Fotografias: Jean-Philippe De-Freitas
Sempre que posso participo nos processos de discussão pública, os quais estão disponíveis na plataforma: https://participa.pt/pt/consulta/processo-de-licenciamento-de-jose-maria-mendes-e-mendes-lda?fbclid=IwAR2ZzxPHLgMiCfY1E_VbUQ8xk_JZjTJc9fqhP_XgfzkjjxenyS89krJvu4M
Isto seja em Ansião ou noutros pontos do país, tudo depende do processo e da disponibilidade pessoal para despender 1 ou 2 dias para analisar a documentação e elaborar o meu parecer técnico. A última vez que o fiz foi também em Ansião, aquando do projecto de alargamento da zona industrial do Camporês.
Desta vez foi sobre um projecto associado a um historial já com muitos anos e com muita polémica à mistura. Há uns anos, e sobre a mesma situação, foi-me solicitada a minha ajuda, mas desta vez não foi preciso solicitar ajuda, já que eu soube do processo e, obviamente fiz aquilo que é suposto. Analisei a documentação, centenas de páginas escrutinadas. Fiquei perplexo com o que descobri, além do que já sabia. Já nem me lembrava da génese ilegal do projecto, imagine-se. Investi o equivalente a um dia meio de trabalho na análise da documentação e depois foi só afinar os apontamentos. No conjunto, o equivalente a dois dias de trabalho, que, para mim, foram à conta da cidadania de alguém que pugna pelo ambiente da sua região, e pela legalidade de tudo o que ali se passa. É assim que a região pode evoluir, sermos participativos e exercermos a cidadania.
O meu parecer, já submetido, tem 5 páginas e meia de comentários acerca de tudo o que considerei relevante salientar. Foi algo estranho ver que utilizaram um trabalho meu como fonte bibliográfica (que não consta na bibliografia, apesar de citado...). De tudo posso destacar o branqueamento que, no meu entender, foi feito na questão "cheiro". Ao longo de centenas de páginas não foi referida uma única vez o facto de haver um longo historial de queixas sobre a actividade desta empresa. O bem-estar da população não foi referido, mas apenas o bem-estar dos trabalhadores, curioso... Já quando foi abordada a questão dos recursos hídricos, nomeadamente furos de água, foi referido que estava tudo bem porque... não havia queixas. Foi também curiosa a omissão de, por exemplo, uma provável gruta nas proximidades. Ou ser referido que não havia necessidade de fazer uma análise ao endocarso. Isto numa área cársica, onde temos edifícios que, na documentação, estão referidos como de génese ilegal e em fase de regularização. Isto estando a funcionar há décadas... Ou então excluir dados do desemprego nos últimos censos e utilizar os anteriores... Por isto e por tudo aquilo que referi no meu parecer técnico, dei nota negativa a este projecto. Compreendo que há factos que são difíceis de tratar, já que também trabalho com Estudos de Impacte Ambiental, contudo aqui faz-se, no meu entender, um branqueamento de factos graves, que prejudicam a população, que não poderia deixar passar em branco. Enquanto geógrafo e bom conhecedor do carso de Sicó, não havia outra forma de fazer as coisas, sendo imparcial, tal como é ponto de honra da minha parte.
Há 2 dias houve uma manifestação da população afectada em frente à Câmara Municipal de Ansião, tendo sido os manifestantes recebidos pelo presidente e pelo vereador do ambiente. Não sei mais pormenores, já que retirei estas imagens das redes sociais. Mas alegra-me ver as pessoas a exercer os seus direitos e os autarcas a receber e falar com os manifestantes.
A ver vamos o resultado de toda esta mobilização dos residentes mais próximos da Lapa. Espero, sinceramente, que as coisas mudem para melhor e a população comece a ganhar a qualidade de vida e bem-estar que tem perdido ao longo de décadas. Já há muitos anos que aquela indústria é um cartão de visita quando se entra em Ansião, vindo de Pombal. O cheiro é que não convida muito...
Para quem quiser participar, tem até dia 25 de Maio, através do link acima. Participem se assim o entenderem. Mas caso não participem, depois não se queixem da vossa inacção.
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