27.7.21

Identidade local obliterada: a chapa 5 em mais uma reabilitação urbana...

Apetece-me dizer: "uau". Isto porque o que podem agora ver é resultado de umas valentes horitas de trabalho em prol de algo que eu tanto gosto. E trabalho gratuito, que passo a partilhar. 

Mas vamos ao início do processo. Há coisa de 2 anos, quando soube da intervenção na Vila de Alvaiázere e da área a intervencionar, decidi que seria boa ideia fazer um registo fotográfico do antes e do depois da obra. Por isso mesmo em Abril de 2019 peguei na máquina fotográfica e fiz vários registos fotográficos em toda a área a intervencionar. A ideia era, após o términus da obra, voltar aos mesmos locais e efectuar novo registo fotográfico de cada um dos locais. E assim foi, em Junho último voltei aos mesmos locais e fiz o respectivo registo fotográfico. Tive de trabalhar as fotografias, já que cada um desses "antes e depois" é constituído por um conjunto de fotografias, as quais montei, fazendo assim panorâmicas. Até eu fiquei espantado com o resultado e, modéstia à parte, é um registo fotográfico que ficará para a história e que espero que seja útil para todos, seja para o/as alvaiazerenses, seja para interessados vários, nomeadamente arquitectos e projectistas.

Porque é que me dei ao trabalho disto tudo? Porque é importante que alguém faça este trabalho, que fica  para a posterioridade e serve, também, para debater a questão das requalificações/reabilitações urbanas.

A minha opinião? A identidade local foi obliterada a toda a linha. E a cereja em topo do bolo, no sentido negativo, foi a moda parola de trazer granito para uma zona cársica. E assim se oblitera uma identidade local, tornando-a igual a uma qualquer vila ou aldeia de Portugal. As especificidades locais foram mandadas para as urtigas. Os locais ficaram sem parte da sua identidade e os novos ficaram com uma Vila igual a tantas outras, trabalhada nos gabinetes, longe dos locais...

Durante 3 anos trabalhei num gabinete nesta mesma área, daí ter um carinho e ligação especial com este local, apesar desta mesma ligação não toldar o meu discernimento. Estou profundamente desiludido com o resultado final desta intervenção.

De forma a que percebam estas fotografias, cada par é um antes e um depois da obra, dando a perspectiva respectiva. Deixo para vocês a análise visual de ambos os momentos. Vejam até ao fim sff!























23.7.21

Arquitectura vernacular: crónica de uma jóia por polir.

Esta é uma de muitas fotografias que tenho no meu arquivo. Trata-se de uma de muitas fotografias que esperam o seu momento, o qual pode surgir poucos dias depois do registo fotográfico ou surgir apenas meses ou anos depois. Esta, em especial, tem largos meses de vida no meu arquivo fotográfico da região de Sicó. É, para mim, uma fotografia mágica, já que retrata uma verdadeira jóia da arquitectura vernacular, desprezada pela maioria de nós. E não, não vou divulgar onde é!

Vejo com grande preocupação uma linha de acção de muitos arquitectos que fazem o que lhes pedem, ou seja arrasar o velho para dar lugar ao novo. "Espécimes" da arquitectura vernacular são destruídos para dar lugar a caixotes quadrangulares. A paisagem urbana e rural sofre com isto. "Espécimes" que podiam ser recuperados e com isso dar nova vida ao edificado existente e com valor. E o curioso é que até temos muitos arquitectos com grande capacidade para isto. Temos arquitectos que podem mudar o paradigma caso lhes seja dada essa oportunidade. E há belos exemplos de arquitectura vernacular preservada aquando da recuperação de casas várias pela região de Sicó.

De quem é a culpa deste cenário de perda de identidade arquitectónica? De todos nós, já que não valorizamos aquilo que podem observar nesta fotografia. Excepcional, belo, lindo... São alguns de vários adjectivos que posso utilizar para ilustrar o que se vê nesta fotografia. E, felizmente, ainda há muitos "espécimes" para salvar, caso o paradigma mude.

Vamos preservar e valorizar a arquitectura vernacular de Sicó?!


 

19.7.21

A colecção está completa!


