Fonte da coluna relativa às unidades estratigráficas da região de Ansião: Crispim, 1986
É uma questão que me anda a atazanar já há algum tempo, ou seja a menorização da arquitectura tradicional na região de Sicó, por parte de uma arquitectura moderna, que ignora a arquitectura tradicional em prol de uma arquitectura rectangular à base de materiais pouco ecológicos e nada ligados a esta bela região. Ou seja, o que me anda a atazanar é a descaracterização da região de Sicó também em termos arquitectónicos.
Há uns meses, e enquanto desfrutava de um de muitos locais mágicos da região de Sicó, foquei esta curiosidade arquitectónica, condicionada pela componente geológica. Quem sabe de geologia vai perceber logo o que esta imagem significa, bem como o esquema que o acompanha, mas quem não sabe, vai apenas perceber que, naquela imagem, há ali algo de estranho. Basicamente falando, e numa linguagem simplificada, temos ali dois tipos de pedra, uma mais resistente do que a outra. Como podem ver, a que está na base está mais "gasta" do que a de cima. Isto acontece porque têm propriedades e idades diferenciadas, daí uma estar em melhores condições do que a outra. Este pequeno grande pormenor faz toda a diferença em termos arquitectónicos, já que as propriedades da rocha/pedra condicionam fortemente a escolha da mesma na hora de escolher a mais duradoura. Em muitas igrejas e capelas que vocês já visitaram, já deverão ter notado que, por vezes, faltam estátuas. Isto acontece porque a rocha em que estas foram esculpidas é menos resistente à erosão, ou numa linguagem mais simples, resiste muito menos aos anos expostos aos elementos do tempo, água, sol, frio, calor, daí muitas estátuas terem de ser retiradas para se conseguir preservar as mesmas, colocando cópias no seu lugar original.
Uma das muitas belas característiticas da região de Sicó é a sua arquitectura cársica, ou seja casas construídas com pedra calcária, um traço identitário basilar desta paisagem cultural. Nos últimos anos tem-se visto que muitas casas antigas que, em vez de serem recuperadas, são simplesmente deitadas abaixo para dar lugar a casas feitas de tijolo ou blocos, revestidas cada vez mais com capoto. Não se tem investido numa forte campanha e apoios à reconstrução tradicional, com as devidas adaptações possíveis sem desvirtuar esta jóia da coroa.
Com uma política de apoio à recuperação do edificado tradicional e também, quando necessário, construção de raiz, de base tradicional, poderemos continuar a ter uma mais-valia arquitectónica na região de Sicó. Caso tudo continue igual, e daqui a poucas décadas, poderemos ter apenas uma meia dúzia de aldeias do calcário (o melhor termo é aldeias do carso) e a funcionar como que de um espectáculo circense se tratasse, a relembrar o passado. A decisão é nossa, fica a dica.
Termino com um texto que escrevi há uns tempos sobre a componente da geodiversidade, que decorre do que escrevi atrás.
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