Foi neste último fim-de-semana que se realizou a tertúlia a que a brochura acima de refere. Tendo em conta acontecimentos recentes, decidi que o melhor era mesmo dissociar-me deste evento.
Confesso que fiquei algo perplexo há 2 semanas atrás, já que apenas nessa altura soube da realização desta tertúlia, através de terceiros. Isto é estranho, já que em Junho de 2012 uma pessoa da organização falou comigo, dizendo que me iria convidar posteriormente, algo que nunca aconteceu. Note-se que, na altura, dei aconselhamento sobre algumas questões pertinentes, dado o meu conhecimento sobre a temática dos geoparques e dado o facto de desde há coisa de 7 anos eu andar a falar de um "Geoparque Sicó". Desde então muita coisa mudou...
Indo então ao meu comentário sobre esta questão, noto logo à partida 3 factos, um é que está-se a partidarizar algo que nunca o deveria ser. É certo que estas ideias precisam de apoio político, mas uma coisa é ter apoio político outra é partidarizar a coisa, facto que desvirtua logo à partida o debate. O segundo facto é que dos autarcas convidados, segundo a brochura, faltam alguns que são imprescindíveis para a discussão, caso de Penela, Ferreira do Zêzere, Ourém e Tomar. Já o terceiro facto, quiçá o mais importante, é que falhou algo de crucial, já que nos "preliminares" da coisa, e no que concerne estritamente à questão do Geoparque, faltam os especialistas. É certo que esteve um representante do Geoparque Arouca, tal como eu sugeri em 2012, no entanto faltam os geólogos e geógrafos que se dedicam à temática geoparques. Efectivamente falta ali pelo menos um especialista em geoparques.
Como curiosidade, veja-se que na brochura respectiva, parcialmente reproduzida na primeira imagem, não consta nenhuma imagem relativa à geodiversidade de Sicó. Noto também a ausência de termos fundamentais na questão "geoparque", caso de geossítio ou mesmo geodiversidade, algo de incompreensível num debate deste género.
Face aos enquadramentos da tertúlia:
Noto alguma incoerência nos objectivos da tertúlia, já que parece que se esquece que já existem "políticas comuns supramunicipais" no território Sicó. O problema aqui centra-se fundamentalmente nas políticas de capelinha, pois se não há capacidade para os autarcas pensarem o território enquanto um todo, como podem ter eles capacidade para fazer nascer algo de novo? Se tendo já políticas comuns supramunicipais, com as quais não se entendem, como querem algo de novo?
O reconhecimento nacional já existe, no meu entender não está é devidamente potenciado, culpa não só das respectivas autarquias, bem como a Associação de Desenvolvimento Local, a Terras de Sicó.
O aumento do número de turistas e visitantes só é desejável quando existir uma estrutura comum e interligada, a qual permita que haja um usufruto sustentável do património natural e cultural aqui existente. Antes disso não, há que construir a casa pela base e não pelo telhado...
Quanto ao ordenamento do território, este é um termo que os autarcas locais muito gostam de falar, contudo sem saberem factualmente o que ele é. Apesar dos autarcas locais dizerem que o ordenamento do território é importante, as suas políticas não são consequentes com as suas próprias palavras, muitas vezes muito faladas em campanha eleitoral (e este é ano de eleições...).
O mesmo se passa face à protecção ambiental e biodiversidade, pois, para estes, a protecção ambiental é quase sempre um entrave às suas políticas do betão. A Rede Natura 2000 é o exemplo perfeito do que atrás referi. O que têm feito os autarcas locais pela Rede Natura 2000? Isto além de dizerem que é um entrave e dizerem algumas palavras vãs, de ocasião, nas brochuras municipais...
E porque não se classifica a nível municipal muito do património existente por estes lados? Será que não sabem dessa possibilidade?
Lembro um dos casos mais emblemáticos desta incoerência, ou seja o polémico (ex)projecto de um hotel para a Serra de Alvaiázere, em plena Rede Natura 2000 e em Reserva Ecológica Nacional. Será que para potenciar tem de se degradar?
Outro ponto que considero algo caricato é aquele relacionado com o potencial e as mais-valias do território Sicó, já que potencial e mais-valias são coisas que se debatem há anos e anos, sem que, no concreto, surjam medidas para os concretizar. Tenta-se inventar a roda quando ela já existe há muito tempo. As responsáveis pela inexistência destas medidas são precisamente as capelinhas implantadas em cada freguesia, em cada concelho e em cada cabeça de cada um dos autarcas locais.
A concordância só surge quando é para receber fundos comunitários para a região. Após isso tudo se esbate e lá voltamos às capelinhas. Muitos sabem disto mesmo, mas poucos têm a coragem de o dizer publicamente.
Noto também que há uma confusão face ao que é um parque natural e face a um geoparque, já que o primeiro implica uma classificação legal, prevista na legislação, e o segundo não. São figuras muito diferenciadas, algo que parece que não é percebido.
Outro ponto fundamental e que me parece que não tenha sido debatido, é o facto de que fala-se muito em turismo e visitantes, mas não se fale tanto nas actividades dos locais, as quais têm mantido e transformado esta bela paisagem de Sicó. Não se pretende que esta região seja o cenário de um "circo", onde vêm visitantes ver os "palhaços parolos". O foco deve estar em primeiro lugar nos que aqui estão e não dos que aqui vêm. Só depois de pensarmos nos que aqui estão é que poderemos pensar nos que aqui vêm. A lógica invertida não é aqui desejável.
Esta tertúlia mostra, no meu entender, uma nocivo parasitismo sobre questões que deviam manter desparasitadas. Apesar da JSD ter mérito em debater esta questão, algo que aplaudo, noto que este debate está à partida enviesado. A JSD deveria sim ter reunido primeiro lugar os especialistas em geoparques e os vários investigadores que se têm dedicado à "geo-investigação" na região de Sicó. Só depois destes se reunirem e chegarem à conclusão que há potencial para a criação de um geoparque, é que poderiam ser chamados os políticos e tecnocratas, de forma a dar o seu apoio. É assim que se processa e não como se processou nesta tertúlia. Estiveram apenas alguns investigadores presentes e uma outra pessoa ligada a um geoparque, portanto faltaram os especialistas em geoparques. Sugeri isso mesmo em Junho de 2012, no entanto os meus conselhos foram, em boa medida, ignorados...
Para finalizar, deixo a minha opinião sobre o futuro ou utupia das questões debatidas. Não sou apologista de um parque natural para a região de Sicó, os motivos, esses poderei explicar num futuro próximo. Quanto ao geoparque, apesar de nos primeiros anos ter defendido e promovido a criação de um, desde 2008/09 que considero que este não será possível. Um dos pressupostos fundamentais para a criação de um geoparque é a existência de geossítios de valor internacional, não um ou dois, mas vários. Isso não acontece em Sicó, os "geossítios de Sicó" são fundamentalmente de valor regional e, alguns de valor nacional, tal como foi confirmado numa publicação recente. Não existe a âncora necessária para um geoparque. Obviamente que tenho pena, mas a verdade é essa.
Então o que defendo para Sicó? É simples, inove-se e crie-se uma figura inspirada nos geoparques. Criem uma figura nova e façam surgir algo de realmente novo e factualmente exequível. Com muitos dos geossítios ali existentes, estes base de uma nova figura, e com todo o valioso património natural e cultural existente em Sicó, poderemos sim criar algo que não passe de uma utupia, mesmo que bem intencionada. Lembrem-se que já temos uma Rede Natura 2000, a qual poderia além de ser devidamente promovida, ser integrada na tal nova figura a criar...