28.11.13

Serra do Anjo da Guarda?


Confesso que fico algo incomodado quando oiço alguém dizer "Serra do Anjo da Guarda", não por si mesmo, mas pelo facto da Serra do Anjo da Guarda não existir oficialmente, tratando-se "apenas" de uma forma de dizer de algumas pessoas. Existe sim a Serra da Portela, que há vários anos e de forma errónea algumas pessoas denominam como Serra do Anjo da Guarda, afirmando que é esse o seu nome oficial.
Enquanto geógrafo não posso deixar passar esta questão, já que se impõe um esclarecimento cabal de que esta serra é oficialmente a Serra da Portela. Há sim algumas pessoas que a tratam por anjo da guarda, e outras por serra do monte da ovelha.
Mais incomodado fico quando oiço e vejo psssoas e entidades a difundir este equívoco geográfico, sinal de pouco esclarecimento sobre a situação. Espero que com este comentário de esclarecimento comecem a corrigir este erro comum nos documentos e plataformas digitais da sua responsabilidade.
Deve ser curioso uma pessoa de fora, munida de uma carta militar, num passeio qualquer, ir em busca da Serra da Portela e, ao perguntar por esta, apenas os mais velhos saberem onde é, pois alguns dos mais novos e outros ainda pouco informados, sabem apenas onde é a Serra do Anjo da Guarda, serra esta que não existe factualmente...
Fica então o esclarecimento.
Para quem tem dúvidas, aqui fica um excerto, digitalizado, do meu exemplar da Carta Militar nº 275:

Fonte: IGEOE

Como podem observar, com base na cartografia oficial, de Anjo da Guarda existe apenas o miradouro e a capela, portanto agora não há desculpas para utilizarem outro topónimo que não "Serra da Portela". Uma das melhores formas para conhecer o nosso território é mesmo comprar as cartas militares respectivas (eu tenho as de Ansião e há anos atrás ofereci outras (4) aos Bombeiros Voluntários de Ansião). São baratas, elucidativas e não induzem em erro. 
Agora façam-me um favor, especialmente os ansianenses, difundam este esclarecimento, por favor! Serra da Portela, conhecida por alguns como anjo da guarda ou por monte da ovelha.

