29.3.12

Há badalhocos em Sicó: crónica do Limpar Portugal 2012


Dois anos depois de ter sido coordenador concelhio do Limpar Portugal, em Ansião, voltei a participar activamente na iniciativa Limpar Portugal, mas desta vez enquanto participante individual. Foi constrangedor ver a falta de divulgação que esta bela iniciativa teve este ano, ao contrário de 2010, no entanto isso não me fez esmorecer. Fiquei igualmente muito desapontado ver a apatia de autarquias que em tempos tanto apostaram nesta iniciativa e que agora não o fizeram. Isto já para não falar do caso Alvaiázere, que nada fez, ora em 2010, ora no presente ano.
Desapontamentos à parte, houve algumas alegrias no último sábado, dia 24, uma delas foi a de ter participado activamente no Limpar Portugal 2012, tendo-me associado à acção promovida pelo Grupo Protecção Sicó, na freguesia de Abiúl, Pombal.  


Como podem ver pelas fotos, a acção do Grupo Protecção Sicó ocorreu em algumas cavidades da freguesia de Abiúl, mais precisamente num algar e em dois sumidouros. Foram 15 os voluntários, tendo os mesmos contado inicialmente com a ajuda de 6 elementos dos GIPS (GNR).
Foi realmente uma experiência diferente, pois foi a primeira vez que participei numa iniciativa dedicada exclusivamente à limpeza de cavidades na região de Sicó. 
O resultado, esse é que foi diferente do que eu esperava, para pior...


Em apenas 3 cavidades foram retirados cerca de 300kg de resíduos, dos quais eu destaco:
- 15 litros de óleo usado, que estavam nos recipientes que podem ver na primeira fotografia;
- Um telefone;
- Um conjunto de talheres;
- Garrafas de vidro (resmas delas...);
- Plásticos vários;
- Roupas e calçado;
- Escapes de motorizada;
- Quadros de bicicletas (3);
- Várias ossadas de animais (burro; porco; cães);
- Fogões;
- Etc, etc

É triste ver que ainda há muito trabalho no que concerne à mudança de mentalidades. É uma realidade sobre a qual muito há a fazer, da qual ninguém se pode demitir, seja pessoa, entidade pública ou privada, já que todos têm culpa no cartório. É preocupante saber que havendo centenas de cavidades na região de Sicó, haja "pessoas" que despejem nestas mesmas cavidades resíduos altamente poluentes, caso do óleo usado, com a agravante de estarmos em pleno carso, portanto altamente vulnerável a poluição criminosa.
Mas nem tudo é mau, pois afinal ainda há pessoas e entidades que não fecham os olhos a esta triste realidade e que pugnam por uma sociedade melhor. O Grupo Protecção Sicó é uma dessas boas referências na região de Sicó, esperando eu que outras Associações sigam este bom exemplo.
Para finalizar, quero (re)lembrar a todo/as que quem perde com a realidade que destaquei atrás não é o ambiente, esse mais tarde ou mais cedo assimila tudo, quem perde somos apenas e só nós, pois a poluição afecta-nos a nós e especialmente aos mais jovens!

25.3.12

Os Fornos de Cal de Sicó


Antes de iniciar mais este meu comentário, queria agradecer a dois amigos meus, um que me indicou a existência de um Forno de Cal que eu desconhecia, e outro que foi comigo ao terreno mostrar a localização exacta do mesmo. Não vou indicar nomes, mas sei que muito provavelmente os dois vão ler este comentário, por isso obrigado!
Obviamente que também não vou indicar a localização deste Forno de Cal, digo-vos apenas que é virtualmente impossível de se dar com ele sem falar antes com quem sabe.
Quando fui visitar este belo Forno de Cal, deparei-me com um outro, mas já totalmente arrasado. Este, na foto, além de estar inteiro, tem um enquadramento fabuloso, único nos vários que eu conheço.
Poderia falar de outros fornos de cal, daqueles que "toda a gente" conhece, mas não é o meu estilo, gosto sim de falar sobre tesouros como é este Forno de Cal. 
Não sei quantos fornos de cal já existiram na região de Sicó, sei apenas que foram muitas dezenas. sei também algumas zonas onde os mesmos se concentravam, zonas estas agora perdidas no tempo e envoltas em mato. Por mais que tente compreender, não consigo perceber como é que temos tantas riquezas na região de Sicó e continuo a ouvir aquele discurso miserável do "não temos nada aqui", ou o do "somos uns pobres diabos, pois não temos recursos"(já disse isto muitas vezes e não me canso de o fazer!). Os Fornos de Cal são apenas um dos muitos milhares de variáveis que poderiam compor a equação que é o desenvolvimento territorial. Ao invés, enchem esta equação de variáveis estranhas que acabam por dar maus resultados, as tais versões estereotipadas de desenvolvimento territorial...
Os Fornos de Cal são mais um notável testemunho da evolução humana, no entanto o que vemos é o que as fotos demonstram. São poucas as pontes que se constroem entre jovens e menos jovens, de modo a se fazer a passagem deste património para o futuro, é por isso que muito deste património se perde nas estradas do esquecimento. Felizmente que nem tudo está perdido e que há jovens que podem salvar a coisa.
Eu não falo por falar, já que valorizo a arte de caiar e os Fornos de Cal, pois por exemplo, já mostrei isso mesmo há uns meses atrás, quando destaquei um pequeno edifício que caiei. Espero que com este comentário alguns de vós se possam aventurar na interessante busca de informação na temática da cal! Serve o presente comentário também para vos impelir a que sugiram às nossas autarquias a preservação e valorização dos fornos de cal que ainda se vão aguentando de pé, pois ainda há uns quantos e ainda estão vivas algumas das pessoas que lidavam com estes belos objectos patrimoniais.
Para quem quiser saber algo mais acerca dos fornos de cal, deixo-vos um documento disponibilizado pela Associação Al-Baiaz:
http://www.albaiaz.com/ytr345albfts/915iit4pdf67albz/08Set_Albaiaz_Azereiro07.pdf

