28.8.11

Esperava mais, muito mais...


Confesso que tinha alguma expectativa, depois de saber sobre este novo portal, isto porque tenho notado uma postura bem mais interessante e activa no domínio territorial, do que em anos passados, onde factualmente se vê mais trabalho desenvolvido em prol do concelho de Ansião, no que concerne por exemplo a nível de marketing territorial. Por este mesmo motivo estava bem na expectativa sobre o que iria encontrar no portal "Descubra Ansião".
O vídeo com o qual nos deparamos ao abrir este site, até é interessante e apelativo, embora, quanto a mim, tenha ficado um bocadinho aquém do que se poderia ter feito, já que Ansião é muito mais do que aquilo que foi mostrado. Muitas das particularidades que tornam Ansião um território interessante não foram mostradas,  considero que se focou em demasia o alcatrão e o betão e em menor escala as potencialidades locais, as quais nos diferenciam de outros e que podem representar a bela "desculpa" para visitar Ansião.
Quanto aos conteúdos em si, presentes no portal, deixam a desejar, já que a informação que ali podemos encontrar é diminuta e claramente insuficiente tendo em conta os recursos disponíveis e a imensidão de património existente no concelho de Ansião. Com o mesmo dinheiro e com a ajuda de muitas pessoas, este portal poderia e deveria ter sido enriquecido com conteúdos vários, daí o défice de informação presente neste portal. Onde está por exemplo o destaque à Rede Natura 2000? 
Em termos de potencial de informação, passível de ser colocada, penso que o site estará apenas a 10% das suas reais potencialidades. A nível visual e mesmo de organização está interessante e apelativo, mas o problema é mesmo a parca informação, já que a que existe é muito superior aquela que consta no portal "Descobrir Ansião". Seja em termos de património natural, construído, ou outros, há uma clara omissão de informação que representaria uma mais valia em termos de imagem, pois quem visita o portal pode ficar com a sensação de que sabe a pouco, o que não motivará posteriores visitas ao mesmo. Esta motivação é claramente a chave da atracção, o marketing territorial aqui não está a ser aproveitado devidamente e este é uma ferramenta poderosíssima, quando bem utilizada. 
É nestas ocasiões que saliento que o conhecimento dos locais deve ser mesmo aproveitado, já que não faltam pessoas credenciadas para ajudar neste e noutros projectos, e que até o poderiam fazer gratuitamente (só para que não haja dúvidas não estou a falar de mim, estou sim a falar dos outros), tudo em nome da terra, no entanto isso dificilmente acontece. Quando digo pessoas credenciadas, não falo apenas de pessoas formadas nas mais diversas áreas, falo sim de todas aquelas pessoas que de alguma forma poderiam dar o seu contributo, desde o pastor até ao universitário, pois todos eles contam. Sei até que no domínio das pessoas não formadas há mais potencial do que no domínio das pessoas formadas, já que o conhecimento sobre o património aprende-se na escola da vida, e esse pode apenas ser melhorado nas universidades (estas são um meio para e não um fim para, lembrem-se disso!). Digo isto porque durante muitos anos a mentalidade que imperava ( e ainda continua de alguma forma...) era a de que pastores e afins eram tratados como que uns coitadinhos e "burros", daí esta minha indirecta a alguns pseudointelectuais de esquina de café.
Espero então que o portal "Descobrir Ansião" seja reforçado brevemente com todo um manancial de informação (que existe!), de forma a que este fique devidamente enriquecido, pois só assim poderá ser uma mais valia e não apenas algo simplista. O Município de Ansião pode, e até sabe fazer bem melhor, daí este meu desafio saudável e concreto, o de melhorar este portal a curto prazo. Felicito a Câmara Municipal de Ansião pela criação do portal, no entanto há que potenciar devidamente o que está feito, já que, como disse, o que está em causa é o claro défice de informação relevante, nada mais.
Fica também o desafio a todo/as aquele/as que gostariam de alguma forma de ajudar, para demonstrarem isso mesmo, pois a cidadania só funciona quando se é activo em prol dos outros e do território. Chega de meter sempre a culpa nos outros!