Já tinha alguns dos livros desta bela colecção do "Guia de Portugal", mas faltava completar a mesma. Apesar de querer completar a colecção, havia sempre um entrave, ou seja sempre que me deparava com estes livros, nunca sabia de cor quais os que me faltavam. Por estes dias visitei a feira do livro de Braga e num alfarrabista deparei-me com alguns destes livros. Automaticamente lembrei-me de ligar a internet, já que sabia que já tinha colocado aqui os livros que já tinha desta colecção. Assim comprei 2. Houve um que não havia neste alfarrabista e outro que não me quis vender, já que só vendia os pares respectivos. Fiquei frustrado, contudo não havia nada a fazer. Segui e noutro alfarrabista deparei-me com mais livros desta colecção. Tive sorte e consegui os guias que me faltavam! É um orgulho ter a colecção completa. Agora é começar a ler e encontrar tesouros nestas páginas. E para quem souber procurar...
Foi bom voltar a algo que aprecio bastante, livros e mais livros, de qualidade e, obviamente, livres do aborto ortográfico. Visitem livrarias e alfarrabistas e adquiram livros vários, de temas vários. Ler faz bem à nossa saúde mental e torna-nos pessoas mais conhecedoras das mais variadas temáticas. E isso faz toda a diferença para nós, enquanto cidadãos, e para o país, mais culto!

14.7.21

Nem é carne nem é peixe...

 




Tento pensar em algo para dizer, contudo faltam-me as palavras. Foi há 1 ano que soube de uma situação ocorrida no Alqueidão, em Ansião, onde num charco (Habitat da Rede Natura 2000...) se promoveu a destruição em vez da preservação de um charco. Primeiro atulhou-se parcialmente este charco/habitat com resíduos de uma obra próxima e depois do caso ter ganho visibilidade retirou-se o entulho para finalmente fazer o que podem observar no link que já referi atrás. E depois disto, tentou-se resolver a situação de forma pouco ponderada, tal como as 3 fotografias acima o demonstram.
Tudo ficaria resolvido se no início o caso fosse devidamente ponderado e todas as partes veriam os seus objectivos cumpridos. Bastaria recuperar as partes do muro caídas, reforçar o lado com algumas fragilidades devido à estrada que podem ver do lado direito do charco e pouco mais. Havia a disponibilidade de, pelo menos dois especialistas nestas lides, que teriam dado aconselhamento gratuito para a resolução da situação. Contudo esta ajuda, gratuita, não foi solicitada...
No final ficou isto. O habitat irá demorar uns anos a recuperar, a questão da relativa instabilidade da parte agora meia murada continuará quase igual ao que estava antes disto tudo, os muros continuarão a cair aos poucos e fez-se despesas evitáveis e desnecessárias, bem à moda portuguesa. 
Quando começaremos nós a ser exigentes na resolução de situações como esta, e não só?!

10.7.21

Corridas de carrinhos de rolamentos: a máquina do tempo perfeita!


Não estava incluído no roteiro que tinha planeado, já que afinal não tinha conhecimento do evento (tal como muitos outros...), contudo, e logo que passei por ali enquanto deambulava pela encosta do Castelo de Pombal, deparei-me com os épicos carrinhos de rolamentos a preparar-se para mais uma prova.

Não havia outra vontade que não ir pela rua acima ao encontro deles, armado com a máquina fotográfica, a qual utilizei para disparar uns "tiros".