24.11.13

Sicócartoon: crónica das espécies autóctones


Uma coisa é a teoria, outra coisa é a prática. Uma coisa são as políticas que se anunciam, outra coisa são as políticas que se concretizam. Em plena semana da reflorestação nacional, urge pensar como é que tendo a região de Sicó mais valias extraordinárias no domínio da floresta e da biodiversidade, como é o caso da Rede Natura 2000, através do Sítio Sicó/Alvaiázere e da maior mancha de carvalho cerquinho da península ibérica, esta mesma região continua a privilegiar, na prática, o eucalipto. Parafraseando um colega meu, a Rede Natura 2000 e o carvalho cerquinho, entre outras espécies, são meros verbos de encher, acrescentando eu verbos de encher chouriços.
É certo que todos vamos vendo iniciativas que visam plantar espécies autóctones, no entanto muitas destas acções não são consequentes com as estratégias locais e regionais, sendo até, por vezes, mero greenwash, como já se assistiu em larga escala em Ansião. Noutras paragens, segue-se a mesma linha e igualmente com pés de barro.
Já me tinham proposto este cartoon há uns meses, tendo eu guardado o mesmo para o momento certo, este. Um "mero" cartoon torna-se agora uma imagem poderosa sobre a qual importa reflectir. Agradeço mais uma vez a "SC" pelo cartoon.
Em geografia damos sempre um exemplo sintomático daquilo que pode representar um perfeito engano. Imagine-se uma pequena área de floresta autóctone, imagine-se que, depois de destruída, ali surge um empreendimento imobiliário, o qual se diz verde e, para o demonstrar, cria uma extensa área de relvado (sem valor ecológico algum) em redor dos prédios ou vivendas. Será que um relvado é mais ecológico do que uma área outrora natural e que foi destruída para dar lugar à especulação imobiliária?
Voltando à realidade, para que é que nos continuamos a deixar enganar por acções que são meros verbos de encher? Porque é que a esmagadora maioria de nós se lembra das espécies autóctones num dia em especial, mas no resto do ano esquece-se das mesmas? Quantos de vós são consequentes no que dizem, tal como eu? Porque é que aceitamos que nos "ofereçam peixe em vez de lições de pesca"? E porque é que gostamos de ser "enganados" durante 364 dias por ano? (ou 365 dias em anos bissextos?). Enquanto nos deixarmos manipular por interesses políticos e económicos, as coisas continuarão na mesma, daí ser perfeitamente natural que, por vezes, se promova acções de reflorestação em áreas ardidas, precisamente aquelas que arderam também devido ao abandono dos terrenos e respectiva falta de limpeza, devido à incúria de políticas que manipulam mapas de risco de incêndio e que votam estas mesmas áreas, valiosas do ponto de vista ecológico, ao desprezo. Teimamos em olhar para o que nos apontam, deixando de olhar a coisa no seu todo, facto altamente problemático.
E não, este não é um comentário azedo, é sim um comentário realista perante uma realidade complexa. O cenário que a política tenta pintar é uma farsa, a qual importa desmontar, daí esta comentário cheio de ironia e sátira política. Quem está por dentro da realidade, compreenderá este meu comentário.
Há interesses políticos e económicos, ambos predatórios, que aproveitam descaradamente a boleia de iniciativas meritórias como são a Semana da Reflorestação Nacional e o Dia das Espécies Autóctones.
Quanto às iniciativas meritórias, felizmente que estas têm ganho força, algo que representa uma mais valia imensa nesta dura luta contra visões de desenvolvimento estereotipadas, que sacrificam a qualquer custo o nosso património florestal. Não é por acaso que poucos meses após o Sobreiro ter sido considerado Árvore nacional, as leis que protegem esta mesma árvore estão em vias de ser aligeiradas. Isto já para não falar de outras espécies autóctones, caso do carvalho cerquinho e das azinheiras. Tudo está a ser feito pelos interesses económicos predatórios para que as barreiras que protegem as espécies autóctones sejam derrubadas. Se não preservarmos o que já temos, de pouco vale andarmos a plantar árvores que à partida já estão condenadas a prazo, é uma realidade que ninguém conseguirá escamotear.
Quanto ao dia de ontem, o dia das espécies autóctones, fiz parte dele, plantando 40 carvalhos alvarinhos em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês. Porque não o fiz na região de Sicó? Simples, em primeiro lugar porque não estava por ali, depois, porque já ali plantei algumas dezenas e todos eles foram arrancados por caçadores...

20.11.13

Carroça-te Sicó!