20.3.12

Um verdadeiro hino à região de Sicó!


Ainda não tive o devido tempo para ler todas as páginas deste notável trabalho académico, já que chegou-me aos olhos há escassas horas, no entanto, e pelo que já li, posso desde já adiantar que é verdadeiramente um hino à região de Sicó, abarcando quase tudo o que de melhor tem esta nossa região. 
Não conheço pessoalmente o autor, mas desde já felicito-o pelo feito que foi conseguir reunir sabiamente tão diversificadas matérias numa obra com a qual me identifico plenamente.
Aconselho vivamente a leitura deste trabalho a todos os que gostam da região de Sicó, ou mesmo aqueles que não conhecendo Sicó pretendem vir a conhecer. Depois de uma atenta leitura ficarão concerteza mais conscientes da importância patrimonial da região de Sicó, a qual urge valorizar e potenciar! Será igualmente uma boa leitura para os autarcas que teimam em tentar inventar a roda quando ela já existe...
Fica então um breve contributo do azinheiragate para a divulgação deste hino a Sicó e ao seu extenso e variado património.

15.3.12

O património e as questões fracturantes


Muitas vezes ouvi dizer que uma imagem vale mais do que mil palavras, no entanto há imagens que para serem descritas necessitam de mais de mil palavras. Esta é a primeira vez que trago à discussão um tema que considero fracturante no domínio da questão patrimonial.
Alguns de vós saberão onde se situa este lugar, no entanto o importante da imagem é o significado de algo maior, que representa um verdadeiro problema no domínio não só patrimonial, bem como do próprio âmbito territorial.
A imagem que hoje vos trago é singela, já que há um evidente contraste na mesma. De um lado uma capela já com uma longa história, enquanto que do outro lado está um edifício habitacional recente.
Recorri a este exemplo por dois motivos, o primeiro tem a ver com o meu conhecimento do lugar, pois este foi um dos que fez parte da minha infância. O segundo tem a ver com o tal contraste evidenciado na mesma.
Aliada à já por si complexa questão, está o que eu denomino como choque patrimonial de gerações. São poucos os que sabem, mas neste exemplo, em concreto, está-se a lidar com um problema que já trouxe muita conflictualidade a nível local. A construção deste edifício habitacional trouxe à ribalta o tal choque entre gerações, já que de um lado está a população, maioritariamente idosa, de outro lado gente jovem. Os primeiros, e alguns mais jovens, não acharam muita graça aquele objecto estranho que surgiu ao lado da capela, os segundos fizeram aquilo que afinal tinham direito, construir a sua residência.
Não estou aqui para julgar nem uns nem outros, estou sim para apontar uma questão que raras vezes é tida em conta na temática do património e mesmo no âmbito territorial, nomeadamente PDM. Não raras vezes surgem atritos em situações como esta, mas esta é especial, já que mexe com valores e crenças ancestrais. Já raras são as vezes em que se tenta de alguma forma evitar o que afinal é um problema, onde se poderia reunir os jovens e os menos jovens para que situações como esta não acontecessem. 
Pessoalmente considero que se deveriam debater questões como esta, de modo a que quando surgisse a intenção de construir em áreas sensíveis, tal como é a envolvência de locais de culto (ou outros) como é aquele, as coisas corressem bem, de forma integrada e não desconexa
Pessoalmente considero que há ali um contraste fracturante, ou seja considero que há realmente um "objecto" estranho que perturba a paz do lugar. Para que não digam que eu sou parcial, eu nem sequer sou religioso, facto que logo à partida deitará por terra quem tentar puxar por este argumento. Podem apontar a parcialidade de eu falar de um local que conheço, mas afinal é esse meu conhecimento que me dá as mais valias para falar sobre o caso.
Considero apenas que em pequenos lugares como é este, há certas coisas que têm de ser salvaguardadas, como por exemplo a identidade do lugar. Quem, como eu, conhece aquele lugar, saberá do que estou a tentar falar.
Lembrem-se que no final de tudo está a nossa identidade, que urge preservar. É certo que as identidades constroem-se, mas essa construção deve ser feita de forma dinâmica, e não de forma fracturante, tal como é este o caso. Isso além de não ser saudável, só representa uma perda de identidade local.
Esta é uma questão que certamente não vai suscitar muito interesse, no entanto eu não me movo por número de visualizações, movo-me apenas e só pelo património. Para bom entendedor...

