14.9.13

Bicismo, uma forma de discriminação inaceitável


Estamos quase a chegar a um dia simbólico, onde, especialmente, a bicicleta é o centro das atenções no domínio da mobilidade. Chamam-lhe o dia europeu sem carros, e para mim é meramente um dia simbólico, o qual deve ser aproveitado sim em termos pedagógicos.
Pessoalmente não sou completamente a favor deste dia, pois acaba, na maioria dos casos, ser contraproducente. Devia sim haver algo do género, mas numa base... diária!
Para mim o dia da bicicleta é quase todos os dias, pois utilizo-as (tenho mais do que uma) praticamente todos os dias, seja em lazer ou mesmo, e fundamentalmente, para ir trabalhar.
Este comentário vem a propósito de uma conversa que muito me incomodou um destes dias, onde o fundamentalismo dos condutores queria imperar a favor dos carros e a desfavor das bicicletas. Pensei, pensei e acabei por chegar a um termo que não sei se já existe, o bicismo, ou seja um termo que é  basicamente uma analogia ao racismo, mas aplicado às bicicletas.
Antes de mais, importa referir que eu apenas considero como ciclista aquele que, numa base regular, faz uso de uma bicicleta. Aquelas pessoas que pegam na bicicleta uma ou duas vezes por ano, simplesmente não as considero ciclistas.
Eu sou, ao mesmo tempo condutor, ciclista e peão, e faço algumas centenas de km por mês, seja de carro, de bicicleta ou a pé.. Estou, por isso, à vontade, para falar sobre todos estes pontos de vista, do condutor, do ciclista e do peão. Quem não é ciclista não tem legitimidade para falar desta questão, pois ao não o ser está a ser parcial.
Acontece que numa conversa, surgiu uma pessoa que, apesar de eu o considerar uma pessoa de valor, falou apenas enquanto condutor, sendo, portanto completamente parcial na análise da questão da mobilidade. Dizia que as bicicletas deveriam ter matrícula e seguro, algo que eu considero absurdo. A argumentação baseava-se em boa medida num ponto, a de que um ciclista poderia facilmente matar uma criança num qualquer acidente. Foi uma análise claramente tendenciosa e desprovida de factualidade. Além disso, não referiu uma única vez as dezenas de ciclistas que são mortalmente atropelados por... automobilistas irresponsáveis. Quantos casos conhecem vocês de pessoas que tenham falecido decorrente de um choque com uma bicicleta, mesmo a nível europeu? Por carros são às centenas!!! Não referiu também que se deveria apostar, tal como faziam no meu tempo de escola, numa educação direccionada também para aquele gesto natural que é andar de bicicleta. Não referiu, embora eu saiba, que apesar de viver a menos de 1km do local de trabalho, vai para o mesmo de... carro
Segurança rodoviária, quem se lembra disso, de andar naqueles circuitos feitos nos ringues das escolas para ensinar o pessoa, onde até ia um elemento da polícia? Eu lembro, mas hoje em dia é raro isso acontecer...
É óbvio que há problemas neste domínio, pois há muito pessoal a entrar no mundo das bicicletas sem uma preparação mínima, o que leva, por exemplo, a que alguns ciclistas pensem que têm prioridade nas passadeiras. Há também aqueles que, em vez de fazerem do passeio uma excepção, fazem dele uma regra, o que está errado. Isso resolve-se com programas de segurança rodoviária e não com seguros e matrículas. Há que reconhecer que isto só aconteceu pelo perigo que é partilhar a estrada com os carros, facto que manda muita gente para os passeios. O problema resolve-se na origem e não com invenções baratas.
Quem, ao andar de bicicleta, causar um acidente, é, por lei, obrigado a pagar o que decorrer daí, é simples e não custa entender. Quem anda de bicicleta tem cuidados mínimos, pois sabe que se fizer asneira paga caro (com o corpo), ao contrário dos carros, nomeadamente daqueles “chega para lá que eu é que mando aqui”.
Considero absurdo a atentatório, pensar-se sequer num seguro para bicicleta, pois isso seria apenas e só para encher os bolsos de alguns e não para resolver problemas. Iria sim causar problemas, pois também iria desmotivar aqueles que andam de bicicleta e fazem deste mundo um mundo bem mais interessante. Considero sim que, até aos 16 anos, devia ser obrigatório o uso de capacete nas bicicletas.
Há uma percentagem elevada de automobilistas que pensa que a estrada é apenas para os seus popós, e tudo o mais é paisagem. Quando vêm alguém, caso de bicicletas, “invadir” a estrada, ficam logo chateados, como que se a estrada fosse o seu reino... Redondamente enganados meus caros, a estrada é de todos e quem, na grande maioria dos casos, não respeita e faz asneira, é o condutor, não o ciclista. Curiosamente eu até já fui atropelado por uma carrinha apressada. Com bicicletas nunca apanhei sustos, à excepção de Amsterdão...
As bicicletas não têm de ter os mesmos direitos que os carros, têm sim de ter os seus próprios direitos, e para cada realidade, terá obrigatoriamente de ser tomada em conta a sua especificidade. A recente alteração ao código de estrada, vem apenas dar os direitos devidos, à muito tempo, aos ciclistas, e não dar os mesmos direitos e obrigações que têm os carros.
Pelo raciocínio de algumas pessoas, só falta obrigar as bicicletas ir à inspecção...
A bicicleta não polui, a bicicleta é o melhor meio de transporte em meio urbano e não só. A bicicleta não causa engarrafamentos, stress. São precisas várias bicicletas para ocupar o lugar de estacionamento de apenas um carro.
E podia continuar indefinidamente....
Chega de bicismo!

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