24.8.11

Para quem gosta de património!


Já por várias vezes referi que, sempre que se justificasse, faria referência a eventos que se relacionassem com questões patrimoniais. Assim sendo, fica a nota sobre um evento realmente interessante, pertinente e organizado por uma associação que dá cartas no domínio do património, a Al-Baiaz. Fica o desafio para a vossa participação, pois além de ser um evento importante, em termos regionais, é de inscrição gratuita. 
Aproveito apenas para sugerir aqueles que tenham interesse em ir a este evento, que, na medida do possível, partilhem o carro. Se alguém necessitar de ficha de inscrição, basta entrar em contacto comigo que facilmente faculto a mesma.

19.8.11

Alvaiázere: quando a iliteracia cultural predomina, o ordenamento do território é que paga

O que começou como apenas uma ideia para um comentário mostrou-se, quanto a mim, um bom fio condutor no que concerne à análise do discurso dos autarcas da região de Sicó, no domínio do ordenamento do território. Iniciei com Pombal e segue-se agora Alvaiázere.
Vou basear esta discussão especialmente em dois artigos publicados no Jornal O Alvaiazerense, orgão de comunicação local manifestamente rendido aos encantos do autarca local. 
Inicio com o artigo da edição de 31 de Maio, no qual destaco algumas afirmações do autarca local, Paulo Morgado, sobre um projecto de um parque urbano em plena área rural:

"Este tipo de projectos vem "dar condições às pessoas de voltarem às suas origens e trazer jovens à nossa terra. E portanto é assim que eu acho que se faz o desenvolvimento do território e foi por isso que eu procurei promover aqui este tipo de infra-estrutura"

- Então vejamos, pelo que se lê, o autarca local acha (?) que é assim que se faz o desenvolvimento do território? Em primeiro lugar, o achar é coisa de aprendiz de amador, pois ou se sabe ou não se sabe. O desenvolvimento do território promove-se não se faz ou fabrica por encomenda a um arquitecto. É grave quando isto acontece, mais ainda quando se diz que "eu acho que", pois de sabichões  e "engenheiros" está o mundo cheio.
Paulo Morgado demonstra factualmente que eu tenho razão, ao eu defender que os autarcas devem ter formação base em ordenamento do território, pois assim já poderia dizer que sabia e não que acha que sabe.

"o autarca recordou "como era este espaço ainda há meia dúzia de meses atrás: era um espaço extremamente degradado e pouco digno". O Parque Multiusos Municipal de Avanteira veio "trazer mais algum potencial de atracção e mais gente à nossa terra" "

- Então um terreno agrícola é um espaço degradado e pouco digno? Em que medida um parque urbano em área rural traz potencial, per si, aquela freguesia? Se fosse um teste de geografia este autarca estaria chumbado. Em vez de se promover o regresso aos campos, promove-se a impermeabilização dos campos (solos), mostrando total falta de estratégia territorial. É inaceitável que se transforme conceptualmente um terreno agrícola em algo feio, só quem nunca soube o que é cavar terra pode lamentavelmente tentar transformar o que digno em indigno, se é que me faço entender. 

"Desde essa altura até à conclusão deste Parque, a Câmara Municipal deparou-se com "uma série de contingentes e problemas, pois isto está em reserva agrícola e reserva ecológica, andámos quase três anos para obter todas as autorizações", referiu Paulo Morgado. "Chegámos a estar quase a inviabilizar a construção das casas de banho, porque não tínhamos autorização para isso, devido à proximidade do leito do rio, do leito de cheia e de estar em reserva ecológica", acrescentou."

- Vejamos, o autarca considera que as regras legalmente instituídas, que visam não só a soberaria alimentar e subsistência agrícola (reserva agrícola) bem como a própria segurança de pessoas (caso das áreas de leito de cheia) como contigentes e problemas?  É grave quando alguém diz isto, ainda mais sendo um autarca que devia não só saber factos básicos, como dar o exemplo.
Em jeito de brincadeira, poderia dizer que até se poderia colocar na casa de banho, uma placa a dizer:
- Não utilizar em caso de inundação.

