28.9.10

Festival do Chícharo: um evento a não perder


A pedido de um dos mentores deste festival (Carlos Furtado) é com imenso prazer que publicito um dos eventos que mais se relaciona com o património da região de Sicó. Apesar de ser um festival que tem perdido alguma força nos últimos anos, vale mesmo a pena ir, pois caso as pessoas deixem de ir a este e outros festivais/eventos da região de Sicó, perde o património e perde a nossa cultura.
Um conselho que dou a todos é que vão a este género de eventos, pois só assim poderemos celebrar a nossa cultura. Sem a nossa cultura... nada somos!

23.9.10

Lições mal aprendidas em Pombal: as inundações esquecidas..


Estamos quase a um mês de uma data marcante para os pombalenses. Foi no dia 25 de Outubro de 2006 que um evento extremo afectou Pombal, destruindo/afectando muitos bens privados e públicos, trazendo com isso centenas de milhares de euros de prejuízos.
Não vou aqui falar de prejuízos, vou sim falar o que afinal causou o prejuízo, ou seja o cerne da questão. É, infelizmente, algo de muito esquecido pelos lados de Pombal, fundamentalmente por quem responsabilidades no caso.
No que se trata de ordenamento do território, os erros pagam-se caro, Narciso Mota que o diga, pois foi fundamentalmente a sua política do betão e impermeabilização de solos, ocorrida nos seus vários mandatos, que, em última instância, levou a grande parte das consequências derivadas das inundações ocorridas naquela data. Este autarca é o perfeito exemplo do quanto negativo pode ser a falta de formação dos autarcas num domínio sobre o qual todos eles deveriam ter formação mínima, pois só assim se pode gerir um território. O território é a base da economia e quando o território é posto em segundo plano as coisas correm mal...
A minha intenção ao falar deste tema, ainda faltando 1 mês para o "aniversário" do evento é simples. Quando chegar o dia, alguns dos pombalenses já têm o assunto mais vivo na memória, sabendo dos porquês e estando desta forma mais conscientes do que podem fazer e denunciar para que a história não se volte a repetir. É uma questão de consciencialização para que na altura de "comemorações" as pessoas possam criticar, construtivamente, quem sistematicamente se desculpabiliza de alguma forma, dizendo que terá chovido demais...
Infelizmente a história irá repetir-se, mas com consequências mais graves. Mais adiante irei referir o porquê.
Pombal está situado numa área algo complexa, algo que não era problema há umas décadas atrás, mas com o avançar dos tempos a construção foi ocupando áreas sensíveis, nomeadamente o leito de cheia do rio. Desta forma começou a surgir um problema grave, o qual foi sistematicamente ignorado, não sendo considerado como prioridade em termos de análise.
Mais tarde surgiram os Instrumentos de Gestão Territorial, algo de tendencialmente positivo. Apesar de ser positivo não o era em muitos casos para o imobiliário, tinha de se construir, construir e impermeabilizar, pois isso é que era importante "para todos". Foi-se desvirtuando muito do que significaria o verdadeiro ordenamento do território a favor do imobiliário e a desfavor das populações.
Surgiram problemas com esta urbanização massiva e contra-natura e obviamente que pessoas mais informadas, muitas vezes especialistas, surgiram. Foram chamadas de impedidoras do desenvolvimento (e coisas do género...) e a inobservância de regras elementares sobre a gestão territorial começou a acumular peso a mais, tornando-se insustentável.
E no dia 25 de Outubro de 2006 veio a conhecida "cheia centenária", trazendo, tragicamente a plena razão aqueles que eram intitulados como impedidores desenvolvimento ou mais vulgarmente conhecidos como "ambientalistas". A história dos fundamentalistas já não pega, pois há-os em todos os lugares...
Mesmo pessoas pouco informadas tiveram a oportunidade de constatar tristemente o que era evidente, ignorar a natureza causa problemas...
Uma das coisas que mais me impressiona, é a contínua negação do evidente por parte do edil pombalense. E o "engraçado" é que com os anos a lição não se aprende. A foto que vêm no início deste texto, é do estacionamento ao lado da ponte da antiga estrada real, e é a prova do que refiro.
Mesmo depois da tragédia do dia 25 de Outubro de 2006, o autarca local sabendo que a impermeabilização dos solos só piora as coisas, mandou alcatroar esta área significativa. Em vez de promover a permeabilização dos solos, piora-a a olhos vistos. Podia ter colocado um piso permeável, pois existe, mas alcatroar é mais fácil...
Se repararem, grande parte das margens do rio estão impermeabilizadas e os planos são para expandir. As margens, propriamente ditas, não existem no troço urbano da cidade, existem sim taludes impermeabilizados.
Outro facto importante é que as pedreiras (monstros) de Sicó têm depositado ao longo dos tempos toneladas e toneladas de pó que tem impermeabilizado as vertentes Oeste e Sudoeste da Serra de Sicó. Este é um pequeno grande pormenor que muitas pessoas não imaginam... Vão à serra e escavem uns cm, vão ver...
Mesmo nesta questão das pedreiras e da impermeabilização parcial dos solos devido às toneladas de pó, surgem soluções mirabolantes, caso de uma ideia para construir açudes em alguns valeiros na serra para minorar o problema. Além desta ideia absurda não poder mitigar o problema, só o piora, pois aumentaria apenas o risco a que os pombalenses já estão expostos hoje em dia.
Quando passearem por Pombal, vejam à vossa volta e pensem naquilo que vos acabei de referir. Penso que vão começar a ver as coisas de outra forma.... Respirem o território e vão ver que há muito que vos passa ao lado, algo de conveniente para quem nos (des)governa.
Quando chegar ao dia 25 de Outubro deste ano, peçam responsabilidades, pois a culpa não foi da chuva, foi sim de quem deveria gerir um território de forma sustentada, pensando menos no imobiliário e mais na segurança e qualidade de vida dos pombalenses.
Lembrem-se que a cheia centenária, apesar de ter ocorrido em 2006 não significa que daqui a poucos anos não poderá repetir-se novamente... As probabilidades de acontecer outra vez são cada vez mais elevadas. E quando isso acontecer, infelizmente nem os heróicos bombeiros vão estar preparados, isto porque a Câmara Municipal de Pombal autorizou a implantação do seu actual quartel numa área de risco. Em 2006 parte do recinto ficou... inundado. É um conceito alternativo de protecção civil em Pombal, sem dúvida.
Infraestruturas, caso de hospitais, bombeiros, polícia, etc, nunca podem ser localizadas em áreas de risco, como infelizmente acontece em Pombal. É algo de básico, no domínio do ordenamento do território, que é esquecido por estes lados.
Uma população informada torna-se um notável agente de desenvolvimento territorial, resta ao azinheiragate contribuir de forma positiva para que isso possa acontecer.

