26.5.09

Quase exclusivo nacional: Alvaiázere - Património gerador de riqueza (?)

Desta vez decidi fazer uma surpresa, pela positiva, a um amigo muito especial, lembrei-me depois de outro dia ele ter referido nas Jornadas da Albaiaz (Associação de Defesa do Património) que iria apenas divulgar este projecto quando assim entendesse (mais perto das eleições concerteza....), mesmo sendo este um projecto já do domínio público. Disse que iria dar indicações à Agência Lusa para na altura certa (pertinho das autárquicas concerteza...) divulgar o projecto. Mas como a Agência Lusa também consulta este blog, disponibilizo a informação a todos os orgãos de comunicação social que visionam este blog.
Este autarca tem de pensar mais em saber discutir os factos de forma democrática do que tentar prejudicar de alguma forma os que dele discordam de forma legal. Da minha parte ele já sabe com o que pode contar, uma forte oposição a um discurso político demagógico, manipulador e supérfluo. Faço esta crítica fundamentalmente ao projecto e lamento a sua posição face ao mesmo.
Em redor da questão deste projecto movimentam-se muitos interesses e interessa-me saber quais são e o porquê, a população tem o direito de saber algo que efectivamente já é do domínio público. Discutir o património, natural ou cultural, bem como questões associadas é um dever cívico de que que ninguém me pode impedir.
Se calhar pensam agora vocês, como é que ele teve acesso à documentação que agora disponibiliza a todos para análise? É simples, aquando da discussão pública, a Câmara Municipal de Alvaiázere (entidade com a qual tenho excelentes relações, tendo-lhe eu inclusivamente oferecido um exemplar da minha tese de mestrado) disponibilizou-me os documentos, mas isto apenas porque levei o meu portátil e por isso tive a oportunidade de guardar toda a documentação para análise ponderada e imparcial. Digo isto porque alguém poderá ficar muito chateado e poderia tentar lançar algum tipo de suspeita negativa sobre a minha pessoa, sendo assim fica o esclarecimento. Além disso ainda pedi aconselhamento especializado, por via das dúvidas. É mesmo legal esta disponibilização de informação pública, faço questão de pautar o meu comportamento pela honestidade e legalidade processual.

O nome do projecto que agora vos falo é: "Alvaiázere, património gerador de riqueza"

Analisei já este projecto e já recebi algum feedback de outras pessoas da região que, efectivamente, sabem do que falam, os resultados desta avaliação, livre e imparcial, ficam agora disponíveis para todos. Lembro que queiram ou não algumas pessoas, eu sou das pessoas mais credenciadas para comentar este projecto, pois além de ter trabalhado em Alvaiázere, o meu currículo relaciona-se intrínsecamente com boa parte da temática. Além disso digo as coisas como são e não me limito a dizer o que me dão ordens para dizer.

Sendo assim aqui vai:

- Fiquei bastante surpreendido com este projecto, mas não pela positiva, pois o que conta não é a "embalagem", mas sim o "sumo". É um esboço de projecto, pois não concretiza, disserta apenas sobre alguns factos de forma não sustentada e não devidamente fundamentada.

- Considero relevante referir a todos vós que este projecto surge apenas e só derivado do segundo chumbo do parque eólico. Este projecto tem sido apresentado apenas a algumas pessoas chave (Presidente do IGESPAR, ICNB, etc) como forma de contrariar o chumbo do parque eólico, é apenas uma arma política, de tipo greenwash, que Tito Morgado tenta impingir a algumas pessoas. Então e a opinião da população?

Vejam o que consta na documentação sobre este projecto:

«Num eco a esta tradição, no sentido de rentabilização dos recursos naturais, construir-se-à o parque eólico de Alvaiázere. Este visa a produção de "energia eléctrica.....»

Acho curioso dizer-se taxativamente que se vai construir o parque eólico quando ele já foi chumbado duas vezes, além de quando é referida a empresa promotora do hipotético parque eólico ser referida a Finerge e não a Sealve (Sociedade Eléctrica de Alvaiázere, S.A.). Porque será isto? Gostava que fosse apresentadas as pessoas que estão por detrás desta empresa, assim ao menos todos poderíamos falar em conjunto. Este tipo de projectos carece de discussão pública, mas não a houve.

- O projecto em análise apresenta 12, não um ou dois mas 12 centros de interpretação. Alvaiázere tem muitas riquezas, mas 12 Centros de interpretação? A moda dos centros de interpretação é uma coisa muito bonita, mas será que há conteúdo para ideias megalómanas e desajustadas à realidade local? Claro que não, há lugar para um complexo verdadeiramente interpretativo, mas realista. Curioso é que antes de eu sair de Alvaiázere estava em fase de candidatura um projecto devidamente fundamentado e realista para Alvaiázere, consistia na recuperação de duas escolas, uma seria a escola de geodiversidade (Bofinho)e outra da biodiversidade, em Ariques (centro ciência viva do Carvalho cerquinho). Além desta haveria a oportunidade de recuperar outra (Venda do Preto) para receber investigadores (tinha já acertado vários protocolos com a Universidade de Coimbra e Lisboa, além de uma colaboração comum Geopark), tudo isto foi cancelado.... Estava também a elaborar uma rede de percursos pedestres e também isso foi cancelado, agora este projecto fala de percursos mas não os concretiza...

