23.7.09

A moda dos Centros de Interpretação na região de Sicó

Foto: CISED, Penela

Cada vez mais em voga na região de Sicó, os Centros de Interpretação Ambiental são algo que começa felizmente a entrar a cada dia que passa no vocabulário do dia-a-dia de alguns de vós. Há coisa de menos de uma década era uma expressão de que muitos autarcas faziam questão de "gozar", já que eram algo associado ao vocabulário de muitos entusiastas da Natureza (ambientalistas, ecologistas, etc), mas hoje em dia é uma expressão utilizada pelos mesmos de forma bastante repetida.

Apesar de ser algo que de certa forma me agrada, ver, interessa-me, neste comentário, realçar um aspecto menos positivo e que tem levado ao descrédito da expressão "Centro de Interpretação Ambiental". Importa então salientar alguns casos práticos que demonstram o que quero aqui mostrar, o facto de uma coisa, na teoria, ser um Centro de Interpretação Ambiental, mas, na prática, não o ser.

A função de um verdadeiro Centro de Interpretação Ambiental é, genéricamente, a da promoção do património natural (biodiversidade e geodiversidade), estando muitas vezes ligados também à componente cultural, já que por vezes são indissociáveis. Para isso tem de haver uma infraestrutura e conteúdos de suporte à promoção do património.

Importa então dar um exemplo do que é verdadeiramente um centro de interpretação, dando eu o fantástico exemplo do Carsoscópio, no Alviela (já referi este exemplo noutra situação). Ali encontramos uma infraestrutura e conteúdos multimédia realmente assinaláveis. Felizmente tive a oportunidade de visitar este local ainda antes da sua abertura oficial, sendo que por isso mesmo falo com conhecimento de causa. É um Centro de Interpretação Ambiental de excelência no panorâma nacional (e internacional), centrado sobre o carso.

Extrapolando o raciocínio para a nossa região, podemos facilmente descobrir que há pelo menos dois Centros de Interpretação Ambiental, o primeiro é o CISED (http://www.cm-penela.pt/cised.php) e o segundo situa-se nos Olhos de Água, em Ansião.

Indo directamente ao cerne da questão, no que toca à problemática que refiro atrás, facilmente o visitante destes dois supostos Centros de Interpretação Ambiental nota que há a infraestrutura e... nada mais. Falta então algo de fundamental, os conteúdos que justifiquem o nome de centro de interpretação, de que vale ir a estes locais se não existe nada para interpretar? Não seria mais correcto baptizar estas infraestruturas como Centros de apoio à promoção do património natural? (não que se denominassem assim, mas penso que vocês percebem o raciocínio).

O CISED foi inaugurado em 2005, é um belo edifício antigo, mas de centro de interpretação não tem nada. É sim um belo local para fazer formação e de apoio aos espeleólogos, nada mais. Além disso mesmo para formações deixa muito a desejar, já lá tive uma formação e posso dizer que "rapei frio"...

Relativamente ao Centro de Interpretação dos Olhos de Água, o cenário é o mesmo (tem apenas material do antigo lagar), apesar de neste caso estar numa envolvência algo diferenciada. Foi, aliás um projecto muito mal pensado do ponto de vista técnico, destruiu parte do que interessava preservar.... A mim custou-me bastante sob dois pontos de vista, enquanto cidadão e enquanto geógrafo. Enquanto cidadão porque aquele local foi palco de muitas das minhas brincadeiras em criança, enquanto geógrafo porque apesar da ideia ser boa, o resultado deixou bastante a desejar, além disso "plantou-se" muita tonelada de betão, impermeabilizou-se demasiado (algo que terá consequências bastante negativas nos próximos anos). Foi como que uma obra de tipo "elefante branco" em que a relação custo benefício deixa também muito a desejar. Os conteúdos que ajudem a interpretar a nascente do rio, nem vê-los.....

Num futuro próximo sei que vão surgir outros, ditos, Centros de Interpretação Ambiental, caso do de Pombal (para valorizar a área do Vale dos Poios), mas o problema poderá ser o mesmo, não são afinal verdadeiros Centros de Interpretação Ambiental.

Sinceramente tenho pena que por "Terras de Sicó" as coisas não se façam como deve ser, liga-se o complicómetro e aqui vai disto... Sinceramente gostava que estes autarcas, quando tivessem as ideias as discutissem com as pessoas que sabem realmente como se pode fazer, há algumas associações locais que, além de saberem destas coisas têm profissionais altamente qualificados. Profissionais estes que a custo quase zero podem ajudar nestas questões, mas o mais normal é os autarcas contratarem gente de fora, sem o necessário know-how da região, que além de não conseguirem fazer os projectos de forma integrada, ficam caríssimos. Porque é que se insiste em não apostar na gente (com créditos firmados) da região?!

Espero, sinceramente, que após este comentário algumas mentalidades se sintam picadas a pensar e discutir de forma construtiva esta questão, pois o meu intuito é, como sempre, despertar as consciências para os problemas (ou não) da região.


Foto: Centro de Interpretação da Nascente do Rio Nabão, Ansião

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