26.6.12

Confrarias de Sicó & Lda

Nunca escondi que, genericamente, não aprecio muito a filosofia por detrás das ditas Confrarias, sejam elas do que forem. Isto acontece por um motivo muito simples, o de que considero que estas servem mais para o culto dos confrades (do seu ego e das suas personalidades) do que para a promoção de produtos, tradições e afins. Dito de uma outra forma, as Confrarias são muitas vezes como as revistas VIP, as quais servem apenas para mostrar as vidas supérfluas dos ditos VIP´s. 
Resumindo, algumas Confrarias são quase que lobos com pele de cordeiros, servindo concreta e objectivamente para outros fins que não a promoção daquilo a que supostamente se propõem. Se observarmos as listas de muitas destas Confrarias, vemos que os Confrades são basicamente políticos, Eng.´s e afins, quase todos na busca de protagonismo, comes e bebes e pouco mais. Uns estão no início de carreira e, assim têm um impulso em termos de imagem e outros estão no fim da linha, precisando assim de uma espécie de bóia para se manterem à tona em busca de protagonismo.
Curioso nisto tudo é que quem, muitas vezes, faz parte destas Confrarias é precisamente aquela gente que mais contribuiu para o fim de muitas tradições e para a degradação e perda de muito do património local e regional. Para isso contribuíram com políticas supérfluas e estereotipadas que, no final, extinguem o património que fez de Sicó o que ainda é actualmente, uma região fantástica.
Se virmos bem, aqueles que são o garante da, até agora, continuidade de muitos produtos regionais, bem como tradições várias, nunca chegam a ser Confrades, porque será? Eu sei a resposta, mas ela é incómoda para muitos Lic.´s e Eng.´s ...
Muitas pessoas não se apercebem de muito daquilo que se passa em Sicó, por isso mesmo é que gosto sempre de salientar questões como esta. 
Como pode alguém afirmar-se honestamente Confrade da Confraria X ou Y quando afinal é o responsável por políticas que asfixiam e matam o património regional? Na vida real promovem-se políticas concretas de homogeinização de usos e costumes, enquanto que naqueles ambientes fabricados de muitas Confrarias vem-se com o bonito e, muitas vezes, supérfluo e inconsequente discurso do apelo à terra e à identidade. Há aqui dicotomias que importa compreender, a bem de Sicó.
Que legitimidade tem esta gente para promover e divulgar o património? Será que tem alguma lógica alguém fazer-se de "defensor da pátria", por um lado, e por outro promover políticas que condenam esta mesma "pátria" a um desvirtuar sem limites? Será que faz sentido manter os usos e tradições quase que apenas numa lógica circense? Para quê potenciar o interesse de outros povos pelos atributos culturais e patrimoniais de um território se estes mesmos atributos estão condenados, a curto prazo, pelas políticas estereotipadas destes Confrades? São pontos sobre os quais urge reflectir...
O respeito, o honrar e o divulgar da memória colectiva faz-se através de políticas que visem a manutenção da mesma, não numa óptica de imobilidade, mas sim de evolução natural, pois a cultura não é estática, é sim dinâmica. 
O respeito pela cultura não é dizer que se respeita a mesma, muitas vezes apenas à frente da imprensa, o respeito pela cultura não é chamar o senhor "António" ou a senhora "Maria" a um gabinete onde apenas se fala das coisas e escreve num papel. O respeito pela cultura é o conhecimento concreto do território e tudo o que a ele está associado, pois só desta forma se pode promover o desenvolvimento territorial. 
Como pode alguém que não sabe no concreto o que é uma enchada, tentar armar-se em alguém que pensa que pode ensinar aqueles que sabem efectivamente o que é uma enchada? Como pode alguém que anda sempre de "sapatos de verniz" dizer a quem anda sempre de "botas da terra" como se trabalha a terra? 
O conhecimento e a sabedoria não se cozinham num gabinete, estes surgem do contacto diário com a terra, com as pessoas, com a cultura e com o património!
As Confrarias podem e devem ser um poderoso instrumento (um de muitos) que, quando bem utilizado pode ter resultados notáveis em prol da região de Sicó e de tudo aquilo de extraordinário esta tem em termos culturais e patrimoniais, o problema é que, genericamente falando, estas confundem-se demasiadas vezes com uma qualquer feira das vaidades...

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