É daquelas fotografias que falam por si. Há momentos que gosto de registar para a posterioridade e, por vezes, utilizar em alguns dos meus comentários aqui pelo azinheiragate.
Não me admira que o (muito) que resta desta carroça esteja brevemente ali num qualquer jardim de uma casa, como que se de um troféu se tratasse. São vários os exemplos de objectos como este que populam os jardins das casas de pessoas que pensam que, assim, dignificam o objecto em causa, que pensam que a utilidade dele é estar ali parado, sem utilização, à chuva, à espera que aquele do dia em que já não sirva sequer para mostra pseudo-etnográfica e siga para lareira.
Quantos são aqueles que pegam nesta carroça e a recuperam, dando-lhe utilidade, embora não a utilidade circense que, por vezes, se vê? Quantos são aqueles que a recuperam e a utilizam, nem que seja alguns fins de semana, com os familiares? Claro que isto significa que é preciso o burrico para puxar a carroça, mas estou apenas a desconstruir uma realidade e a construir uma outra. Sim, isto é possível, no entanto o pessoal contenta-se com a memória do objecto, daí a lógica do objecto no jardim à frente da casa, para toda a gente ver. Eu só me contento com a recuperação da carroça, com a vinda do burrico, com o regresso à terra e aproveitamento dos terrenos abandonados. Viver com calma e qualidade de vida é o mais importante. 
Já repararam como daquelas coisas que até gostamos de pensar que queremos fazer, raríssimas são aquelas as que levamos à prática? Somos levados por uma sociedade formatada, onde o comprar, comprar e comprar é que conta, onde a lógica do pseudo-desenvolvimento surge pelo consumismo e só se avança se se consumir mais e mais. É um modelo esgotado que continuamos cegamente a seguir, muitas vezes não pensando nos factos e nas consequências.
Não pensamos em recuperar nem mesmo em inovar. Há ideias para todos os gostos, desde o recuperar a bela da carroça, comprar o burrico e dar uso à carroça, dignificando o burrico e dando-lhe as devidas condições. Passeios de carroça, asinoterapia, são apenas alguns exemplos mais comuns. Há outras ideias, que assim de repente me lembro, mas pensando melhor, vou guardar a ideia que tive agora mesmo para um projecto a desenvolver nos próximos meses. Um brainstorm apanhou-me desprevenido, confesso... 
Voltando à carroça, já pensaram que quanto mais depressa andamos, menos tempo temos para nós e menos felizes somos? Hoje em dia falta algo de essencial, o parar para ponderar calmamente. Uma das melhores coisas que poderíamos fazer ao passar por ali, no local da foto, seria parar e entrar na carroça, que nem máquina do tempo. Sentados ali as ideias fluem de uma outra forma, isso é certo, já pensaram nisso? E que tal um destes dias, ao se depararem com este ou outro objecto etnográfico, pararem ao pé dele? Parem, mexam e sintam a alma do objecto, pois pode ser que fiquem inspirados e comecem a entender que este e outros objectos representam algo de fundamental. Pode ser que também oiçam o grito de revolta que estes objectos  desprezados conseguem verbalizar sem que possam sequer falar...
E já que falei em máquina do tempo, já pensaram que a têm mesmo à vossa frente?!

15.11.13

Sobre o pedido de estratégia para territórios de baixa densidade...


Por motivos éticos, não pude comentar uma notícia que li em Setembro último, num Jornal local do concelho de Ansião, mais precisamente no Jornal Horizonte. A notícia em causa tinha como título "Rui Rocha pede outra estratégia para territórios de baixa densidade".
Agora já não há impedimentos a um comentário que tanto me diz enquanto cidadão e mais concretamente enquanto profissional ligado à questão territorial. 
Confesso que fiquei algo perplexo com as afirmações de Rui Rocha, primeiro porque mais do que muitos este deveria conhecer profundamente matérias como o ordenamento do território e políticas territoriais, conhecimento este que me parece diminuto. É por estas e por outras que sempre defendi, enquanto profissional, que os autarcas fossem de alguma forma "obrigados" a ter formação básica nestes domínios, de modo a que estivessem realmente capacitados para o autêntico desafio que é ser-se autarca. Para bem gerir um território é necessário antes do mais perceber o que é o ordenamento do território, já que só assim se pode compreender no seu todo o que é um território. Só depois de entender isto se consegue definir estratégias e rumos adequados.
Não me identifiquei, de todo, algumas afirmações de Rui Rocha, nomeadamente:

1- "... lutado com muita energia e motivação contra as adversidades e vencido alguns dos desafios que se apresentam aos territórios de baixa densidade demográfica, pela igualdade de oportunidades..."

2 - "... deveria equacionar um conjunto de medidas de descriminação positiva que em primeira instância sejam impulsionadoras de captação de investimento" como por exemplo "apoios à contratação e benefícios fiscais para a instalação ou deslocalização de empresas" pois "é urgente encontrar formas de captação de pessoas para estes territórios"...

