18.5.20

A iliteracia no domínio dos espaços verdes: crónica do Jardim da Várzea


Fonte: CM-Pombal

Eis então que venho dissertar sobre uma uma questão que tanto tem agitado a opinião pública em Pombal. Falo, claro, do projecto de requalificação/reabilitação do Jardim da Várzea. Conheço apenas o aspecto proposto para aquele jardim, tal como se observa na segunda imagem que ilustra este comentário. Já a primeira imagem é apenas uma montagem que pretende juntar um bocado de humor a esta temática. Quem não se lembra daqueles livros para iniciantes às mais variadas temáticas? Faltava um para espaços verdes. O humor faz bem à saúde.
Começando, preferi deixar passar uns dias desde que esta questão "incendiou" as redes sociais em termos de reacções (boas Vs menos boas) e de debate (produtivo Vs pouco produtivo). Isto porque, assim, tive a oportunidade de ler e perceber o que os pombalenses comentavam, algo que é sempre importante. Gosto de ter tempo para, de forma ponderada, analisar os factos e as reacções, especialmente de quem é coerente e consequente. Quando há tamanha reacção por parte da comunidade, a regra é que esta reacção ocorreu depois desta mesma comunidade ser posta de lado num qualquer tipo de processo. Este foi um destes casos. Dita a regra que, havendo a ideia de promover uma intervenção que vise a reabilitação ou recuperação do espaço urbano, de entre o qual se inserem os espaços verdes, a população tem de ser ouvida, já que acções/intervenções como esta mexem com aspectos tão importantes como a identidade dos locais e a identidade dos próprios residentes. Como está à vista de todos, isso não aconteceu com o projecto que visa reabilitar o Jardim da Várzea.
O que aconteceu sim foi, a Câmara Municipal de Pombal ter tido a ideia de intervencionar este espaço (positivo) e de ter pedido um projecto a um especialista (positivo). O que falhou? Falhou o fundamental, ou seja antes mesmo de pedir a um técnico que elaborasse um projecto, não envolveu a população, de forma a que o técnico tivesse em conta quem usufrui daquele espaço (além de outros aspectos básicos que manifestamente não teve em conta, contrariando assim as boas práticas instituídas no domínio da gestão dos espaços verdes). Depois aconteceu o que se conhece, ou seja a população indignou-se, e com razão, já que o que eu vejo na imagem associada ao projecto é uma praça e não um jardim. De uma forma resumida não se trata da reabilitação de um espaço verde, mas sim de uma transformação para uma praça, algo que seria lamentável de ocorrer caso fosse em frente
Este assunto fez-me voltar atrás no tempo, e de duas formas. Num passado algo recente, fez-me lembrar as obras de reabilitação do centro da Vila de Ansião, já que ali a população foi chamada a dar a sua opinião, mas apenas quando as obras estavam a começar, ou seja discussões públicas só na teoria e só para dizer que houve discussão pública, quando isso, factualmente, não aconteceu. Infelizmente é uma regra em Portugal, o faz de conta. Pombal está apenas a seguir a regra e não é o facto de, depois de a população ter manifestado o seu descontentamento sobre a forma como o processo decorrer, a Câmara Municipal de Pombal ter vindo à praça pública pedir a opinião dos pombalenses que muda muita coisa. Tenho as minhas dúvidas de fundo se o processo irá ser corrigido, ou seja voltar à estaca zero e começar como deve ser, sustentado, de forma a terminar da melhor forma. Isto mesmo tendo em conta as posteriores afirmações do Presidente da Câmara e do Presidente da Junta de Freguesia. É o meu desafio à Câmara Municipal de Pombal e à Junta de Freguesia de Pombal.
Continuando, e já num passado mais distante (17 anos), lembrei-me das aulas de Espaços Verdes, uma disciplina opcional que tive durante a licenciatura, onde aprendi bastante sobre espaços verdes, nomeadamente jardins (em Lisboa fiquei a conhecer todos, alguns autênticas maravilhas botânicas e estéticas). Nessa altura fiquei a conhecer uma temática bastante interessante, onde aprendemos muitos dos aspectos que devem balizar a acção de quem lida com os espaços verdes. É por isso que também me interesso por esta temática. Depois juntei mais uns conhecimentos em climatologia local, onde fiquei a perceber a importância dos jardins nos centros urbanos, nomeadamente a sua importância na mitigação da ilha de calor urbano. Isto além de outros aspectos, como biodiversidade, bem-estar, entre outros aspectos relevantes a ter em conta no planeamento dos espaços verdes.
Especialmente por estes motivos, sou bastante sensível a esta questão da reabilitação do jardim da Várzea. É um espaço verde que tem sido neglicenciado e subvalorizado, que não merece ser descaracterizado. É um jardim com uma traça e memória que deve ser respeitada. É um espaço verde que merece investimento e muito mais atenção por parte quer da Junta de Freguesia de Pombal, quer da Câmara Municipal de Pombal. É um jardim que merece atenção por parte da população e que merece ser desfrutado pelos cidadãos, que em tantos dias podem ir desfrutar este espaço com os seus, em vez de ficarem em casa. É um jardim onde, em pleno Verão, as temperaturas podem ser 2 ou 3 graus mais baixas do que na envolvência, com sombra e vida animal, nomeadamente aves. É um jardim, por isso impermeabilizar o mesmo, além de tudo o mais, é um disparate autêntico (num sector da cidade bastante susceptível em termos de inundações urbanas...). E é um espaço que aprecio bastante, já que no meio da confusão é um oásis verde urbano. No último dia perdi algumas horas à procura de uma foto que tirei nesse jardim da última vez que estive em Pombal. Infelizmente não a encontrei no meio de milhares de fotografias, talvez porque foi tirada com o telemóvel e julgo que se terá perdido num dos discos externos. Fico com a impressão que a terei aqui utilizado num comentário nos últimos 2 ou 3 anos (fotografia tirada à noite, no sector central do jardim).
Termino com uma questão que nos deve fazer reflectir, e que ainda não falei, ou seja o valor que damos por exemplo ao trabalho de um jardineiro. Noutros países são bem remunerados e fazem um trabalho extraordinário em prol dos espaços verdes. Em Portugal oferecemos aos jardineiros o ordenado mínimo ao mesmo tempo que lhes exigimos espaços verdes bem tratados. Dá que pensar...

Nota: nos muitos comentários que já li sobre ideias/propostas para o projecto de recuperação do Jardim da Várzea, vi muitas ideias que apesar de bem intencionadas não se enquadram minimamente no perfil do jardim. A intenção é recuperar e valorizar o jardim sem que o seu perfil seja desvirtuado.

2 comentários:

Maria João disse...

Uma curiosidade. Sabiam que se chamava Jardim da praça da república? Vi agora uma foto muito antiga

Maria João disse...


Uma curiosidade, o jardim chamáva-se Jardim da Praça Da República.

Tenho muita pena de não respeitarem o desenho original do jardim.