24.12.15
20.12.15
Uma foto para reflectir...
Tenho esta fotografia guardada há mais de 1 ano, sendo que esperava pela ocasião certa para a utilizar, muito provavelmente num outro contexto, num outro comentário. O tempo foi passando e a fotografia foi ganhando raízes na pasta onde fazia a espera. Farto de estar sempre a adiar, eis que faço agora questão de a partilhar convosco. É uma fotografia, de forte contraste, que fala por si. Lembrei-me desta perspectiva muito especial, onde se confrontam dois mundos diferentes, um esquecido e desprezado, outro em franca pujança.
Podia guardar esta foto para um qualquer concurso de fotografia, mas agora que estamos a terminar mais um ano, prefiro claramente tornar a mesma pública, convidando-vos a uma reflexão sobre esta perspectiva. Este comentário vale pela fotografia, e eu aprecio bastante fotografia, nomeadamente aquela que consegue mostrar algo de novo. Conhecer bem a região de Sicó e os seus tesouros tem destas coisas...
Só para que conste, 4 dias antes da publicação deste comentário, e enquanto escrevia estas linhas, decidi partilhar esta fotografia no facebook da National Geographic Portugal, de modo a dar mais visibilidade à região de Sicó. Se cada um de nós fizer um bocadinho pela região, esse bocadinho somado a outros bocadinhos, pode transformar-se em algo de muito positivo.
Só para que conste, sou frontalmente contra a construção de parques eólicos em áreas protegidas e/ou de grande valor cénico.
16.12.15
Porque não deve o namoro parar...
Dezembro é um mês especial, não pelo natal, mera data transformada e pervertida pelos interesses económicos (compro, logo existo...), mas sim pelo facto de ser o culminar de mais um ano. É, portanto, uma época de reflexão. Pelo menos para mim.
Já estava cheio de vontade em falar sobre o tema que hoje quero aqui partilhar convosco. Não é um tema fácil, muito pelo contrário, no entanto é algo com o qual me tenho afeiçoado nos últimos anos.
Enquanto escrevo este comentário, tenho ao meu lado duas revistas muito diferenciadas em termos de objectivos e conteúdos. A National Geographic, que "dispensa" palavras e a Smart Cities. Na National Geographic consta que no próximo mês uma das reportagens terá o título "Porque precisamos da natureza?". Promete...
Já na Smart Cities, publicação recente em Portugal, e de grande qualidade, tem um artigo que tem o título "Porque é que os nossos filhos devem aprender a programar", onde consta algo que me chamou a atenção. Logo no início é referido que "não saber programar é não saber a linguagem dos computadores, o que daqui a uns anos será o equivalente a ser analfabeto".
Mas vamos por partes e comecemos pelo início. Hoje em dia debate-se muito a questão do futuro do planeta. Infelizmente este é um mau ponto de partida, mesmo que alguns de vós não percebam porquê. O ponto de partida deveria ser o futuro da espécie humana, a qual se distancia cada vez mais de algo do qual faz parte, a Natureza. Sim, parece incrível mas nós somos parte da Natureza, não há a Natureza e nós, nós somos parte de algo muito especial.
O Ser humano tem um defeito que se tornou uma virtude, muito por culpa da economia predadora que vem assolando as últimas décadas, onde basicamente tem de se consumir mais e mais para podermos "evoluir". A economia consegue manipular quase tudo e quase todos. Há umas semanas, num colóquio onde apresentei algumas destas questões, tentei desmontar alguns estereótipos associados à economia. Reparem o absurdo que é este esquema, no qual "rabisquei" de forma a mostrar o quanto obtuso é:
O tal defeito que falava atrás é o facto de andarmos a perder a capacidade de entender o mundo em que vivemos e em vez de combater este facto, andarmos a tentar entender mundos em que não vivemos, realidades virtuais que não dispensam realidades concretas e objectivas. Complicado de entender?
Pegando no que referi atrás, será que não saber programar é ser-se analfabeto? Obviamente, e contextualizando a coisa, até percebo o que o autor do artigo quer dizer, ainda mais porque está a defender "a sua dama", mas de que vale um miúdo ser alfabetizado nos computadores e ser analfabeto no tema que é mais importante, a Natureza? Contextualizem isto, pensem e depois sim, digam o que têm a dizer.
O cerne da questão é este, a Natureza! Cada vez mais temos dificuldade em interpretar a Natureza, a perceber o seu papel e tudo aquilo que ela nos proporciona. A geografia, a biologia e a geologia têm sido postas de lado nos currículos escolares, facto que é gravíssimo e, diga-se, muito vantajoso para alguns interesses económicos, que precisam de pessoas pouco informadas para poder vender produtos supérfluos.
