27.10.18

O PO.RO.S transpira qualidade!


Demorou mas finalmente consegui arranjar tempo para visitar o PO.RO.S - Museu Portugal Romano em Sicó, situado em Condeixa-a-Nova. A expectativa era alta, anda mais sabendo do prémio europeu (Heritage in Motion) que há poucas semanas este Museu ganhou.
Não tinha investigado nada sobre os conteúdos do Museu, portanto fui sem saber o que ia encontrar. À chegada notei um pequeno pormenor, ou seja o facto de haver duas portas abertas (portões) confundiu-me, ficando eu inicialmente a pensar onde era a entrada principal. Um aspecto a melhorar.
Chegado então à recepção, fui bem atendido e toda a informação base foi prestada por quem lá estava, algo que é sempre um bom ponto de partida.
Com o folheto na mão iniciei então a visita, a qual demorou cerca de 2 horas muito bem passadas. Aproveitei ao máximo todos os recursos ali presentes, interactivos ou não, ficando a conhecer muitos pormenores que desconhecia e mais bem informado sobre factos que apesar de já saber, faltavam complementar. Desde o início até ao fim do percurso há muitos e variados pontos de interesse, desde objectos, recursos interactivos, que dão para ter interessantes experiências sobre quem eram os romanos e tudo o que envolvia a sua existência. Parece-me um Museu bem conseguido, o qual recomendo vivamente.
No final, e em em conversa com quem estava na recepção, fiz o que mais gosto, falar com as pessoas que vivem este tipo de espaços todos os dias e interagir. Fiquei a saber que houve um casal que em apenas 20 minutos "visitou" este Museu. Ou seja, não souberam desfrutar este belo espaço museológico, o que é uma pena. Para saborear este Museu precisam de hora e meia a duas horas, dependendo se forem com adultos e/ou crianças. Não abro muito o jogo do que por ali há, de forma a que a surpresa seja maior. Desafio-vos então a irem a este Museu. Para quem é da região é logo ali e para quem é de fora, aproveitem para vir passar um fim-de-semana à região de Sicó e, numa tarde ou manhã, vão então visitar o PO.RO.S. No final vão-me agradecer a dica...


23.10.18

Uma tradição importante, útil e saudável!


Logo que vi estas imagens nas redes sociais, através da página do Museu de Alvaiázere, lembrei-me que era altura de falar desta questão, a qual tanto me diz. Faço-o por vários motivos, desde a componente cultural e identitária, até à questão da produção local e de um modo de vida saudável e sustentável. Há um bónus, ou seja o facto de ser importante abordar esta questão numa altura onde reina uma espécie de puritanismo bacoco, impulsionado por pessoas sem bagagem cultural e identitária, alguns dos quais elementos de partidos políticos pseudo ecologistas. Estes últimos têm desenvolvido uma espécie de extremismo ideológico, de génese citadina, o qual diz que não podemos fazer coisas que afinal sempre fizémos, por necessidade, que são saudáveis e úteis para as as sociedades do meio rural e semi-rural. Se há tradições que não fazem sentido, tal como espetar ferros no lombo de toiros (para mero entretenimento..), há também as que, parecendo cruéis, fazem sentido e que importa preservar, tal como a matança do porco. Trata-se de algo necessário.
Durante vários meses cria-se um animal com o natural respeito que temos pelos animais de criação. Restos de comida são aproveitados na alimentação destes animais, evitando que este tipo de resíduos vá para o lixo e aterros (recicla-se, portanto!). O animal é bem tratado, bem alimentado (carne saudável, sem químicos...) e quando chega a altura mata-se. Isto ao contrário dos porcos criados de forma intensiva, onde não são bem tratados, onde a carne não é muito saudável e onde são mortos sem muito respeito pelo animal.
Não se mata por prazer (ninguém gosta) mas sim por necessidade, tentando no processo causar pouca dor, numa morte rápida e dignificante. Depois aproveitam-se todos os recursos que este animal proporciona e, no dia da matança promove-se a festa e o convívio entre amigos e família. A carne que dali sai dura para uns tempos. E os belos dos enchidos, ui, um mimo!
Se há memórias boas que tenho da infância é a matança do porco (muitas vezes nos Netos). O convívio e o comes e bebes é algo de imperdível. Num território como Sicó a matança do porco faz parte da tradição e da nossa cultura, esperando eu que esta continue por muitos e bons anos, a bem da nossa identidade, cultura, saúde, sustentabilidade e racionalidade.
E já agora parabéns ao Rancho Folclórico da Freguesia de Pussos e ao Museu de Alvaiázere, pelo seu trabalho em prol do que mais importante temos na região de Sicó, uma identidade única. Orgulho!


18.10.18

Relvado não! Ervado sim!!


