14.3.22

Porque falharam? Porque...



Há poucas semanas tive a honra de ser convidado pela Câmara Municipal de Ansião para um fórum para debater, com outros actores de desenvolvimento territorial, algumas questões que achávamos pertinentes para ser debatidas, de forma a, assim, contribuir para uma discussão aberta sobre o futuro de Ansião, focando-nos na questão empresarial. Esta reunião não foi em Alvaiázere, tal como estas fotografias poderão dar a entender. Mas já irei à parte onde entra o que veem nestas duas imagens...
O debate foi, para mim, enriquecedor, contudo, e no final, motivo de preocupação, já que alguns dos intervenientes mostraram que em vez de evoluírem no pensamento estratégico, mantêm uma forma de pensar que fazia sentido há uns... 30 anos. Actualmente não faz sentido e acaba por ser um garrote ao desenvolvimento territorial. Fiquei perplexo quando vi um dos intervenientes, ligado a uma incubadora de empresas, ser "atacado" por dois outros intervenientes, menorizando o papel estratégico que o empreendorismo pode ter em Ansião. Isto a propósito de eu, no debate, ter salientado a importância de termos uma incubadora de empresas criativas na Vila de Ansião. A incubadora de empresas localizada no Camporês não é minimamente atractiva para toda uma panóplia de empreendorismo ligado à criatividade, ao marketing territorial e outros mais. 
O "ataque" que referi foi feito por quem acha que o modelo de desenvolvimento territorial deve continuar a ser focado apenas em fábricas e emprego pouco qualificado. E o preocupante foi que este "ataque" não foi feito apenas por uma geração mais avançada mas também por um interveniente da minha geração. Insiste-se numa fórmula que até há uns 20 anos fazia sentido mas que actualmente é uma fórmula caduca.
A minha preocupação deve-se ao facto de ver que continuam a menosprezar aquilo que poderá fazer toda a diferença em termos de dinamismo territorial em Ansião. Acham que a coisa se faz apenas com fábricas e que não se faz com micro empresas de elevado valor social/territorial/económico, ou seja empresas que criem valor que mais ninguém tem criado e que é fundamental para o futuro. Apoios a jovens altamente qualificados que estejam dispostos a criar na sua terra empresas das mais variadas valências, muitas delas... inexistentes! Acham que o foco deve ser termos mais fábricas para trazer pessoal pouco qualificado, para que estes tenham um dia-a-dia casa - fábrica - casa, em vez de termos muitas mais empresas diversificadas que mantenham neste território os jovens que foram estudar para cidades como Lisboa, Porto, Coimbra, Leiria ou outras mais. Jovens que criem aqui as suas famílias e que assim aumentem o número de habitantes. Jovens que tenham conhecimentos que potenciem a manutenção da bela paisagem, a manutenção das boas práticas e tradições. Jovens que mantenham o extraordinário associativismo que temos. Há quem menospreze todas estas questões, estratégicas, e isso é deveras preocupante. Como se pode defender um sistema que privilegia um modo de crescimento que não é abrangente, que não promove o desenvolvimento territorial pleno, que potencia a perda de população e de quadros altamente qualificados? Mas, diga-se, não me surpreende, já que esta linha de pensamento foi até há poucos anos uma linha de pensamento que "mandava" os destinos de Ansião. Foi esta linha de pensamento que fez muitos não voltarem à sua terra depois de terminarem os estudos superiores. Foi esta linha de pensamento que me impediu de criar uma empresa em 2009, pensada para desenvolver um modelo de negócio relacionado com temas como o marketing territorial, o geoturismo, a inovação social e outras coisas mais. Não admira, portanto que quem me fez isto esteja agora ligado a, pelo menos, uma empresa que há alguns anos estive envolvida em violações de PDM e da Rede Natura 2000. 
Fiz uso destas duas imagens, da incubadora de empresas da Vila de Alvaiázere, porque representam, no abstracto, o que falta na Vila de Ansião, ou seja uma incubadora de empresas criativas. Mas não é tudo, falta uma estratégia de apoio a jovens empreendedores. Esta estratégia pode e deve ter várias vertentes e, fazendo uma analogia, da mesma forma que uma autarquia quase que oferece terreno a uma empresa para construir uma fábrica, esta pode, no caso de um jovem empreendedor, oferecer o espaço da incubadora, durante 1 ou 2 anos a quem apresentar um projecto devidamente justificado. Micro-crédito é também uma boa aposta, já que boa parte deste tipo de negócios passa numa primeira fase por um pequeno apoio financeiro. Mas não só, é preciso consciencializar toda uma sociedade para o potencial e mais-valias deste tipo de ideias, que se desenvolve com os jovens da terra, altamente qualificados, e que, imagine-se, suprem necessidades prementes em termos de projectos que podem valorizar as potencialidades e especificidades deste território fabuloso, do qual Ansião faz parte, ou seja Sicó.
Já quase me esquecia de referir outro ponto preocupante, ou seja a típica forma de pensar das "capelinhas". Apesar de ter sido apenas uma pessoa a falar da sua capelinha, foi alguém que era suposto perceber que se os vizinhos não estiverem bem, Ansião também não estará. O desenvolvimento de Sicó passa pelo trabalho e estratégias em conjunto, não de forma estritamente individual... 
Depois desta reunião/debate, o sentimento foi de desilusão, já que apesar de nos últimos anos a forma de pensar ser algo diferente e de novos caminhos estarem a ser trilhados, há fantasmas do passado que são verdadeiras barreiras ao desenvolvimento territorial, social e económico. 
Brevemente voltarei a esta questão, complementando com outros factos... 


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