Mas falemos de soluções. Antes de mais não há fórmulas mágicas. Antes de mais este é um problema que só conseguiremos resolver enquanto sociedade. Mas há soluções, umas mais complicadas e outras menos complicadas. Já vi propostas mirabulantes, já vi propostas que custam milhões. Mas há uma solução muito simples, a qual se adapta a todos e tem em conta as especificidades de todos.
Aqui entra a minha experiência e o meu humilde contributo para uma solução, o qual quero partilhar com todos.
A solução passa por vários gestos. Peguem nos vossos filhos e levem-nos para o monte, para o rio ou para a planície. Deixem-nos cansar-se ao subir o monte, molhar-se ao entrar no ribeiro e sujar-se ao pisar os terrenos enlameados da planície. Deixe-nos ouvir os sons, ver as cores, sentir os cheiros e contemplar tudo isto e muito mais. Deixem-nos ser curiosos e indagar pelos seus próprios meios. Deixem-nos sujar as mãos, deixem-nos subir às árvores e ver o mundo de uma outra forma. E façam-no de forma regular!
Podem pensar que isto não é importante, mas, garanto-vos, é essencial. Há quem, na altura de ter filhos se lembre de algumas destas coisas, mas rapidamente volta à rotina, perdendo-se assim um processo que só terá sucesso se feito de forma contínua e regular.
E uma outra coisa, aqueles documentários da BBC vida selvagem, são mesmo importantes. Uma das coisas que mais me transformou no que sou hoje em dia foi isto mesmo. Aprendi coisas fantásticas com pessoas extraordinárias (ex. David Attenborough; Jacques-Yves Cousteau; Jane Goodall). O contacto com o mundo natural, mais próximo à casa onde vivi a minha infância e juventude e os documentários feitos por estes génios foram parte importante da construção do meu eu. Daí, mas não só, a importância de artigos como o que referi que será publicado na National Geographic de Janeiro. E leiam livros, mas dos bons, daí eu de forma regular dar destaque a algumas das minhas leituras.
Para sermos uma sociedade com futuro, num planeta habitável como este, teremos e deveremos voltar ao início e isso passa por entender coisas simples como a importância do solo, das árvores, das aves, das rochas e de muito mais.
Isto dava para continuar a escrever por muitos dias, mas, e para já, fico-me por este comentário. Agora vamos lá namorar a Natureza!
12.12.15
Solo - A pele da Terra
O título deste comentário é claro e conciso. Retirei-o de uma brochura do Ano Internacional do Planeta Terra (2007-2009), dedicada especificamente aos solos. Este ano, 2015, é o Ano Internacional dos Solos, possivelmente é um facto que passa ao lado da maioria de vós.
Não é um tema fácil de se falar, especialmente tendo em conta o pouco interesse que a sociedade tem demonstrado por ele, no entanto é um tema crucial para todos nós, daí a necessidade premente de dar atenção aos nossos solos. Informar e informar, deve ser essa a nossa missão. Pessoas informadas representam afinal cidadãos melhor preparados para exercer a cidadania plena. Pessoas informadas podem perceber quando são feitas boas e más leis, quando se deve ou não deve ocupar um determinado território. Já repararam que muitas vezes estamos a ocupar áreas de excelente aptidão agrícola? Especialmente na região de Sicó, onde as áreas planas são muitas vezes as melhores para a agricultura, mas ao mesmo tempo as mais apetecidas para a construção. Isto representa um grave problema, pois o solo é um recurso finito e não renovável à escala de dezenas de gerações... Este é um dos nossos problemas, como muitas vezes não entendemos os factos a uma escala maior do que 20, 30 ou 40 anos, acabamos por fazer asneira da grossa, criando problemas a nós e às próximas gerações.
Nada como nos informarmos, seja através das entidades relacionadas com este recurso, o solo, seja através de toda uma panóplia de informações disponíveis em vários canais, nomeadamente a internet. Importa também referir as bibliotecas, isso mesmo, pois é aqui que se encontram as verdadeiras bíblias do conhecimento, livros que valem mesmo a pena umas valentes horas de leitura.
Em Portugal há muito por fazer no que concerne ao estudo e à divulgação desta temática. Durante o doutoramento tive a oportunidade de investigar esta questão, ficando a perceber o enorme desinvestimento que o país tem feito neste domínio, o que em termos de gestão territorial é desastroso a todos os níveis. Vários levantamentos não uniformes entre si, classificações impossíveis de reclassificar em termos internacionais (o que impossibilita comparações) e, no final, um cenário muito preocupante no curto e médio prazo. Todos têm a perder, economia, sociedade e cultura.
