Para começar, explico o porquê de atrás ter referido que este era um tema que me dizia respeito, em primeiro lugar o lagar que dantes existia nos olhos de água foi um dos meus locais predilectos de brincadeiras em miúdo, bem como toda a área envolvente até aos olhos de água. Traquina que era muita pedra mandei para o fundo daquele poço, mas a reguilice de quem era pequenote era mesmo assim... Tenho portanto uma ligação sentimental com este local.
Com o passar dos anos a traquinisse acabou e começou a juventude e as coisas sérias da vida, uma delas a vida profissional, pois tornei-me especialista em geografia física e ordenamento do território e portanto sei bem do que falo. Sublinho que o facto de ter uma ligação sentimental com este local não me torna parcial na parte que toca à profissão, os que me conhecem e assistiram ao "azinheiragate" puderam ver que eu não me vendo, sou íntegro!
Os olhos de água sempre foram um local fantástico, mesmo que abandonado. Desde hà uma década que os caudais da ribeira têm reduzido de uma forma assustadora, ainda me lembro do que era afinal um ano "normal", quando a ribeira corria de Outubro até Março ou Abril, agora corre no máximo um mês e só mesmo uns "míseros" metros cúbicos. Porquê? Provavelmente porque o caudal da ribeira está a ser captado para a bacia hidrográfica do Dueça (Penela), diz quem sabe.
Seguindo...
Bem, é certo que toda a envolvente da ribeira necessitava de algo que transformasse para melhor a área e que chamasse os ansianenses ao rio, portanto era imperativo que algo fosse feito para mudar o estado de abandono desta área de lazer.
A determinada altura houve alguém que meteu mãos à obra, algo de louvável, mas infelizmente meteu as mãos numa obra que não conhecia, obra esta que não era obra era sim os Olhos de Água e a sua memória, as suas tradições. De um momento para o outro começaram as obras, obras estas que eu desconhecia como seriam elaboradas, sabendo apenas à partida que iriam ser mal elaboradas, porquê?
Bem, quando se começa com um projecto deste género, deve-se começar por uma série de factos:
O quê?
Onde?
Porquê?
Quando?
etc...
São coisas elementares que fazem a diferença, por isso começou-se uma obra que mesmo com boas intenções teve um final que eu considero infeliz!
Antes de continuar deixo três fotos do mesmo local em alturas diferentes da obra, acompanhei a mesma com a minha amiga máquina fotográfica, aquela que mete medo a alguns....
Neste local estava um lagar, que funcionou até à coisa de 15 ou 20 anos (ainda me lembro da cor da água da ribeira quando despejavam os resíduos), que foi completamente arrasado:
Neste local ergueu-se algo que pretendia honrar o antigo espaço, mas que a meu entender falhou redondamente a função.
É certo que a nível visual toda a área ficou bonita, isso é inegável, mas num projecto destes o mais importante é que ficasse funcional, a base do projecto tem pés de barro!
Em primeiro lugar a ideia correcta, que seria requalificar as margens do rio, falhou redondamente, já que o que foi feito foi uma betomização do leito da ribeira. A primeira coisa que se deveria ter feito, é, há aqui uma área fantástica, portanto vamos estudar todos os factos que há a ter em conta para um projecto desta tipologia, onde um estudo hidrogeológico seria fundamental (não foi elaborado...) . A base deste projecto é a água, então como é que não sabendo a quantidade de água que ali há, se vai elaborar um projecto deste género? Como é que não sabendo valores de caudais, pontas de cheia, cheia centenária, se elabora algo? Como é que não tendo ideias para um centro de interpretação ambiental, se contrói uma infraestrutura e depois se diz na praça pública que "agora temos de encontrar conteúdos para aqui colocar"? Afinal, este centro de interpretação ambiental é para interpretar o quê?
Logo no início do projecto, abateram-se carvalhos apenas a 20 metros da nascente, em plena Rede Natura 2000, desta forma elaborei uma queixa às entidades competentes. Fiquei revoltado especialmente com o abate de um carvalho centenário, sem necessidade alguma!
