Depois da
primeira parte do texto, segue-se a segunda:
"Parte 2 – Funções e Serviços
Ambientais da Vegetação Ribeirinha
Os
bens e serviços ambientais dos bosques e galerias ribeirinhos são inúmeros para
além das funções ecossistémicas que partilham com outros tipos de vegetação –
como a produção de energia (fotossíntese), equilíbrio dos gases na atmosfera e
a reciclagem de matéria. A sua conservação traz assim não só vantagens ecológicas,
como económico-sociais.
As
funções ambientais, que todos os ecossistemas nos prestam, podem dividir-se em
4 grupos [APRH - glossário], assinalamos de seguida onde a
vegetação ribeirinha se destaca:
Funções regulativas: (capacidade em regular processos ecológicos essenciais,
contribuindo para a sustentabilidade ambiental e económica duma região)
Fig. 4.
Tamargueiras que formam pequenas ilhotas com a retenção de sedimentos e freixos
que fixam as margens na Rib.ª da Ota (Canhão da Ota, Alenquer)
- regulação do escoamento superficial e de inundação;
- retenção de sedimentos, p.e. a formação de mouchões deve-se,
em parte, à vegetação;
- prevenção e mitigação do risco de cheia, já que oferece
protecção às margens contra a erosão e, por sua vez, evita a perda de solo
arável;
- formação do solo e manutenção da fertilidade, p.e. as
raízes do amieiro permitem a fixação de azoto no solo;
- filtro biológico de nutrientes orgânicos e poluentes;
- regulação biofísica do meio (microclima), o efeito de
sombra de uma galeria bem conservada influi na temperatura do ar e da água no
seu interior;
- fornecimento de habitat à fauna, não só à piscícola, mas
também aos répteis, anfíbios, mamíferos, aves, invertebrados, etc., que
encontram maior abundância de alimento nos bosques ribeirinhos, assim como melhores
condições de abrigo, alimentação e reprodução, já que o seu aspecto luxuriante contrasta
com o aspecto esclerófilo da vegetação mediterrânica envolvente;
- manutenção da biodiversidade e do seu potencial
biotecnológico;
Funções de Suporte: (capacidade de prover espaço e
substrato adequado para actividades humanas, como)
-
Turismo e lazer – um ecossistema
ribeirinho bem conservado promove o usufruto por parte da Sociedade, e.g.
praias fluviais, os banhos refrescantes e frescas sombras quando o calor
aperta, ou a pesca desportiva (sustentável ou sem morte). Do mesmo modo promove
o turismo, e.g. caminhadas na procura por cenários luxuriantes e espécies
nativas e endémicas não se coadunam com rios poluídos, uniformizados ou
invadidos por impenetráveis canaviais...
Fig. 5.
Galeria de amial antigo e bem conservado na Rib.ª de Alge (Alvaiázere) convidam
a caminhadas, pesca de lazer ou simplesmente a contemplação deste bosque
luxuriante.
-
Protecção da Natureza – os bosques e
galerias ribeirinhos são importantes habitats da Rede Natura 2000;
-
Cultivo – os solos destes habitats
são os mais produtivos – com uma gestão equilibrada é possível e vantagoso
compatibilizar o cultivo nas várzeas com a conservação destes bosques;
Funções de produção: (capacidade de prover recursos
naturalmente disponíveis, basta aplicar tempo e energia)
-
oferta de alimentos, p.e. as amoras fornecidas pelas silvas, que são plantas
muito comuns nos meios ribeirinhos;
Fig. 6. Amoras maduras (e a amadurecer) num silvado
ribeirinho (Rubus ulmifolius Schott var. ulmifolius)
-
recursos medicinais, p.e. o principal componente da aspirina é o ácido
salicílico que se encontra naturalmente nos salgueiros e choupos;
-
alimento para animais, p.e. freixos e ulmeiros eram muito utilizados para
alimentar o gado no Verão, em épocas de escassez;
-
recursos ornamentais, p.e. apesar de a maioria das espécies requerem humidade
no solo, a tamargueira, p.e., suporta bem a secura e pode ser usada para
ornamentar os separadores das auto-estradas;
-
materiais de construção, p.e. obras hidráulicas com técnicas de engenharia
natural, usa-se muito os entrelaçados de vimes e estacaria de salgueiros;
-
mais no passado (que actualmente): fornecimento de madeira (para ferramentas,
socas, vimes), de lenha (ainda que não seja de grande qualidade comparada com
os carvalhais, sobreirais e azinhais envolventes), tutores na agricultura
(varas de salgueiro que hoje são substituídas pela cana), etc.
Funções de Informação: (promovem oportunidades para)
-
apreciação da beleza cénica – p.e. quantos quadros retratam cursos de água?;
-
obtenção de informações científicas e culturais, p.e. podem ser bioindicadores
importantes para o ordenamento e gestão do território – denunciam a dinâmica do
curso de água e podem permitir uma melhor delimitação do leito de cheia;"