7.3.12

Memórias do património


É uma fotografia que eu considero bem interessante, pois ilustra bem a questão que agora pretendo abordar.  O belo pião, que ilustra o património, tem uma sombra que representa, nesta caso, a memória dele mesmo. Gosto de pensar em fotografias diferentes daquilo que a maioria de vós costuma ver, pois é uma das formas de conseguir estimular o pensamento activo sobre questões estruturantes. Por isso mesmo é que de vez em quando lembro-me de fazer algo como o que a foto ilustra.
Na minha juventude eu fartava-me de jogar ao pião e outro dia, ao visitar um centro interpretativo  (Escola do Monte), deparei-me com este que fez de modelo para a fotografia. Quando voltei a jogar ao pião, pareceu-me que retrocedi uns 20 anos no tempo, sensação rara de se ter.
Indo então ao cerne da questão, o pião serve, neste caso, para estimular a reflexão sobre as nossas memórias acerca do património. Obviamente que a palavra património abarca muita coisa, mas as definições são chatas e eu gosto de tratar aqui as coisas de uma forma atractiva. 
Importa-me fundamentalmente alertar sobre o que se tem perdido, em termos de património, seja ele qual for. Parte deste património infelizmente já só existe nas memórias perdidas de cada vez menos pessoas, as quais aos poucos vão partindo. Escusado será dizer que partindo estas pessoas, extingue-se algo, um património que depois de perdida a memória, fica perdido para todo o sempre. 
Há muitas formas de falar desta questão, mas desta vez penso que o ideal será mesmo fazer lembrar aqueles que se lembram bem da sua juventude, onde brincadeiras e traquinices à parte, aprendia-se muito. Estas aprendizagens tiveram sempre, directa ou indirectamente, uma influência positiva quer no crescimento das nossas capacidades cognitivas, quer no nosso crescimento físico. Era portanto uma aprendizagem consequente.
Algumas brincadeiras eram perigosas, caso de subir lá ao cimo dos pinheiros e/ou outras árvores, mas isso faz parte do processo. Outras não eram perigosas, mas eram igualmente importantes, caso das incursões ao meio do mato. Era nestes e noutros "simples" gestos que cada um de nós tomava contacto com a terra, com as árvores, com os animais e com aqueles girinos que íamos apanhando na ribeira. Isto já para não falar quando cada um de nós entrava furtivamente naqueles edifícios abandonados, cheios de instrumentos vários. Aprendíamos a lidar com tudo aquilo que fazia crescer as nossas capacidades, facto que claramente foi uma mais valia para todos.
Outro facto importante, e que prefiro destacar à parte dos outros que já referi, é aquele de quando muitos de nós iam trabalhar para os terrenos da família em certas ocasiões, como por exemplo a apanha da azeitona. Aí acontecia termos de beber água dos regatos, por vezes com uma folha de couve. Nessa altura não dávamos valor ao facto da água se beber bem e não estar poluída (era algo de normal), mas agora já damos o real valor, pois hoje em dia já não é tão seguro fazer o mesmo...
Reviver estas e outras memórias é claramente importante nos dias de hoje, pois as alturas de crise são óptimas para mostrar a todos vós que o que é realmente importante é esta memória de que vos falo. É esta memória que fez de nós quem somos, restando que cada um de nós valorize e potencie tudo o que de bom esta memória representa neste valoroso território.
Alguns dos próximos comentários vão salientar a importância desta memória do património, pois ultimamente tenho tido a sorte de encontrar algumas dessas memórias, tudo com a ajuda de alguns amigos que também pugnam pelo fabuloso património da região de Sicó.
Sei que algumas pessoas não vão compreender bem o alcance deste breve comentário, já que algumas são novas demais para saber do que falo, no entanto muitos outros irão compreender e sentir bem o que pretendi destacar. São esses que neste momento podem fazer toda a diferença e são esses que me podem ajudar a ensinar e a partilhar conhecimento com os mais jovens!