19.9.10

As lesmas da região de Sicó!

Foi sem dúvida uma boa surpresa, algo que eu aprecio imenso há muitos anos, começou a ser comercializado de uma forma mais abrangente na região de Sicó!
Conhecidas por lesmas (não essas que vocês devem estar a pensar...), estes biscoitos são muito bons para passar uns largos minutos a comer sem pressas, por exemplo ao lanche com amigos, ou à noite com chá. Não são enjoativas, são saudáveis, saborosas e sem dúvida que são uma boa opção não só para as pessoas da região de Sicó, bem como para quem nos visita. Há que divulgar o produto (biscoito) denominado por "lesma"!
Sempre conheci as lesmas pelos lados de Ansião, nunca ouvi falar das mesmas noutro lugar e nem sequer as vi noutro lugar. São originárias de Ansião, tornando-se assim um produto da região de Sicó que agora ganha um novo destaque.
Até agora eram apenas comercializadas numa escala local, mas finalmente surgiu a ideia de comercializar as lesmas a nível regional (e porque não nacional?!). Compram-se em alguns estabelecimentos comerciais em Ansião, destacando eu especialmente aquele que mais visibilidade dá actualmente às saborosas lesmas:

Queria referir que este destaque deve-se apenas e só ao mérito desta iniciativa, bem como à criatividade na divulgação de algo bem regional (Sicó). Da mesma forma que "publicito" maus exemplos sobre questões patrimoniais, destaco os bons exemplos, há que ser coerente e dar visibilidade a ambos, pois nem tudo é mau na região de Sicó. Eu critico intensivamente, de forma construtiva, porque o valor da região é enorme nos mais variados domínios, acreditem!
Quero referir que o azinheiragate nunca aceitará "prendas" para publicitar, no bom ou no mau sentido, situações várias sobre a região de Sicó. Desta forma seja elogio, crítica ou denúncia, esta partirá apenas e só do azinheiragare, sem interferência alguma!
Voltando à questão, não gostaria de deixar passar em branco outro local onde as lesmas, há-as às resmas:
Só para terminar, obviamente queria fazer um breve reparo agora que as "lesmas" começam a ter uma nova visibilidade em termos comerciais e obviamente gastronómicos.
Penso que o facto da embalagem destacada na foto ser demasiado comercial (integralmente de plástico), não será o mais positivo. Deveria ter-se equacionado uma embalagem mais amiga do ambiente e mais enquadrada na lógica do produto regional. Quiçá mais papel e menos plástico?! Há que salvaguardar a qualidade, pelo que compreendo em parte o plástico, mas mesmo assim penso que é de equacionar no curto prazo uma embalagem "lesmática", a qual além de salvaguardar o produto seja mais uma forma de marketing territorial. Convém evitar uma embalagem que é utilizada num produto vulgar... A "lesma" não é um produto vulgar, portanto há que arranjar uma embalagem particular, caso da já referida "lesmática".
Penso também que deverão ser tomadas algumas medidas no sentido de salvaguardar estas lesmas de "copianços", permitindo assim a defesa do produto com qualidade.
Á parte disto... venham mais lesmas!
Fica o desafio aos estabelecimentos comerciais da região de Sicó que literalmente produzem "património", para que não só o continuem a fazer, bem como façam chegar os produtos regionais, como é o caso das lesmas, a um mercado mais abrangente. Façam-no de forma criativa e sábia, não é necessário gastar muito para que as coisas se façam, basta criatividade e preserverança. Com isso ganham mais e divulgam melhor a região de Sicó!
Há muitos produtos da região de Sicó com qualidade, por isso seja de Ansião, Pombal, Penela, Soure, Alvaiázere ou Condeixa (na parte referente ao carso) ponderem novas formas de fazer mais e melhor.

