29.5.21

Interior não rima com falta de atitude!


Há poucas semanas, aquando do último debate do "Interior com voz(s)", debatíamos a questão florestal com um convidado muito bem versado no tema, curiosamente também geógrafo. A determinado momento falávamos sobre a questão da interioridade, mais concretamente se havia ou não um Portugal interior, naquela nossa velha conhecida dicotomia entre interior e litoral. É uma discussão sobre a qual muito já se disse, contudo, e pensando no meu dia-a-dia, dei por mim a perceber que muitos de nós associam o interior a algo de negativo, quando afinal o interior é uma virtude que teimamos em desconsiderar de facto. Apesar de reconhecermos que há qualidade de vida no interior, teimamos em conotar o interior a algo de negativo.
Há uns meses, li os comentários de uma "tia de Cascais", no qual ela mostrava esta mesma conotação negativa que ela e outros dão. Dizia que esperava que Ansião se tornasse cidade, comentário que demonstra não só uma depreciação do valor da Vila de Ansião e da própria região, bem como um desrespeito pelos valores locais e regionais. Depois de faltar ao respeito a duas pessoas mais jovens, de Ansião, afirmava que era inaceitável haver hortas dentro do espaço urbano da Vila de Ansião e indignava-se pelo alegado mau cheiro vindo da adulação dos terrenos agrícolas. Narizes finos e chiquérrimos estes... Afirmava que os terrenos agrícolas existentes deveriam ir para a periferia, sinal de uma profunda iliteracia territorial e conhecimento geográfico. Isto além da ignorância saloia, já que boa parte das localidades instalou-se em locais com boa aptidão agrícola e desde então os terrenos agrícolas têm sido convertidos para terrenos para urbanizar, facto preocupante.
É irónico termos alguém de Ansião (não da vila...) a minar a imagem da sede de concelho e dos seus valores. Deve ser reflexo de passar tanto tempo fora de Ansião e vir a Ansião uma vez por outra.
Seria importante alterar o paradigma respectivo, começando pela nossa auto-estima. Viver no interior é algo de positivo. Difícil para muitos, mas o facto é que o interior bate aos pontos as zonas urbanas em termos de qualidade de vida. E não se depende apenas de um ordenado...
Infelizmente o sistema económico vigente fez com que o despovoamento do interior levasse a uma perda de valores associados a estes territórios. O cancro da monocultura do eucalipto é um dos reflexos disso mesmo no sector Este da região de Sicó. Despovoamento, abandono dos campos, perda de biodiversidade, etc.
Em ano de autárquicas espero ver uma valoração da região em todos os programas eleitorais. E que seja consequente. O maior erro é acharmos que somos uns coitadinhos perante Lisboa e afins. Há que assumir de uma vez por todas que não somos uns coitadinhos que vivemos no interior porque não pudemos ir para as grandes urbes. Vivemos e queremos viver no interior e desenvolver estes territórios. Estamos na melhor posição de sempre para alterar o paradigma e assim honrarmos a nossa região! E, diga-se, a região de Sicó não é interior...

 

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