É uma imagem que dispensa descrição, pois qualquer um percebe o que é, contudo são poucos os que percebem a profundidade que uma imagem como esta, que representa uma das muitas paisagens do esquecimento na região de Sicó, tem.
Para os mais simplistas trata-se uma imagem que representa o abandono de uma aldeia de Sicó e que faz parte da vida. Para os mais elaborados, como eu, trata-se de uma imagem que é a consequência de políticas desastrosas de gestão territorial e ordenamento do território. E às várias escalas, nacional, regional e local. O pessoal tem muito o hábito de dizer que as más políticas são apenas culpa do governo, esquecendo-se que também a nível local há muito desgoverno, incompetência, mediocridade, corrupção e afins. Havendo competência ao nível local conseguem-se ultrapassar muitas das barreiras impostas, consciente ou inconscientemente ao nível nacional, as quais tanto mal têm feito aos territórios longe das zonas metropolitanas do Porto e de Lisboa...
Infelizmente ao nível local o cenário é também desolador. Pensa-se ainda na (i)lógica de há décadas, onde se privilegia zonas industriais e nada mais. Não se privilegia os jovens altamente qualificados e com capacidade para mobilizar todo o território com mais-valias que tanta falta fazem a estes territórios. Dá-se graxa apenas aos donos de fábricas, esquecendo-se os jovens que poderiam fazer toda a diferença. Imaginem a diferença que faria apoiar por exemplo 5000 jovens altamente qualificados que quisessem voltar ou então que quisessem ficar depois de acabar os seus cursos. Não seriam apenas 5000 jovens, mas esse número multiplicado por três ou quatro em poucos anos, pois por detrás de cada um destes jovens está uma família.
Durante muitos anos fui algo ingénuo e acreditei que o mérito e as qualificações por si mesmo poderiam fazer diferença, mas infelizmente não fazem. Não é o mérito e as qualificações que mandam, mas sim a sorte de ser de uma família mais bem posicionada e com recursos, o facto de pertencer a uma juventude partidária ou então o factor sorte, que também é importante e, de facto, acontece a alguns (que de facto têm mérito e qualificações). Sei que sou um caso à parte, pois há muitos anticorpos que dificultaram o meu caminho ou impediram certas viragens e certos rumos. Apontar o que está mal tem um custo, sempre o soube e não me arrependo, pois faria tudo de novo. Estou em vias de desistir de todos os meus planos para Sicó que tinha pensado. Criar uma empresa, desenvolver projectos vários inovadores, fazer parcerias, criar valor acrescentado com o que Sicó já tem, sem destruir ou degradar. Transformar no bom sentido Sicó, contudo o destino não quer que assim seja e eu estou em vias de me conformar, estando já a pensar que a minha actividade profissional irá apenas continuar fora de Sicó, ficando "apenas" a defesa da mesma em actividade, com outros amigos defensores do património de Sicó. Ironia das ironias, há pouco tempo fui convidado para um trabalho pontual na região, mas por pessoas que não são de Sicó e que reconhecem o mérito e a competência.
Apresentei projectos por toda a região, mas não houve factualmente interesse de ninguém, seja público ou privados. E não, o problema não sou eu. Cheguei a esperar anos por uma respostas que nunca chegaram, anos por informação, que nunca chegou, para elaborar projectos, etc. Até com o sector privado fiquei desiludido, pois a mentalidade é ainda cada um por si. Tem-se reuniões para debater ideias e projectos, tudo muito bem e depois, nicles, apenas silêncio. Esse é um dos erros crassos, pensar apenas em si e não pensar que em parcerias somos mais fortes. A política das capelinhas é ainda forte, por toda a região de Sicó...
Aos jovens de Sicó digo apenas, migrem para outras regiões do país que gostem, onde não vos conheçam, ou emigrem, não esperem por algo que nunca vos vão oferecer, ou seja uma oportunidade e um apoio forte para ficarem ou voltarem à nossa região. Pode parecer estranho eu dizer isto, mas após tantos anos é a verdade mais séria e o melhor conselho que posso dar aos jovens de Sicó. Estou profundamente arrependido de quando acabei o doutoramento em 2014 não me ter esforçado por emigrar e ter de certa forma esperado que teria possibilidade, apoio e reconhecimento para fazer o que mais gosto e melhor sei na minha região, Sicó. Por esta altura estaria realmente feliz da vida e poderia estar à mesma a ajudar a defender o património de Sicó, mesmo estando longe, já que actualmente não precisamos de estar num local para poder fazer a diferença. É a triste sina de Sicó, uma região extraordinária mas sem massa cinzenta que faça a diferença...
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