Quanto ao primeiro ponto, diria que, pelas palavras, quase parece que há ali uma "teoria da conspiração", mais parecendo que "tudo" o que aqui existe é negativo, que é "tudo" adversidade e que é preciso igualdade de oportunidades, senão vejamos. E não, não estou a exagerar, analisem bem o conteúdo do discurso. Quando se vive num território ímpar, não é preciso lutar com muita energia e motivação contra as adversidades, pois a energia e a motivação já devem existir/fluir de um modo natural.
Eu não vejo as adversidades, vejo sim imensas oportunidades num território pequeno, mas multifacetado em termos patrimoniais. Património natural, construído, cultural, etc, etc. 
Incomoda-me que esta espécie de sentimento de "má sorte" esteja presente no espírito dos nossos autarcas. Este e outros mais deveriam estar orgulhosos de viver num território tão rico, mas, pelo discurso com evidente carga negativa, não me parece que assim seja na sua plenitude. Publicamente este e outros autarcas deveriam afirmar taxativamente que este é um território ímpar. Infelizmente o discurso tem muitas vezes uma carga negativa nada desejável, tal como neste caso, parecendo que temos azar em não ter aqui shoppings e afins...
Igualdade de oportunidades? Então se eu tenho uma qualidade de vida superior nesta região, se tenho o que preciso, se tenho tudo o que é importante à minha mão, para que vou falar em igualdade de oportunidades? O pessoal que vive nas cidades é que se deveria queixar da falta de oportunidades, pois estes estão francamente limitados na sua acção. Eu aqui tenho terra, tenho paisagem, tenho património, tenho cultura, tenho associativismo e tantas outras coisas mais!
Quanto ao segundo ponto, para que precisamos nós de medidas de descriminação positiva se já estamos num território mais do que positivo, num território que tem muito mais do que outros territórios? Será que este autarca quer dizer que precisamos de mais fábricas? Então e o emprego existe apenas com fábricas e zonas industriais? Especialmente os economistas vêm a questão do desenvolvimento territorial como que se de zonas industriais se tratasse. Meras ideias estereotipadas que o tempo acabou por contrariar. O que precisamos é de criatividade que potencie o muito que já temos, mas que se tem mantido num estado letárgico, sem aproveitamento algum na maior parte dos casos. Nós só precisamos de mostrar as mais valias desta região, algo que tem faltado a toda a linha. Resumindo, precisamos sim de indústrias criativas.
No discurso de Rui Rocha eu não vejo muita esperança no futuro, vejo sim uma espécie de "má sorte" por ter de viver num território tão desprovido de shoppings, de betão e de alcatrão. Betão e alcatrão não são sinónimos de desenvolvimento territorial.
Sobre as formas de captar pessoas para estes territórios, em primeiro lugar é preciso tomar medidas para as pessoas que já cá vivem, não irem daqui para fora, pois isso é uma realidade que se teima em menorizar. É preciso estancar a hemorragia! Depois, e só depois, importa manter as belas características de toda esta região, pois é isso que pode atrair pessoas que queiram viver ou trabalhar neste território. Primeiro garantir os que cá estão, depois os que não estão, mas querem vir. Quem é que vem para aqui em busca de um cenário semelhante a um qualquer outro concelho, estandardizado? A diferenciação é que cria a atractividade. As más políticas, que têm desvirtuado este território, têm levado ao abandono desta região e isso também é culpa dos  autarcas, que teimam em sacudir a água do seu capote. Como é que se pode defender uma região e as suas mais valias e depois  desenvolver políticas que vão contra boa parte destas mais valias? Haja humildade em reconhecer os falhanços das últimas décadas. Desenvolvam-se políticas "home made", no sentido local, claro, pois além de tudo o mais essas mais facilmente estão dissociadas dos grandes interesses económicos que desvirtuam este nosso país. Isto mesmo que, a nível local, também estes existam, mas estes últimos são mais fáceis de lidar.
As estratégias para territórios de baixa densidade já existem, o problema é que não encaixam nas ideias estereotipadas dos nossos autarcas, daí toca a pedir outras medidas, prolongando a demagogia crónica. O território não precisa de se adaptar às características dos autarcas, estes é que se têm de adaptar às características do território, conhecendo-o na sua plenitude.
Já existem estratégias, basta ler o que já existe. Que leiam livros sobre estas matérias, será que custa assim tanto? Eu empresto livros se for preciso.
Além disso, Rui Rocha já deveria saber que em primeiríssimo lugar, as políticas para territórios de baixa densidade são de tipo bottom up e não o contrário. Com as suas afirmações fica, na minha opinião, à vista que este pensa que quem deve ordenar é o estereótipo up bottom, já que em vez de criar políticas locais concretas para este território, pede-as. É da sua competência criar estas políticas para este território, de acordo com as suas especificidades e imensas riquezas. Mas para isso há que meter para trás das costas ideias estereotipadas e há que encontrar muitas boas ideias que pairam por este território nas cabeças de muita boa gente, com escola, sem escola, mas com sabedoria. As políticas para este território devem partir daqui mesmo, só assim estas terão sucesso. Não quero projectos chave na mão feitos por outsiders, erro comum por estes lados. Não quero macrocefalia, quero sim participação pública (verdadeira...).
O único concelho, nesta região, onde se tem tentado algo do género é Penela, mas parece que muitos andam desatentos.
Sinceramente ando farto de politiquices, de ouvir sempre as mesmas lamentações e vitimizações tipo "vivo num território encravado" e afins, daí com o azinheiragate tentar mostrar que há caminhos a trilhar, os quais apesar de não interessarem aos lóbis do costume, interessam às populações. O resto é conversa fiada...

