A regra é não utilizar imagens que envolvam chamas, mas apenas a destruição causada pelas mesmas, contudo abro a desejável excepção, já em pleno Outono, e prestes a acabar o dispositivo especial de combate a incêndios rurais (DECIR 2019). Antes que façam a pergunta, eu dou a resposta, ou seja que a fotografia em causa não é de pose, mas sim uma fotografia tirada por terceiros em modo furtivo num incêndio nocturno, daqueles que alguns ignorantes na matéria dizem que não acontecem (interesses em que arda...).
Indo directamente à questão, este ano foi dos menos maus em termos de incêndios florestais, nomeadamente no que concerne a prejuízos e área ardida. Sensivelmente a cada década há um ano menos mau e isto acontece simplesmente porque o S. Pedro ajuda bastante. Não são medidas de cosmética entretanto tomadas que contribuem para um ano como este. Em termos práticos nada mudou e isso é habitual (e parece que a maioria dos portugueses se conformam na prática, com isso...). A cada ano que passa a conversa é sempre a mesma e nunca se é consequente. Quais são as causas? Muitas, já que a equação é complexa. Muitos maus políticos, poucos bons políticos, muitos interesses em jogo, nomeadamente as celuloses, que gostam de publicitar as boas práticas (que existem, mas apenas nos minoritários terrenos em que são proprietárias) e omitir as más práticas e externalidades negativas nos terrenos maioritariamente privados, mas que alimentam as celuloses (paga o contribuinte e não bufa...). Muita irresponsabilidade de muito cidadão que, de forma activa ou passiva, contribui para o cenário actual. Muito pouco ordenamento do território (o cerne da questão!), pouco ordenamento florestal, etc, etc, etc...
E depois algo que me preocupa cada vez mais, ou seja uma agenda que indicia querer desmantelar uma estrutura voluntária, secular, que tem sido o garante da salvaguarda dos bens alheios, nomeadamente floresta. Graças a esta agenda oculta, guiada por certos interesses económicos e alguns interesses académicos, estes têm tentado impor uma estrutura paralela, também profissional e imensamente cara (bom para eles ganharem uns valentes trocos, através de estudos, assessorias e afins...), algo de curioso, já que se se investisse a sério numa estrutura profissional já existente nos corpos de bombeiros voluntários (e sapadores florestais), o problema ficava mitigado com a mesma ou melhor eficácia e a um custo muito inferior. Conheço algumas destas pessoas sem escrúpulos, guiadas pelo preconceito ideológico, que insistem em mitos urbanos e realidades ocorridas há 30 anos. E sim, nos corpos de bombeiros voluntários já há uma estrutura profissional, a qual peca apenas por pequena, com poucos direitos e muito mal paga. Em cada corpo de bombeiros, uma determinada percentagem (10 a 20%?) dos elementos é profissional, sabiam?
Claro que como em todas as organizações há problemas, e os bombeiros voluntários, enquanto organização, não são excepção, mas esses problemas nesta entidade resolvem-se, basta haver quem se queira chegar à frente. E há cada vez mais elementos a querer corrigir estes problemas a partir de dentro e a ajudar a evoluir e capacitar mais e melhor esta estrutura (tendo chatices por isso, já que há gente sentada em sofás muito confortáveis...). Não fosse a ignorância e os interesses pessoais, de entre os quais a vaidade, de alguns elementos de comando, as coisas já estariam melhor. Depois não ajuda nada ter alguém que se diz representante dos bombeiros voluntários quando afinal nem sequer é eleito por eles, mas sim por aqueles que estão sentados nos confortáveis sofás...
A melhor altura para falar disto é agora e não no Verão. Lembrem-se que nos próximo Verão há mais "festa" e se não quiserem ser cúmplices, têm não só de mudar (os que ainda insistem em ter comportamentos pirómanos) bem como exigir que as coisas mudem, nomeadamente mais e melhor ordenamento do território (que inclui a floresta e as monoculturas do eucalipto e pinheiro). É assim que conseguiremos mudar o paradigma! Portanto já sabem, no que concerne à silvicultura, têm agora uns meses para salvaguardar os vossos terrenos florestais, fazendo uma gestão racional e responsável dos mesmos.
Confesso que fui ingénuo ao pensar que, depois da tragédia humana de há 2 anos, as coisas mudariam alguma coisa. Nada mudou desde então! Nem mesmo a ignorância e maldade atroz de gente reles, que nunca pegou numa mangueira ou numa enchada para apagar um fogo e viu a tragédia da TV, sentado no sofá e depois de contrariado por quem tem opiniões fundamentadas do ponto de vista teórico e prático surge com frases como "gostava de vos ver defender a vossas teorias em frente aos familiares dos que morreram em Pedrógão". Caso para dizer, burros há muitos!