Indo agora para o artigo da edição de 31 de Julho, sobre a inauguração de algumas centenas de metros de estrada, de acesso a um estádio:

"Nós tínhamos alguns constrangimentos nas acessibilidades, sobretudo ao Estádio Municipal, tínhamos aqui a vila confinada a crescimento a poente, e portanto logo em 2006 procurámos com fotografias aéreas, com cartografias, tentar vislumbrar, tentar descobrir, diria assim, uma escapatória do núcleo urbano da vila para poente, que nos permitisse um dia levar-nos até ao litoral". 

- Procuraram com fotografias aéreas, com cartografias, tentar vislumbrar uma escapatória do núcleo urbano? Em primeiro lugar, não foi com fotografias aéreas, foi sim com ortofotomapas. Cartografias? Cartografias é no singular, Cartografia meu caro. É lamentável a falta de conhecimento básico, no domínio do ordenamento do território, por parte deste autarca. Em vez de se concentrar nas cartas de ordenamento, de condicionantes e outras mais, este autarca faz as coisas a olho, achando que é assim que se faz. A razão é simples, tudo tem de ser feito à sua maneira, mesmo que isso não se guie pela lógica, ou seja por estudos próprios, baseados no PDM, PP, ou PU. (entre outros).
A lógica de abertura de estradas, por parte deste autarca, comprova a franca iliteracia cultural deste, pois pensa que as coisas se fazem a régua e esquadro, esquecendo que a base territorial precede tudo o resto e que quando se inverte a sua lógica as coisas acabam por correr mal mais tarde ou mais cedo.
Vejam bem também algo que passa quase despercebido, quando ele diz "nos permitisse um dia levar-nos ao litoral". Este autarca queixa-se da desertificação e aqui em vez de dizer "nos permitisse atrair pessoas do litoral" diz "nos permitisse um dia levar-nos ao litoral", mostrando a sua verdadeira face e o seu real interesse, é a minha opinião. Em que ficamos caro autarca? O que é mais importante, trazer pessoas ou afastar as pessoas? A ilusão do estradão tem funcionado apenas como rota de emigração, deixando estes territórios cada vez mais vazios. Quando não se tem confiança no que se faz, bem como competência, há sempre a tendência de sair com frases tipo "nos permitisse levar-nos ao litoral". Será que o interior não tem pontos de interesse nem património, nas quais se possa basear o desenvolvimento territorial? Pelas afirmações deste autarca assim parece... Urge contrariar este tipo de mentalidades mesquinhas, centradas no egocentrismo, no culto da personalidade e no supérfluo.

"Ligar Alvaiázere ao litoral, melhorar o acesso aos equipamentos e serviços públicos, permitir o alargamento da vila para poente e contribuir para a promoção imobiliária, foram algumas das vantagens anunciadas por Paulo Morgado na cerimónia de inauguração"

- Alargamento da vila para poente e contribuir para a promoção imobiliária? Então vejamos, expandir a vila de Alvaiázere para terrenos agrícolas quando a Este da vila há terrenos não agrícolas que podiam ser aproveitados? Tendo dezenas de casas abandonadas na vila de Alvaiázere, que podiam ser recuperadas, para quê alargar? Só se for porque algumas dessas casas foram compradas para demolir, já que a prioridade é alargar estradas, em vez de REABILITAR!
Este autarca sempre disse que queria concentração, mas agora promove a expansão, porquê? Este autarca não refere também que a área urbana (PDM) é muito superior às reais necessidades da escassa população, por isso a minha enorme estranheza desta voracidade de impermeabilização de solos agricultáveis. Onde se vai cultivar o chícharo, (riqueza gastronómica tão pomposamente publicitada por este autarca) em placas de betão ou no solo?
Falta coerência a este autarca, bem como o explicar de muitos projectos, pois há muita coisa por explicar e interesses ocultos que importa conhecer.
Promoção imobiliária? Não será antes especulação imobiliária?

