17.4.24

Criar regras para evitar a degradação do que melhor temos é um imperativo!



Nos últimos anos tenho feito vários alertas e chamadas de atenção para os problemas que decorrem na massificação de desportos vários na região de Sicó, nomeadamente provas de corrida pedestre no monte, vulgo trail, provas de BTT e provas de Todo-o-Terreno. Isto porque qualquer um destes desportos pode ter consequências bastante negativas quando as regras são inexistentes ou mesmo quando até existem algumas regras e são ignorados factos fundamentais como a capacidade de carga dos eventos (genericamente falando é o número de pessoas, bicicletas ou veículos que podem passar sem ultrapassar um limiar a partir do qual os impactos são negativos). A passagem por certos pontos não deveria acontecer e a passagem noutros pontos deveria ser limitada à capacidade de carga dos mesmos, de forma a não prejudicar os locais e, assim promover a sua preservação, possibilitando a sua fruição às próximas gerações ou mesmo às actuais gerações.
A massificação destes eventos tem trazido consequências negativas. Escolhi algumas fotografias dos álbuns de duas provas de TT, de forma a ilustrar alguns dos problemas. Um dos primeiros é bem visível na primeira imagem. Como diria o Diácono Remédios, não havia nexexidade de tanto fumo... 


Nesta segunda fotografia vê-se algo que não era sequer suposto acontecer, ou seja a prática de TT dentro de uma fórnia (forma cársica), numa vertente da mesma, com declive acentuado, promovendo assim a erosão neste ponto, facto que, caso continue, irá fazer com que daqui a alguns anos este "trilho" seja abandonado e seja criado novo ao lado e por aí adiante, aumentando as cicatrizes na paisagem cultural. Este problema é estudado há muitos anos e não faltam artigos que mostram a problemática, podem pesquisar.
Depois confesso que me choca ver uma prova de TT passar numa área ardida. Isto num ponto que ficou ainda pior do que estava... 



Já esta última foto mostra bem o problema, ou seja trilhos por todo o lado, degradando assim a paisagem. Ora, isto multiplicado por centenas de locais, muitos deles críticos, não é nada positivo para termos uma Sicó atractiva e respeitosa pelo seu património natural. Não sou contra o TT, sou sim contra os abusos que prejudicam a região. Não faltam trilhos pela região, onde não se prejudica nada ou quase nada... Aliás num trabalho académico que fiz há muitos anos até fiz propostas de percursos de BTT e TT, os quais tinham em consideração os pontos que aqui abordo.
Fica este comentário para reflexão. Sei que vai incomodar alguns, mas confesso que isso não me limita na acção, já que acima de tudo está Sicó e o seu património natural, o qual deve ser gerido de forma a preservar este vasto património e esta paisagem cultural.



 

1 comentário:

  1. Concordo em absoluto com o teor da publicação. Desconheço se existe legislação ou regulamentação aplicável e correspondente fiscalização. Tenho procurado sensibilizar alguns praticantes destas modalidades (particularmente as motorizadas, causadoras de maiores danos) para os danos ambientais e paisagísticos associados, mas sem o retorno esperado. O argumento está na necessidade de tracção, ou seja, com a "rocha nua" à vista, procura-se o caminho ao lado. E é aí que "reside o prazer" destas modalidades, independentemente do dano inerente. Não funcionado a consciência cívica e ambiental, restam-nos as serras esventradas. Quanto tempo será necessário para a reposição da paisagem original?
    Obrigado por partilhar esta preocupação.
    Nuno Rodrigues

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