sistemas ribeirinhos. Os anos passaram e a paixão por este rio continuou. Diria até que aumentou à medida que me fiz geógrafo físico, algo de perfeitamente natural.
Por tudo isto e por tudo o mais, sou um defensor acérrimo deste rio, em especial. 


No início de Agosto aconteceu o que já se tinha assistido nos dias precedentes, contudo a uma escala muito maior, o que ditou a morte de centenas de peixes e não só. A SEPNA esteve no local a proceder a limpezas, concretamente retirada de peixes mortos. Não conseguiram limpar tudo, pois no dia seguinte ainda se observavam muitos peixes mortos, alguns que escaparam à limpeza outros que morreram entretanto. O cheiro intenso ficou durante uns dias.


Curiosamente a notícia foi abafada, "sabe-se lá porquê", no entanto o responsável político tem nome próprio e, até agora, não vi nenhuma afirmação sobre o caso. Será porque é incómodo? Será porque a zona industrial é uma "vaca sagrada" e um tabú em caso de acidente?
Indo agora ao que aconteceu, terá ocorrido uma enorme descarga de esgotos, vindos da zona industrial do Camporês, a qual contaminou tudo à sua passagem e, com isso, teve um grave impacto ambiental. Rio, poços, aquíferos, nada escapou. Não faço a mínima ideia do tipo de resíduos que foram derramados, contudo, imagino, tal o impacto ambiental constatado.
Nos dias anteriores a esta situação, já tinham ocorrido pequenas descargas, por entupimento dos esgotos. Uma delas bem perto do restaurante localizado perto da nascente. Isto aconteceu porque não houve o devido planeamento, porque não foram tomadas as medidas que em municípios desenvolvidos são tomadas por quem de direito.


Um aspecto curioso desta situação é o de que há pessoas que não imaginavam que o Rio Nabão tinha peixes. Lembro-me bem de uma conversa, há meses atrás, em que uma pessoa, quando confrontada com o que eu lhe disse, sobre a existência de peixes, disse genericamente que eu "era tolo", tal o seu desconhecimento sobre este facto elementar. Esta pessoa curiosamente também tem actualmente um cargo político. Esta pessoa disse que era parvo colocarem entreves à colocação de represas no Rio Nabão, já que não existiam ali peixes...


Mais surpreendente foi a reacção de muitos ansianenses, quando descobriram que há lontras no seu rio. E se eu disesse que até Guarda Rios (ave) ali há, muitos não acreditariam. Algo que mostra o quanto está distante a relação dos ansianenses com o seu rio. No Rio Nabão há muita surpresa, pena é que os ansianenses não façam muito por ele e não peçam que façam por ele, a começar pelas entidades públicas com responsabilidade na matéria. Pena é que, como facilmente todos podem ver, há tanta gente porca, que suja este belo rio.
Falta a informação, falta a educação ambiental e falta o que sempre faltou, ou seja o marketing territorial, precisamente aquele que faz com que quando vou a um qualquer sítio de Portugal, e quando falo do Rio Nabão, em vez de ouvir a palavra Ansião, oiço a palavra Tomar. Dá que pensar, especialmente sabendo que é em Ansião que este surge das entranhas da terra...


A minha resposta a tudo isto irá resumir-se a um projecto ao qual ainda não me pude dedicar, mas que brevemente irei fazer surgir, ou seja trazer o Projecto Rios a Ansião. As coisas mudam-se com educação e formação. O resto é conversa...
Brevemente darei notícias, mas quem estiver interessado em adoptar um troço do Rio Nabão, pode entrar em contacto comigo.