Para mim é algo excepcional ver e relembrar carrinhos de rolamentos, pois funciona como uma máquina do tempo, onde voltamos umas décadas ao passado. No passado, há coisa de 30 anos, eu e outros amigos pegávamos em tábuas, em duas ripas de pequena dimensão e íamos às oficinas ver se tínhamos sorte com os mecânicos, pois eram eles que decidiam se íamos ter rolamentos para meter nos nossos bólides. Sem rolamentos não havia nada a fazer, mas com rolamentos a estrada e as descidas eram nossas. O assento era a própria tábua ou então, numa hipótese mais remota, uma cadeira velha que se adaptava na tábua. E cordel, o qual atávamos a cada uma das pontas da ripa (direcção) da frente e servia como guiador do carrinho de rolamentos.
Mas agora a tecnologia é outra e, como podem ver pelas fotografias, há muita técnica metida na construção dos carrinhos de rolamentos. E ainda bem!
Mas voltando ao passado, eu tinha 3 pistas de carrinhos de rolamentos que fui utilizando naquela altura, duas no meu bairro e outra à frente do tribunal de Ansião, na rua que desce pela creche. Um dia chegámos a ter um carrinho de rolamentos que consistia numa tábua grande, na qual estavam montadas 4 cadeiras. Era épico nós, putos, rolarmos naquela enormidade de carrinho de rolamentos. Já os outros eram carrinhos mais simples, apenas para um ou para dois. Chegados à curva é que era o vê se te avias. Um ficava ao fundo para ver se vinha algum carro e o outro tentava conseguir fazer a curva sem se esbardalhar e sem ficar com os cotovelos e braços sem pele, algo que afinal acontecia regularmente. Eram as nossas medalhas, as quais se mantiam durante umas semanas até desaparecerem e darem lugar a novas medalhas. Que belos tempos eram.




Gosto de ver que estas corridas se mantêm ao longo dos tempos e espero que apareçam mais corridas. Lembro-me também das corridas de rolamentos que aconteciam no decorrer das festas do Casal de S. Brás, em Ansião. Organizem novamente sff!
E parabéns a quem organiza e a quem participa nestas corridas!!

5.7.21

Jardim das Laranjeiras: o antes, o depois e a identidade perdida.

Tinha planeado esta acção em 2018, quando fiz o registo fotográfico do Jardim das Laranjeiras, em Pombal. Foi em Dezembro de 2018 que, tendo ido a Pombal passear, fiz o registo fotográfico de 4 pontos distintos do Jardim das Laranjeiras, de forma a que facilmente conseguisse fazer novo registo fotográfico após as obras de "requalificação". Depois de muitas limitações, derivadas da era covidiana, fiz novo registo fotográfico, já após as obras de "requalificação", nos mesmos locais onde em 2018 tinha estado.

Os primeiros 3 locais são 3 perspectivas observadas de pontos que cobrem toda aquela área. O último registo fotográfico (antes e depois) é de um "pormenor" que era expectável, daí eu me ter lembrado de tirar a foto à calçada antes desta ser destruída para dar lugar a... granito.

Importa em primeiro lugar diferenciar a intervenção, de forma a balizar a crítica. Uma parte é relativa ao Jardim das Laranjeiras, enquanto que a outra parte é relativa à sua envolvência.

Vamos então aos factos. Granito?! Mas o que é que o granito tem a ver com a identidade de Sicó? Nada! Projectos sem alma que desvirtuam a identidade local. Absolutamente vergonhoso! Trocar calçada portuguesa, essa bela arte, por lajes de... granito?! Mas será que sabem o que significa preservar a identidade local? Sabem que é possível intervir respeitando a identidade local e as especificidades locais?

Relativamente ao Jardim das Laranjeiras propriamente dito, tal como está à vista de todos, a sua identidade foi adulterada por um projecto chapa 5 que nada tem a ver com o local, a sua especificidade e a sua identidade. Se o antigo jardim era fabuloso? Não, não era, era sim desprezado e com uns "retoques" ficava à maneira.

Em vez de aprendermos com as boas práticas e as aplicarmos na nossa região tendo em conta as suas especificidades, derretemos milhões a "requalificar" espaços, desvirtuando e destruindo a sua identidade, num completo desrespeito pela identidade dos locais. O que importa é mandar fazer um projecto a um técnico para depois ter material para mostrar em tempo de eleições. Trabalhar com os cidadãos e ter em conta a identidade local é que está quieto...

Tenho apenas dois pontos positivo a salientar, ou seja o fecho de uma rua e a colocação de pilaretes, a qual impede imbecis de estacionar no passeio.

Fiquem então com estes registos fotográficos, metade deles históricos. A outra metade é um registo de uma moda parola granítica que não respeita o lugar, a sua identidade e a sua história. Eu aqui estarei para continuar a pugnar pelo respeito da identidade local, pela competência e a fazer registos fotográficos para mais tarde recordar. A mediocridade irrita-me!!