Há umas semanas recebi uma mensagem de uma pessoa que até então desconhecia o azinheiragate, algo que, por si só, não tem nada de extraordinário. No entanto houve algo que, para mim, foi extraordinário, ou seja o facto de essa pessoa, através deste blogue, ter ficado a saber da existência do Ano Internacional dos Solos, tal como esta o referiu explicitamente. Pode parecer pouco, mas são pequenos factos como este que dão ânimo a quem tenta informar e divulgar também esta temática. Não é por acaso que tenho essa referência na lateral do blogue.
E para quem pensa que o solo é um elemento supérfluo, chato e dispensável, pergunto-lhe apenas, será que consegue viver sem a sua pele?
E para quem pensa que o solo é um elemento supérfluo, chato e dispensável, pergunto-lhe apenas, será que consegue viver sem a sua pele?
8.12.15
Serra da Portela: incompetência até às profundezas da Serra...
Eu tento evitar, mas afinal só me dão matéria para comentar... Esta é uma situação que se enquadra bem numa problemática que é comum, especialmente na região de Sicó. Porquê? Simples, pelo facto de estarmos numa região cársica, portanto com características muito especiais, que carecem de conhecimento diferenciado por parte dos autarcas, os quais muito raramente têm algum tipo de formação no domínio do ordenamento do território. Por estas e por outras é que em 2011, num congresso sobre património, sugeri a elaboração de um manual de boas práticas para regiões cársicas, ferramenta a ser utilizada por todos os autarcas com territórios deste tipo. Seria um documento particularmente útil, na medida em que facilmente poderia impedir erros básicos de gestão territorial, e logo a vários níveis.
Com um manual de boas práticas, seria bem mais difícil ver situações como a que as fotografias mostram. Trata-se de um sumidouro situado na berma de uma estrada já na abrangência da Serra da Portela, em Pousaflores (Serra onde está situado o parque eólico). Como é costume, informei-me antes de fazer juízos de valor e constatei dois factos, um positivo, outro negativo.
Comecemos pelo positivo. A Junta de Freguesia de Pousaflores não quer tapar este sumidouro. É precisamente isto que se deve fazer, não tapar, devendo a mesma colocar uma protecção superficial, a qual possibilite a entrada de água da valeta. Algo como uma grelha deverá ser mais que suficiente. Não se perturba a dinâmica natural da coisa e assegura-se segurança para todos, inclusivamente animais ditos irracionais.
Indo agora ao negativo. A Câmara Municipal de Ansião já tentou tapar a cavidade, com brita. Escusado será dizer que não resultou e que toda a brita foi naturalmente escoada pela cavidade para o seu interior. Não percebo para que é que se tem técnicos minimamente credenciados (ex. geógrafos) neste domínio ao serviço da Câmara e depois não se solicita um breve parecer ao mesmo. Impera ainda o "acho que" por parte de não sei quem. Este caso afigura a típica incompetência, a qual lesa os contribuinte e mostra que muito há a fazer no domínio do conhecimento do território e dos seus processos, base fundamental para uma correcta gestão territorial.
Degrada-se desnecessariamente a paisagem, com pedreiras sem fim, para depois andar a meter brita em sumidouros/algares, bravo!
4.12.15
O meu tesouro num documentário internacional sobre ambiente
Lá no fundo a expectativa existia, no entanto confesso que não estava à espera que ali surgisse. O convite para uma contribuição para este documentário foi feito no Verão, via twitter, e tive muito pouco tempo para elaborar o mini-"filme" de 3 minutos sobre clima e a região de Sicó. Mais ainda, tinha apenas uma velha máquina fotográfica que por acaso tem a opção de filmar. Juntando a isto o facto de não ser um especialista em filmagens, tudo levava a crer que a minha humilde filmagem não seria escolhida entre as 800 a concurso, vindas de 45 países. Preferi apostar em algo diferente, ou seja os incêndios florestais, talvez daí a escolha dos editores.
O nome do documentário é "Our beloved treasures", portanto nada melhor do que escolher um dos meus tesouros, a região de Sicó. É incrível o impacto que a nossa acção, enquanto cidadãos interessados na salvaguarda da Natureza, pode ter. Digo isto porque este documentário é internacional e foi mostrado, entre outros, na Cimeira do Clima, em Paris. Foi 1 minuto do outro mundo, literalmente. Pode parecer pouco, pode parecer insignificante, mas diria que estou bastante satisfeito com o feito. É uma alegria daquelas grandes, isso vos garanto.
O meu (nosso) minuto surge sensivelmente aos 37:15, no entanto peço-vos que invistam 51 minutos da vossa vida a ver algo realmente importante. A transversalidade deste documentário é surpreendente!
É realmente uma sensação deveras estranha, ver, no final, "com a contribuição de (entre outros) João Paulo Forte".
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