Quando pensamos em paisagem, a maior parte de nós pensa numa imagem visual marcante, a qual é moldada pela nossa experiência de vida. A mesma imagem pode ter significados muito diferenciados, dependendo então do observador respectivo. Duas pessoas semelhantes podem ver a mesma paisagem de forma diferenciada, e duas pessoas diferentes podem ver a mesma paisagem de forma similar.
Mas não é o "visual" que venho destacar, é sim o olfactivo. Há muitas paisagens e as paisagens olfactivas fazem parte deste grande universo que agora pretendo destacar. Fala-se muito de aromáticas na região de Sicó, contudo não se explora a vertente paisagística respectiva. Não podemos ver esta questão de forma redutora, pois não se trata de meras flores disseminadas pelas colinas e serras, isso é para quem tem horizontes curtos. Trata-se sim de biodiversidade, que de redutora nada tem, embora a Monsanto e afins a tentem reduzir (repararam como as manifestações do último fim de semana passaram ao lado da imprensa?!).
Há uns dias atrás consegui ter um dia dedicado ao usufruto de uma região que gosto bastante, como aliás muitos bem sabem. Assim sendo, peguei na máquina fotográfica e lá fui eu "sem destino". Fiquei muito incomodado por não conseguir tirar uma fotografia panorâmica sem que tivesse o estorvo das eólicas de Sicó, área na qual nunca deveriam ter sido implantados parques eólicos.
Polémicas à parte, lá cheguei eu ao topo de uma colina emblemática, sentando-me num ponto onde, além das eólicas, nada mais me incomodava. Apesar de, para mim, não ser nada de novo, foi bom sentir novamente aquele cheiro fabuloso. Foi bom "meter a cara no chão" e ficar aprisionado por um cheirinho que, para mim, só é ultrapassado por aquele que surge quando caem os primeiros pingos depois do verão. Inultrapassável!
As entidades públicas desta grandiosa região não têm sabido explorar, obviamente de forma sustentada, esta riqueza patrimonial que a paisagem olfactiva de Sicó nos oferece... gratuitamente! Tenta-se inventar a roda, mas afinal ela sempre existiu.
Resumindo, paisagem não é sinónimo de olhos, é sim sinónimo de vida. Como alguém muito bem disse, só se preserva aquilo que se ama e só se ama aquilo que se conhece. No caso de Sicó, faltam mais pessoas que a amem e mais pessoas que a conheçam, daí mandar mais esta pequena gota para um oceano cada vez mais poluído...
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