"Esta seria talvez a única alternativa que nós teríamos para a acessibilidade para o litoral", afirmou o autarca, acrescentando que "o alargamento da malha urbana seria sempre muito mais fácil para esta zona poente, mais fácil em termos económicos e de investimentos, do que pela zona nascente ou norte, onde a urografia dos terrenos e declives são muito maiores e portanto a construção é sempre muito mais cara o que evitava de alguma forma o desenvolvimento da vila para nascente e para norte".

- Talvez a única alternativa? Então e o acesso, a Sul deste, onde já existe acesso? Será que é preciso ocupar terrenos agrícolas e atulhar linhas de água muito importantes, as quais vão alimentar a nascente do Olho do Tordo? Mais uma vez, há aqui factos que precisam de ser explicados, e como eu sei que o autarca local lê (mas não admite) o azinheiragate, estarei à disposição para que este se explique.
Em termos de alargamento da malha urbana, então desde quando é que a lógica é perverter os instrumentos de gestão territorial só para fique mais barato construir? A elaboração do PDM de segunda geração tem-se prolongado por demasiado tempo, está à vista o porquê, já que o interesse é moldar o PDM à promoção (especulação) imobiliária. Em primeiro lugar tenho sérias dúvidas sobre a legitimidade do alargamento da malha urbana, já que esta é superior às reais necessidades, e mesmo alargando o correcto seria alargar para Este, já que neste direcção os impactos seriam muito reduzidos, ao contrário de na direcção contrária. Em segundo lugar, compromete-se a sustentabilidade a curto, médio e longo prazos só porque desta forma calha melhor às empresas de construção, veja-se só no que vai por aqueles lados. É tudo uma questão de escolher as empresas mais indicadas, senão a escolhida ainda pode ir à falência...
Poderia dizer que isto até é normal, já que há alguns meses atrás ficou por explicar bem a atribuição de um projecto à empresa da vice-presidente, arquitecta de profissão. A explicação do autarca local não convenceu ninguém, só mesmo as pessoas que orbitam em redor de si.

Uma das razões pelas quais eu decidi fazer estes comentários mais robustos, foi o facto de apenas assim muitas pessoas começarem a compreender o que está em jogo e como os nossos autarcas pensam e agem, o que muitas vezes tem impactos tremendamente negativos no território e consequentemente em todos nós, pois somos nós que lá vivemos. Estes autarcas depois de 3 mandatos vão-se embora e muitas vezes quando os problemas começam a ser percepcionados e sentidos pelas pessoas, os autarcas já estão longe, não sendo responsabilizados, daí ser imperativo resolver muitos dos problemas antes mesmo que eles possam surgir. Este autarca, em especial, já conseguiu deixar uma marca bem negativa que em alguns casos já não será possível reverter. Goste ele ou não eu continuarei por aqui, pois o que me move é apenas e só a defesa deste território, pois só defendendo o desenvolvimento (real) do território é que se pode dizer que nos preocupamos com aqueles que nele vivem e fazem a sua vida, isso sim é ser coerente! Tudo o resto é pura demagogia...

11.8.11

Pombal: quando o Engenheiro não tem bom senso, o ordenamento do território é que paga...