- Este projecto (Alvaiázere - Património gerador de riqueza) não é mais do que um documento de intenções, não fundamentado do ponto de vista técnico e muito menos científico, tem apenas uma boa apresentação e algumas ideias, mas, nada mais. Diz que as escolas para recuperar são centenárias, quando afinal são do tempo de salazarismo...

- Este projecto aposta meramente num marketing irreal, além de não ser um projecto sustentado tenta apenas fazer boa figura apostando numa campanha massiva e agressiva de marketing nos meios de comunicação social, vejam o que é referido:

«Tendo em conta os elevados padrões de qualidade que se pretendem impor ao projecto, é nossa intenção concorrer ao importante galardão "Green Project Awards" e a uma forte exposição mediática junto dos principais orgãos de comunicação social nacionais»

Basta analisar a documentação, conhecendo a realidade do concelho, para ver que este projecto é um bluff político que está a ser utilizado para reverter o duplo chumbo do polémico parque eólico. Onde está a justificação técnica e científica do projecto? Não vi nada que alicerce o projecto em termos técnico-científicos! Em vez de pelo menos tentar fundamentar a sustentabilidade do projecto diz que caso seja feito vai ser alvo de candidatura a prémios....
Tem uma ou duas ideias que são boas, mas não são novas. Seria bom sim se fossem enquadradas num projecto realista e tecnicamente fundamentado e além disso não fosse utilizado com segundas intenções.

- Fala depois da sustentabilidade económica do projecto:´

«Com as iniciativas anteriormente elencadas assegurar-se-à a notoriedade necessária para garantir elevados níveis de retorno para o investidor privado... e para os investidores públicos. Garante-se, assim, a rentabilização do investimento e a sustentabilidade económica do projecto»

Muito bonito sem dúvida, mas onde está o conteúdo crítico do projecto, a massa crítica que alicerça um projecto deste género?

- Vejamos, já há concelhos com centros de interpretação (pelo menos no nome....), estes têm no máximo um ou dois e muitas vezes não são sustentáveis. Como será possível com 12 haver sustentabilidade? É completamente irrealista e demagógica esta última afirmação. Todos os que conhecem Alvaiázere sabem que é ridícula uma ideia megalómana como esta o é, agravando o facto de não estar fundamentada.

- Por falar em sustentabilidade, fiquei apreensivo com uma afirmação que é realmente estranha:

«Ao parceiro Finerge-Endesa (não será antes SEALVE?) é garantida a utilização gratuita de todos os recursos disponíveis em todos os centros de interpretação e respectivas mini-unidades de alojamento, à medida que estes forem entrando em funcionamento, por um período de 45 dias repartidos equitativamente ao longo do ano. Este privilégio poderá ser atribuído pela Finerge-Endesa aos seus administradores, colaboradores, parceiros, empresas associadas, empresas clientes e empresas fornecedores ou a outras personalidades e/ou entidades por si indicadas.»

- Bem, realmente é curioso, para rentabilizar o investimento iria dar-se a possibilidade a pessoas já por si previligiadas de forma gratuita usufruirem de algo feito maioritariamente com capitais públicos...

Aqui ficam os documentos, os quais disponibilizo através de um programa de partilha de ficheiros, programa que não deverá ser utilizado para partilha de músicas ou outros conteúdos sujeitos a direitos de autor:
Muito sinceramente, este projecto é algo que depois de analisado (honestamente e profissinalmente!) deixa muitas dúvidas no ar, quais são os reais objectivos/intenções do projecto? quais são as reais razões da sua existência? Qual a fundamentação técnico-científica do projecto? Onde está a base científica do projecto no que concerne por exemplo à geologia, geomorfologia, paisagem, etc? Aliás, onde está o estudo de impacte ambiental para o tal centro interpretativo no topo da Serra de Alvaiázere, dentro da RN2000?
Quando a mim e este projecto recebe o prémio Greenwash 2009 na região de Sicó. Quanto a outras pessoas que trabalham nesta temática já há mais de uma década, pessoas que já deram provas de idoneidade, competência e de imparcialidade, a opinião é a mesma, sem tirar nem pôr. Pena é que mais ninguém, até agora, tenha tido a possibilidade de ver este projecto de forma a criticar o que é criticável, é por isso mesmo que vos disponibilizo estes conteúdos. É a minha única intenção.
Pena é que este projecto tenha sido até agora público só para alguns, resta saber que Alvaiázere representa património gerador de riqueza para todos ou só para alguns...
Peço-vos que dêm uma olhadela no projecto e me dêm o vosso feedback, sempre que possível poderei esclarecer-vos, pois para alguns que não conhecem a realidade da região este projecto até poderá parecer sustentável, quando afinal não o é.
O que necessário para Alvaiázere é um projecto realista de todos os pontos de vista. Além disso qualquer tipo de projacto não pode servir para fazer algum tipo de pressão para aprovar outros projectos. Por isto mesmo este projecto que agora falei recebe nota negativa.

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