21.2.11

Os "poços de carapuça" de Sicó



De forma a amplificar, em termos de divulgação, a questão dos "poços" na temática do património da região de Sicó, destaco agora os "poços de carapuça".
São mais um de muitos elementos patrimoniais da região de Sicó que importa conhecer. São poucas as pessoas que sabem onde podem encontrar estes belos poços, felizmente conheço alguns. Já conhecia estes dois "poços de carapuça" antes de conhecer uma investigadora que tratava-os por este último nome, facto que até 2006 desconhecia. 
Aproveito para referenciar a investigadora que também se dedica à temática do património da região de Sicó, minha conhecida. Maria José de Guanilho Duarte dedica-se já há alguns anos à investigação sócio-antrolopológica do sector Sul da região de Sicó, a qual tem resultado em alguns artigos deveras interessantes. Apresentou alguns destes resultados em dois congressos nos quais também estive presente, no Simpósio Ibero-Americano - Património Geológico, Arqueológico e Mineiro em regiões Cársicas (Batalha, 2007) e no IV Congresso Nacional de Geomorfologia (Braga, 2008). A seu tempo tenho a esperança de também o trabalho desta investigadora tenha reconhecimento pelo comum cidadão da região de Sicó.
Voltando aos "poços de carapuça", estes têm várias particularidades, pois não é só a carapuça que os torna diferentes do vulgar poço. Para demonstrar estas mesmas particularidades, nada melhor do que um excerto do artigo de Guanilho Duarte (2007), presente nas actas do Simpósio Ibero-Americano:

"Estas cisternas eram escavadas no chão, à semelhança de um poço, forradas a pedra e depois rebocadas interiormente com uma argamassa muito particular e que era composta por areia, cal e uma pequena quantidade de azeite, reforçando assim a impermeabilidade das paredes da cisterna. As "carapuças" dessas cisternas, em forma de abóbada, eram feitas no chamado "tijolo de burro", com a mesma técnica de fazer um forno de cozer o pão. Nestas construções a união do tijolo era feita com argila. Depois a carapuça feita era coberta com a mesma argamassa usada para seu reboco interior ou apenas com barro.
Estas "carapuças" tinham a função de manter a água arejada, fresca e potável, durante os verões quentes desta região. Outras há que tinham, também, pequenos orifícios à volta, reforçando o arejamento, em que o próprio terreno, onde estava implantada a cisterna, ditava essa necessidade de maior ou menor circulação de ar. Esses orifícios (tapados com rede) facilitavam ainda mais a circulação do ar e impediam que animais ou impurezas caíssem para dentro de água. Estas cisternas têm na "carapuça" uma pequena abertura lateral por onde as pessoas tiravam a água, e que estava tapada por uma janela de madeira.
Junto à cisterna havia sempre três pias individuais escavadas na pedra: uma para os animais beberem água, outra para fazer o sulfato para curar as vinhas e ainda outra associada a uma laje onde as mulheres de casa lavavam, esfregavam e batiam a roupa."

Interessante, no mínimo, não acham? Pena é que os autarcas da região de Sicó não dêem real valor a este património. É este mesmo património que tento preservar, através da divulgação e promoção do mesmo. Se o cidadão não conhece como pode ele querer preservar?!
E se pensam que não há mais tipologias de poços.... desenganem-se, pois há mais. No entanto, e para já destaco mais esta tipologia, daqui a mais algum tempo voltarei a abordar esta topologia de elementos patrimoniais. É um tema que interessa a quem cá vive e aos que não vivem cá, seja noutras regiões do país ou noutros países, caso do Brasil (segundo país com maior número de visitantes) e dos Estados Unidos (terceiro no ranking!).
É por este património que temos de lutar, mesmo que cause alguma azia a quem o deveria proteger, valorizar e divulgar, quando não o faz... 


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