Há poucos meses tive uma experiência que me mostrou que as coisas estão feitas de forma a beneficiar alguns e prejudicar a maioria. Mas vamos ao início da história. Foi já há mais de vinte anos que comecei a reunir o papel usado, de forma a o levar directamente a uma fábrica que recicla o papel usado. Fi-lo não pelo dinheiro, que é pouco, mas sim pela minha forma de estar, ou seja levar os resíduos onde sei que eles são, de facto reciclados. Desde que comecei a fazer isto, bastava comprar um documento na papelaria e depois entregar na fábrica, ao pesar o papel. Depois de descarregar recebia o dinheiro do papel. Normalmente levava uns 300 kg por ano, ou seja 15 euros. Eis que há poucos anos um qualquer iluminado achou que isto era muito dinheiro e havia que dificultar a vida de quem levava os resíduos à fábrica, daí terem começado a exigir uma guia electrónica, só disponíveis a alguns. Este facto fez com que muitas pessoas deixassem por exemplo, e falando noutro tipo de resíduos (ex. ferro) apanhar ferro deixado no monte, não continuando a levar o ferro para a reciclagem. Muitas pessoas não se apercebem do impacto positivo que estes pequenos recolectores tinham.
Não sei se esta foi a última vez que fui levar papel à fábrica, mas posso dizer a chatice que foi. Como tinha acumulado muito papel (fruto de vários factores), acumulei cerca de 1700 kg de papel. Tive de pedir a um grande amigo a carrinha, a outro que me guardasse o papel num barracão e depois tive de me inscrever na plataforma SILIAMB para conseguir uma guia de transporte de resíduos. Entregue o papel, fiquei a saber que não pagam na hora, pois terei de emitir uma factura (como se não sou colectado ou tenho empresa?). Isto é absolutamente ridículo!!! Já passaram alguns meses e ainda não vi a forma de resolver isto, de forma a receber o dinheiro e, com isso, pagar o empréstimo da carrinha e o aluguer do barracão. Julgo que brevemente o conseguirei fazer, mas isto é sintomático de como as coisas estão feitas de forma a beneficiar os grandes interesses e a prejudicar os pequenos recolectores que fizeram até há pouco tempo um trabalho que mais ninguém fazia, não por dinheiro mas sim pela consciência de saber que os resíduos iam, de facto, para reciclagem. não para aterro.
E já que estou nesta linha de pensamento, não estranho o facto de há 2 anos ter encetado contactos para publicar um livro sobre a temática da reciclagem e resíduos e não ter conseguido apoios. Claro que há interesses que não querem que o paradigma mude. Óbvio, pois podiam ver as pessoas a começar a pensar diferente...