Não tenho ilusões sobre o tema que agora vou destacar, pois a pseudo política urbanística em Pombal é há demasiado tempo a mesma, subserviente ao interesse imobiliário, o que causa problemas de vária ordem nesta cidade. O exemplo mais concreto disto mesmo, na óptica do cidadão comum, foi algo que já falei aqui há alguns meses, ou seja as inundações ocorridas no dia 25 de Outubro de 2006.
Facto que me preocupa é que a péssima política urbanística que se faz em Pombal há décadas, irá continuar a ter reflexos por várias décadas, amplificando erros inaceitáveis, a evolução ali quase que funciona à base do recalcamento de erros estruturais, insistindo-se teimosamente no "acho que", em vez do "sei que"...
Algo que nunca percebi é a razão de serem os autarcas a tomar em última análise as decisões de âmbito urbanístico, sobrepondo-se à fundamentação técnica, algo que é manifestamente negativo quando não se domina a matéria. O problema agrava-se quando os técnicos que deveriam elaborar os planos, seguindo aquelas regras simples que aprenderam nos bancos dos politécnicos ou universidades, não o fazem, ao invés moldam o que dantes eram regras elementares, aos interesses imobiliários, especuladores ou não. Este facto beneficia ambos, o sector imobiliário que ganha muito dinheiro, e as próprias autarquias, que vêm com muitos bons olhos a entrada nos seus cofres do conhecido IMI.
Daí as coisas correrem mal no domínio urbanístico em Pombal, facto que afecta quem mais deveria ser beneficiado, o cidadão, o qual quando as coisas correm mal, caso das inundações de 2006, têm de pagar bem caro com os seus impostos, ou em casos mais extremos com a própria vida, algo a lamentar profundamente.
Em Pombal, à semelhança de muitas autarquias em Portugal, a participação da população nestes processos de decisão, como é a regeneração urbana a ocorrer em Pombal, é escassa, seja em primeiro lugar pela mentalidade nada progressista dos autarcas, que impede e/ou não promove devidamente esta participação activa, seja pela parca tradição que quase todos nós temos no domínio da cidadania activa, ou seja aquela coisa do deixa andar que eu estou bem no meu cantinho.
Há algumas semanas, dei uma volta pela parte antiga da cidade, com olhos de ver, pois apesar de conhecer bem Pombal, impunha-se uma volta pela mesma com o intuito específico de ver algumas situações a analisar alguns factos mais concretos. Lembrei-me de algumas matérias de geografia urbana, essa bela disciplina que nos ajuda a percepcionar e a compreender tudo aquilo que está associado à génese e evolução das cidades, e tudo o que daí possa advir, no bom e mau sentido. Infelizmente (re)vi mais situações e factos negativos do que positivos, tudo isto devido à má política urbanística que ocorre na cidade de Pombal.
O facto de referir, ao início, que não tinha ilusões sobre esta matéria, deve-se a algo muito simples, a regeneração urbana que está a ocorrer em Pombal não irá, infelizmente, afectar o mau rumo que esta cidade tomou há algumas décadas, ou seja genericamente os erros vão continuar. Obras de pormenor não resolvem os erros que aqui foram feitos e uma regeneração urbana devia potenciar isso mesmo, a resolução de problemas estruturais da cidade. São poucas as obras que resolvem alguma coisa em termos estruturais e muitas que apenas agravam as más políticas.
Lamento que se considere que o centro da questão é o betão, quando afinal o centro da questão são as pessoas que utilizam e usufruem de alguma forma da cidade, ou seja considera-se o betão o actor principal e o cidadão o actor secundário, mas afinal quem é que se desloca do sítio x para o sítio Y, betão ou cidadão? Exactamente, o cidadão! Enquanto este "simples" pormenor não entrar nas mentalidades dos autarcas nada feito, quem perde? O cidadão.
Se a cidade não é funcional, o cidadão obviamente não pode andar feliz da vida, facto que tem reflexos em última análise na sua vida pessoal e profissional.
Há muito para falar neste domínio, é algo que felizmente tem muito por onde pegar e esta foi apenas uma introdução. Brevemente voltarei a esta questão, da regeneração urbana de Pombal, esperando que entretanto as pessoas se movam, apelando ao seu sentido crítico e construtivo neste domínio. Em Maio irei falar sobre as obras da envolvência do Castelo de Pombal...
Participar activamente nos processos de decisão é pugnar por uma cidade mais amiga do cidadão, algo que apenas pode ser entendido pela positiva e não pela negativa. Infelizmente os nossos autarcas teimam em ver as críticas construtivas e honestas como uma afronta pessoal, algo que continuo a não compreender por mais esforço que faça...