Este meu comentário vem no seguimento de uma linha de raciocínio a que fiz referência no comentário sobre o Encontro no CISED "Natureza: quanto custa", há semanas atrás, tendo a ver genericamente com uma questão que diz muito à região de Sicó, não só devido às suas características mas também derivado da proximidade de duas cidades de média dimensão, caso de Coimbra e Leiria. Temos assim os ingredientes para discutir, para já muito genericamente, um tema que eu considero estruturante e que carece de atenção de todos, mesmo daqueles que não costumam ligar a estas coisas.
A questão que mais discórdia levantou naquele encontro no CISED, foi a questão da referência do "mundo rural" e dos terrenos agrícolas, na questão da produção de biocombustíveis. É precisamente a partir daqui que iniciarei o meu comentário.
Uma das coisas que nunca compreendi é como é que é possível se destruir o essencial para potenciar o supérfluo, falo, claro, do desvirtuar do mundo "rural" para potenciar hábitos e consumos supérfluos da sociedade "não rural". É um problema muito grave e que tem raízes muito profundas na sociedade portuguesa e, consequentemente, na nossa história.
Confesso que fiquei perplexo com as palavras do Presidente da República há semanas atrás, quando falou acerca das virtudes do mundo rural, não porque não tenha toda a razão mas sim porque há uns anitos atrás foi uma das pessoas que mais influência teve no desvirtuar do mundo rural, através de políticas que privilegiaram apenas o betão e o alcatrão, menosprezando o potencial humano dos que vivem no "mundo rural". Foram então palavras de conveniência que representam a forma de pensar de toda uma classe política, seja partido A, B ou C.
As políticas territoriais que têm sido implantadas em Portugal já há várias décadas, têm tido um efeito absolutamente nefasto sobre o mundo rural, aquele mesmo onde está tudo aquilo que nos sustenta, a começar por tudo aquilo, natural, que comemos. É uma verdade que o mundo rural é um mundo de virtudes, onde encontramos tudo, mesmo a paz que necessitamos depois de uma semana de trabalho.
Não estou a dizer com isto que o resto ("mundo urbano") é paisagem, estou sim a dizer que o mundo rural deve ser respeitado e aproveitado, mas para isso há que promover políticas certas, as quais em vez de beneficiarem interesses económicos, muitas vezes predatórios, beneficiem as pessoas que lá vivem, permitindo-lhes viver neste mesmo mundo rural em vez de terem de ir para as cidades. A questão que retrato é, apenas e só, relativa ao tremendo desiquilíbrio que se instalou no mundo rural, questão que agora é demagogicamente aproveitada por algumas pessoas.
Fiquei bastante desiludido ao ver alguém a colocar a hipótese de aproveitar os terrenos agrícolas abandonados para produção de biocombustíveis, já que isto representa na perfeição o que referi acima, o de destruir o essencial para potenciar o supérfluo, ou seja acabar de vez com a agricultura para potenciar uma indústria que apenas pretende garantir combustível para o, muitas vezes, dispensável automóvel.
O regresso aos campos, ao mundo rural, é, além de uma inevitabilidade, uma necessidade, pois é inaceitável que estejamos tão dependentes da importação de produtos agrícolas estrangeiros, isto quando parte significativa dos mesmos poderiam ser produzidos nos muitos terrenos abandonados. Para isso são necessárias políticas sérias e honestas, as quais restabeleçam uma nova ordem entre campo e cidade, algo que irá beneficiar campo e cidade.
Quem vive no mundo rural não tem de ter vergonha, tem sim de ter orgulho e não se subjugar a interesses que não têm nada a ver com as realidades locais, interesses estes que desvirtuaram já demasiado o mundo rural, a favor de jeitos e manias de algumas pessoas que não sabem o valor das coisas, a começar pela terra de onde vêm aquelas alfaces que sabem tão bem. Falo, claro, de certos colarinhos brancos que pensam que podem impor as suas vontades ao campo, prejudicando-o de forma inaceitável.
Mais do que tudo há que motivar as pessoas que vivem no mundo rural e que querem fazer algo de bom, algo como ter apoios para voltar a plantar as terras, a investir na produção biológica de alimentos, os quais são cada vez mais valorizados.
Lembro-me, em criança, da minha visão sobre o mundo ser guiada por uma linha de pensamento que nos fazia crer que o mundo rural era a pasmaceira, onde não havia nada para fazer, mas depois de crescer e começar a pensar por mim próprio, vi que afinal a pasmaceira é noutro lado, já que no mundo rural tenho tudo e dependo só de mim e não apenas de um ordenado. É isto que é importante dizer a todos, o mundo rural é muito valioso, quem quer venha cá ter que há espaço para muitos!
