18.8.18

Restaurado? Olha que não, olha que não...


Era um ícone patrimonial com o qual me cruzei literalmente milhares de vezes, algo de normal sendo eu de Ansião. Era um dos ícones de Ansião, surgindo sempre destacado nas pesquisas na internet, e não só, sobre Ansião ou sobre o turismo desta região. Há poucas semanas tudo mudou, pois o painel histórico foi destruído, dando lugar a um novo painel. Era um elemento patrimonial de grande importância, daí a compreensível polémica que se seguiu após a destruição do painel de azulejos.
Acompanhei este caso ao longe, facto que não me permitiu falar sobre o caso até agora. Contudo fui falando com algumas pessoas e percebendo o que se passou. No fim-de-semana das festas de Ansião voltei finalmente ao meu habitat, do qual não me consigo separar, e fui fazer o necessário reconhecimento.
Após este regresso a Ansião estou então em condições de comentar o caso, fazendo desde já uma ressalva importante, a de que irei separar este comentário em duas partes:

1ª parte - Pelo que me foi dito, não era suposto isto ter acontecido, contudo, e infelizmente, o tempo não volta atrás e o painel original está perdido, não havendo volta a dar... Qualquer intervenção naquele painel deveria em primeiro lugar ter sido publicitada, havendo necessidade de informar os munícipes e, caso houvesse alguma intervenção de fundo a fazer, esta deveria ser debatida pelos cidadãos, tal como acontece noutros países relativamente a estas questões. A Câmara Municipal de Ansião falhou na gestão desta desastrosa intervenção, a qual resultou na perda de um elemento patrimonial único. Sei que já reconheceu o erro, contudo, e tal como já referi, não há volta a dar, a perda total do painel é permanente e definitiva, algo que lamento profundamente. 
Prosseguindo, gostaria de saber quem foi a pessoa que cometeu este atentado ao património, já que há uma lei recente que, teoricamente, protege o património azulejar, algo que não aconteceu. Como é possível alguém que lida com azulejos seja, em vez do seu salvador, o seu destruidor? Que competência profissional tem a pessoa que fez esta intervenção desastrosa?! Esta pessoa deveria ser impedida de lidar com património azulejar, de forma a prevenir mais destruição do nosso património azulejar! Deveria ir directamente para uma lista negra, onde estivesse o nome de todos aqueles que trabalhando na área, atentassem contra este património azulejar. É certo que a Câmara errou, mas seria de esperar que quem fez aquilo dissesse como as coisas têm de ser feitas e dissesse preto no branco à Câmara que aquele painel não poderia ser destruído sequer. Além de não o ter feito, é responsável pela destruição daquele painel de azulejos e de um dos ícones patrimoniais da Vila de Ansião. E depois ainda teve a lábia de escrever no novo painel que foi restaurado...
O painel original estava a precisar de uma intervenção, já que a área proximal à torneira, em baixo, estava um bocado degradada, mas nada de irrecuperável! As técnicas actuais já possibilitam isso mesmo, desde que a intervenção seja feita por uma pessoa credenciada e competente. Uma breve intervenção resolveria e manteria o painel durante mais umas décadas sem problemas de maior.


2ª parte - Quando isto aconteceu, surgiu a natural reacção dos ansianenses, umas mais honestas, outras nem por isso. Digo "nem por isso" porque se há coisa que me irrita é a hipocrisia. A crítica é bem vinda, a hipocrisia não! A crítica aponta os problemas e contribui de forma decisiva para que actos como este não se repitam, ganhando todos com isso. A hipocrisia não faz nada além de mostrar o quanto incoerentes algumas pessoas podem ser.
Nunca pensei que no espaço de poucos meses algumas pessoas que se mantinham caladinhas aquando de outros casos, de destruição de património, se transformassem em proeminentes activistas do património. A politiquice tem destas coisas. 
Vi dois casos em especial. O primeiro de uma pessoa que até há poucos meses não tinha esta veia de activista do património, na forma de denúncia pública em Ansião. "A primeira coisa" que fez foi fazer-se membro de um grupo do facebook do qual até então não fazia parte, o "Azulejos de Portugal", onde denunciou o caso. Será que se isto tivesse acontecido há uns meses teria feito o mesmo? Fica a questão...
O outro caso foi o de um ex vereador, que, postou na sua página do facebook a notícia sobre o caso, que constava no Jornal de Leiria, afirmando "e assim se faz notícia da minha terra na imprensa regional!". A hipocrisia fê-lo estar calado durante anos, enquanto dezenas de casos ligados à destruição do património em Ansião saíram na imprensa regional. A bela da hipocrisia no seu auge. Aposto igualmente que se este caso se tivesse passado há alguns meses, o indivíduo em causa nada diria de forma pública. Exemplos como estes mostram o quanto hipócrita pode ser a política, ou mais precisamente a politiquice. Aplaudo a crítica, condeno a hipocrisia! Aplaudo a política, condeno a politiquice! Eu já me deixei de politiquices há muitos anos e não foi por mero acaso...


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