10.11.13

Viagem ao centro da serra: condeixamegalossauro



Muitos de nós até costumam passar mesmo ao lado deste monstro, ao chegar ou passar por Condeixa, no entanto raros são os que param para reflectir sobre este predador de paisagens.
Confesso que esta ideia de criar as viagens ao centro da serra me tem surpreendido, não pela ideia em si, mas pelo impacto brutal que cada vez mais me venho a aperceber que estas pedreiras têm na região de Sicó. Enquanto cidadão e enquanto geógrafo já tinha uma ideia base, mas nada nos pode preparar para uma experiência como esta tem sido. Ir ao encontro de cada um destes monstros e palmilhar a envolvência destes é algo de avassalador, isso vos posso garantir.
Este é o 4º episódio da "Viagem ao centro da serra", o qual dá continuidade à minha expressa vontade de vos sensibilizar perante um problema tão grave como este o é. Se são precisas pedreiras? São, mas não tantas. Ordenamento exige-se, chega de especulação de um bem comum!
Importa que todos pensem porque é que não se investe na reutilização de materiais da construção, tal como se faz noutros países, que tanto gabamos quando nos convém. Importa que todos pensem porque é que naqueles países que tanto gabamos, se paga um imposto directo, por tonelada de pedra extraída (entre 1,5 a 2 euros), enquanto no nosso pobre país não se paga nada e nem se recebe uma renda condigna, já que muitas destas pedreiras estão em baldios. Contrapartidas, o que é isso?
Não me vou alongar muito nas palavras, já que como alguém disse, uma imagem vale mais do que mil palavras. Digo apenas, e para finalizar, que duas imagens valem mais do que duas mil palavras...

5.11.13

Um cenário medronho na região de Sicó


Lembro-me de, nos tempos de escola, comer uns quantos medronhos nos muitos medronheiros que populavam a mata municipal de Ansião. A escola era (e ainda é) ali mesmo ao lado, portanto nada mais natural do que, nos intervalos ou horas vagas, esticar o braço e pegar uns quantos medronhos. Havia pessoal que abusava, mas eu comia apenas meia dúzia. Hoje em dia há menos medronheiros por ali...
Lembrei-me de abordar esta questão por dois motivos, os quais estão encadeados. Há alguns dias fui dar um breve mergulho pelo território Sicó, até que me deparei com uns medronheiros muito solitários. A cor vermelha não enganava e o carro lá teve de parar para uma investida no medronho. Uma semana antes tinha feito o mesmo num outro local, de onde apanhei quase 1kg para fazer doce de medronho.
É um facto que a área afecta ao belo medronheiro tem sido reduzida nas últimas décadas, facto que considero preocupante, ainda mais sabendo que esta derrota é uma vitória para o eucalipto.
Poderia ter tirado esta foto com os medronhos na árvore, sendo assim uma fotografia mais "estética", mas preferi tirar a foto com os medronhos no chão, votados ao abandono e desprezo. Não serão estes um recurso que temos ostracizado em prol de um futuro dito desenvolvido?
Porque é que, sendo esta uma região tão rica sobre os mais variados domínios, teimamos em deixar estas mais-valias a apodrecer no chão? Fica a questão, para reflexão...