Lembrei-me do mítico António Variações, e do título de uma igualmente mítica música sua, para ilustrar este meu comentário, o qual decorre depois de ter lido um artigo sobre Pombal, no Jornal Notícias do Centro ( http://noticiasdocentro.wordpress.com/ ). Este é um dos Jornais regionais que acompanho regularmente, pois reconheço-lhe independência e competência jornalística, algo que falta, por exemplo a alguns jornais da região de Sicó.
Indo directamente ao assunto, o que pretendo aqui abordar tem a ver com os recentes comentários do autarca Narciso Mota, sobre Ordenamento do Território. Enquanto especialista em Ordenamento do Território, fiquei chocado com as afirmações deste autarca, as quais mostram uma mais do que evidente iliteracia cultural neste domínio. Poderia aqui acrescentar também a falta de coerência do mesmo, algo que irei também referenciar.
Relativamente à autonomia das autarquias que este autarca defende em matérias do domínio do ordenamento territorial, considero esta ideia absurda e perigosa. Em primeiro lugar, há que lembrar que Pombal não é propriamente um bom exemplo no que concerne a boas práticas no domínio territorial, daí considerar que Narciso Mota não é, de todo, a pessoa ideal para falar sobre ordenamento do território, muito menos dizer o que se deve fazer neste importante domínio. Não tendo competência técnica nesta matéria e não sendo um bom exemplo nesta questão, como pode este autarca dizer o que disse? Falta a credibilidade. Em segundo lugar há que lembrar que a lógica das autarquias é manifestamente ilógica, pois como as receitas do IMI representam parte significativa dos orçamentos municipais, há a tendência de apostar no construir e mais construir, facto que faz crescer ainda mais a bolha imobiliária...
Ao ser "demasiado burocráticoss e complexos", respondo que a "pressa é inimiga da perfeição", relembrando-lhe por exemplo o dia 25 de Outubro de 2006. A "burocracia" e a "complexidade" é precisamente para evitar desastres como este, que custaram uma vida e muitos milhões...
Os processos administrativos são burocráticos e complexos porque o que eles tratam é muito complexo, é simples e não custa entender. A sustentabilidade só é possível pensando no curto, médio e longo prazos, tenho pena que Narciso Mota teime em não compreender algo tão elementar.
Já no que se refere ao facto de que "constituem graves entraves", isso só pode ser assim entendido por quem pertence a uma imobiliária ou a um dono de empresa de construções. Estes procedimentos pretendem sim promover uma utilização adequada do território, se isso é visto como um entrave à política do betão a qualquer custo, ainda bem que assim o é, pois significa que muitos valores ainda conseguem ser protegidos (por exemplo áreas de máxima infiltração, áreas agrícolas, etc, etc). O betão é apenas uma ínfima parte da equação que é a qualidade de vida dos pombalenses, é apenas uma de muitas variáveis e não a equação em si, é esse o erro de abordagem de Narciso Mota. A qualidade de vida e desenvolvimento sustentado não se mede pela área de solo impermeabilizado e prédios construídos.
Passando agora para outra ideia, expressa por Narciso Mota, quando este refere que os procedimentos actuais "nem permitem um desenvolvimento sustentado, nem contribuem para a diminuição da desertificação do mundo rural", aqui surgem factos curiosos. Será que este autarca sabe afinal o que é desenvolvimento sustentado? Quanto a mim, não sabe, confunde conceitos básicos, pois crescimento não é sinónimo de desenvolvimento sustentado. Será mesmo que não permitem um desenvolvimento sustentado? Permitem, o problema está na mentalidade cheia de estereótipos deste e de outros autarcas, os quais teimam em apostar em ideias ultrapassadas e desajustadas. A desertificação do mundo rural é uma realidade que ultrapassa as fronteiras administrativas locais, regionais e mesmo nacionais. É muito bonito dizer frases bem parecidas mas desprovidas de matéria factual. Se esta última argumentação de Narciso Mota fosse utilizada num teste de geografia, valeria 0, já que apresentou-se algo sem o fundamentar, é por isso que eu defendo que os autarcas deveriam ser obrigados a ter formação básica no domínio do ordenamento do território, pois seria o mínimo exigível para quem pretende gerir um território.
Quanto ao que Narciso Mota tão nobremente destaca, sobre o delegar nos municípios decisões que facilmente podem ser tomadas pelos técnicos da autarquias, quanto a isso mais não posso do que dar uma bela gargalhada geográfica. Já trabalhei numa autarquia (sem cunha), enquanto técnico especialista em ordenamento do território, e por isso é uma realidade que conheço demasiado bem. Os técnicos não são mais do que marionetas nas mãos dos autarcas, mesmo que um parecer seja acertado, se o mesmo não estiver ao gosto dos autarcas, este mesmo parecer vale lixo. Quem toma a decisão final é sempre o autarca, dizer que as decisões podem ser facilmente tomadas pelos técnicos das autarquias é pura demagogia!