13.9.10

Um feroz ataque aos Instrumentos de Gestão Territorial

Será, porventura, um dos comentários do azinheiragate mais relacionados directamente com a minha profissão de geógrafo, já que o Ordenamento do Território é o meu domínio principal. Pelo mesmo facto será um comentário muito incisivo.
É uma temática estruturante para a sociedade e para todos os cidadãos, mesmo que estes não se apercebam do facto. Por isto mesmo é que faço questão de trazer agora um exemplo do quanto lesiva pode ser a acção de um cidadão com responsabilidades na questão dos Instrumentos de Gestão Territorial, nomeadamente do que se refere aos Planos Directores Municipais. Irá ser um comentário duro, mas mantendo sempre a linha de imparcialidade, seriedade e de crítica construtiva pelo qual o azinheiragate se pauta desde o seu início. Falarei também numa linguagem simples, de forma a conseguir fazer a tal ponte entre ciência e sociedade, a qual tem faltado na sociedade portuguesa.
Tendo em conta o que referi, passo a retratar a situação:
Desde que me tornei geógrafo, tenho vindo a aprender muitas coisas importantes (e continuarei aprender, sempre!), algumas das quais desconhecia, outras até as conhecia mas de forma inconsciente. Após alguns anos comecei então a compreender certas coisas que passam ao lado do cidadão comum, algo que me trouxe muitas alegrias, mas também algumas tristezas.
Os Instrumentos de Gestão Territorial, nomeadamente o Plano Director Municipal, são instrumentos que visam gerir da melhor forma um determinado território. Visam dar o melhor uso às diferentes parcelas do território. A base de qualquer actividade é sempre o território, de forma directa ou indirecta (genericamente falando), sendo portanto normal que o processo de planeamento tenha em conta estes e outros aspectos. Só assim se consegue trazer sustentabilidade aos processos de crescimento e desenvolvimento das regiões.
É e sempre será algo que incomoda certos actores de desenvolvimento, alguns dos quais pensam no curto prazo, esquecendo o médio e longo prazo. Este facto é um pormenor de extrema importância que alguns dos actores de desenvolvimento territorial se esquecem, por isso mesmo é que defendo que os autarcas deviam ser obrigados a ter noções básicas de ordenamento do território quando se propõem ficar aos destinos de um município. É uma ideia natural e racional que tem sido esquecida desde sempre.
Normalmente e em grande parte dos casos, os actores de desenvolvimento não têm formação na área das Ciências da Terra, algo que nos dias de hoje é preocupante tendo em conta as exigências cada vez maiores para a gestão de um território. Para gerir há que conhecer!
Muitas vezes acontece que um autarca tem formação em economia, algo que por si não é um problema de fundo, mas que pode vir a ser...
Em 2009 li um dos livros mais importantes no que concerne à economia ecológica (Daly & Farley), escrito por um economista sábio, o qual sabe que é a economia que tem de seguir a base territorial e não o contrário. Neste livro li uma expressão fantástica que se pode aplicar ao que irei referir já a seguir.
Este economista refere algo de importantíssimo, que a maioria dos economistas sabe o preço de tudo mas não sabe o valor de nada. Este facto pode ser muito problemático em regiões de grande valor patrimonial, como é o caso da região de Sicó.
É uma frase profunda, extremamente pertinente que urge reflectir. Infelizmente é uma frase que tem reflexos muito negativos na região de Sicó e, em especial em Alvaiázere.
Digo isto porque Paulo Tito Delgado Morgado tem vindo a demonstrar uma clara iliteracial cultural durante a sua presidência, não dando a necessária à importância do Plano Director Municipal, nem mesmo à Rede Natura 2000. Ao invés, vê estes como adversários à sua gestão, tentando fazer tudo para reverter parte da integridade dos mesmos, abrindo assim caminho aos seus planos futuros.