Depois vi lentamente o leito do rio ser betomizado, só para que alguns tenham um lagozinho bonito para virem passear. Que sustentabilidade ambiental é esta?
Para que possam perceber o que eu falo, deixo-vos o link muito útil, onde se mostra o que de faz de bem em projectos deste género, chama-se engenharia verde:
Era possível criar ali algo de sustentável, não como foi elaborado!
Em conversas com algumas pessoas comecei a perceber que há muitas pessoas em Ansião, que concordam comigo, requalificação sim, mas não desta forma, não se justificava o resultado final, algo que é o pleno de uma obra do género "elefante branco". Quando agora lá passo, vejo que mesmo sendo uma infraestrutura nova, já é desprezada, a novidade já não atrai como no início, eu pessoalmente não costumo lá ir....
Para que possam conhecer algo de concreto do que deveria ter surgido ali, dou a conhecer a quem desconhece, um local em que as coisas foram mais bem pensadas e concretizadas, o Carsoscópio, na nascente do Alviela:
Basicamente é algo que tem, cabeça, tronco e membros, aconselho vivamente uma visita!
Voltando aos olhos de água, mostro-vos um exemplo do quanto elementar foi um dos erros desta obra, algo que sendo básico aos olhos de especialistas em ordenamento do território como eu, passou despercebido aos olhos do responsável do projecto.
A dinâmica de um rio é algo que tem princípios básicos, um deles foi posto a descoberto nesta foto que vos mostro, é a seguir à segunda ponte em madeira, ao lado de um pequeno moinho a seguir ao edifício principal.
Perguntam-me vocês: porque é que não estão ali os seixos?
Eu respondo: é a dinâmica natural dos rios
Perguntam-me vocês: porque é que o responsável do projecto não previu isto?
Eu respondo: elementar meus caros, não tem competências na área
Perguntam-me vocês: como é então isto possível, alguém que não tem competências nesta área estar á frente de um projecto como este?
Eu respondo: política, meus caros, política
Os políticos, mesmo que por vezes com boas intenções, ignoram factos elementares, é necessário recorrer a especialistas conforme as tipologias dos projectos, por isso a maior parte das vezes projectos que poderiam resultar em algo de sustentável e correcto, resultam nisto mesmo, projectos mal pensados, mal elaborados e mal aproveitados!
Daqui a alguns meses vão começar a ocorrer outros problemas, além dos problemas que já ocorrem, e aí cá estarei para chamar à atenção, há que ser responsabilizado pelos erros.
Sei que há pessoas que não podem falar neste assunto, já que são tabu para quem quis que este projecto fosse assim mesmo, mas eu posso falar, não me movem questões políticas. Sou imparcial no que faço e penso, seja a pessoas amigas, conhecidas ou desconhecidas!
No entanto caso em seja solicitada ajuda, em termos de ideias, cá estarei.
Brevemente voltarei a este tema, já que esta foi apenas uma primeira abordagem.....
2 comentários:
Embora não seja formado na área do amigo Forte, compreendo a sua atitude. Poderia é certo ter seguido outro caminho os Olhos d'água, mas corrigir ou pedir para alterar teria que sr antes. O mundo está feito de coisas deste género. Em quantos monumentos não é perceptível as alterações consoante a época? Tenho registps anteriores e depois. podem consultar em http://ansiaonews.blogs.sapo.pt/719.html
Claro, a minha opinião é partilhada por muitos. Para alterar as coisas em Portugal é difícil, já que quando se mete uma coisa na cabeça de um político é difícil alterar o estado das coisas, num próximo post vou falar acerca desta questão! Apesar do erro grosseiro que foi a forma desta obra ter sido feita, no final do post afirmo que estou disponível para algum género de ajuda em termos de ideias que possam promover este local e potenciar o mesmo, daí ter incluído o link do carsoscópio.
Além de criticar de uma forma construtiva, dou sugestões,só mesmo é que assim podemos andar em frente. Não se pode criticar só por criticar...
Eu tenho fotos de todas as fases da obra e algumas do "antes", mas mesmo assim é bom saber que há mais atentos a este local que tanto estimo...
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