Há muitos técnicos que mais tarde ou mais cedo se rendem ao sistema que não premeia a competência, mas que premeia os pareceres ajustados aos interesses das políticas de betão, quem não o faz acaba como eu, no desemprego (felizmente que dei a volta por cima e uma lição a quem me quis prejudicar de uma forma nada corajosa...). 
Recuperando o que eu disse, sobre incoerência de Narciso Mota, neste domínio, não é preciso procurar muito para ver situações onde quase só faltou chamar de asininos a alguns técnicos que tinham feito pareceres acertados, pareceres estes que não iam na onda deste autarca, ou seja betão e mais betão.
Mais adiante, Narciso Mota refere que é inadmissível o chumbo de um parque indústrial (Abiul), por parte da CCDR-Centro, mas porquê, explique-se? O chumbo foi por algum motivo válido.
Agora algo de bem interessante discutir:
"O repovoamento do mundo rural só se tornará efectivo quando todos nos consciencializarmos das novas realidades e se desenvolverem novos sectores de investimento"
Onde andou este autarca nos últimos 17 anos? Ideias inovadoras surgem a qualquer altura, o problema é que muitas vezes não há nem técnicos capazes (consequência da cunha...) nem capacidade de as implementar, quando a bela ideia lá acaba por surgir. Aldeias do Carso, Geoparque Sicó, reconversão de empresas de construção civil para a recuperação dedicada de casas antigas, não seriam por exemplo ideias válidas (entre muitas outras!) para novos sectores de investimento, mas implementadas já há vários anos atrás? Ideias nunca faltaram, há milhares de ideias, faltou sim a capacidade para as levar avante.
Se Narciso Mota quiser ideias, algumas pode encontrar aqui mesmo, no azinheiragate, já que sei que já consultou este mesmo blog, algo de agradeço, fora de brincadeiras. Há muitas pessoas válidas que gostavam de contribuir, no entanto como não vão em cantigas nem se vergam a certos interesses, são ostracizadas. O pessoal novo que aparece só tem hipótese se estiver embrulhado nas juventudes partidárias, que são um ninho de maus hábitos e lugar de poucas virtudes a médio e longo prazo. Isto significa que vale zero ou perto disso.
A região de Sicó é uma arca de tesouros que em vez de estar a ser potenciada e valorizada está sim a ser depredada. Por onde tem andado Narciso Mota? Este seu discurso é demagógico e logo de uma forma colossal, daí esta minha crítica frontal e incisiva, embora honesta e construtiva (que é bem diferente do dizer mal, coisa que não faço, embora uma pessoa em Pombal o diga...). 
Sobre o emparcelamento de terrenos para o desenvolvimento do sector primário, concerteza não se deve lembrar do cadastro predial, fundamental para o futuro do país. Quem tem atrasado este processo? A classe política, a qual perpetua políticas da capelinha. 
Quanto ao desenvolvimento do sector primário, Pombal também o tem esquecido, especialmente nos últimos 17 anos...
Quanto à questão da legislação, mais uma vez Narciso Mota fala do que não sabe, pois Portugal tem boas leis, o problema é sim daquelas "escapatórias" que existem nestas mesmas leis. Estas "escapatórias" são as portas que os autarcas costumam aproveitar para fazer muitas vezes tábua rasa de muitas leis, pervertendo completamente o sentido das mesmas. Como pode este autarca referir que estas leis têm um sentido teórico, abstracto, de difícil e duvidosa interpretação? O problema não é das leis, é de quem não as vê com bons olhos, já que perturbam a política de betão que autarcas como Narciso Mota tem implementado nos últimos longos anos.
Quanto às potencialidades do interior, aí estamos de acordo, mas o que fez na prática Narciso Mota nos últimos 17 anos? Onde estão as opções estratégicas de desenvolvimento a seguir? Não vejo nada, nem em Pombal nem na região de Sicó. As opções estratégias já deveriam ter sido definidas na década de 80, pois os fundos são cada vez mais escassos e a crise que o país atravessa só vai acentuar ainda mais a desertificação, funcionando num ciclo vicioso.
Uma das raras vezes que "vi" Narciso Mota ter uma opinião acertada, no domínio ambiental, foi quando recentemente se mostrou frontalmente contra a privatização da água, um bem que é de todos! É uma escassa oportunidade que tenho para elogiar uma posição a louvar. Pena que seja algo de bem raro por aqueles lados. Quando há algo para aplaudir eu aplaudo, quando há algo para criticar (honesta e construtivamente) eu critico, mesmo que as pessoas se sintam incomodadas. Infelizmente dão-me mais motivos para criticar do que aplaudir...
Por agora fico-me por aqui, mas brevemente irei falar de mais um assunto bem quente neste domínio. Há poucos dias atrás um pombalense avisou-me de algo bem interessante de abordar, algo que consta no boletim municipal... 

