10.3.20

Queimar parte da Serra de Sicó para que os visitantes tenham vistas mais largas?!



Preferi esperar uns dias para comentar oficialmente, já que queria esperar pelo desenvolvimento desta novela quente, que apanhou tantos de surpresa.
Falo, claro, de uma acção de fogo controlado planeada algures para a Serra de Sicó. As minhas "antenas" detectaram o assunto através das redes sociais, depois de um conhecido ter comentado esta questão e um membro de Assembleia Municipal ter comentado, de forma não oficiosa, o assunto. A senhora utilizou como argumento para o fogo controlado a suposta necessidade de ter vistas na serra, já que o que ela denominou como mato alegadamente tapa a vista aos visitantes. E não, não utilizou argumentos aos quais eu poderia dar algum crédito, tais como argumentos técnicos e/ou científicos. Poderia ter alegado a necessidade de fogo controlado para gestão da paisagem e aí já valeria a pena dissertar sobre o assunto. Mas não, alegou a necessidade de fazer arder parte da serra para que os visitantes pudessem ver melhor. Bravo! Resta saber se esta senhora sabe, de facto, o que é andar na Serra de Sicó, mas a pé e não de jipe. Eu já por lá ando há muitos anos e, portanto, sei o que é palmilhar a Serra de Sicó e os seus belos campos de lapiás, a pé. 
Há pessoas com responsabilidades que, devido ao seu distanciamento sobre a Natureza, cometem erros graves, que depois se reflectem na má gestão do território, mesmo que de forma indirecta, já que a sua posição, enquanto políticos, se sobrepõe muitas vezes a posições técnicas e científicas. Isto mesmo que possam não ter qualquer competência na matéria em causa.
"Argumentos" como este, invocados por um membro de uma Assembleia Municipal são sintomáticos de um mau conhecimento do território e de uma má gestão do território e da paisagem de Sicó, talvez daí tanta indignação de populares e associações que usufruem daquela área e que nem sequer foram consultados.
Não sou contra o fogo controlado, já que nalgumas situações pode ser uma boa ferramenta de gestão da paisagem. Não é este o caso na Serra de Sicó, onde já há muitos anos a frase "gestão da paisagem" é desconhecida por parte do poder público. Infelizmente hoje é mais uma moda em voga, boa para mostrar "serviço" e algumas pessoas. Ah, e já agora, um técnico de queima ganha 120 euros por hectare ardido numa acção de fogo controlado. São pormenores que importam saber.
Depois de todo este zum zum nas redes sociais, realizou-se uma sessão de esclarecimento (curioso o cartaz ter dois pontos de exclamação...), a qual, e pelo que me foi confidenciado, foi pouco útil. Fiquei a saber que alegadamente as comissões de compartes não foram tidas em conta neste processo. Curioso, muito curioso... E outras curiosidades mais, nomeadamente pela posição da Junta de Freguesia de Vila Cã, que alegadamente não ficou nada bem na fotografia. 
Fiquei também curioso sobre a questão da(s) pedreira(s) e do jeitaço que isto poderia dar. Mas isso é para outras conversas.
Querem mesmo fazer algo de útil e que se justifica? Vamos por partes, no imediato proceder às limpezas em redor do edificado, salvaguardando bens para o próximo Verão. Depois a elaboração de um Plano de Paisagem, o qual acautela a gestão da paisagem e da vegetação, bem como outras coisas mais (neste Plano de Paisagem as populações e entidades são devidamente auscultadas). Essa proposta já existe e é do conhecimento da Terras de Sicó. E deixem-se de "show off", pois isso já temos a cada Verão que passa. E já não deve faltar muito para que, mais uma vez, boa parte da Serra de Sicó arda, como é tradição (cíclico). Já muitos sabem onde o próximo incêndio começará e onde acabará, mas isso parece que já não interessa para alguns nem dá para fazer "show off".
Como nota final, a necessária declaração de interesses. Já trabalhei num Plano de Paisagem Municipal (bem longe de Sicó), embora na temática da geodiversidade, portanto à luz dos factos, e para alguns de vós, posso eventualmente ser considerado suspeito para sugerir/propor a necessidade/utilidade de um Plano de Paisagem.

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