A região de Sicó está numa situação ainda priveligiada, perto do interior e perto das cidades, possibilitando-lhe um vasto leque de oportunidades, resta-lhe aproveitar esse facto. Cidades e campo podem e devem coexistir, bastando apenas que um equilíbrio sustentável seja promovido, pois tem havido um desequilíbrio assustador, perdendo o mundo rural em quase toda a linha e perdendo curiosamente quem mais desequilibra a balança, ou seja o "mundo urbano", genericamente falando. Ainda não se percebeu que as cidades também perdem se houver ruptura no mundo rural, pois se este estiver desabitado o que acontece é simples, rupturas sociais, económicas e muito mais...
Há muitas ideias para explorar e desenvolver, em próximas oportunidades irei destacar outras, para já deixo uma ideia que considero válida para a região de Sicó.
Como estamos próximos de Coimbra e Leiria, nada melhor do que investir na agricultura, não naquela intensiva, que é pouco amiga da qualidade, mas sim de uma agricultura familiar que potencie os terrenos abandonados que têm real potencial agrícola. Alguns podem dizer que os números seriam reduzidos, eu digo que não, já que juntando todas as migalhas...
Podia investir-se nesta questão, criar cooperativas locais (também com a ajuda do micro-crédito) que além de eliminarem os intermediários (que comem a fatia do bolo e encarecem os preços..) iriam potenciar um negócio que não pode nem deve ser menosprezado. A economia não oficial é ainda substancial, portanto nada melhor do que aproveitar as oportunidades, inovando e favorecendo com isso o mundo rural e o mundo urbano. O mundo rural ganha com a recuperação de terrenos agrícolas abandonados, e tudo o que isso a jusante implica, por seu lado o mundo urbano ganha, na qualidade dos produtos agrícolas que recebe e no potenciar da economia regional, que fica assim mais favorecida. Há dúvidas?
Voltar aos campos não é voltar à idade da pedra, isso é um estereótipo cultivado por certos interesses económicos que vêm com bons olhos grandes aglomerações de ávidos consumidores de... coisas supérfluas!
Com este comentário, muito genérico, espero ter levantado algumas questões que levem a que muitos de vós pensem seriamente no valor do mundo rural e em tudo aquilo que se tem perdido. Voltarei a este tema muito brevemente, já de forma mais concreta e direccionada.
Alguns links a reter:
http://www.sper.pt/
http://www.animar-dl.pt/
http://www.novospovoadores.pt/
Uma das coisas que nunca compreendi é como é que é possível se destruir o essencial para potenciar o supérfluo, falo, claro, do desvirtuar do mundo "rural" para potenciar hábitos e consumos supérfluos da sociedade "não rural". É um problema muito grave e que tem raízes muito profundas na sociedade portuguesa e, consequentemente, na nossa história.
Confesso que fiquei perplexo com as palavras do Presidente da República há semanas atrás, quando falou acerca das virtudes do mundo rural, não porque não tenha toda a razão mas sim porque há uns anitos atrás foi uma das pessoas que mais influência teve no desvirtuar do mundo rural, através de políticas que privilegiaram apenas o betão e o alcatrão, menosprezando o potencial humano dos que vivem no "mundo rural". Foram então palavras de conveniência que representam a forma de pensar de toda uma classe política, seja partido A, B ou C.
As políticas territoriais que têm sido implantadas em Portugal já há várias décadas, têm tido um efeito absolutamente nefasto sobre o mundo rural, aquele mesmo onde está tudo aquilo que nos sustenta, a começar por tudo aquilo, natural, que comemos. É uma verdade que o mundo rural é um mundo de virtudes, onde encontramos tudo, mesmo a paz que necessitamos depois de uma semana de trabalho.
Não estou a dizer com isto que o resto ("mundo urbano") é paisagem, estou sim a dizer que o mundo rural deve ser respeitado e aproveitado, mas para isso há que promover políticas certas, as quais em vez de beneficiarem interesses económicos, muitas vezes predatórios, beneficiem as pessoas que lá vivem, permitindo-lhes viver neste mesmo mundo rural em vez de terem de ir para as cidades. A questão que retrato é, apenas e só, relativa ao tremendo desiquilíbrio que se instalou no mundo rural, questão que agora é demagogicamente aproveitada por algumas pessoas.