6.8.11

Paradoxos do património


Fonte: Imobiliária ERA

Por mais esforço que faça, não consigo compreender como é possível uma região tão rica do ponto de vista patrimonial, como é o caso de Sicó, não aproveitar minimamente este património. Quando digo minimamente, digo-o porque o pouco que é aproveitado, muitas vezes mal, não representa sequer um milésimo do património aqui existente. Dito de outra forma, aproveita-se apenas uma ínfima parte de tudo o que existe, conhecido ou não, pois há muito património que se pretende enterrado, já que caso descoberto poderia estorvar casas e estradas...
Pego agora num caso bem sintomático disso mesmo, outro dia andei a pesquisar algum do património arquitectónico e mesmo histórico, que está à venda na região de Sicó, nos sites das imobiliárias mais conhecidas. Não foi preciso muito até me deparar com um edifício absolutamente fabuloso que está à venda. Sei que muitas vezes é complicado os donos conseguirem manter estes mesmos edifícios, já que isso envolve, algumas vezes, uma capacidade financeira que não está ao seu alcance, e obviamente não os posso condenar de alguma forma disso mesmo.
Dito isto, centro agora a questão no problema que quero destacar, o de que, por vezes, estes mesmos edifícios históricos, poderiam ser potenciados, ou seja, comprados por entidades públicas. Esta compra serviria para algo de muito simples, o alavancar (que bela palavra!) do turismo de qualidade, na região de Sicó. Através de dinheiros comunitários, poder-se-ia comprar quintas como esta, criando uma base muito forte, a qual não só possibilitaria a reconstrução destes edifícios, bem como a valorização do turismo regional.
No entanto isto não acontece, vejam sim o que poderá acontecer:


Isso mesmo, 21 moradias, numa zona "calma e agradável", com "vista panorâmica". Será este o destino que interessa à região? Será que as entidades públicas não servem para potenciar este património? Se está à venda porque não se compra? Não há dinheiro? Então se não há dinheiro porque se quer construir uma unidade hoteleira na Serra de Alvaiázere, em zona protegida? Será que os milhões pomposamente anunciados para este projecto não poderiam hipoteticamente utilizados para comprar esta ou outra quinta? Será que o actual dono/a não ficaria mais feliz por ver preservado este património, convertido numa unidade hoteleira de qualidade? Quiçá. E os 4 hectares, onde existem vestígios arqueológicos e até existe um sumidouro que basicamente representa uma área de infiltração máxima?
É esta crónica falta de visão que leva a que a região esteja na situação actual, nas ruas da amargura, pois património de valor não lhe falta, património que poderia ser a base fundamental do desenvolvimento da região de Sicó. Em vez disso queixam-se da desertificação...
Fazendo agora um à parte, eu até sei porque este género de situações acontecem, em Portugal, é que o que interessa a muitas pessoas, que estão á frente de entidades públicas, é o lucro pessoal, daí irem pelos caminhos que lhes permite ganhar muito (mesmo muito) dinheiro por fora, perdendo assim o património e ganhando assim as políticas do betão (e os bolsos de alguns). Por isso mesmo é que por vezes surgem projectos que não se compreende bem a razão de ser...