Há poucas semanas, este autarca mostrou isso mesmo, tentand0 promover alterações parciais a alguns artigos do respectivo PDM. Alterações que em termos concretos fragilizam, no mau sentido, algumas bases fundamentais do PDM, caso da Reserva Ecológica Nacional.
Desde que iniciou as suas funções naquele organismo público, cedo prometeu um PDM de segunda geração, algo que tendo em conta algumas falhas dos de 1ª geração até fazia todo o sentido. Dizia que queria limitar a dispersão de casas e trabalhar nos principais núcleos urbanos, de forma a garantir a segurança das pessoas e bens (incêndios florestais) e diminuir os custos com infraestruturas, caso de rede de abastecimento de água, esgotos etc. Tudo isto fazia sentido, mas meses depois começou a ver-se que era mais fácil deixar o caminho livre à especulação imobiliária e que as intenções não passavam disso mesmo. Cerca de um terço dos rendimentos das Câmaras Municipais são devidos à construção, assim já todos percebem o que estamos a falar...
O PDM de segunda geração não apareceu, a revisão parece que nunca mais veio em termos concretos, ficando pouco mais que intenções, e agora quer-se alterar certos artigos de forma a abrir portas a planos que apenas favorecem o imobiliário e os interesses financeiros. Com isto perde o território, as suas gentes e o seu património.
Pessoalmente considero isto um erro muito grave deste autarca, o qual curiosamente já teve vários problemas com o PDM, tendo tido problemas em várias situações, duas delas relacionadas precisamente com a Reserva Ecológica Nacional. Escapou a perca de mandato, derivado de duas destas situações, ainda não se percebe porquê, abafaram-se os casos.
Outro facto que me parece tremendamente negativo é que estas possíveis alterações,as quais felizmente tiveram mal aceitação de muitos alvaiazerenses, parece que mais não são do que medidas para facilitar por exemplo a construção de um hotel na Serra de Alvaiázere, em plena REN. Isto, além de facilitar a dispersão no território de casas, algo que numa área de risco de incêndio elevada, a muito elevada afigura-se como que um verdadeiro risco para as populações.
Outro facto preocupante é que tenta-se, através destas medidas propostas, ressuscitar várias pedreiras até agora desactivadas, algo que numa área de imenso valor patrimonial e de Rede Natura 2000 é absolutamente inaceitável. Lembro que este autarca já teve muitos problemas quando esteve ao lado de uma empresa de extracção de pedra, em vez de estar ao lado das populações, o caso chegou inclusivamente ao Nós por Cá, da SIC.
Este autarca não é o único a cometer estes erros, mas é o que estando à menos tempo no cargo já mais danos causou em termos de integridade do território, no que se refere às políticas de desenvolvimento territorial. Facto perturbador é que este autarca, quando questionado sobre as críticas que lhe são feitas, além de nunca as aceitar, refere que quem as faz é impedidor do desenvolvimento. Falta a cultura democrática a este autarca.
Em Outubro irei falar da ideia deste autarca em construir um hotel numa área protegida (Rede Natura 2000), em Reserva Ecológica Nacional e curiosamente numa área onde existe um monumento a dois aviadores falecidos na Serra de Alvaiázere. Como é possível, mesmo não sabendo sequer se o poderá fazer, que já haja financiamento comunitário? Será isto lógico, normal e aceitável? Para onde vai o ordenamento do território em Alvaiázere?
Os Instrumentos de Gestão Territorial não são bonecos nem marionetas para alguns brincarem ao seu gosto e vontades! Não são instrumentos para utilizar conforme as modas nem mesmo algo para instrumentalizar face a interesses financeiros que se regem em primeiro lugar pelo lucro e não pela integridade e sustentabilidade territorial.

