Êxodo rural e litoralização são dois termos com os quais comecei a conviver desde que entrei activamente no "universo geográfico". São dois fenómenos muito caros a Portugal, já que, com ambos, vieram muitos dos maiores problemas que afectam e afectarão Portugal nas próximas décadas. Portugal ficou bastante desequilibrado em termos sociais, culturais, ambientais e económicos.
Várias regiões ficaram desprovidas dos seus maiores valores, começando por uma imensa quantidade de valorosas pessoas que dinamizavam a economia, a cultura e, não menos importante, moldavam muitas das belas paisagens com as quais ainda vamos convivendo por este país fora. Sicó não é excepção e as últimas décadas demonstram bem isso mesmo.
Mas não é de êxodo rural que quero falar, mas sim de êxodo urbano. Claro que não desejo um êxodo urbano puro e duro (que seria tão nocivo como o êxodo rural), mas sim algo sustentado, sensivelmente na linha do projecto desenvolvido pelos Novos Povoadores.
Hoje em dia somos formatados para pensar que estarmos ligados ao sector primário é algo de "retrógado" e estar ligado ao sector secundário ou terciário é que é fixe. A corrente mainstream dita isto mesmo e a maioria vai atrás do que os outros dizem, que nem carneiros, em vez de parar para pensar e seguir um futuro idealizado e planeado por si mesmo.
Uma das coisas que mais me faz rir é ouvir os tecnocratas dizer que a "solução" A ou B é que resolve isto e aquilo. Ou seja, tecnocratas quase que alheados do mundo real, dos cheiros e das paisagens, pensam que conseguem fabricar soluções à medida das suas visões, quando afinal não é o mundo real que se tem de adaptar a eles, mas sim o contrário. Quando se fala em soluções, raramente se fala nos interesses económicos que nos pretendem na "cerca", de modo a não só não desenvolvermos o pensamento crítico, mas também sermos as "vítimas" do consumismo. Compro, logo existo, é este o lema do capitalismo predatório. No mundo real o único lema é, penso, logo existo. Eu acrescentaria que trabalho para viver e não vivo para trabalhar. Ou até que só quem não faz o que gosta é que precisa de férias.
Há uma solução para muitos dos problemas do país, e essa solução passa por uma migração de muitas pessoas para o interior do país. Há ainda uma geração que ainda tem um potencial muito grande em termos de apego à terra, de saber fazer no mundo rural e de fazer pontes com as gerações mais velhas. Dinamiza-se as economias locais, actualmente muito fragilizadas, seja pelo comércio, pela reabilitação do imenso edificado abandonado, pelo turismo, pela agricultura biológica (aproveitando as variedades tradicionais e não as culturas da moda....) e muito mais. E tudo isto acompanhado por uma não menosprezável qualidade de vida.
Claro que isto não interessa a um importante grupo de interesses económicos. Um deles eu denomino como gang do eucalipto.
O mundo rural tem uma imensidão de oportunidades, as quais estão à nossa espera. Seja na região de Sicó ou no interior de Portugal (Sicó não é interior, caros autarcas...), basta pensar as coisas com cabeça, planear os projectos e seguir em frente. Se é fácil? Não, não é, mas o resultado final ultrapassa todas aquelas dificuldades e angústia que temos na hora de mudar a nossa vida.
Resumido, é isto...
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