6.2.12

O esventrar de um território...


Sinceramente nem sei como começar esta questão, mas penso que a palavra esventrar seja a palavra adequada para ilustrar o tema de hoje. Como facilmente poderão ver pela primeira fotografia, pretendo abordar uma questão que nos é cara a todos nós, já que são muitos os que directa ou indirectamente já foram afectados por este problema que é o esventrar do nosso território.
São muito/as o/as que em certa altura já se sentiram afectados pela construção de infra-estruturas várias, nomeadamente estradas. Eu sou uma dessas pessoas. A determinado momento acaba-se o sossego, já que certa pessoa decide que é por ali que tem de passar uma estrada.
O que pretendo destacar hoje tem em certa medida a ver com isto, mas não só. Admito que mesmo custando, certas vezes o "esventramento" é necessário, no entanto muitas outras vezes não o é! Quando o que move este esventramento é a pura (e dura) especulação imobiliária, as coisas mudam de figura.
As duas fotografias que ilustram este meu comentário são da Vila de Alvaiázere, onde desde há vários meses começou um esventramento polémico. Quando digo esventramento refiro-me, claro, à consequência natural do apetite desmesurado da especulação imobiliária, cancro que corrói este nosso território.
Não será muito difícil quem já não vai a Alvaiázere há vários meses ficar chocado/a com o cenário actual. Chegando a esta bela Vila, o cidadão comum depara-se com uma rua, com pouco mais de 1km, onde já foram desbaratados 2 000 000 de euros (isso mesmo...). Logo dali vê-se mais abaixo o esventrar do perímetro urbano desta Vila, por parte de máquinas giratórias e de rastos. Terrenos e casas, nada escapa à fome exponencial da especulação imobiliária. Esta é a imagem de marca do autarca local, Paulo Morgado, o qual tem demonstrado que o importante é mesmo fomentar a especulação imobiliária, quanto mais betão melhor, já que assim entram mais recursos financeiros, vindos do IMI. Este é um jogo muito perigoso, que já mostrou que tem sempre maus resultados, pois quando em primeiro lugar está o betão, as coisas correm mal para quem devia ser prioridade, ou seja os cidadãos.
Democracia participada? Não, isso é incómodo e chato. Além disso o cidadão comum não está preparado para ter opinião própria, portanto tem mesmo de ser uma democracia delegada e totalitária.
A política do autarca local tem tido várias consequências, 6 000 000 de dívidas (isso mesmo...), o hipotecar do futuro do concelho, o afastar de vários jovens alvaiazerenses e a discórdia de quem já ali vive há muitas décadas e não se verga a guerrilhas. Jovens houve que foram viver para fora do concelho de Alvaiázere, pois de guerras estão fartos. 
Os vários indicadores de qualidade de vida têm sofrido uma queda contínua ao longo dos últimos anos, é essa a herança do autarca local, que muitas vezes se confunde com um qualquer gestor de empresa, o que obviamente não é o que se espera de um autarca. As frequentes estatísticas, que confirmam a franca perda de qualidade de vida, são incómodas, mas felizmente lá vão aparecendo na imprensa regional, o que é uma chatice concerteza.
Há semanas atrás, quando estive pela última vez na Vila de Alvaiázere, deparei-me com uma realidade que custa a acreditar, um território cheio de potencial e história, que está a ser esventrado a um ritmo elevado. Não interessa reabilitar o que existe, interessa sim deitar o que existe abaixo para não estorvar aos prédios que se avizinham, cortar os terrenos com boa aptidão agrícola para urbanizar, maximizando o lucro aos promotores imobiliários e finalmente ter um discurso bonito de ser ouvir, embora sem fundamento ou lógica. Isto já para não falar de uns candeeiros sem enquadramento possível. E a identidade local? E as especificidades locais?
Quem critica este cenário é, como eu, visto como personna non grata, o que para mim é um autêntico elogio. Edifícios com história são ostracizados, já que são um entrave ao apetite da especulação imobiliária. O património arqueológico é também um entrave, só o que já não se consegue tapar das vistas incómodas é que escapa.
A desculpa é a de sempre, que é preciso desenvolver, quando afinal confunde-se desenvolvimento com crescimento, o que em termos conceptuais é grave. Mas isso nem interessa, já que a maioria dos que ouvem este discurso são pessoas muito vulneráveis a palavras de ocasião. Agrada-se cada vez mais aos interesses que orbitam em redor do poder público e desagrada-se cada vez mais aqueles que afinal deviam mandar, os cidadãos, os tais que não são competentes para tomar as decisões...
Entretanto a identidade local vai-se esvaindo nesta ânsia de esventrar um território valioso e que encerra ainda muitas surpresas. Poucos são os que conseguem manter a cultura local, mas felizmente que são bons!
Este comentário é algo disconexo, mas hoje apeteceu-me desenvolver a coisa de forma diferente. O importante é acima de tudo estimular a crítica honesta e construtiva, apelando à vossa mobilização no exercício da cidadania. Há que puxar o lustro à liberdade de expressão!
Brevemente irei falar do Plano de Pormenor da Avanteira-Pelmá, que se afigura como um genial golpe de especulação imobiliária, na ânsia desmesurada de construir, construir e mais construir. Infelizmente não tive a oportunidade de participar no processo público (deixei passar o prazo), mas uma coisa sei, a de que é realmente preocupante o que o autarca local anda a fazer aos poucos. O PDM de 2ª geração não aparece (já lá vão 7 anos), o que tenho visto são apenas tentativas localizadas de abrir caminho à especulação imobiliária e tentativas várias de fazer renascer várias pedreiras. Potenciar os recursos naturais e culturais, isso não se tem visto, muito pelo contrário. Parece-me que quando surgir o PDM de 2ª geração, este vai ser extremamente benévolo para a especulação imobiliária e afins, o resto será conversa de algibeira.

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