10.9.10

Serão os ambientalistas fundamentalistas?

É uma questão que eu considero crucial em termos de discussão, por isso mesmo a sua pertinência no azinheiragate. Importa então discutir esta questão de forma imparcial.
Pessoalmente nem gosto muito do termo "ambientalista", isto, porque os lóbis financeiros que destroem o nosso património, conseguiram prolongar durante muitos anos o que é afinal um estereótipo. Interessa então desmistificar esta questão porque... é mesmo um "mito urbano".
É certo que há fundamentalistas no universo dos ambientalistas, mas não os haverá em todos os lugares? Claro que sim! Então porque continuamos a insistir que os ambientalistas são fundamentalistas? Sendo uma margem extremamente reduzida (talvez 1%) porque "continuamos" insistir na mesma tecla?
A razão é simples, continuamos a insistir ouvir aqueles pseudointelectuais que falam parcialmente sobre os "ambientalistas", tentando denegri-los. Os pseudointelectuais fazem-no não porque os "ambientalistas" o sejam, mas sim porque estes conseguem afectar gravemente muitos dos planos de lóbis predatórios que a cada dia que passa destroem um património que é de todos, seja património natural, cultural ou construído.
Estes lóbis dizem que os "ambientalistas" querem que voltemos à idade de pedra, pois de acordo com eles os "ambientalistas" vivem em grutas, não fazem a barba e andam sempre a pé. Sei que até é divertido ouvir esta e outras afirmações absurdas, mas afinal estamos a falar de coisas sérias.
Ser-se "ambientalista" não é viver na idade da pedra, é sim viver no século XXI com consciência daquilo que fazemos e dos impactos que a nossa acção poderá ter no nosso quotidiano e no futuro das próximas gerações.
É uma questão de ter a percepção que coisas simples podem ter um impacto muito negativo ou muito positivo, dependendo da nossa atitude perante a vida, nada mais. Lembre-se que a Terra já existia muito antes de nós e continuará a existir muido depois de nós, resta decidir se queremos dar continuidade à nossa espécie e isso é possível vivendo de forma consciente e responsável, sem radicalismos nem fundamentalismos, ao contrário do que os lóbis dizem...
Poderia dar vários exemplos para vos mostrar que os "ambientalistas" além de serem pessoas normais, são sim pessoas racionais, mas darei apenas um exemplo claro e conciso do que falamos afinal.
Um "ambientalista" quando toma um banho curto (não tomando banhos longos), tapa o ralo da banheira de forma a que a água se mantenha ali. Quando acaba o banho, além de ter gasto pouca água, ficou com umas dezenas de litros de água que poderá utilizar no autoclismo.
Imaginem a seguinte situação:
- Uma família "não ambientalista" que gasta todos os dias uns 750 litros de água para tomar banho e que não se preocupa em ela se perder no final. Ao final do mês, gastou 22500 litros de água potável. Gastou também no autoclismo uns 1500 litros. Temos portanto 24000 litros de água.
- Uma família "ambientalista" que gasta todos os dias uns 300 litros de água para tomar banho e que tapa o ralo para a água não se perder. Ao final do mês, gastou 9000 litros de água potável. Não gastou água potável no autoclismo nada, pois utilizou a água dos banhos.
Entre a família "não ambientalista" e a família "ambientalista" há uma diferença de gastos de 15000 litros a desfavor da primeira. Entra aqui a questão da consciência, será que as pessoas não sabem que têm mesmo de poupar um recurso escasso? Possivelmente muitas não querem saber, mas vamos a outra questão:
- No final do mês, quando se paga a conta da água, a família "não ambientalista" paga um valor maior de água, algo que tendo em conta a água barata que temos até não será um problema. Mas aqui entra uma nova variável, a indexação das taxas de lixo ao gasto da água. Aí enquanto que a família "ambientalista" paga talvez uns 20 euros, a família "não ambientalista" para uns 45 ou 50 euros! Multipliquem isto por 12 meses e temos assim quase 300 euros de poupança anual da família "ambientalista", só no que concerne a esta poupança. Agora imaginem poupar (sem ter necessidade de cortar alguma coisa no que é essencial) em boa parte das coisas que fazemos em casa. Dá que pensar, não dá?
Multipliquem isto por milhões de lares e imaginem o que se perde de forma completamente evitável todos os anos...
É disto que estamos a falar no que se refere ao ser-se ou não ambientalista. Não é uma questão redutora de se gostar do planeta, é sim de se gostar do planeta que nos sustenta, da nossa família e das suas finanças, e de ter a noção que em outros países mata-se pela água que muitas vezes deitamos fora no puro desperdício. É acima de tudo ser-se racional e consciente, nada mais. Há muito mais a dizer, mas penso que com isto o estereótipo do "ambientalista" já começa a ser desmontado, para desespero dos lóbis financeiros predatórios. Uma sociedade informada é menos vulnerável aos ataques daqueles que só pensam no dinheiro e no curto prazo.
Resta agora pensar bem se o fundamentalista não será aquele que gosta de gastar água potável no autoclismo....
Há já alguns bons livros que recomendo sobre esta temática, brevemente farei referência ao mesmo, esperando que agora alguns de vós comecem a reflectir sobre esta e outras questões. Felizmente são cada vez mais as pessoas informadas que já começam a saber algo sobre esta temática.

