8.11.22

Mais parece discurso de promotor imobiliário...


Confesso que não é nada que não estivesse à espera, contudo acho lamentável em vez de ouvir um verdadeiro discurso de autarca, ouvir um discurso que mais parece o discurso de um promotor imobiliário. Há 2 décadas que o poder político em Alvaiázere cultiva esta lenga lenga de que a Rede Natura 2000 é factor que limita o desenvolvimento de Alvaiázere. Diria numa primeira análise, que o único factor que tem limitado o desenvolvimento de Alvaiázere é apenas e só uma visão redutora e ultrapassada do que é afinal desenvolvimento territorial. A visão deste autarca não concebe mais nada que não a visão que ele tem do território. Não concebe todo um mundo que está além da sua curta e limitada visão das potencialidades e valores deste território muito especial, as quais eu já tenho vindo a apontar há uns 17 anos. Construir zonas industriais dentro de um território com tamanhos valores naturais não é desenvolvimento, é sim uma crónica mentalidade estereotipada e uma notável inabilidade para governar/potenciar um território extraordinário. 
A Rede Natura 2000 não é nenhum entrave para o desenvolvimento deste território, é sim uma mais-valia que este autarca não tem habilidade para gerir e potenciar. Projectos que não vão de acordo com a sua visão muito redutora das riquezas patrimoniais daquele território são pura e simplesmente ignorados, mesmo que sejam projectos reconhecidos e de reconhecido potencial para Alvaiázere. 
Confesso que me fartei de rir com o populismo deste autarca quando ele refere que "temos mais 50% do nosso concelho em Rede Natura e ninguém gosta mais dela do que nós". Dito por quem tem sido das pessoas que mais tem desprezado quem, de facto, gosta e pugna por carolice pela RN2000, também no território de Alvaiázere. Alguém que ainda há 15 anos, aquando do atentado das azinheiras, na Serra de Ariques, esteve ao lado de quem mandou abrir um estradão ilegal em pleno habitat da RN2000, abatendo milhares de azinheiras em plena RN2000 e alegadamente difamou quem denunciou as ilegalidades. O tempo mostra quem é quem. O tempo não esquece...
Nesta entrevista ao Jornal Terras de Sicó este autarca tenta gerir bem as palavras, contudo não esconde ao que vem, que é poder construir dentro da RN2000, destruindo mais valores naturais e riquezas patrimoniais. Aliás a sua família política tem uma forte tradição nesse domínio, tal a quantidade de ilegalidades ocorridas nas últimas décadas, seja abertura ilegal de várioestradões, abate de azinheiras, carvalhos e afins. E tentativas de expropriar de forma alegadamente abusiva terrenos privados para construção de uma zona industrial (abatendo com isso dezenas de sobreiros e carvalhos centenários, além de azinheiras). É público, não estou a inventar nada, são factos!
Em vez de planear o território, tenta a política da vitimização para se desculpar pela fraca dinamização do território e falta de inovação territorial. O que interessa para este autarca parece ser desarmar a RN2000 para... poder construir zonas industriais. Estranho é este autarca falar dos 50 % de RN2000 e não falar dos outros 50% que não são RN2000. Será que fora da RN2000 não há área para zonas industriais ou isso não lhe interessa? Fica a pertinente questão. Não tem mostrado algo de essencial, ouvir todos e definir uma estratégia para potenciar o território e as suas riquezas naturais e patrimoniais. Será que não concebe deixar os seus "ódios de estimação" e ouvir quem sabe da coisa, independentemente de gostar ou não da pessoa? Omite que dentro das áreas urbanas, seja de nível I, II ou III, dá para fazer muita coisa que potencie a dinâmica territorial, já que o que é realmente importante para Alvaiázere é mesmo potenciar as suas riquezas e não construir pavilhões gigantes no meio de casas só para dizer que tem fábricas. No Rego da Murta está um dos piores exemplos de como as coisas não devem ser feitas, contra as populações e prejudicando as mesmas. Elas vão embora por algum motivo...
Não é também por acaso que o processo de classificação da paisagem de Sicó ficou em águas de bacalhau. Era mais um entrave para este e outros autarcas, que não concebem o mundo além da sua visão redutora do território. E o problema não é não saberem, mas sim não quererem saber.
Afirmar que a RN 2000 limita o desenvolvimento de Alvaiázere é, além de uma cabal prova de falta de competência para gerir um território tão valioso em termos ambientais, um sinal de uma visão demasiado redutora deste território, o qual era suposto este autarca conhecer a fundo, sem tabus e ideologias a toldar o discernimento. E nem se pode queixar de que não há pessoal jovem no concelho ou perto dele. Perde Alvaiázere, perdem os alvaiazerenses, que continuarão a ser menos com esta política completamente desajustada à realidade e ao valor territorial, e perde o imenso, repito, imenso património que deveria ser a base do desenvolvimento territorial. Quando a falta de competência para gerir o território e o preconceito e estereótipo ideológico imperam, pouco mais há a dizer. É mesmo um problema cultural estrutural que tem de ser ultrapassado também em Alvaiázere.
Eu aqui estarei para divulgar o património de Alvaiázere, natural ou não, e denunciar quem o degrada ou destrói. Já o faço activamente há 17 anos pro bono. E até já um curso de empreendorismo fiz em Alvaiázere. Eu não ligo a preconceitos e estereótipos, trabalhando seja com quem for que queira trabalhar em prol do excepcional património deste belo território que engloba também Alvaiázere.

 

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