Há uns meses li e vi algo nas redes sociais da Junta de Freguesia de Ansião que me inquietou. Inquietou porque eu já andava com receio de mais acções lesivas desta Junta de Freguesia perante os valores naturais, tal como aquela que já tinha ocorrido nos Netos, onde foi destruída uma charca histórica, com valor natural. E antes disto eu já tinha ficado indignado pelas afirmações do presidente da Junta aquando da questão do alargamento da zona industrial do Camporês, onde este afirmou que a avaliação ambiental era uma perda de tempo. Uma afirmação infeliz e bem ilustrativa da fraca literacia do mesmo no domínio do ordenamento do território. Confesso que esperava mais de um autarca da minha geração, contudo a política da brita e manilhas continua em força enquanto forma de estar na política...
Mas indo ao caso em análise, este mês fui finalmente ao local analisar o que tinha sido feito pela Junta. O mero populismo político levou a que a paisagem e identidade locais fossem destruídas. Oliveiras arrancadas, muros de pedra tradicionais arrasados. Para quê? Acesso? Muito trabalho de casa por fazer, está à vista... E o tal ribeiro que corria no caminho, onde até, imagine-se, havia um equilíbrio natural, vai, em poucos anos, alargar/erodir de forma acelerada o canal que podem ver na imagem a seguir, levando muito provavelmente a um gasto de dezenas de milhar de euros para mitigar o problema criado pela Junta. É lamentável que se descaracterize a identidade e o património locais só para agradar a alguns. É lamentável que se ignorem factos básicos no domínio da gestão do território só para agradar a alguns. Tudo isto teria sido evitado se se tivesse, primeiro, ponderado a questão, segundo, estudado o que se poderia fazer sem destruir o património e a identidade locais. O resultado desta acção lesiva em termos ambientais e patrimoniais levará, muito provavelmente, à impermeabilização do canal na imagem, o qual irá ser alargado pela nossa amiga Natureza e pela água que ali passa, agora em desequilíbrio natural.
Lamento profundamente que este tipo de mentalidade de "brita e manilhas é que é bom" continue na região de Sicó, mesmo com gerações mais novas e supostamente mais sensíveis à preservação da nossa identidade local e do espaço rural.
A muita água que ali passa em episódios de grande pluviosidade alargará em pouco tempo este canal e aí vão surgir as queixas dos proprietários e as desculpas do jovem autarca. Depois... aguentem-se à bronca. Só tenho pena os muitos milhares de euros que vão ser precisos para resolver o problema criado só para agradar a alguns. O contribuinte vai ter de se chegar à frente...
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