Este é um comentário daqueles que incomoda bastante, no entanto é um comentário que será efectuado, como regra, de forma intelectualmente honesta e à luz de factos concretos, juntando eu algumas questões que julgo pertinentes. No ano onde o mais do que polémico projecto de hotel para a Serra de Alvaiázere será chumbado, impõe-se uma questão sobre outro projecto de hotel, esse nada polémico, embora omitido pelas entidades públicas.
Certo dia, um investidor privado entrou em contacto comigo através da plataforma "azinheiragate", de modo a solicitar ajuda no desenvolvimento de um projecto relacionado com a construção de um hotel, neste caso enquadrado no turismo rural. Este facto ocorreu em 2010.
Cedo alertei para o facto de tendo em conta que o projecto seria para desenvolver em Alvaiázere, este poderia ter dificuldades "inesperadas", tendo em conta o ecossistema político-empresarial ali existente e que se estende por toda a região. Para um investidor privado isto pode revelar-se como algo altamente castrador no desenvolvimento de um projecto. Lembrei a este investidor que em 2009 eu tinha tentado abrir uma empresa ligada ao turismo e que tinha tido sérios entraves, os quais me tinham levado à desistência/suspensão do projecto.
Pedi também para este investidor não revelar a ninguém que eu o estava a aconselhar (gratuitamente), pois se certas pessoas o soubessem, poderiam mostrar uma face menos favorável perante este investidor, quando confrontadas com a "amarga" novidade, já que eu era personna non grata para certos interesses. A minha vontade foi sabiamente respeitada.
O projecto foi então apresentado à Câmara Municipal de Alvaiázere, sendo este situado na freguesia de Almoster. A respectiva entidade recebeu o projecto e disse ao investidor para avançar, tendo o projecto sido endereçado ao Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, pois este estava em área de Rede Natura 2000.
Confesso que fiquei contente com os avanços e com o projecto, tendo a honra de ter tido a oportunidade de ver o projecto, o qual tinha tudo para avançar.
Mas como não há bela sem senão, os entraves começaram. Em Março de 2011, e já depois da Câmara Municipal de Alvaiázere ter, alegadamente, dito ao investidor que as candidaturas abririam (desde Setembro de 2010), eis que a Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó comunica ao investidor que não estava prevista a abertura de candidaturas a projectos de privados para projectos de turismo de natureza, já que, alegadamente, não haveria dotação financeira para este tipo de projectos. Tudo isto já com o projecto de arquitectura aprovado. Partindo do pressuposto que o investidor não mente, isto é curioso, no mínimo. Diga-se que nunca tive a mínima dúvida sobre a seriedade do investidor.
Ora, isto levantou-me dúvidas, em primeiro lugar porque é algo que em situação normal não deveria acontecer. Depois fiquei surpreendido, na medida em que o autarca Paulo Morgado, que mediou o processo tem competências a nível de autarquia e também competências a nível da Associação Terras de Sicó, o que me leva a várias questões. Será que não era do conhecimento de Paulo Morgado, autarca, que não haveria fundos comunitários para aquele projecto? Se não era, como foi possível o facto, já que precisamente nessa altura o mesmo estava a lidar com o processo do polémico hotel na Serra de Alvaiázere, conhecendo profundamente esta pasta? Como foi possível este acarinhar tanto o segundo projecto referido, com tanta publicidade, e nenhuma referência do mesmo, perante a imprensa local e regional, ao projecto sobre o qual este comentário incide? Que jogo político foi este, que deu tanta atenção a um projecto e pouco atenção a um outro?
Como é que foi possível perder um investimento destes, num projecto já aprovado? Porque é que este investimento nunca foi publicitado e "levado ao colo", como tem sido o mais do que polémico projecto de hotel para a Serra de Alvaiázere? Então, há 4 ou 5 milhões de fundos comunitários para um projecto ainda sem aprovação, sem cabimento em sede de PDM e não há um tostão para um projecto aprovado?
Como é que se elabora um projecto para uma área protegida, assumidamente sem know-how, passando por cima de questões essenciais, procurando depois um investidor que tenha apenas um milhão de euros? Isto ao mesmo tempo que se "manda embora" um outro investidor, já com um projecto, não polémico, já aprovado? Falta explicar esta dicotomia, sabendo que o processo deverá ser explanado por Paulo Morgado, pois, mais uma vez, este além de autarca, e por isso conhecedor da situação, é também um dos responsáveis políticos pela Terras de Sicó, tendo evidentes responsabilidades em termos de gestão em ambas as entidades. Naturalmente que este tem algum know-how, pois este em 2009 tornou-se oficial e publicamente, empresário no domínio do turismo rural (facto), daí melhor do que alguns dever saber acerca desta questão. Na minha opinião houve aqui uma péssima gestão desta questão, sendo o meu intuito saber o porquê das coisas terem seguido um rumo desastroso, já que, na minha opinião, é do interesse público o esclarecimento cabal deste caso.
Até hoje mantive esta questão, do hotel em Almoster, em off, no entanto não aguardo mais pela sua obrigatória divulgação, já que este meu comentário é simplesmente serviço público. Para os mais curiosos, o investidor em causa, depois de desistir do projecto, decidiu investir num outro concelho, mais a Sul e já fora da região. Importa esclarecer esta questão, pois há aqui uma história que tem muito que se lhe diga. Será que este investimento não seria importante para Almoster, Alvaiázere e para a própria região de Sicó?
Os factos são estes e estão em cima da mesa, agora há que debater os mesmos sem receios, sem demagogia e de forma honesta e construtiva. Se a imprensa local ou regional quiser tratar a questão de forma jornalística, estarei à sua disposição, enquanto fonte de informação credível e idónea. Não tenham receio em confrontar as pessoas, pois o confrontar com os factos, mesmo que incómodos, é sinal de democracia.