Quando falo com os meus amigos sobre espaços verdes, jardins e afins, surge na maior parte das vezes uma palavra que, confesso, detesto, a "relva". Até ter estudado biogeografia era igual a muitos dos meus amigos, ou seja evitava a todo o custo pisar a relva. Depois tudo mudou com a biogeografia. Descobri que, genericamente falando, a relva não tem valor ecológico, daí porque carga de água haveria de deixar de pisar algo sem grande valor?! (não confundir o pisar com o estragar...).
Não gosto de relva no sentido que é algo que é só para inglês ver, apenas para encher a vista de pessoas pouco exigentes no que concerne à conservação da Natureza e da Biodiversidade. A relva necessita de manutenção e tem custos muitas vezes elevados. Não é, portanto, sequer algo de ecológico, tal como muitas vezes nos fazem pensar ou apregoam.
Assim sendo porque é que insistimos numa fórmula absurda? Porque não fazemos a coisa como deve ser? Há poucos meses estive numa bela cidade polaca, onde fui surpreendido por uma série de aspectos simples, mas excepcionais. Um dos pormenores foi precisamente haver uma cultura de racionalidade, onde em vez de se despejar relva num qualquer canteiro, e programar manutenção regular e contínua, se fez o mais simples, o mais eficaz e o mais desejável, ou seja o belo do ervado, com uma bela biodiversidade. Tem maior valor ecológico, é mais bonito, não necessita de grande manutenção e recursos escassos como a água. 
Para quê complicar então? Vamos criar o belo do ervado, eliminando a patetice dos relvados em toda a região de Sicó, rica em biodiversidade? Quem vai ser o primeiro município a mudar o paradigma? O desafio está lançado, a ver vamos quem vai estar no pelotão da frente daqui a uns meses...


14.10.18

Não é apenas uma fachada, é algo mais do que isso...


Lembro-me de um trabalho académico que fiz há coisa de 15 anos, numa disciplina que dava pelo nome de geografia urbana. Este trabalho ficou na memória porque permitiu-me adquirir conhecimentos particularmente interessantes no domínio da urbe e de tudo o que ela pode significar. Nestes conhecimentos entra a questão da perspectiva, a qual foi adquirida através de um processo bastante curioso. Basicamente andámos pela zona histórica de Setúbal a percorrer cada um dos edifícios, tentando saber qual a actividade económica que era desenvolvida naquele espaço no presente, mas também no passado. Este levantamento foi feito para o rés-do-chão e para o primeiro e segundo piso. No primeiro andar prevaleciam os negócios, enquanto que no primeiro e segundo piso já predominava a habitação. Feitos os mapas, teve-se uma visão bastante curiosa sobre a evolução da tipologia de ocupação e da respectiva evolução ao longo de algumas décadas.
Isto tudo para introduzir uma perspectiva que raramente é factualmente percepcionada pelas pessoas. Quando aplicada à região de Sicó, a coisa ganha um novo sentido, já que não tenho ligação alguma com Setúbal, mas tenho uma conhecida ligação com, por exemplo, Ansião. Lembrei-me de registar esta imagem para este propósito. Para os mais novos, a fachada que consta na fotografia que acompanha este comentário não diz muito. Diria até que a maioria dos mais novos nem se apercebe que há ali uma fachada e que por detrás dela há um mundo diferente, numa espécie de colagem urbanística.
Para mim há ali uma fachada e um edifício por detrás dela. O edifício nada me diz, ao contrário da fachada, que, para mim, representa parte da minha identidade e memórias importantes. Era ali que antigamente se situava o posto da GNR de Ansião, no antigo edifício do qual resta apenas a fachada. Era também ali que se situava uma oficina de bicicletas (irmãos David), a qual eu frequentava regularmente, dado o facto de que as bicicletas fazem parte do meu ADN há mais de 3 décadas.
Por tudo isto e por muito mais é que é importante acautelar estas questões na hora de fazer urbanismo. A identidade local é única e intransmissível. Perturbar a identidade local é algo de grave, daí trazer aqui este tema, de forma a vos fazer pensar nesta importante questão. Sem pensarmos nesta e noutras questões o espírito crítico não se desenvolve e o exercício da cidadania fica enfraquecido, tal como é tristemente frequente e como aliás está bem presente na Vila de Ansião. É tudo...

10.10.18

Um mamarracho na Serra da Portela, Pousaflores


Já não falava desta temática há bastante tempo, e não é por falta de "matéria-prima", mas sim por alguma falta de tempo para, calmamente, percorrer esta bela região. Falo, claro, dos denominados mamarrachos urbanísticos. 
Há algumas semanas, quando fui a uma interessante actividade que decorreu na Serra da Portela, Pousaflores (Ansião), organizada pela Junta de Freguesia de Pousaflores, estacionei o carro mesmo à frente do mamarracho que consta nas duas fotografias que "embelezam" este comentário. É um "edifício" que está ali há alguns anos, contudo nunca calhou eu falar dele de forma mais directa. É uma ferida na paisagem, não compreendendo eu como é que ali está, seja pelo absurdo que é, seja por estar em área de Rede Natura 2000 (Sítio Sicó/Alvaiázere). A minha sugestão é simples, desmontar esta infraestrutura e renaturalizar o local de implantação. É um passivo que ensombra a beleza daquele local e que não dignifica a Serra da Portela, portanto é um problema por resolver. A dica está dada...