Já tinha equacionado abordar esta questão há algum tempo, no entanto decidi esperar algum tempo para comentar a temática associada a este projecto. Quando surgem questões "novas" há que ponderar bem sobre as mesmas de forma a termos uma opinião devidamente fundamentada.
Antes de começar a dissertar sobre este tema nada melhor do que vos deixar com um dos links onde podem encontrar informação concreta sobre o projecto Living Labs, um projecto deveras interessante:
Após terem lido os objectivos deste projecto posso então começar a abordar a questão através do meu ponto de vista, pessoal e profissional (além de imparcial!).
Escolhi esta como a melhor altura para falar sobre o projecto SRLL depois de ter ouvido palavras confusas de um dos parceiros deste projecto em Penela, palavras proferidas no 1º Congresso Internacional "Empreendorismo e Valorização Sustentável do Território" (EVST), ocorrido nos dias 17 e 18 de Junho na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Foi sem dúvida um evento de excelência em que valeu a pena estar presente.
Já no último dia do evento, um dos parceiros do projecto SRLL - Penela, presentes na plateia, questionou um dos oradores (Francesco Molinari) sobre o projecto Living Labs, tendo em conta a notável experiência deste investigador neste domínio. Este parceiro referiu que estava com grandes dificuldades em encontrar soluções práticas para implementar em Penela.
Confesso que fiquei surpreendido porque pensei que o projecto estivesse a correr melhor, mas as palavras proferidas mostram claramente que há muitas dificuldades para ultrapassar no decorrer deste interessante projecto. Espero que estas questões sejam rapidamente ultrapassadas.
À parte deste "soluço" no SRLL, gostaria de fazer alguns comentários sobre o projecto tendo em conta certas particularidades:
- Preocupa-me que não haja uma diferenciação entre o carso de Penela e os xistos de Penela, pois são territórios com dinâmicas naturais, sociais e culturais bastante diferenciados. É um erro crasso tomar este território como homogéneo, não tomando em conta este pequeno grande pormenor. Faço apenas referência ao carso de Penela porque o Azinheiragate é dedicado ao carso de Sicó e não a áreas fora do carso.
- Noto que há pelo menos dois projectos associados ao SRLL que já existiam antes, sendo meramente incluídos no pacote de ideias.
- Noto também que nos parceiros incluídos não há alguns dos que mais interessam, a gente simples e humilde que apesar de ter poucas qualificações tem o know-how e costuma ter ideias que quando aproveitadas por equipas multidisciplinares são sucesso garantido.
- Faltou um "mergulho no território", de forma conhecer individualidades chave num processo deste género.
- Falta algo de importante, o empreendorismo de base social, em vez de apenas o "comum" empreendorismo de base tecnológica. O empreendorismo social foi largamente destacado no EVST, em Ponte de Lima. Considero que é negativo a inclusão de demasiados actores vestidos de fato e gravata, algo que é por demais evidente na listagem dos parceiros envolvidos no SRLL.
- Infelizmente o facto de este não ser um projecto "subsidiado" parece que levanta demasiados problemas. Não podemos esperar que tudo seja subsidiado, pois os fundos comunitários vão acabar, há que criar parcerias público-privadas estratégicas com vista à prossecução de muitas ideias a incluir neste projecto. O microcrédito tem também sido subjugado numa região onde terá concerteza muitas potencialidades.
Penso que de uma forma resumida consegui referir alguns dos pontos mais importantes, numa próxima oportunidade irei concerteza fazer mais comentários, já que pretendo acompanhar de perto este projecto com potencial, caso seja bem guiado, obviamente.
Para terminar queria destacar dois factos estruturantes, sendo que o primeiro foi precisamente referido pelo investigador Francesco Molinari. Este último referiu que é muito positivo pedirmos "braços emprestados" em vez de "cérebros emprestados", afirmação que considero brilhante. Temos os cérebros (se bem que muitos deles fugidos e/ou dormentes), temos muita matéria-prima, faltam apenas alguns braços para ajudar na árdua tarefa que é o desenvolvimento territorial.
O segundo facto, esse já é mais direccionado a todos os autarcas da região de Sicó. Porque é que em vez de apenas irem "buscar" projectos lá fora não criam projectos regionais? Criando projectos de génese regional potencia-se o know-how local e regional, conferindo-lhes mais sustentação em termos de projecto, já que parte-se das particularidades regionais e não de particularidades externas. São as particularidades regionais a garantia de sucesso deste género de projectos. Posteriormente até podem exportar ideias, já que algumas podem e devem ser exportadas, conferindo à região algo que tem faltado.
Um dos erros comuns que os autarcas de Sicó fazem é que em vez de criar de base projectos regionais, vão buscar lá fora, por vezes, alguns projectos chave na mão, sendo como que um transplante em vez de uma plantação de uma ideia... Sendo assim é bem mais difícil as sementes germinarem.