6.9.10

Água: um recurso a proteger a qualquer custo!


Vale mais do que petróleo, já que sem ela ninguém consegue viver, mas há ainda quem, além de ignorar a sua importância, polua gravemente os aquíferos onde ela está armazenada.
A água é um recurso e um património de valor inestimável, infelizmente hoje em dia ainda vemos situações que não podem passar impunes, em que alguém polui sem se importar com as consequências para as populações. Há ainda quem pense que pode fazer o que bem entende em locais ermos da região de Sicó, mas felizmente estes mesmos locais ermos conseguem-se encontrar e aí a coisa começa a correr mal para quem comete atentados ambientais gravíssimos.

O que vocês vêm na foto não é água, são sim dejectos líquidos que alguém com uma pecuária se lembrou de colocar num local ermo, depois de abrir um buraco, mesmo sem licença alguma, mesmo sem algum tipo de tratamento. Em plena Reserva Ecológica Nacional e numa área cársica, algo que piora a situação, dado a fácil infiltração destes resíduos, que em poucas horas podem viajar dezenas de km e poluem os aquíferos por muitos anos, tornando um recurso imprescindível em algo que não pode ser aproveitado...
A denúncia surgiu e o resultado não deverá ter sido bem aceite por quem fez o estrago, pois afinal os efluentes pecuários não tinham sido encaminhados para o local próprio e não havia licença para o tratamento dos mesmos. Abriu-se simplesmente um buraco no meio do nada e esperou-se que ninguém denunciasse...
Mas alguém ali passou e ficou envergonhado com o que viu, como não teve coragem de denunciar, mesmo sabendo que o podia fazer de forma anónima, avisou-me e assim lá fui eu tratar da situação.
Este é um exemplo que pode ser falado porque facilmente as pessoas compreendem a gravidade do sucedido. Não costumo falar destes casos porque por vezes há situações que não são compreendidas pelos cidadãos, falta o conhecimento (que tento incutir através do azinheiragate), mas abri aqui uma excepção para vos mostrar o que se deve fazer quando se passa algo de tão grave e lesivo para todos nós. Lembrem-se que a água da torneira vem de algum lado e caso ela esteja poluída....
Não se acanhem quando virem situações graves, denunciem!
Em casos ligeiros deve-se entrar com a pedagogia e avisar, mas em casos gravíssimos como este não há pedagogia possível, resta denunciar. Felizmente que cada vez mais este gesto de cidadania é encarado com normalidade e aplaudido, estão cada vez mais longe os tempos em que quem denunciava é que era visto como o mau da fita...

1.9.10

Apreciar a paisagem de Sicó nos miradouros....


Pois é, duas semanas depois estou de volta ao azinheiragate. Peço desculpa ao público mais atento pela demora, mas precisei de uns dias desligado da corrente para recarregar baterias e trabalhar a saúde mental. Quando trabalhamos em tantas frentes torna-se complicado ao final de algum tempo...

