14.4.16

Cartografia histórica da região de Sicó: em busca dos topónimos perdidos


Já tinha a carta de Ansião mais recente de todas (2004), contudo faltava-me mais uma, pensava eu. Afinal faltavam-me duas versões mais antigas da carta militar de Ansião, daí rapidamente as ter adquirido no formato que mais gosto, em papel, para poder investigar os topónimos. A cartografia é barata e recomendo-vos vivamente que adquiram pelo menos o exemplar da carta correspondente à área onde vocês vivem.
A cartografia já me fascina há largos anos, embora o gosto efectivo pela cartografia histórica seja mais recente.
Mas vamos a um pequeno esclarecimento. Vêem que a Serra da Portela sempre teve esse nome e não outro? Eu também fui surpreendido há coisa de duas décadas, pois havia algumas pessoas que diziam que aquela serra tinha um outro nome (e eu acreditava só porque elas me diziam...). Uma coisa é elas, a título individual, denominarem a mesma por um qualquer nome que não o oficial e legal, outra é elas afirmarem, erroneamente, que seria esse o seu nome oficial e legal. O nome/topónimo próprio já existe há muitas décadas, tal como a cartografia o comprova sem qualquer margem para dúvidas. Anjo da Guarda refere-se apenas à capela e ao miradouro existente na serra da Portela.
Informação à parte, fiquei agora esclarecido porque é que já tinha visto Pousa-Flores em vez de Pousaflores.

Fonte: Carta Militar de Ansião, 1947 (275) - excerto do meu exemplar (papel). 

Já surpresa foi o facto de ver que o marco geodésico do Monte da Ovelha já teve outro nome/topónimo, ou seja Moura. Não me admira que isto esteja ligado ao povoamento arqueológico situado a escassas centenas de metros a Norte daquele ponto. Já o nome Monte da Ovelha poderá estar relacionado com o período que antecedeu o plano dos centenários (escolas primárias), quando as próprias crianças levavam os rebanhos para a serra. 
Tive outras surpresas, pois mesmo no local onde vivo, fiquei a saber de um topónimo que nunca tinha ouvido falar...

 Fonte: Carta Militar de Ansião, 1984 (275) - excerto do meu exemplar (papel). 

O comum cidadão, que não lida com cartografia, está muito alheado do valor e interesse de tudo aquilo que as cartas militares retêm numa simples folha de papel. O intuito deste meu comentário tem a ver precisamente com o regresso às origens e com aquilo que é realmente importante, o nosso património e os nossos belos topónimos, que importa conhecer. Apenas nesta carta (275) tenho muito por onde explorar, mas para isso vou precisar da ajuda dos mais velhos, dos anciãos, complementando com antigas publicações.
E para os mais desatentos, Ansião já foi Ancião, sendo eu ainda do tempo em que na escola se escrevia Ancião (sim, estou a ficar velho).

Fonte: Carta Militar de Ansião, 2004 (275) - excerto do meu exemplar (papel). 

1 comentário:

Estevão Portela-Pereira disse...

Boas João... pela minha experiência nem sempre o que está na Carta Militar está correcto. Os topónimos são dados pelas pessoas que vivem no território e muitas vezes há diferentes interpretações em ambos os sentidos. Das próprias pessoas que transmitiram aos militares/cartógrafos, e da própria interpretação que estes técnicos fizeram do que lhes foi dito, muitas vezes oralmente. Já tive oportunidade de trabalhar com diferentes versões das cartas, pois eu usei as velhinhas cartas de campo que a D. Elisa e a Sandra me forneciam na Mapoteca do CEG... Umas autênticas relíquias muito úteis, pois eram meticulosamente cortadas e reforçadas para serem desdobradas; mas por outro lado, um quebra-cabeças em áreas que sofreram grandes alterações nas últimas décadas - e.g. em áreas de extensos eucaliptais... Eu também me fascino pelos topónimos, sobretudo fitotopónimos e hidro/geotopónimos... por causa dos meus estudos da vegetação e habitats. Grande abraço