Muitas vezes ouvi dizer que uma imagem vale mais do que mil palavras, no entanto há imagens que para serem descritas necessitam de mais de mil palavras. Esta é a primeira vez que trago à discussão um tema que considero fracturante no domínio da questão patrimonial.
Alguns de vós saberão onde se situa este lugar, no entanto o importante da imagem é o significado de algo maior, que representa um verdadeiro problema no domínio não só patrimonial, bem como do próprio âmbito territorial.
A imagem que hoje vos trago é singela, já que há um evidente contraste na mesma. De um lado uma capela já com uma longa história, enquanto que do outro lado está um edifício habitacional recente.
Recorri a este exemplo por dois motivos, o primeiro tem a ver com o meu conhecimento do lugar, pois este foi um dos que fez parte da minha infância. O segundo tem a ver com o tal contraste evidenciado na mesma.
Aliada à já por si complexa questão, está o que eu denomino como choque patrimonial de gerações. São poucos os que sabem, mas neste exemplo, em concreto, está-se a lidar com um problema que já trouxe muita conflictualidade a nível local. A construção deste edifício habitacional trouxe à ribalta o tal choque entre gerações, já que de um lado está a população, maioritariamente idosa, de outro lado gente jovem. Os primeiros, e alguns mais jovens, não acharam muita graça aquele objecto estranho que surgiu ao lado da capela, os segundos fizeram aquilo que afinal tinham direito, construir a sua residência.
Não estou aqui para julgar nem uns nem outros, estou sim para apontar uma questão que raras vezes é tida em conta na temática do património e mesmo no âmbito territorial, nomeadamente PDM. Não raras vezes surgem atritos em situações como esta, mas esta é especial, já que mexe com valores e crenças ancestrais. Já raras são as vezes em que se tenta de alguma forma evitar o que afinal é um problema, onde se poderia reunir os jovens e os menos jovens para que situações como esta não acontecessem.
Pessoalmente considero que se deveriam debater questões como esta, de modo a que quando surgisse a intenção de construir em áreas sensíveis, tal como é a envolvência de locais de culto (ou outros) como é aquele, as coisas corressem bem, de forma integrada e não desconexa
Pessoalmente considero que há ali um contraste fracturante, ou seja considero que há realmente um "objecto" estranho que perturba a paz do lugar. Para que não digam que eu sou parcial, eu nem sequer sou religioso, facto que logo à partida deitará por terra quem tentar puxar por este argumento. Podem apontar a parcialidade de eu falar de um local que conheço, mas afinal é esse meu conhecimento que me dá as mais valias para falar sobre o caso.
Considero apenas que em pequenos lugares como é este, há certas coisas que têm de ser salvaguardadas, como por exemplo a identidade do lugar. Quem, como eu, conhece aquele lugar, saberá do que estou a tentar falar.
Lembrem-se que no final de tudo está a nossa identidade, que urge preservar. É certo que as identidades constroem-se, mas essa construção deve ser feita de forma dinâmica, e não de forma fracturante, tal como é este o caso. Isso além de não ser saudável, só representa uma perda de identidade local.
Esta é uma questão que certamente não vai suscitar muito interesse, no entanto eu não me movo por número de visualizações, movo-me apenas e só pelo património. Para bom entendedor...
Olá João.
ResponderEliminarSó para juntar mais alguns dados relativos a esta questão.
O "conflito" não tem a ver com a construção da casa, mas sim com a tentativa de "roubo" de terreno que pertence à capela. Se reparares a casa está virada para o terreno da capela. Isto acontece porque os donos quiseram fazer a entrada principal para a casa através do terreno que existe em frente à capela.
Sim, isso eu sei, já que lembro-me bem de quando inicialmente o muro foi partido para dar acesso à casa, facto que foi o cerne do problema Nessa altura não tirei fotografia, com pena minha...
ResponderEliminarNo entanto, eu quis apenas dar uma perspectiva da questão, a qual se centra fundamentalmente na perda de identidade de certos lugares, tal como acontece nesta situação em especial. Quando falei em conflitualidade, quis-me referir à questão patrimonial/visual, pois, quanto a mim, é um facto que a casa não está devidamente enquadrada naquele lugar, pormenor que deveria ter sido acautelado e que o PDM não leva em conta em termos práticos. Ás vezes sou um bocado "provocatório" em determinadas situações, de modo a "espicaçar" as mentalidades, daí, talvez, o "erro" em termos de abordagem.
Fica o mea culpa por não me ter explicado bem.
Obrigado pela "chamada de atenção"