Antes de começar mais um comentário, gostaria de fazer uma pequena nota sobre algo que li hoje mesmo, logo que cheguei. O cancro de Portugal, chamado incêndios florestais, continua impune, e hoje li algo que confesso que não esperaria. Um grande incêndio ocorrido a alguns dias atrás na região de Sicó (além de outros), mais precisamente em Alvaiázere, foi, segundo notícia vinculada pela imprensa, ateado por um cobardolas que trabalhava na construção do.... parque eólico de Alvaiázere. Infelizmente mais uma vez eis um triste exemplo de más escolhas, estando eu para ver que medidas o autarca local irá tomar contra o empregador de tal criminoso pirómano. Pessoalmente considero que moralmente há que tomar medidas. Até agora nada ouvi do autarca sobre o sucedido, algo que até é compreensível tal o incómodo.

Indo agora ao tema com que volto às questões do património, destaco a questão dos miradouros que podemos encontrar na região de Sicó. O miradouro que vêm na foto é apenas um de vários, pessoalmente conheço 6 deles, tendo utilizado alguns há alguns anos como base para vigilância a incêndios florestais.

O projecto que levou à construção destes miradouros foi financiado por fundos comunitários (não sei se na totalidade ou parcialmente) e tem um problema comum a muitos projectos deste género, é um projecto chave na mão.

Não compreendo como é que se faz um miradouro que não se enquadra na paisagem, que causou feridas à paisagem. O objectivo foi nobre, mas mais uma vez mal conseguido. Infelizmente são ainda poucos os que usufruem destes equipamentos, mais facilmente muitas famílias vão aos centros comerciais a Leiria e Coimbra com os filhos do que vão contemplar a paisagem uma ou duas horas ao fim de semana...

Além disso muitos deles são mais utilizados para actos de vandalismo e actos ilícitos, ou então para levar a mota e fazer uns peões no largo...

Não se apostou em miradouros naturais, os quais que com painéis de leitura da paisagem fariam sucesso. Obviamente que seriam inicialmente vandalizados por aqueles que não têm mais nada que fazer, mas as mentalidades mudam e evoluem, temos é de trabalhar para isso. Este é o objectivo final do azinheiragate, mudar as mentalidades para melhor informando e obviamente criticando construtivamente certos aspectos....

Apesar de mal estar feito, no que concerne a estes miradouros, houve uma boa ideia há alguns meses, a de colocar mesas e bancos de madeira para as pessoas poderem fazer o seu pic-nic num local bem diferente. Sair de casa e usufruir da Natureza de Sicó é uma necessidade premente, só assim se poderá dar o devido valor à região.

Infelizmente também já notei que em alguns casos alguns bancos e mesas foram... roubados, é a triste sina. Seria interessante investigar quem rouba, pois é algo que não é assim tão complicado!

Espero então por novidades neste domínio, nomeadamente na criação de painéis de interpretação. As câmaras e/ou juntas de freguesia podem e devem apostar nesta questão, com ou sem ajuda das universidades!

Para finalizar queria apenas destacar que o mês de Setembro será um mês particularmente duro em termos de críticas, pois há coisas que têm de ser faladas a bem da região, por mais que incomode. Há dois casos em que serei muito duro tendo em conta o que está em jogo em termos de património e ordenamento do território....

Só um extra, não posso esquecer também o facto de os amigos brasileiros serem cada vez mais leitores do azinheiragate, algo que me faz muito feliz, já que assim posso divulgar a região de Sicó num país que tem laços históricos com Portugal e que é o país com muito potencial.... Daqui a algum tempo irei passar uma temporada nesse belo país por motivos profissionais, estou ansioso e já tenho alguns contactos priveligiados!

Em terceiro lugar surgem os amigos norte-americanos (ou emigrantes ali residentes), havendo também muitas outras nacionalidades, caso de espanhóis, franceses, ingleses, italianos, angolanos, alemães, suiços e moçambicanos. São estes os públicos mais atentos, mas os portugueses são naturalmente a grande maioria, que conjuntamente com os brasileiros representam uns 95% do total apurado.

O meu muito obrigado pela atenção ao azinheiragate, continuarei a tentar fazer algo de bom na defesa o promoção da região de Sicó, dentro de fronteiras e além delas!