8.4.22

Sicó, a jóia da coroa, não merece tamanha incompetência...


Escrevo estas linhas ainda a pensar que não passaria de uma peta do 1 de Abril, contudo tenho a noção de que é apenas uma ilusão minha para tentar ultrapassar a desilusão do costume, ou seja de ser de uma região onde a regra é a inaptidão crónica de quem deveria ser competente para desenvolver, de facto, a região de Sicó. 
Há poucos dias recebi o Jornal Terras de Sicó, um dos poucos jornais que acompanho, de facto, já que além de lhe reconhecer um trabalho interessante em Sicó, é um jornal que é dos meus, ou seja escreve em bom português e não se deixa iludir com atentados culturais como o é o "acordo" ortográfico. Mas voltando aos carris, quando recebi a última edição do Jornal Terras de Sicó, houve uma notícia que saltou à vista das demais, não só por ser capa do mesmo, mas fundamentalmente por ser um assunto que me é muito caro e sobre o qual já aqui falei por várias vezes.
Mas vamos aos factos anunciados na notícia da qual dou conta na imagem acima. Acaba por não ser surpresa uma notícia deste tipo, algo de sintomático tendo em conta o amadorismo demonstrado pela da Terras de Sicó neste domínio. "Tiveram a ideia" de classificar a paisagem de Sicó, algo de bom e que já se falava há muitos anos, contudo, e depois, começou o amadorismo. Quando se esperaria que a Terras de Sicó envolvesse de início os especialistas que têm Sicó como território privilegiado de estudo, não os envolveu e contratou uma empresa do Porto para fazer um estudo muito, mas muito redutor, que custou apenas pouco mais de 15000 euros. Quando se esperaria que a Terras de Sicó envolvesse entidades, associativismo e os próprios cidadãos, ignorou-os e só os "chamou" depois da coisa feita para limar duas ou três arestas. Surgiu então um relatório muito incompleto e com graves omissões, que mostrou que o território de Sicó não foi devidamente avaliado e entendido. Depois disto a Terras de Sicó, por via de cada um dos municípios, lembrou-se de promover sessões de esclarecimento, daquelas tipo facto consumado, onde parece que a nossa opinião foi tomada em conta. Não foi, pois se fosse a nossa opinião teria sido tomada em conta no início do processo, antes do relatório e durante as visitas ao terreno. Foi nestas sessões públicas que a Terras de Sicó viu que tinha cometido erros crassos, já que surgiram as mais que expectáveis críticas ao processo e ao relatório. Foram críticas unânimes e por investigadores e associações que já cá andam há muitos anos e que conhecem muito bem Sicó.
Importa também referir que antes deste processo, foi sugerido à Terras de Sicó que promovesse um Plano de Paisagem, de forma a ter uma base sólida para uma posterior classificação da paisagem de Sicó e um instrumento de gestão essencial para a valorização da mesma, promovendo assim um desenvolvimento territorial baseado nos valores naturais, compatível com a preservação destes mesmos valores.
Eis que agora surge uma notícia sobre uma reavaliação do projecto. Na notícia fala-se que há 3 anos a Terras de Sicó ponderou entre a classificação da paisagem de Sicó ou um Geoparque. Só para verem como a Terras de Sicó está muito atrasada em termos de planeamento estratégico, a ideia da classificação da paisagem de Sicó já tem décadas e a ideia de um Geoparque tem 16 anos, já que foi uma ideia que apresentei num evento do qual fui responsável pela organização. Na altura houve um vereador que achou que eu era muito ingénuo, quando afinal não percebeu que eu estava à frente do seu tempo. No meio académico o evento foi muito bem recebido.
Mas, e prosseguindo, na notícia em causa, é dito que a proposta de classificação foi elaborada por uma empresa especializada, mas sem referir em que é afinal especializada... Não se confunda uma empresa do ramo ambiental com uma empresa especializada na elaboração de planos com vista à classificação de uma paisagem protegida. Diz a notícia que o documento foi aprovado nos executivos municipais, sem referir que foi liminarmente chumbado por todos aqueles que trabalham em prol desta jóia que é Sicó, seja investigadores, seja associações como por exemplo o Grupo Protecção Sicó.
Depois disto, é relatado que o assunto saltou para as páginas dos vários orgãos de imprensa local e regional. E não foi por acaso, já que chega-se ao ridículo de prever medidas que, imagine-se, levam, no concreto a uma não manutenção de práticas que foram o garante do moldar desta paisagem e de processos importantes para a sua manutenção. Fala-se também no impedimento da realização de provas de atletismo, quando se, por exemplo, tivesse sido elaborado um plano de paisagem para Sicó, facilmente se saberia que se podem fazer provas deste género desde que sujeitas a limites (capacidade de carga). O mesmo se aplica a outras actividades, as quais se podem fazer desde que com regras. 
É também referido que os autarcas estão descontentes com a polémica, facto compreensível, contudo essa polémica deve-se fundamentalmente à desastrosa, repito, desastrosa gestão da Terras de Sicó deste processo. Já só falta meterem a culpa em nós... Fazer mea culpa não é um defeito, mas sim uma virtude, fica a dica à Terras de Sicó. O processo não cumpriu os preceitos necessários, portanto não mandem areia para os olhos do pessoal sff. E não teve a exposição pública necessária! O que quiseram foi legitimar o processo com sessões públicas organizadas quando já o relatório já estava feito. É uma falha estrutural e que mostra bem o amadorismo do processo. A Terras de Sicó quis começar a casa pelo telhado e o resultado está à vista.
Sobre o tal investimento necessário, acham mesmo que algo desta importância e grandeza se faz com 15000 euros? Queixam-se de ter de fazer avultados investimentos quando por outro lado ainda há poucos meses investiram 300000 euros num festival de magia?! (nada contra este festival de magia!). Não saberá a Terras de Sicó que para elaborar um processo que vise à classificação da paisagem de Sicó é necessário um investimento na ordem de centenas de milhar de euros? É um investimento que tem de ser feito e que no médio prazo trará milhões de euros como benefício. E planeamento...
É triste que o amadorismo ainda seja a regra em Sicó e que Sicó esteja ainda refém de uma, na minha opinião, incompetência com raízes profundas. Como se pode investir num território onde a própria Associação de Desenvolvimento Territorial não dá garantias de competência em processos tão importantes como este? Depois queixam-se de sermos uma região de baixa densidade, com problemas estruturais. Pudera...



































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