Fiquei bastante desiludido ao ver alguém a colocar a hipótese de aproveitar os terrenos agrícolas abandonados para produção de biocombustíveis, já que isto representa na perfeição o que referi acima, o de destruir o essencial para potenciar o supérfluo, ou seja acabar de vez com a agricultura para potenciar uma indústria que apenas pretende garantir combustível para o, muitas vezes, dispensável automóvel.
O regresso aos campos, ao mundo rural, é, além de uma inevitabilidade, uma necessidade, pois é inaceitável que estejamos tão dependentes da importação de produtos agrícolas estrangeiros, isto quando parte significativa dos mesmos poderiam ser produzidos nos muitos terrenos abandonados. Para isso são necessárias políticas sérias e honestas, as quais restabeleçam uma nova ordem entre campo e cidade, algo que irá beneficiar campo e cidade.
Quem vive no mundo rural não tem de ter vergonha, tem sim de ter orgulho e não se subjugar a interesses que não têm nada a ver com as realidades locais, interesses estes que desvirtuaram já demasiado o mundo rural, a favor de jeitos e manias de algumas pessoas que não sabem o valor das coisas, a começar pela terra de onde vêm aquelas alfaces que sabem tão bem. Falo, claro, de certos colarinhos brancos que pensam que podem impor as suas vontades ao campo, prejudicando-o de forma inaceitável.
Mais do que tudo há que motivar as pessoas que vivem no mundo rural e que querem fazer algo de bom, algo como ter apoios para voltar a plantar as terras, a investir na produção biológica de alimentos, os quais são cada vez mais valorizados.
Lembro-me, em criança, da minha visão sobre o mundo ser guiada por uma linha de pensamento que nos fazia crer que o mundo rural era a pasmaceira, onde não havia nada para fazer, mas depois de crescer e começar a pensar por mim próprio, vi que afinal a pasmaceira é noutro lado, já que no mundo rural tenho tudo e dependo só de mim e não apenas de um ordenado. É isto que é importante dizer a todos, o mundo rural é muito valioso, quem quer venha cá ter que há espaço para muitos!
A região de Sicó está numa situação ainda priveligiada, perto do interior e perto das cidades, possibilitando-lhe um vasto leque de oportunidades, resta-lhe aproveitar esse facto. Cidades e campo podem e devem coexistir, bastando apenas que um equilíbrio sustentável seja promovido, pois tem havido um desequilíbrio assustador, perdendo o mundo rural em quase toda a linha e perdendo curiosamente quem mais desequilibra a balança, ou seja o "mundo urbano", genericamente falando. Ainda não se percebeu que as cidades também perdem se houver ruptura no mundo rural, pois se este estiver desabitado o que acontece é simples, rupturas sociais, económicas e muito mais...
Há muitas ideias para explorar e desenvolver, em próximas oportunidades irei destacar outras, para já deixo uma ideia que considero válida para a região de Sicó.
Como estamos próximos de Coimbra e Leiria, nada melhor do que investir na agricultura, não naquela intensiva, que é pouco amiga da qualidade, mas sim de uma agricultura familiar que potencie os terrenos abandonados que têm real potencial agrícola. Alguns podem dizer que os números seriam reduzidos, eu digo que não, já que juntando todas as migalhas...
Podia investir-se nesta questão, criar cooperativas locais (também com a ajuda do micro-crédito) que além de eliminarem os intermediários (que comem a fatia do bolo e encarecem os preços..) iriam potenciar um negócio que não pode nem deve ser menosprezado. A economia não oficial é ainda substancial, portanto nada melhor do que aproveitar as oportunidades, inovando e favorecendo com isso o mundo rural e o mundo urbano. O mundo rural ganha com a recuperação de terrenos agrícolas abandonados, e tudo o que isso a jusante implica, por seu lado o mundo urbano ganha, na qualidade dos produtos agrícolas que recebe e no potenciar da economia regional, que fica assim mais favorecida. Há dúvidas?
Voltar aos campos não é voltar à idade da pedra, isso é um estereótipo cultivado por certos interesses económicos que vêm com bons olhos grandes aglomerações de ávidos consumidores de... coisas supérfluas!
Com este comentário, muito genérico, espero ter levantado algumas questões que levem a que muitos de vós pensem seriamente no valor do mundo rural e em tudo aquilo que se tem perdido. Voltarei a este tema muito brevemente, já de forma mais concreta e direccionada.
Alguns links a reter:
http://www.sper.pt/
http://www.animar-dl.pt/
http://www.novospovoadores.pt/
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